terça-feira, 11 de março de 2008

DEPOIMENTO DE MARCO ANTÔNIO VICTORIA BARROS (PLAY)

DEPOIMENTO DE MARCO ANTÔNIO VICTORIA BARROS (PLAY)

PROJETO INTEGRADO: RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS REPÚBLICAS ESTUDANTIS DA UFOP
DEPOIMENTO DE MARCO ANTÔNIO VICTORIA BARROS (PLAY)
A
OTÁVIO LUIZ MACHADO
ENTREVISTADOR: OTÁVIO LUIZ MACHADO
DEPOENTE: MARCO ANTÔNIO VICTORIA BARROS
LOCAL: NITERÓI-RJ
DATA: 25/01/2003





FICHA TÉCNICA
Entrevistado: Marco Antônio Victoria Barros
Tipo de entrevista: Temática
Entrevistador: Otávio Luiz Machado
Levantamento de dados e roteiro: Otávio Luiz Machado
Conferência, leitura final e notas de rodapé: Otávio Luiz Machado
Elaboração de temas: Otávio Luiz Machado
Local: Niterói-RJ
Data: 25/01/2003
Duração: 1h 30 min
Fitas cassete: 2
Páginas: 20
Proibida a publicação no todo ou em parte.
Permitida a citação.
A citação deve ser textual, com indicação de fonte.
Permitida a reprodução.
Norma para citação:
Depoimento de Marco Antônio Victoria Barros a Otávio Luiz Machado. Ouro Preto, Projeto Reconstrução Histórica das Repúblicas Estudantis da UFOP, 2003.







OTÁVIO LUIZ MACHADO: 25 de janeiro de 2003, eu estou aqui em Niterói-RJ com o seu Marco Antonio. E primeiramente gostaria de pegar os seus dados pessoais. Nome completo
MARCO ANTÔNIO (PLAY): Marco Antônio Victoria Barros.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: a sua profissão?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): analista de sistema.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: qual a sua idade hoje?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): 54 anos
OTÁVIO LUIZ MACHADO: enquanto estudante quais cargos você ocupou?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): enquanto estudante eu fui presidente da União Colegial Ouro-Pretana.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: qual é a sua cidade natal?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): João Molevade, Minas Gerais.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: e a profissão e a atuação profissional dos seus pais? O que seus pais faziam, a sua origem familiar?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): meu pai era farmacêutico formado em Ouro Preto. Minha mãe era do lar
OTÁVIO LUIZ MACHADO: para a gente começar, eu gostaria que você relatasse este período de Ouro Preto como estudante secundarista. Falar um pouco da organização dos estudantes e da parte cultural de Ouro Preto, seja através do GLTA, seja através dos primeiros festivais de inverno.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): quando eu cheguei em Ouro Preto eu tinha 15 anos de idade. Eu cheguei de Três Corações, sul de Minas, onde o meu pai trabalho como farmacêutico, funcionário público de um leprosário. Eu cheguei com 15 anos e fui estudar na Escola Normal, no Marília de Dirceu, onde tinha um curso de ginásio. E logo naquele período que eu cheguei, eu cheguei num período do golpe de estado de 64, se eu não me engano, e eu naquele momento eu tive conflitos na Escola Normal em Ouro Preto, porque eu arrumei uma namorada, posteriormente que foi até da Corrente, a Maria Angélica do Amaral. E eu fui praticamente expulso da Escola Normal por causa da namorada, tal era conservadorismo da elite lá de Ouro Preto. Da Dona Lalá, que chamou a minha mãe lá na secretaria, pois aquilo era uma coisa diferente que tinha em Ouro Preto. Era o meu estilo: cabelo comprido, tinha apelido de “play”, que gostava de jogar futebol e fazer ginástica. E aí foi um choque naquela sociedade conservadora de Ouro Preto. Era uma sociedade paradoxal, porque tinha conservadorismo e tinha uma juventude que vislumbrava as idéias mais avançadas. Era um negócio paradoxal. Interessante é que essa juventude, como se diz, a população de Ouro Preto era conservadora, e em contrapartida ela tinha uma população estudantil muito grande, de pessoas oriundas de todo lugar, e inclusive diferente de hoje, pelo que o Arnaldo Costa me falou. Porque antigamente a Escola de Minas de Ouro Preto, a escola de engenharia de Ouro Preto, ela tinha uma



fama no Brasil inteiro. Então as pessoas normalmente não só viam do interior de Minas, como de vários estados. Tinha muita gente do Rio de Janeiro, como era o caso do César Maia, tinha muita gente do Paraná, como era o caso do Nelson Maculan, tinha gente de Manaus como o “Amazonas”, que foi até.....
OTÁVIO LUIZ MACHADO: o Eduardo Telles...
MARCO ANTÔNIO (PLAY): o Eduardo Telles. E tinha estrangeiros: tinha peruanos, tinha bolivianos, tinha um inglês lá. Tinha muita gente. Quer dizer, era uma faculdade e uma universidade que tinha fama internacional. E hoje, por exemplo, em Ouro Preto como o Arnaldo me falou, em Ouro Preto as pessoas são oriundas do interior de Minas, quer dizer, porque as universidades públicas no Brasil ficaram muito fortes nas capitais. Por exemplo, o Rio de Janeiro tem seis universidades públicas. Então, em Ouro Preto tinha uma composição muito diferente. Então, essas pessoas que vinham destes lugares eram pessoas que vinham com idéias diferentes. Imagina eu que apesar de vir do sul de Minas, de uma cidade do interior de Minas, eu já vim com idéias menos conservadoras, mais avançadas, de ter namorada, de andar com roupas diferentes, de cabelo diferente, isto chocou a Escola Normal, pelo fato de eu arrumar uma namorada, de andar de mãos dadas na escola. Isto foram coisas que Ouro Preto não aceitava em determinados lugares. Essa juventude que veio destes lugares todos, principalmente as capitais, lá do Paraná, do Rio de Janeiro etc, eram pessoas que tinham idéias diferentes, e inclusive comportamentos diferentes. Isso ái foi um paradoxo. Então a sociedade de Ouro Preto naquela época se compunham por um conservadorismo pelas pessoas nativas da cidade, inclusive eles tinham chamado de “nativos” as pessoas na época. E as pessoas vindas de fora que não moravam com pai e mãe eram consideradas pessoas que estavam sugando a cidade, e não eram considerados nativos. Então Ouro Preto tinha essas pessoas conservadoras que são nativos, e as pessoas de fora que vinham com idéias diferentes, que vinham com arte... e tinha pintores e escritores. Para você ter idéia, Sartre e Simone de Beauvoir passaram uma temporada em Ouro Preto. Vinicius de Moraes, Scliar, Portinari, e uma série de pessoas. Tinha uma república que se chamava “Mansão” lá no meio do mato, não sei se tem até hoje, de todo o tamanho. Lá era a casa onde o Vinícius de Moraes ficava. Quer dizer, estas pessoas iam determinados lugares. Apesar da população conservadora ser nativa, com exceções, estas pessoas se reuniam em determinados lugares. E nos lugares tinham reuniões e discussões de idéias de literatura, de cultura e discussões sobre a realidade brasileira de uma maneira geral. E um destes lugares esta o Grêmio Literário Tristão de Ataíde, o GLTA, que foi fundado e praticamente dirigido por uma das pessoas mais importantes do Grêmio, a alma do GLTA, que era o Padre Mendes. Era uma pessoa de Ouro Preto que não comungava (destas idéias) tinha uma proposta totalmente diferente daquele conservadorismo nativo de lá. E para você ter uma idéia ele foi um cara que foi o precursor do teatro em Ouro Preto, ele dirigia peças de teatro, e era uma cara que propunha determinados eventos e realizava determinados eventos que eram eventos avançados em relação à cidade. Para você ter uma idéia naquela época como se diz, o que foi a origem da Ação Popular (AP) aqui no Brasil. A Ação Popular veio da França que Acion Populer, uma organização de esquerda, posteriormente. Ele dirigia a JOC, a juventude Operária Católica, a JUC, a Juventude Universitária Católica. Ele dirigia, ele praticamente que reunia esse pessoal todo.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: e tinha a JEC, também.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): a JEC, também. Então, quer dizer, era um sacerdote e religioso, mas era um sacerdote ligado à juventude. Ele era professor de português fantástico, um professor de inglês fantástico, de latim, era um professor totalmente exigente em sala de aula. Ele exigia do aluno, e os que não aprendessem com ele ficava com uma raiva danada. Ele tinha uma raiva de mim, não chegava a ser raiva, por eu ser sobrinho dele ele exigia muito em sala de aula. E era coisa
traumática, até. Mas fora da sala de aula era um pessoa extremamente voltada para a juventude. Para você ter uma idéia, ele tinha uma missa da juventude, eu não sei como se chama isso, era a missa dos estudantes nos domingos às 11:00 na Igreja do Carmo. Você vê como ele era ligado à juventude. E ele arrumou inimigos em função disso. Porque pessoas conservadoras e de direito como o José Benedito eram pessoas que foram acolhidas... E o Padre Mendes deu bastante força para o José Benedito subir, porque ele veio de uma família muito pobre. E meu avô quando foi para Ouro Preto numa situação muito boa. E relativamente boa. E o meu avô auxiliou muito a família do José Benedito, principalmente o José Benedito a nível de educação, de alimentação etc. Ele morava ali nas Cabeças e auxiliava muito o José Benedito nesta época. O Padre Mendes deu muita força para o José Benedito para ele estudar e se tornar professor do Colégio Arquidiocesano, e posteriormente da Escola Técnica. Mas mesmo assim ele não deixou na época da ditadura, do golpe de estado, teve uma reunião no Hotel Toffolo, e um dos caras do Toffolo, que eu não me lembro o nome dele que era ligado a direita lá...
OTÁVIO LUIZ MACHADO: o Rodrigo Toffolo.
MARCO ANTÔNIO (PLAY):... o Rodrigo Toffolo se eu não me engano. Ainda tem o Hotel Toffolo lá em Ouro Preto na Rua São José?
OTÁVIO LUIZ MACHADO: sim.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): então teve uma reunião onde foi listada todas as pessoas de esquerda daquela época, consideradas comunistas. A maioria do PTB, e algumas pessoas do PCB como o (Antônio Carlos de Moraes) Sarmento, Márcio (Antônio Pereira). Mas a maioria do PTB como o Sebastião Maria Preta, o (Antônio Cardoso) Roriz. E nesta lista o nome do Padre Mendes entrou. E ele na hora de votar, todos votaram quanto as pessoas que teriam que ser presas, teriam que ser feridas, teriam que ser denunciadas, e neste momento quando passou o nome do Padre Mendes, tem duas fontes, uma que ele votou a favor do Padre Mendes, e a outra que ele se omitiu, que ele não defendeu o Padre Mendes, que é pior ainda. Foi o Padre Mendes que praticamente abriu os espaços para o José Benedito estudar. Praticamente foi o Padre Mendes que conseguiu que ele trabalhasse no Arquidiocesano. Depois a partir daí ele virou professor da Escola Técnica, e ganhou até para ser vereador. Quer dizer, eu fiquei sabendo desta reunião no Hotel Toffolo naquela época. E ele omitiu. Tem duas versões. Uma que realmente que ele quis que incluísse o nome do Padre Mendes, e a segunda é que ele se omitiu, o que é pior na minha concepção, porque a pessoa não tem uma posição tomada. Então essa era a conjuntura de Ouro Preto assim localmente, que era uma cidade onde a espinha dorsal era aquele conservadorismo mineiro, aquele FOP, a tradicional família ouro-pretana, que era FOP. Aquela mulher do Doutor Calaes, Dona Célia Calaes, que era da família do terço. E ao mesmo tempo tinha no subúrbio que era espetacular uma juventude oriunda de diversas partes do Brasil que traziam idéias, traziam discussões, e discutiam a realidade brasileira, que propunham avanços do ponto de vista cultural. Ouro Preto era uma cidade na época efervescente do ponto de vista cultural. Era gostoso viver ali. E nestes locais conviviam com artistas, que sendo a cidade artisticamente bonita, um conjunto arquitetônico barroco dos maiores do mundo, conviviam com artistas do quilate de Vinícius de Morais de Scliar, Portinari, Estevão, Jarbas Juarez. Todo aquele pessoal, como artistas plásticos, artistas de teatro, como esse artista que teve festivais de teatro, como o Cláudio Marzo ia lá, conheci o Jonas Bloch, conheci uma série de artistas naquela época. Então esse pessoal se reunia em bares, coisas assim, de uma forma mais organizada no Grêmio Literário Tristão de Ataíde, ou no Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia. Ou coisas assim nestes lugares de forma mais organizada existiam estas reuniões. Mas em todos os lugares pipocavam, como se diz, este oásis de cultura. Era interessante porque era uma cidade atípica de Minas Gerais. Era muito mais progressista Ouro Preto neste período de 64, que
por ser uma cidade menor você tinha muito mais possibilidade de ser influenciado por este meio ou se agregar neste meio do que cidades como Belo Horizonte na época. Na época BH era uma cidade completamente conservadora na época, e por ser uma cidade muito maior, a sua capacidade de dispersão era muito maior. O encontro com este tipo de pessoas mais iluminadas, pessoas mais voltadas para a cultura era muito mais difícil. Então em Ouro Preto, pelo fato de você sair como onde eu morava no (Bairro) Antônio Dias, por exemplo, e já subia na Praça Tiradentes e ali já encontrava o Estevão pintando a rua, ali de noite passava e tinha um bar ali que de repente estava lá o Amazonas tocando violão, aí pintava um cara lá de Belo Horizonte, um músico. Aí teve um festival de música popular brasileira que teve lá uma eliminatória, e nós estivemos lá com o Geraldo Vandré, estivemos lá com aquela Tuca, estivemos com uma série de artistas. O fato é que a gente saía de casa sem um tostão no bolso e você já encontrava com o Estevão e conversava, já em cinco minutos se encontrava com o Jarbas Juarez e aí já estava lá conversando. Depois ia lá para o Grêmio Literário Tristão de Ataíde, que tinha uma sede lá na Casa dos Contos, uma salinha onde lá tinha livros, tinha pessoas discutindo política e a situação da conjuntura atual. E a conjuntura mundial era a Guerra Fria onde o mundo foi polarizado entre praticamente duas tendências, a proposta socialista e a proposta capitalista. A Guerra Fria vem após o fim da segunda Guerra Mundial e se estabelece, e nos mundos cada lado, cada potência buscando exatamente aumentar a sua área de domínio tanto do ponto de vista político como do econômico. Conseqüentemente o econômico e o político sempre andam juntos. Então essa é a conjuntura internacional na época, uma conjuntura extremamente conflitante um processo já avançado da Guerra do Vietnam, que foi uma guerra, que eu vi até hoje o José Dirceu falando na televisão que os Estados Unidos perdeu a guerra dentro do próprio Estados Unidos na medida do protesto da população norte-americana e do mundo todo. Politicamente não se tinha como ganhar aquela guerra, mas uma situação eu não digo que com certos encaminhamentos como estes agora do Iraque em que o mundo todo já está contra, mas que vai existir de qualquer forma. Agora, o que acontece é isso: a Guerra Fria do plano interacional, e o Brasil fazendo parte deste contexto e definido como um aliado a qualquer preço das potências capitalistas, de um lado da guerra. E a partir esta história eu não preciso contar, nesta conjuntura teve um golpe de estado contra o João Goulart, que era um governo que queria fazer reformas aprofundadas e radicalizar a democracia. Ele quis fazer reformas populares como a reforma agrária, a nacionalização das empresas. O resultado: o golpe de estado. E os lugares onde se ventilavam esta discussão, onde as coisas eram discutidas, um dos lugares, talvez um dos maiores lugares eram o Grêmio Literário Tristão de Ataíde. Lá convergiam pessoas organizadas e simpatizantes de organização, pessoas liberais que não encontraram eco e de uma certa forma não faziam parte de um ponto de vista pessoal e intelectual daquela população nativa de Ouro Preto, da população conservadora mineira, da FOP. Eu acho que é um negócio interessante colocar o Grêmio Literário Tristão de Ataíde como um lugar de convergência de todas as pessoas que vislumbraram e discutiam uma saída para a situação sócio-política-econômica que se vivia naquele momento.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: parece-me que o GLA difundia idéias através de um órgão chamado A Voz do GLTA?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): é, e eu tenho um aí. Quais as atividades do GLTA? O GLTA tinha reuniões formais e ordinárias num calendário de reuniões de 15 em 15 dias. Nessas reuniões sempre um membro do GLTA apresentava uma discussão sobre um trabalho literário qualquer. Praticamente se organizava neste sentido, e não tinha reunião burocrática, porque não era uma coisa que tinha uma contribuição assim. As pessoas eram do GLTA por razoes simplesmente de se sentirem bem ali. Então em toda reunião alguém apresentava uma discussão sobre um texto literário. Aí tinham as várias tendências. Várias pessoas apresentaram trabalhos sobre Jean Paul Sartre, outras fizeram discussões sobre... e aquilo tudo obviamente encaminhava posteriormente no bojo da discussão para uma discussão política como analise de conjuntura tanto nacional como
internacional, e estas coisas caminharam um pouco neste aspecto. Quer dizer, tudo o que você faz na vida é político. Não tem jeito. Até a própria discussão sobre um texto de Jean Paul Sartre ou sobre outro. Eu me lembro lá que teve um debate uma vez sobre um livro chamado “O Muro”. E teve um debate sobre este livro, e obviamente tem uma parte do livro que tem lá uns conto deste livro. Tem um que ‘s sobre a guerra civil na Espanha. E quando se fala deste conto se fala sobre ditadura e sobre regime s autoritários. E nada mais do que estabelecer uma relação com o que estava acontecendo no Brasil.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: como era o cotidiano do grêmio?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): existia uma reunião semanal. A essa o Padre Mendes comparecia ou não. Existia uma diretoria informal, que era mais ou menos composta pelas tendências que tinha lá. Normalmente era composta pelo Hélcio, que era do PCB, o Godoy que era da AP, mas ligada a igreja e a JOC, JUC, JEC. Mas isto aí era informal, porque necessariamente eu não estou lembrado de ter definida uma diretoria, era mais ou menos para organizar o trabalho. É claro que tinha uma formalidade em relação ao Padre Mendes, ao João Pignataro, que eram ligados a parte de coordenação do GLTA. Tinha essa coordenação. E geralmente o participante do GLTA ele normalmente na reunião ele se propunha na próxima reunião a apresentar um determinado trabalho. Às vezes ele ou mais pessoas. E aqueles trabalhos eram apresentados. E tinham músicas no GLTA, que as vezes um cara chegava lá com um violão e tocava. Tinha lá outras pessoas que apresentavam enquetes. E depois ali se propunha a apresentar uma peça de teatro que era apresentado no Teatro Municipal de Ouro preto, que a gente mantinha acesso rápido e não tinha muita burocracia. Quer dizer, era um lugar que fomentava e aglutinava a cultura, aglutinava as idéias culturais daquela época e com possibilidade de discutir. Necessariamente não era só no GLTA que acontecia isso. Acontecia isso também... eu estou fazendo uma abordagem sobre onde estes grupos, essas pessoas começaram o seu processo de formação, porque qualquer processo de formação ele começa num processo de discussão de idéias, de discussões, de reuniões onde as pessoas possam emitir sobre os seus pensamentos. E o GLTA foi a base da minha agregação (com o pensamento), da minha relação com a esquerda. Eu era um cara que era insatisfeito... eu te contei o caso da Escola Normal, e eu batei de frente com o conservadorismo. Para você ter uma idéia eu tomei horrores pela Escola Normal, porque não agüentava ir para a aula. Eu era um cara que queria namorar, queria dançar, queria ouvir músicas, queria não sei o que, queria a vida, queria saúde, e num dado momento deparei com aquele conservadorismo terrível. Por incrível no sul de Minas, lá em Três Corações as coisas eram mais abertas um pouco, por razoes que uma cidade com mais sol, e Ouro Preto era uma coisa fechada e cinzenta, uma coisa assim meio “de casa”. Lá não, lá tinha um lugar para nadar no Rio, para fazer não sei o que. Por razoes ou outras, eu também não tinha muita capacidade de compreender porque tinha 13 e 14 anos e não teria uma visão completa e aprofundada. Não teria nem idade para isso. Mas me sentia melhor lá em Três Corações. E então eu era um cara contestador. Mesmo assim na Escola Normal num primeiro momento eu fui eleito Presidente do grêmio da Escola Normal, no primeiro ano que eu estava lá eu fui eleito Presidente do Grêmio. Eu era uma pessoa que buscava o meu espaço. Eu tinha necessidade, eu sentia a necessidade de ter mais liberdade, e aquela cidade não proporcionava. Eu estava ali porque meu pai foi transferido para BH, e achou preferível que nós morássemos ali. Mas eu me sentia chocado, eu não gostei de ter ido para Ouro Preto. Achei uma cidade fechada para o meu esquema. E porque a minha família era considerada uma família tradicional de Ouro Preto. Apesar do padre Mendes ser uma pessoa que negava esta tradição na prática, mas não deixava de ser uma família tradicional de Oro Preto, a família Mendes Barros de Ouro Preto, a família que tinha professores, pessoas formadas na Escola de Minas e na Escola de Farmácia, tinha o meu tio Ney que era professor da Escola de Farmácia, tinha vários clínicos formados que eram professores (trecho não compreendido). Então aquilo me chocou um pouco. Mas ao mesmo tempo esse aspecto de Ouro Preto que eu te expliquei, essas
idéias que partiram de todos os cantos do país e que se concentravam, e ali era fácil de se influenciar, porque você não tinha que fazer grandes deslocamentos. Eu conhecia a pessoa e daqui há cinco minutos se tornava amigos e coisa assim e pelo tamanho da cidade proporcionava esse tipo de encontro a toda hora, isto foi gratificante. E muitos lugares fundamentais para me sentir com essas idéias foi o Grêmio Literário Tristão de Ataíde. Para mim e para todas as pessoas que eu conheci, tipo o Hélcio, tipo o Causin, tipo o Arnaldo Drummond, tipo o Victor Godoy... ele ainda é Reitor?
OTÁVIO LUIZ MACHADO: não, ele é professor da Escola de Farmácia.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): mas ele foi reitor lá?
OTÁVIO LUIZ MACHADO: não. Foi Pró-Reitor de Administração.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): todo esse pessoal ali se concentrando. E a partir dali não necessariamente só o GTLA. O Diretório da Escola de Minas tinha uma coisa a parte em relação a cidade, porque o estudante de engenharia em Ouro Preto naquela época ele era extremamente valorizado, mesmo para essa população conservadora, eles eram os futuros maridos de suas fi;lhas.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: eles tinham um status social.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): eles tinham um status social. Para você ter uma idéia, naquela época estudar farmácia era considerado um cara que não queria nada com a dureza, porque não conseguia passar no vestibular de engenharia e ia fazer farmácia. Existia esta concepção em Ouro Preto. E todos os estudantes de engenharia de Ouro Preto, e a Escola de Minas de Ouro Preto era famosa no Brasil todo como eu já coloquei. Então os caras tinham o maior status. No vestibular classificatório só passava 35. antigamente, o estudante antes de se formar já tinha emprego da melhor qualidade, que já chegava com carro na porta. E eles eram considerados futuros maridos das filhas daqueles conservadores. Para você ter uma idéia para um garoto que arrumava a namoradinha da mesma idade, que era normal naquela idade, em Ouro Preto era uma dificuldade danada, porque a menina de 15 anos já namorava um estudante de engenharia de 20 e poucos anos para depois dali casar. Então era como se diz uma proposta de casamento, como se diz, um trampolim social. Os estudantes eram extremamente valorizados com as meninas. E a eles eram permitidos uma série de coisas, como beber de cair na rua. Isto não era considerado nada de desvio. Agora sim, nunca uma sociedade dessa permite o cara ser considerado comunista. Este não importa, pode ser tudo, menos comunistas. Estas pessoas foram execradas. De alguma certa forma por serem pessoas valorizadas o Diretório da Escola de Minas eles conseguiam fazer bastante coisa lá. Era um pólo de discussão.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: para eles havia maior espaço na cidade
MARCO ANTÔNIO (PLAY): tinham mais espaços na cidade. Era tipo um GLTA. Mas eles convergiam com o GLTA. Eles iam ao GLTA. É interessante. Mas lá na escola de engenharia também tinha uma convergência de idéias...
FIM DA FITA 1 LADO 1
INÍCIO DA FITA 1 LADO 2
MARCO ANTÔNIO (PLAY):... eu considero o GLTA e considero esse Diretório da Escola de Minas. Eles montaram todos os tipos lá de eventos tanto culturais como políticos.

OTÁVIO LUIZ MACHADO: quais tipos de eventos?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): por exemplo, teve várias assembléias onde que ia o pessoal da Escola de Medicina que foram a Ouro Preto para fazer encaminhamentos em relação a propostas de entidades regionais para discutir o Diretório da Escola de Minas.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: e vocês como secundaristas entravam também?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): de uma certa forma, sim.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: porque era uma coisa mais aberta?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): era uma coisa mais aberta. Eles tinham eventos culturais, porque eles conseguiam... teve um músico de jazz famoso na época e que morreu há uns 10 anos atrás, várias vezes ele foi lá em Ouro Preto pelo Diretório Acadêmico. Eles tinham um status porque tinham repúblicas pagas pela Fundação Gorceix, e tinha uma série de coisas. Eles eram bastante valorizados. E depois também tinha uma divisão danada, porque tinham os estudantes de esquerdas e os estudantes de direita. Tinha repúblicas de dedo-duros e repúblicas que não tinham dedo-duros. Era considerado dedo-duro mesmo. Nesse momento, no GLTA eu me deparei várias vezes e discuti com pessoas que foram as mais influentes do movimento estudantil em Ouro Preto, sobretudo em relação ao movimento secundaristas, que é o Hélcio Fortes. Eu conheci o Hélcio bastante, e apesar do Hélcio ser da minha idade na época – era um pouco mais velho do que eu – era muito inteligente, lia muito e tinha muita capacidade de liderança. E através do Hélcio dessas reuniões do GLTA eu fui como se diz, investindo e encaminhando. Foi o meu processo de encaminhamento político. Foi como se diz, foi o meu encaminhamento político. Eu já questionava um monte de coisas que eu disse para você, mas a partir dali comecei a participar do PCB como simpatizante. Participei de algumas reuniões, e nestas reuniões eu conheci o César Maia, conheci o Jacques, o Pauly, conheci o Moreira, o Moreirão do Saramenha e outras pessoas, como o Lincoln. E a partir daí nós ficamos amigos. Eu participei de panfletagem, de pichações e uma série de coisas. O meu processo de conhecimento político veio a partir daí. Para mim, isso que eu te coloquei foram os locais onde convergiam estas idéias. Nestes locais convergiam estas idéias. Foi a partir deles é que foi possível ter conhecimento do que estava sendo discutido em termos de Brasil e em termos de mundo.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: isso tudo no contexto da ditadura.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): isso tudo no contexto da ditadura. Mas a ditadura quando veio com o golpe de 1964 muitas destas pessoas foram presas. O pessoal do PTB foi preso, o padre Mendes andou desaparecendo um pouco, mas depois retoma. Eles não prenderam o padre Mendes, simplesmente por omissão. O Grêmio Literário Tristão de Ataíde continua, o Diretório Acadêmico dos Estudantes continua. E neste momento, em 1967 e 1968, a União Colegial estava na mão da direita lá. Era chamado José Maria Castro, família rica lá, família do José Alberto Pinheiro, uma figura aí.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: filho do Antônio Pinheiro Filho.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): então esse pessoal era de direita lá. E eles estavam na União Colegial de Estudantes para emitir carteirinhas, fazendo aqueles bailinhos coisa assim fresquinho e típico da sociedade conservadora. E como sempre relacionando sendo acessórios do Diretório da Escola de Minas e totalmente desvinculada da UnIão Estadual dos Estudantes. E fazia questão se

OTÁVIO LUIZ MACHADO: quais tipos de eventos?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): por exemplo, teve várias assembléias onde que ia o pessoal da Escola de Medicina que foram a Ouro Preto para fazer encaminhamentos em relação a propostas de entidades regionais para discutir o Diretório da Escola de Minas.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: e vocês como secundaristas entravam também?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): de uma certa forma, sim.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: porque era uma coisa mais aberta?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): era uma coisa mais aberta. Eles tinham eventos culturais, porque eles conseguiam... teve um músico de jazz famoso na época e que morreu há uns 10 anos atrás, várias vezes ele foi lá em Ouro Preto pelo Diretório Acadêmico. Eles tinham um status porque tinham repúblicas pagas pela Fundação Gorceix, e tinha uma série de coisas. Eles eram bastante valorizados. E depois também tinha uma divisão danada, porque tinham os estudantes de esquerdas e os estudantes de direita. Tinha repúblicas de dedo-duros e repúblicas que não tinham dedo-duros. Era considerado dedo-duro mesmo. Nesse momento, no GLTA eu me deparei várias vezes e discuti com pessoas que foram as mais influentes do movimento estudantil em Ouro Preto, sobretudo em relação ao movimento secundaristas, que é o Hélcio Fortes. Eu conheci o Hélcio bastante, e apesar do Hélcio ser da minha idade na época – era um pouco mais velho do que eu – era muito inteligente, lia muito e tinha muita capacidade de liderança. E através do Hélcio dessas reuniões do GLTA eu fui como se diz, investindo e encaminhando. Foi o meu processo de encaminhamento político. Foi como se diz, foi o meu encaminhamento político. Eu já questionava um monte de coisas que eu disse para você, mas a partir dali comecei a participar do PCB como simpatizante. Participei de algumas reuniões, e nestas reuniões eu conheci o César Maia, conheci o Jacques, o Pauly, conheci o Moreira, o Moreirão do Saramenha e outras pessoas, como o Lincoln. E a partir daí nós ficamos amigos. Eu participei de panfletagem, de pichações e uma série de coisas. O meu processo de conhecimento político veio a partir daí. Para mim, isso que eu te coloquei foram os locais onde convergiam estas idéias. Nestes locais convergiam estas idéias. Foi a partir deles é que foi possível ter conhecimento do que estava sendo discutido em termos de Brasil e em termos de mundo.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: isso tudo no contexto da ditadura.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): isso tudo no contexto da ditadura. Mas a ditadura quando veio com o golpe de 1964 muitas destas pessoas foram presas. O pessoal do PTB foi preso, o padre Mendes andou desaparecendo um pouco, mas depois retoma. Eles não prenderam o padre Mendes, simplesmente por omissão. O Grêmio Literário Tristão de Ataíde continua, o Diretório Acadêmico dos Estudantes continua. E neste momento, em 1967 e 1968, a União Colegial estava na mão da direita lá. Era chamado José Maria Castro, família rica lá, família do José Alberto Pinheiro, uma figura aí.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: filho do Antônio Pinheiro Filho.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): então esse pessoal era de direita lá. E eles estavam na União Colegial de Estudantes para emitir carteirinhas, fazendo aqueles bailinhos coisa assim fresquinho e típico da sociedade conservadora. E como sempre relacionando sendo acessórios do Diretório da Escola de Minas e totalmente desvinculada da UnIão Estadual dos Estudantes. E fazia questão de ser desvinculada de qualquer entidade nacional, estadual ou regional. Não tinha atividade nenhuma de evento cultural maior apenas aqueles bailinhos sem sal onde as menininhas lá dançavam dois metros separados da juventude, aquela música idiota. Não tinha nenhuma pretensão de politizar, não tinha nenhuma pretensão de fazer avançar a consciência, de questionar a sociedade e de captar os anseios daquela juventude inquieta com potencial enorme que Ouro Preto oferecia nas artes, para a cultura de uma maneira geral, porque Ouro Preto sempre teve um potencial de sua juventude. E naquela época tinha muita gente muita coisa. Então, nós num ano nós fizemos uma chapa só de esquerda. Eu tinha atividades no Partido Comunista, eu era presidente da chapa que participava Antônio de Pádua, Causim, meu irmão chamado Antônio Mendes Barros, o Toninho, e mais algumas outras pessoas lá. E nós partimos para uma eleição assim mesmo, politizada. Fomos de classe em classe, apoiado pelo Diretório Acadêmico da Escola de Minas. Fomos de classe em classe, e conseguimos com os diretores que a gente entrasse, fizemos campanha na porta dos colégios, e fizemos tudo que era possível. O interessante é que na época da apuração dos votos da eleição, nós convocamos a União Estadual dos Estudantes Secundaristas para fiscalizar, porque eles iam roubar da gente. Teve ameaça de dar porrada, teve nego que me perseguiu na rua para me dar porrada, o Hélcio tomou um guarda-chuvada na cabeça de um tal de Márcio Sandro Machado, que era um estudante de direita que tinha lá. Teve umas coisas assim. Eu sei que era mais ou menos um mês de campanha, e depois as eleições foram marcadas. Tanto do ponto de vistas eleições como do ponto de vista da apuração foi toda fiscalizada pela União Estadual dos Estudantes Secundaristas, que era um pessoal de esquerda de BH, mas que tinha uma atuação segura em relação. Foi um trabalho honesto. Só assim que nós ganhamos. Eu ganhei muito bem, com uma margem de diferença muito grande. Comemoramos etc etc. E nós procuramos fazer uma política totalmente diferente. Se eu não me engano eram dois anos, mas eu só consegui ficar um ano. Exatamente porque eu fui obrigado a sair de Ouro Preto por causa de perseguição política. Sendo que eu acho que o maior evento foi dez dias ou 14 dias, e teve entre outras coisas painéis, discussões políticas e culturais com autoridades e intelectuais de Belo Horizonte e da UFMG, principalmente ligados à esquerda. O DCE de Belo Horizonte, o Waldo Batista Filho, várias pessoas foram lá participar de painéis, teatro. Teve eventos políticos e culturais. A abertura foi uma passeata com estudantes de BH contra a ditadura. E a passeata saiu ali da altura da Escola de Farmácia, na concentração, e fomos caminhando para o Teatro Municipal de Ouro Preto onde seria a abertura, e onde eu abri os trabalhos. E coloquei na programação que teria um debate que durou 2 dias. Como se diz, foi dois estes debates, e fui eu que coordenei os trabalhos e nos debates nos discutimos o problema do ME, a política estudantil. E nós tento fazer um painel tanto do ponto de vista de cartazes como de discussão. E era um processo de discussão com bastante cartazes sobre os malefícios do acordo Mec-Usaid, que até hoje está aí. E fomos avançando no processo da conjuntura tanto internacional quanto nacional e colocando o golpe de estado ou o avanço da ditadura, denúncias de presos de Ouro Preto e do Brasil e citando os nomes dos presos que foram levados para a Penitenciária de Neves, sendo que alguns deles foram torturados e receberam ameaças de fuzilamento.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: o evento foi quando?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): foi em 1967, mas nós denunciamos o que aconteceu em 1964. é interessante dizer que em 1967 que eu fui Presidente e era para ficar até 1969 e eu fui embora de Ouro Preto em 1968, no meio do ano mais ou menos que eu saí de Ouro Preto. Estes painéis discutiam o problema do Mec-Usaid, a tendência do ensino pago e o desmantelamento do ensino básico. Nós nos atemos tanto na política universitária quanto na política secundarista várias pessoas do Diretório Acadêmico da Escola de Minas participou. E o problema da conjuntura, tanto a internacional como a nacional e o momento em que a gente está vivendo e o processo de recrudescimento da ditadura. Naquela época do Ato Institucional nº 2 de cassação dos partidos e de formação de no vos partidos, ou seja, o MDB e a Arena.


OTÁVIO LUIZ MACHADO: e a relação da UCO e do Diretório, e da UCO com a UBES?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): a UCO com a UBEs foi uma relação política muito grande. Foi exatamente a partir das discussões com a UBES é que nós resolvemos formar uma chapa de oposição. Naquele momento eu participava como participava a maioria das pessoas engajadas na esquerda e já participávamos da preparação do VI Congresso do PCB, onde teve o racha com o Marighella. Várias vezes eu participei de madrugada de reuniões na República Castelo dos Nobres
OTÁVIO LUIZ MACHADO: na república do Pedro Mola....
MARCO ANTÔNIO (PLAY): o Pedro Mola, não, o problema Mola morou lá depois. Ele morava com César, na (República) Pureza. Quem morava nesta república era o Pauly, era uma série de pessoas que moravam. E ali tinha as discussões das teses do PCB e a proposta de rompimento, como único caminho para a derrubada da ditadura e da construção do socialismo seria através da luta armada. Falando de grosso modo, não é questão discutir isto agora, mas exatamente o PCB achava que tinha que fazer uma autocrítica em relação ao golpe porque a reação foi uma reação aquém das necessidades. Era um partido populista que estava afastado das massas de uma certa forma, e era um partido burocrático, mas que ele não trataria como linha de ação a luta armada. Ele tinha uma ilusão que a ditadura iria acabar logo logo. A gente achava que a ditadura só iria cair e que a construção do socialismo era através da luta armada, porque a situação real não existia mais. E aí o que acontece? A relação que a gente tinha com o Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia era de que a maioria de todos eles de alguma forma eram ligados ao PCB. Então a gente fazia reuniões e a gente tina ligações.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: eu acho que em 1966 o Presidente era o Jacques.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): era o Lincoln. O Lincoln entrou na época em que eu entrei.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: O Lincoln foi depois do Jacques.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): o Jacques. Por isso que eu falei. O Centro Acadêmico da Escola de Engenharia e os estudantes universitários eram extremamente valorizados. O Centro Acadêmico da Escola de Engenharia não estava na mão da direita como a União Colegial Ouro-Pretana estava. Porque quando houve o golpe de 64 houve intervenção em tudo que qualquer diretório ou sindicato considerado de esquerda. Houve intervenção na União Colegial Ouro-Pretana. Porque em 1964 a União Colegial Ouro-Pretana o presidente e o pessoal ligado era um pessoal de esquerda. Depois de receber a intervenção ficou uma turma de direita durante dois anos, se eu não me engano, e na eleição seguinte foi referendado aquela chapa que estava lá, houve continuísmo e em seguida nós nos preparamos para a eleição e vencemos as eleições. Agora, diference do Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia...
OTÁVIO LUIZ MACHADO: houve intervenção o Diretório...
MARCO ANTÔNIO (PLAY): mas que se recompôs rapidamente, porque o Jacques era um cara do Partido Comunista.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: em 1964 era o R6omulo Freire Pessoa. Depois houve um poerído de intervenção e ocorreu novas eleições.

MARCO ANTÔNIO (PLAY): a direita naquela época ela tinha uma preguiça mental. Ela queria farra. Para você ter uma idéia eu vou contar um caso. Uma vez eu fui a um congresso de estudantes secundaristas em Passos, onde a gente passava todo o tempo do congresso trabalhando e discutindo, montando uma estrutura para a gente ganhar as eleições. Então numa determinada época lá... as pessoas de direita eram extremamente desorganizadas. Queiram farra, queriam beber cachaça o dia inteiro. Eles eram ideologicamente contra a gente. Então teve um dia que a gente estava lá no dormitório geral numa escola secundária lá de Passos conchavando os indecisos porque o dia seguinte seria o dia das eleições. E nós ganhamos. Ganhamos assim, nós tivemos que dividir. Aí entrou uma chapa mista. Aí nós estávamos conchavando e aí a direita foi na zona e trouxe um monte de prostitutas e fez strip-tease. O que aconteceu? Estes indecisos ao invés de ficarem nas discussões políticas paralelas ali foram ver o strip-tease. Olha as formas que eles usaram para sabotar as coisas. Não tinham critérios. Eram um negócio extremamente antiético. A agressividade, os caras que qualquer coisa quer dar porrada. E em Ouro Preto também não deixava de ser. Então quando houve o rompimento com o PCB todos os estudantes de maneira geral ligados ao PCB faziam reuniões para romper com o PCB, porque passaram a militar, ou seja, passaram a pertencer à Corrente. A Corrente em Ouro Preto era grande, para você ter uma idéia. Tinha umas 30 pessoas.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: em quais setores, principalmente?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): em todos os setores da sociedade. Eu naquela época eu fui obrigado a terminar minha gestão, porque eu exatamente não teria espaço em Ouro Preto. Eu fiquei com um certo temor. Eu comecei a receber bilhetes anônimos. Eu fui para Belo Horizonte depois de um período deste acampamento liderado lá pelo César Maia e pelo Diretório Acadêmico da Escola de Minas. Mas, principalmente o César Maia que era um líder ele foi também para Belo Horizonte porque ele foi excluído da Escola de Minas. Eu não se ele chegou a ser expulso, mas ele foi excluído da Escola de Minas. Ele abandonou a Escola de Minas. Abandonou por razões políticas. Ele tinha interesses políticos e foi para Belo horizonte onde morou comigo no Edifício Maleta. Eu já morava lá quando o César chegou. Aí teve um prisão dele distribuindo boletim para o XXX Congresso de Ibiúna. E foi preso ele e uma garota. Ele ficou muito tempo preso.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: mas neste tempo ele não estudava na escola?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): ele estava em BH sem estudar. Ele simplesmente abandonou. Abandonou por razoes políticas. Ele ficou no ostracismo, sei lá, mas ele foi buscar um novo espaço político para ele. Era um cara voltado para a política na época no ponto de vista da luta de esquerda. Então ele foi para BH.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: ele abandonou mas não perdeu as ligações?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): não perdeu as ligações, mas ele não estudava. Ele abandonou e não voltou a estudar, não. Para você ter uma idéia, ele foi preso na panfletagem, ficou um período preso se eu não engano, e eu vim a conhecer a família dele naquela época e até namorei a irmã dele. E depois ele saiu da cadeia, ele começou a participar das assembléias preparatórias para o congresso de Ibiúna e não voltou mais para Ouro Preto. Voltou lá depois para pegar alguma coisa. Para morar nunca mais. Continuou morando lá no (Edifício) Maleta comigo. Até que ele partiu para o Congresso de Ibiúna, onde foi preso. E aí ficou preso no Presídio Tiradentes em SP. Neste período eu fui preso já organizado depois de participar de um assalto pela Corrente, já sendo procurado como guerrilheiro e procurado pelo assalto de Ibirité. Nesse momento em que volta de SP para BH eu sou interrogado sobre a pessoa dele, mas eu não abri nada a respeito dele. Se eu abrisse ele estava fudido. Ele deve isto a mim, porque eu entrei na porrada, fui torturado pelo capitão Hilton de
Oliveira Portela onde ele fez várias perguntas sobre o César. Um cara que falou a respeito dele foi (nome não compreendido). Eu falei para o Robedalho (confirmar nome) negar, falar que ele era simplesmente meu amigo. E eu entrei no choque elétrico por causa dele. É isso, não sei o que você quer saber mais.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: voltando um pouco para a cisão do PCB. Então o PCB não queria o combate a ditadura com a luta armada? E a Corrente é a cisão do PCB?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): A Corrente é a cisão do PCB em Minas Gerais. O PCB achava que devia combater a ditadura através de meios pacíficos, através de meios democráticos. E pocurar fazer um trabalho clandestino onde se restauraria a democracia e a partir daí seria a etapa que seria para plataforma para o socialismo. A dissidência que se deu no PCB que gerou a ALN, o PCBR e uma série de outras.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: A ALN já era mais nacional, e a Corrente só em Minas?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): A Corrente era só em Minas, mas era ligada à ALN. Só que tinha autonomia, mas tinha a mesma posição e o ponto de vista tático estratégico em relação tomada do poder e a implantação do socialismo. A mesma coisa. Reuniões entre os dirigentes da Corrente como Ricardo Apgaua, o Xuxu, que é o Mário Roberto Galhardo Zaconato, estiveram várias vezes em SP com o Marighela, que tinha um estreitamento de relações. Era praticamente a ALN. A Corrente tinha um caráter autônomo em MG, que era setorizada. Aí se deu a cisão, porque a gente achava que a situação legal tinha acabado. E a gente não teria como se estabelecer numa Guerra Fria daquela uma coisa que (palavra não compreendida) de Guerra Fria, e onde existia uma ditadura oriunda desta Guerra Fria. Era a gente querer combater este tipo de situação pacificamente e levando o país para um processo democrático seria uma ilusão pequeno burguesa. Uma posição burguesa. Porque na medida em que aqueles acabaram com a legalidade não tinha como ser legal. A gente não estava usando armas para afronta-los. A gente usava armas porque invadiu a nossa e tomou a nossa vida e falou o que pode e o que não pode. Estabeleceu regras e cortou a nossa liberdade. É um direito. Eu acho que o direito a revolta a tirania é um direito do cidadão.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: o que a gente conversou sobre a Corrente, mas depois ela se ligou à ALN?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): definitivamente. Em 1969 e 70 quando praticamente é derrotada pela repressão, ela é esfacelada em Minas Gerais, as pessoas que estavam na Corrente, e algumas já tinham ido naquele momento saíram tipo o Gilney, o Causim, o Hélcio que não foram presos naqueles momentos, eles foram para São Paulo e Rio de Janeiro e foram ligados na ALN já direto. Era a parceira da Corrente, era a forma de pensar sob o ponto de vista tático-estratégico em relação a tomada do poder e a derrubada da ditadura e a implantação do socialismo. A maNEIRA era a mesma, várias reuniões começam da Corrente. Como existiam outras organizações também no Brasil ligadas à ALN que não tinham uma liderança. Era extremamente natural na medida que acabou a Corrente as pessoas passarem para a ALN.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: em 1969 mesmo a Corrente já estava desestruturada e o pessoal resolveu sair de Minas porque não tinha mais espaço.
(interrupção rápida)
OTÁVIO LUIZ MACHADO: por exemplo, em 1969 houve o desmantelamento da Corrente. Você experimentou este desmantelamento?
Oliveira Portela onde ele fez várias perguntas sobre o César. Um cara que falou a respeito dele foi (nome não compreendido). Eu falei para o Robedalho negar, falar que ele era simplesmente meu amigo. E eu entrei no choque elétrico por causa dele. É isso, não sei o que você quer saber mais.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: voltando um pouco para a cisão do PCB. Então o PCB não queria o combate a ditadura com a luta armada? E a Corrente é a cisão do PCB?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): A Corrente é a cisão do PCB em Minas Gerais. O PCB achava que devia combater a ditadura através de meios pacíficos, através de meios democráticos. E pocurar fazer um trabalho clandestino onde se restauraria a democracia e a partir daí seria a etapa que seria para plataforma para o socialismo. A dissidência que se deu no PCB que gerou a ALN, o PCBR e uma série de outras.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: A ALN já era mais nacional, e a Corrente só em Minas?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): A Corrente era só em Minas, mas era ligada à ALN. Só que tinha autonomia, mas tinha a mesma posição e o ponto de vista tático estratégico em relação tomada do poder e a implantação do socialismo. A mesma coisa. Reuniões entre os dirigentes da Corrente como Ricardo Apgaua, o Xuxu, que é o Mário Roberto Galhardo Zaconato, estiveram várias vezes em SP com o Marighela, que tinha um estreitamento de relações. Era praticamente a ALN. A Corrente tinha um caráter autônomo em MG, que era setorizada. Aí se deu a cisão, porque a gente achava que a situação legal tinha acabado. E a gente não teria como se estabelecer numa Guerra Fria daquela uma coisa que (palavra não compreendida) de Guerra Fria, e onde existia uma ditadura oriunda desta Guerra Fria. Era a gente querer combater este tipo de situação pacificamente e levando o país para um processo democrático seria uma ilusão pequeno burguesa. Uma posição burguesa. Porque na medida em que aqueles acabaram com a legalidade não tinha como ser legal. A gente não estava usando armas para afronta-los. A gente usava armas porque invadiu a nossa e tomou a nossa vida e falou o que pode e o que não pode. Estabeleceu regras e cortou a nossa liberdade. É um direito. Eu acho que o direito a revolta a tirania é um direito do cidadão.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: o que a gente conversou sobre a Corrente, mas depois ela se ligou à ALN?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): definitivamente. Em 1969 e 70 quando praticamente é derrotada pela repressão, ela é esfacelada em Minas Gerais, as pessoas que estavam na Corrente, e algumas já tinham ido naquele momento saíram tipo o Gilney, o Causim, o Hélcio que não foram presos naqueles momentos, eles foram para São Paulo e Rio de Janeiro e foram ligados na ALN já direto. Era a parceira da Corrente, era a forma de pensar sob o ponto de vista tático-estratégico em relação a tomada do poder e a derrubada da ditadura e a implantação do socialismo. A maNEIRA era a mesma, várias reuniões começam da Corrente. Como existiam outras organizações também no Brasil ligadas à ALN que não tinham uma liderança. Era extremamente natural na medida que acabou a Corrente as pessoas passarem para a ALN.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: em 1969 mesmo a Corrente já estava desestruturada e o pessoal resolveu sair de Minas porque não tinha mais espaço.
(interrupção rápida)
OTÁVIO LUIZ MACHADO: por exemplo, em 1969 houve o desmantelamento da Corrente. Você experimentou este desmantelamento?

70 anos da UNE: o que já sabemos? O que precisamos saber? Otávio Luiz Machado (Organizador) 14
MARCO ANTÔNIO (PLAY): não, eu fui preso em abril, em 09 de abril de 1969. Fui preso logo no início. Foi preso eu, o Arnaldo Drummond, foi preso o Galfredo, as pessoas mais ativas da Corrente foram presas no início de 1969.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: ao que você atribui esta queda da Corrente. Ela foi desmantelada no máximo em 2 anos?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): não sei. O recrudescimento da ditadura e a organização não preparada suficiente para (trecho não compreendido). Não organizaram no sentido de que a ditadura não tinha nenhuma ética, não tinha uma postura, e simplesmente usava de todos os meios, sobretudo a tortura para fazer valer as suas idéias. Então, o militante não estava preparado para ser torturado
num pau de arara doze ou 24 horas. Já estava abrindo, que é normal do ser humano. Nem na Argélia o pessoal agüentava. Eu acho que ela não estava preparada para aquele recrudescimento da repressão.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: o sérvio de informação também era muito eficiente?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): havia pessoas que conheciam entre si. Faltou um objetivo estratégico mais claro. Faltou um objetivo onde que resguardassem mais a militância e aquelas pessoas colocadas de forma mais dentro (Palavra não compreendida). Era muito confuso isso, porque a repressão foi precipitada em Minas não pela Corrente. A Corrente participou de muitas ações, mas não precipitou a repressão. A primeira organização a ser eliminada em Minas foi a Colina. A polícia invadiu um aparelho da Colina no Bairro São Geraldo onde que a Colina tinha dez ou quinze, sei lá, tinha bastante militantes que eu não me recordo, e entraram numa troca de tiros onde mataram dois policiais...
FIM DA FITA 1 LADO 2
INÍCIO DA FITA 2 LADO 1
OTÁVIO LUIZ MACHADO: Marco Antônio, tem a questão que Minas estava bem alinhada com a ditadura, e tem a questão que em 1964 ela apoiou
MARCO ANTÔNIO (PLAY): estava, mas você tem que entender também que eu considero que estas pessoas que resistiram nos porões foram pessoas fundamentais, mas que foram até esquecidas. Hoje em dia é que começaram a ser relembradas, e foram fundamentais no processo de redemocratização da sociedade brasileira. Foram verdadeiros heróis da luta contra a ditadura. E a ditadura foi implantada pela força, e a resposta tinha que também ser violenta. E as pessoas propuseram. Para você ver, a Corrente teve quatro mortos. Teve pessoas que pegaram dez anos de cadeia. Eu fiquei quase cinco anos preso. Dos vinte aos vinte e cinco anos. Na cadeia em Linhares houve resistência: fizemos greve de fome, fizemos motins, muita denúncia saiu de lá para o exterior denunciando torturadores e denunciando as condições carcerárias. Teve um tribunal que foi criado lá na Suécia onde estas pessoas foram julgadas. Nós conseguimos fazer com que estas notícias saíssem foram do país. Nossa luta na cadeia foi maior até, e lá foi mais dura porque a gente estava preso. Então o que que acontece? Então o aspecto de não estarmos preparados para o recrudescimento, porque as conheciam muito. Mas também por erro político. Foi um erro político de estabelecer a todo momento o confronto sem estar preparado suficientemente para este confronto.


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OTÁVIO LUIZ MACHADO: que tipos de confrontos?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): o confronto com a repressão. Ela usou de todos os meios. Torturou de toda maneira.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: você acha que os mineiros foram os que a ditadura mais sacrificou?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): não, não. Rio e São Paulo foi pior, porque acontece o seguinte: a repressão ela foi sempre se excedendo na medida que o tempo foi passando. Em 1969 não se matava, matava na tortura ocasionalmente. Aconteceu no sargento, um cara foi morto ligado a Colina. Não me lembro o nome dele. Os confrontos de rua se davam ocasionalmente e se podia ser morto na rua. Mas a partir de 1970, 72, o cara que era preso geralmente era morto. Quer dizer, em Minas praticamente cessou a repressão generalizada, mas no Rio e em São Paulo continua. Foi fundada Operação Bandeirantes em São Paulo, a OBAN, que era comandada pelo maior assassino, mais de 25 mortes, o Sergio Paranhos Fleury, o delegado Fleury, uma figura execrável, déspota, viciado em drogas, alcoólatra e todo tipo de coisa. A repressão foi maior.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: você foi preso quando?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): em 09 de abril de 1969. O Newton Morais eu acho que foi preso em 1970.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: em 1971.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): naquela época ainda tinha a Corrente, ainda existia a luta armada.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: você foi condenado?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): eu fui condenado em 4 processos. Todos eles na primeira instância 8 anos e 8 meses. Depois saiu na 2a instância para 7 anos e 2 meses e eu saí em liberdade condicional depois de 4 anos e 8 meses. E depois de perder o condicional por mal comportamento, porque a gente enfrentava a repressão até na cadeia.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: voltando um pouco a Ouro Preto. O Hélcio é que era o líder do Partido e depois da Corrente?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): em Ouro Preto. O Hélcio era para mim a pessoa mais politizada que tinha em Ouro Preto. Uma das mais politizadas. Nem sei se o César vai lembrar..ele lembra quando você conversar com ele.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: na greve de Contagem você participou?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): o Hélcio participou da greve de Contagem. A greve de Contagem expôs a ditadura, porque a ditadura se baseou num tripé, que seria: a repressão, a abertura do mercado em todos os níveis possíveis e o desmantelamento de uma série de estruturas nacionais e o arrocho salarial. Então a greve de Contagem desnudou a ditadura, mostrou as pretensões dela. E essa greve de Contagem foi praticamente fomentada e foi como se diz dirigida e fortalecida em todos os aspectos de piquete e coisa assim pela Corrente. A Corrente foi uma das coisas mais importantes para o desfecho desta greve. Porque foi uma greve que tinha uma característica política.

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Era uma greve reivindicatória mas como estava numa situação contra a ditadura ela tinha um caráter político, um caráter eminentemente político. Uma das pessoas mais importantes da Corrente nesta greve além do Hélcio foi o sindicato dos Metalúrgicos que praticamente todo ele era formado pelo pessoal da Corrente.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: você tem notícias do pessoal de Ouro Preto que participou desta greve além do Hélcio?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): não, eu sei só do Hélcio.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: nesta época você estava em BH?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): nesta época eu estava indo para BH em 1967. nesta época eu estava em Ouro Preto e o Hélcio já tinha ido para BH. O Hélcio foi para BH para virar um militante profissional. É um rito de profissionalização de vontade de fazer pol’tica e do embate contra a ditadura que nos levava para outros centros onde possibilitaria a gente se engajar numa organização e militar a ponto de se profissionalizar. Que levou César Maia, levou Causim, levou o Hélcio na nossa frente. O Hélcio era um abnegado. Era militante 24 h. Ele só vivia para discutir política.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: para ser membro da Corrente existia um treinamento ou uma certa preparação doutrinária?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): existia. Nós tínhamos um grupo de estudo lá em Ouro Preto. Discutia, por exemplo, as teses do Partido Comunista. E para se discutir uma tese do Partido Comunista você tinha que se embasar de doutrinas e teorias. O Hélcio montou um grupo de discussão onde participava eu, participa a Sônia Lima, participava um cara que se chamava Rafael e uma série de outras pessoas. E neste grupo em determinados momentos o cara perguntava se você queria militar na organização etc etc etc. obviamente ninguém assinava ficha, mas era ligado a organização. A organização que dominava em Ouro Preto era a Corrente. A maioria das pessoas que participavam de movimentos e eram engajados eram ligados a Corrente e alguns do partido comunista. Todos do Partido Comunista de Ouro Preto passaram para a Corrente. A maioria das forcas de3 esquerda que tinham no Brasil de uma maneira geral eram ligados ao Partido Comunista na época. Todas as outras tendências tinham muita pouco expressão, como a POLOP, a AP. Mas o Partido Comunista quando rompe a maioria saiu para organizações de luta armada. A ALN, O PCBR a Corrente em Minas, na Bahia esqueci o nome. V’rios deles aí foram formando depois da ALN.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: e da COLINA não tinha ninguém em Ouro Preto?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): em Ouro Preto era a Corrente só. Tinha o pessoal ligado a AP. da Colina eu não me lembro de uma pessoa ligada lá.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: e em Ouro Preto teve a questão do desligamento de estudantes como o Lincoln e o Pedro?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): eles foram expulsos pelo 477. mas eu já estava em BH e não me lembro disso. Eu só ouvi falar.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: lá em BH você estava estudando? Qual a sua situação lá?

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MARCO ANTÔNIO (PLAY): lá em BH eu estava fazendo o pré-vestibular. Esta atuação da Corrente ela foi até 1971, porque o Newton Morais foi sempre em 1971 numa ação, quando um menino tomou um tiro e morreu. E não foi ele que deu. Ele confirmou isto na tortura, mas a polícia é que atirou. Era uma ação da Corrente, Corrente e ALN. Existia ainda os focos.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: quando você acha que desmantelou mesmo a Corrente?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): em 1970 e 1971.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: aí já não tinha mais espaço para nada.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): tinha que ir para a ALN. Causim foi morto em 1973, o H’;Elcio em 1973. todos eles com 24 anos.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: e vocês tinham uma precaução em relação a militares e a espiões?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): tinha bastante.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: a Sonia Lima estava contando que numa boite tinha alguns militantes querendo entrar, mas eles não tinham carteira de estudante. E você estava na clandestinidade também?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): depois que eu participei desta ação em Ibirité eu fiquei numa posição... aí logo em seguida eu fui preso, também. Preso numa situação de que o Hélcio...isto também que aconteceu na Colina, que eu te contei o caso, desenfreou e recrudesceu uma repressão bastante grande. Belo Horizonte era uma cidade pequena, hoje e é uma cidade grande. Mas mesmo assim BH até hoje é uma cidade que se concentra ali no centro e fim de papo. Tudo converge para li. E o Hélcio e o Xuxu estavam num bar jantando a noite, quando a polícia deu uma batida. E eles estavam armados. Aí o Hélcio saiu atirando e o Hélcio acertou um policial. A partir daí o Xuxu caiu, ele ficou n no aparelho, e o Arnaldo sabia onde era o aparelho e foi lá para pegar dinheiro com o Xuxu para pagar um aluguel de uma casa. Aliás, ele pagou o aluguel e depois foi lá conversar com o Xuxu. E a polícia pegou o endereço com ele e prendeu eu, o José Alfredo e Geraldo Venâncio, que morávamos no mesmo aparelho. Morávamos no (Bairro) Padre Eustáquio. Aí eu fui preso. Xuxu andou entregando. E foi aquele negócio. O pau comeu.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: você podia falar um pouco da tortura? O que você sofreu na prisão?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): eu tenho um depoimento que está escrito e você pegou lá.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: tudo bem. Você teria assim mais alguma coisa a relatar?
MARCO ANTÔNIO (PLAY): não, não. Eu fui preso. A primeira vez que eu fui preso em Belo Horizonte eu fui levado para o DI da polícia que ficava na Praça da Liberdade. No 2º DI ficou preso eu e o Arnaldo. Ali nós fomos espancados pelo sargento Machado e pelo sargento “Jorjão”, um tal de “Jorjão”. Fomos espancados. E puseram um cachorro pastor alemão para lamber o meu rosto. O cachorro rosnava, botava a boca no meu pescoço e lambia o meu rosto. Mijava em mim. Todas as humilhações possíveis. Eu fiquei mais um dia. Eles foram transferidos para uma academia de polícia no Prado, não sei como se chamava lá. Ali naquele depoimento que eu tenho eu vou te dar e
70 anos da UNE: o que já sabemos? O que precisamos saber? Otávio Luiz Machado (Organizador) 19
contrapartida violenta que é natural do ponto de vista político. Isto são leis naturais da história. Não tem como não ser. São reações naturais da história. As tiranias sempre tiveram contraposição nesta luta. Demoro 20 ou 30 anos, mas elas foram tendo. Essas pessoas foram pessoas que combateram, pessoas que lutaram contra este processo de tirania. Eu acho que o peso foi muito grande. Estas pessoas tiveram um peso muito grande no processo de redemocratização do país. Hoje se começa a dar valor para isso. E foi neste período que se formou quadros políticos. Estão os quadros políticos aí. E a contribuição para a redemocratização foi muito grande. Eu acho que hoje por exemplo estas pessoas participaram muitas delas na fundação do PT, por exemplo, ou na fundação de outros partidos progressistas. Eles continuaram a luta. Não era luta armada, porque não existe uma guerra fria e uma ditadura. E não justiça aquela reação violenta. Uma reação violenta hoje é uma coisa atípica e fora de qualquer contexto histórico. Ela caí num processo de puro e simples terrorismo. Naquele momento não. Foi uma reação popular. Foi uma reação de dignidade. Foi uma reação de defesa da sua identidade, defesa da cidadania. É um direito que você tinha, por mais que eles prendessem tudo, por mais que eles mataram mais de 500 pessoas desaparecidas. Na própria ALN cinqüenta pessoas morreram. Na Molipo 70 pessoas. Por mais que acontecesse isso no ponto de vista histórico eles estavam sendo derrotados. A cada dia eles estavam sendo derrotados. A cada dia isto aí estava fortalecendo o processo de redemocratização. Essas pessoas nos porões, essas pessoas que foram para o sacrifício são pessoas merecedoras. Eu acho na minha opinião, que têm todos os créditos no processo de redemocratização. E o país a cada dia avançando mais, porque a história não pára. Por mais que você coloque pedras, por mais que você tenta parar, o processo de libertação do homem, o processo de relação do homem com uma forma mais harmônica, com a distribuição harmônica em relação a vida e a natureza e a riqueza ela avança. E a contribuição foi fantástica nisso aí. Contribui para o país avançar entre as nações. Neste momento, em 74, estes companheiros que morreram... a história exige isso por mais que você não queira. Na história do mundo todos os processos revolucionários, todos os processos de transformação todas as lutas de classes. Você vê por exemplo a gente trabalhar oito horas por dia. Quantos protestos, quantas manifestações, quanto de violência se teve para que o trabalhador trabalhasse 8 horas. Morreram 7 sindicalistas nos EUA no dia internacional do Trabalho. Foram pessoas que lutaram por 8 horas de trabalho e por um trabalho mais humano. Quer dizer, todas as conquistas aparecem sobre pressão política, que pode ser violenta num determinado momento, ou não. Houve politização. Mas tem que ser um processo de politização. Não tem como ser diferente. A ditadura existiu. Ela cassou e destituiu todas as formas de representação, criou partidos títulos “do amem” e do “tudo bem”. Farinha do mesmo saco. Montou todo um “sim” e “sim senhor”. Montou toda uma estrutura pata que ela se permanecesse eternamente e pudesse beneficiar grupos eternamente. Não seriam grupos interos, mas todo um processo mundial que estava sendo beneficiado e que estava usando os nacionais como lacaios. Então, a contribuição foi fundamental. Inclusive o Brasil é um país...tem um livro ali que tem uma frase e eu gostaria de fechar o depoimento com uma frase deste livro. Só dá uma paradinha aí...
(interrupção)
... o Brasil é considerado um país sem memória. Então esse tipo de resgate e esse tipo de testemunho isso aí é fundamental. Eu acho que isso aí vai ficar para a história. E cada vez que o tempo passa, e cada vez que essas liberdades...que vai tendo este resgate. Cada vez mais que tem possibilidade de pesquisa essa abertura desta pesquisa vai tendo mais compreensão deste momento. Isto aí é fundamental no processo de resgate, no processo de compreensão, de pesquisa. Cada vez mais vai se criando arquivos públicos, mas muita coisa tem a se fazer ainda.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: você contou que quer fazer o trabalho sobre o Causim e o Hélcio.

MARCO ANTÔNIO (PLAY): esse ano e mais tardar no início do ano que vem eu quero... é um projeto. Eu vou criar um site contando alguns casos do Causim e do Hélcio porque para mim são duas pessoas que são para mim....tem que fazer o resgate destas pessoas. Ouro Preto tem que referenciar estas pessoas, porque eles foram até a última dose, até a última reação daquele gov3rno de exclusão. Eles são símbolos desta luta, são símbolos deste momento, símbolo de uma cidade que naquele momento era importantíssima no processo de esquerda. Eu acho que o Antonio Carlos Bicalho :Lana e o Hélcio Pereira Fortes foram os cidadãos ouro-pretanos que mais entraram a fundo neste processo de combate ao regime d3e exclusão, de combate a ditadura. E como se diz, se doaram a luta e são exemplos de abnegação. São exemplos de tudo. São pessoas que mais se indignaram até a última instância sobre o que estava acontecendo no Brasil. A contribuição deles é valorosa. E nós precisamos resgatar isso, principalmente para a juventude ouro-pretana para entender que aquilo ali teve um passado que foi construído. Muita coisa foi mantida ali através de um processo de luta desse pessoal anterior lá. Esta memória tem que ficar para que as pessoas estudem e aprendem e não deixem que os mesmos erros ocorram. Que isto aí contribua para que os mesmos erros não ocorram e que ela se coloquem bem diante das novas posições do governo.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: como historiador eu penso que a reflexão sobre este tema é importante. E que a boa reflexão é aquela que gera mudança, como já disseram por aí. A cidadania se exercita. Se você tiver mais alguma coisa a acrescentar.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): essa questão é a seguinte. É fundamental esse resgate histórico. O Brasil só vai avançar neste sentido. Você vê trabalhos acadêmicos, você vê livros, você vê esta coleção lançada pelo Elio Gaspari, você vê livros e mais livros. Vê o próprio cinema resgatando isso. Porque isso aí foi uma contribuição, foi fundamental para o mundo que nós vivemos. Foi fundamental para que hoje nos pudéssemos estar aqui hoje discutindo aqui com liberdade. Se não, Otávio, se não fosse estas pessoas talvez nós não estaríamos discutindo com liberdade determinadas coisas. Eu acho assim. Porque é muito simples, você não ter nada que te pressione. Você não tem a idéia de ter uma pressão sempre em cima, você não tem a idéia o que é uma ditadura, que tolhe você em todos os seus sentimentos, sentimento de ler, de ir e vir, sexual, de namoro, de necessidades culturais. Estas pessoas foram pessoas que se indignaram contra isso. Eu vejo na figura de Antonio Carlos Bicalho Lana e de Hélcio Pereira Fortes o símbolo desta indignação. O símbolo máximo desta indignação. Eles doaram até a última gota de sangue em relação a esta indignação. neste aspecto eu acho que eles são merecedores. E está demorando até demais. Tem que ser um evento em que a juventude ouro-pretana, onde o estudante ouro-pretana sinta isso e compreendam esta mensagem. E por isso que tem que ser uma coisa bem feita.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: se você quiser fechar a frase.
MARCO ANTÔNIO (PLAY): eu acho interessante o que está escrito aqui. Foi escrito por Cláudio M. Batalha, que é do Departamento de História da Unicamp, no livro Perfis Cruzados - a trajetória da militância política no Brasil, organizado por Beatriz (nome não compreendido), que é uma série de trabalhos organizados por ela e tratam da militância política em geral. Tem uma parte aqui que para mim dá para fazer o fechamento desta entrevista, e diz respeito a memória deste pessoal que tombou, que foi preso e massacrado. Para você ter uma idéia eu tive seqüelas na tortura. E depois que passou um determinado tempo que eu sai da cadeia eu fiquei dois anos doentes, com uma dor de cabeça enorme. O médico achava que eu estava morrendo. Eu tive que fazer tratamento. Estas seqüelas existem até hoje em mim. Eu tenho problemas sérios de adaptação de determinadas coisas. Isto não aconteceu só comigo não. Tem muita gente (Palavra não compreendida). Eu não fiquei.
Mas tem colegas que foi preso e que tentaram suicidar três vezes. Foram pessoas que se doaram e que se indignaram na prática. Esta frase é a seguinte para concluir este trabalho:
“Nestas páginas, portanto, ganham vida homens e mulheres que agiram com altruísmo de acordo com as suas idéias e consciência. Coisa bem pouco comum em um país cuja cultura política dominante é marcada pela acomodação, pelo oportunismo, pela ausência de ideais e pelo apego ao (trecho não compreendido). Fica evidente que as motivações para esta atitude foram as mais diversas. Mas vários destes indivíduos assumiram o risco da incompreensão, do ostracismo, das prisões, da tortura e até da morte”.
FIM DO DEPOIMENTO






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