Sobre o que propor para um Plano Estadual de Juventude...
Prezados participantes deste Seminário,
Para não me alongar demais, aludo apenas a três fenômenos bem atuais e significativos, que muito têm a ver com a Juventude deste Estado:
As batalhas das TORCIDAS ORGANIZADAS...
A atração das SWINGUEIRAS...
O sucesso total do BIG BROTHER BRASIL...
Precisaríamos de mais sugestivos exemplos ou mais contundentes argumentos para descrever ou demonstrar o vazio cultural, o deserto de valores e de sentido em que nos encontramos?...
Os antigos entendiam que o deserto era o lugar privilegiado onde atuavam as forças do mal... Nós, os pós-modernos, será que não estamos vivendo a mesma experiência e fazendo a mesma constatação?...
Que esperar de uma juventude que, em torno de uma partida de futebol transforma estádios e ruas num verdadeiro campo de batalha, onde vale tudo, embora nada tenha um sentido maior que o de
gritar pelas cores de uma Equipe, que cada semana apenas repete a miragem de uma conquista que nada oferece senão uma ilusão de vitória...
celebrar “heróis”, cuja façanha maior é acertar o chute de uma bola por entre três paus...
humilhar, até às tapas, pedradas e garrafadas, adversários, outro tanto frustrados, porque não lograram a mesma quimérica vitória, nem puderam celebrar heróis de igual ilusória façanha...
Que esperar de uma Juventude que, um fim de semana após outro,
se entrega de corpo e alma à orgia da sensualidade e do sexo, reduzidos à mera troca de prazeres, tão intensos quanto fugazes,
onde o que menos importa é a dignidade da pessoa, a decência da postura, a grandeza, a boniteza e o compromisso de quem ama de verdade, apaixonadamente?...
Que esperar de uma Juventude
que se deixa cativar pelos apelos à sacanagem...
que prestigia com seu voto o vilão, o mau caráter, o desonesto, a lei da vantagem a qualquer custo...
que, ingênua ou irresponsavelmente, sustenta essa máquina de produzir besteirol, baboseira e baixaria,
que permite empresas arquipoderosas lucrarem milhões, a cada paredão, às custas da mais perversa alienação de massas facilmente manipuláveis?...
Quanta participação, quanta vibração!... Quanta ausência de valores e de cidadania! E quanta frustração, mal se esgotam as “passageiras ilusões”!
Ajunte-se a isso o enorme contingente de jovens simplesmente desocupados, que nem trabalham nem estudam, apodrecendo na mais perigosa ociosidade...
Por aí, alguma coisa se explica a respeito
de tanta desestruturação nas famílias e de tanta baderna nos bairros e nas escolas, nos locais de diversão...
de tanto consumo de álcool e outras drogas e de tanta prosperidade do tráfico...
de tanta gravidez irresponsável e de tantas vítimas de doenças sexualmente transmissíveis...
de tanta violência juvenil, legiões de jovens que matam e que morrem, de graça, todos os fins de semana...
Nesse vazio cultural, nesse deserto de valores e sentido, nesse oco de desocupação, realmente, outras ervas não poderiam florescer.
E o que propor para um Plano Estadual de Juventude?
Antes de tudo, um SOS pela Educação! O Governo Eduardo Campos herdou dos governos passados uma Educação em estado de calamidade pública. E se quer pensar, em regime de urgência, em política pública, que invista, antes de qualquer outra coisa, numa reestruturação ampla e profunda da EDUCAÇÃO, da infra-estrutura aos quadros docentes, passando pelos Parâmetros Curriculares e Projetos Políticos Pedagógicos, caprichando na disponibilização orçamentária, como se se tratasse de verdadeira economia de guerra.
Em seguida, uma política de ANIMAÇÃO CULTURAL, que venha ao encontro de todo o tempo ocioso da juventude, sobretudo das levas de desocupados, e vise a criar espaços, os mais variados possíveis, para uma experiência educativa diferenciada, muito mais ao sabor dos gostos e interesses, das potencialidades e iniciativas da própria juventude, onde as linguagens artísticas e lúdicas possam eficazmente servir de motivação e de recurso pedagógico para a formação de GRUPOS CULTURAIS, nos quais se possa cultivar um ser humano novo e uma sociedade diferente, em termos de auto-estima e dignidade, de espírito de tolerância, solidariedade e colaboração, de resgate da identidade cultural, de preocupação com o meio ambiente, e de espírito de participação e cidadania. Se a própria Educação como um todo puder ser repensada nesses termos, será o ótimo! Mas pelo menos que se multipliquem as experiências de Animação Cultural, nos moldes descritos e esta possa contaminar o conjunto das experiências educativas.
Para tanto, será necessário convocar
as ONGs que já desenvolvem experiências semelhantes... e podem servir, sobretudo, de suporte para a formação e capacitação de Animadores Culturais;
universitários, especialmente das áreas de Ciências Humanas, interessados em desenvolver, a título de estágio remunerado, uma experiência de Animação Cultural, que, além do mais, proporcionará, certamente, a seus estudos acadêmicos uma ampla dimensão de concretude e humanização;
artistas e recreadores de todos os tipos, que desejem desenvolver uma experiência de Animação Cultural, e, como Animadores Culturais, devidamente orientados, tenham tal profissão reconhecida, regulamentada e condignamente remunerada;
entidades de todos os tipos interessadas em desenvolver parcerias com o poder público, qual imenso mutirão, pela causa da Animação Cultural da Juventude, disponibilizando espaços e recursos de todo tipo.
Daí, se poderá esperar o surgimento de uma Juventude saudável, que brigue nas ruas, sim, por causas maiores que a vitória de um time de futebol... que vivencie o sexo e a afetividade como experiência saudável e humanizante de amor e prazer, e por isso mesmo, responsável, respeitosa e cuidadosa... que vote, sim, em todas as instâncias de expressão da democracia, escolhendo programas e pessoas capazes de melhorar a qualidade de vida e promover o bem comum.
Uma colaboração de Reginaldo Veloso, da Gerência de Animação Cultural – GAC – SEEL - PCR
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