Depoimento de Florestan Fernandes

Depoimento de Florestan Fernandes
Para reformar temos de nos divorciar do passado queiramos ou não queiramos, tenhamos coragem ou não, tenhamos, universidade tradicional não sabe lidar com aluno auto-suficiente, de espírito crítico, mais aprendiz que trabalho sob supervisão. O desenvolvimento não é uma dádiva. Nenhum país que se desenvolveu, que se tornou rico, poderoso, hegemônico em termos capitalistas ou em termos socialistas, chegou a essa posição porque a providência divina produziu esse efeito ou porque, os homens eram simpáticos, ou porque os homens eram alegres, ou porque os homens eram felizes. Houve trabalho duro, sacrifício e pertinácia. Se o Brasil quer tornar-se uma nação desenvolvida, quer dizer superar, negar o subdesenvolvimento, teremos de imitar esses países, trabalhar duro, ter consciência do nosso destino no futuro, fazer sacrifícios para atingir esse futuro. Para realizar esse passo é preciso gastarmos no ensino recursos que crescerão de maneira intensa no futuro. Na etapa inicial pode-se instaurar o processo com gastos mínimos. Basta uma utilização mais racional, de fatores. Serão pequenos os gastos necessários inicialmente. Mas a medida que se expandir a pesquisa, principalmente a pesquisa científica e tecnológica, então haverá acréscimo muito grande de gastos. A universidade para o desenvolvimento não pode ser inconsciente ou irresponsável com relação aos seus fins e é o que poderia conquistar uma nova posição para que o Brasil deixe de ser um país econômica e politicamente dependente. Temos de implantar conhecimentos originais dentro do Brasil para atingirmos autonomia na área cultural. Esses conhecimentos originais cientifica ou tecnologicamente devem ser compatíveis com a situação brasileira e com nossos objetivos para evitar o fato que constitui orgulho para muitos – o de ter cientistas brasileiros trabalhando em diferentes países do mundo. O que constitui orgulho, seria o brasileiro trabalhar e desenvolver aqui dentro. (...) Acho que nosso estudante é altamente responsável. A insubordinação ou a inconformação não é irresponsabilidade. Pode, inclusive, envolver uma responsabilidade em alto nível. O jovem que protesta na situação brasileira merece muito mais o nosso respeito do que aquele que fica omisso, porque ele não trafica com certos elementos – na linguagem da juventude – do sistema.

Depoimento que consta no Relatório da CPI da Câmara dos Deputados, de Acordo com o Projeto de Resolução º 84, de 1969. Aprova as conclusões da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar, entre outras coisas a estruturação atual do sistema de ensino superior do País, abrangendo universidades federais, estaduais, particulares, bem como faculdades isoladas. A CPI foi criada pela Resolução n. 37/67). Com o conteúdo do Relator.