quarta-feira, 19 de março de 2008

Ficha de Leitura de livro de Maria de Lourdes Fávero sobre criação da UNE

FÁVERO, M. L Une em tempos de autoritarismo. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1994.


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“A partir de 1930, evidencia-se para os universitários a necessidade de terem uma entidade que organizasse nacionalmente o movimento. Entretanto, essa idéia só será concretizada alguns anos mais tarde, quando, às vésperas do Estado Novo, é instalado solenemente pelo Ministro Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, o I Conselho Nacional de Estudantes, em 11 de agosto de 1937. As sessões se sucedem entre os dias 12 e 16. Para alguns, agosto de 1937 passa a ser considerada como a data da fundação da UNE, embora oficialmente ela só venha ocorrer um ano depois, no II Conselho ou Congresso Nacional de Estudantes.
A instalação do I Cobnselho realiza-se na Casa do Estudante do Brasil, dirigida pela presidente vitalícia e fundadora daquela casa, Ana Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça, contando com representantes de São Paulo, Ceará, Bahia , Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco e Minas Gerais. Nessa reunião , logo de saída, é aprovada uma proposta do representante do Diretório Central de Estudantes de Minas, proibindo expressamente a discussão de temas políticos durabnte o Conselho. No dia seguinte, dos assuntos levantados em plenário , o principal é a aprovação do estatuto do novo órgão estudantil.
De acordo com o histórico elaborado dois anos mais tarde, pela diretoria da UNE, o II Congresso Nacional se realiza, em 1938, apesar das dificuldades criadas pela direção da Casa do Estudante do Brasil. Sua efetivação se deve à ação dos estudantes a favor de sua união e organização numa entidade de âmbito nacional. Segundo Poerner, se existiram organizações de estudantes universitários antes, elas tiveram, em geral, caráter transitório e regional.
Com a preocupação de oficializar a entidade que representaria o segmento universitário , discutir e elaborar propostas, é aberto solenemente o II Congresso em 5 de dezemvbro de 1938, contando com cerca de 80 associacoes universitárias e secundárias, ao qual comparecem professores ...

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... e um representante do Ministério da Educação. Entre os oradores que se fazem ouvir na ocasião destacam-se o professor Evaristo de Moraes, em nome dos docentes universitários, e o físico José Leite Lopes representante, naquele Congresso, da delegação estudantil pernambucana.
Ao contrário do que ocorrera no ano anterior, o II Congresso é marcado, como demonstram os títulos de suas teses e o Plano de Sugestões para uma Reforma Educacional Brasileira, desde a primeira sessão plenária, por seu caráter político, embora não se pudesse falar na existência de uma postura antigovernamental. Nas teses apresentadas e nos debates, nota-se acentuada preocupação relativa aos problemas nacionais, como: a questão do analfabetismo, do ensino rural e da implantação da siderúrgica nacional.
Para o movimento estudantil, esse Congresso representa um marco histórico: nele fica demonstrada a necessidade e a urgência de ser criada oficialmente uma entidade nacional, congregando os estudantes universitários. Essa necessidade é vista com maior clareza a partir da tese do representante do Diretório Acadêmico da Faculdade Nacional de Direito, Antônio França, segundo a qual, sem a existência de uniões estaduais, seria difícil a formação de uma organização nacional. Essa tese contribui para a decisão mais importante do Congresso , transformado automaticamente, em 22 de dezembro de 1938, na segunda assembléia do Conselho Nacional de Estudantes: o reconhecimento formal da UNE e a aprovação de seus estatutos.
Encerrado o II Congresso, coube à Diretoria eleita assumir não só o comando da entidade, agora oficialmente criada, mas também o Plano de Reforma Educacional, apresentado e aprovado na mesma ocasião. Partindo de considerações de caráter geral, algumas bastante ingênuas, como a que afirma ser “o estudante brasileiro, na sua maioria, pobre e desprotegido financeira, moral e intelectualmente”, o Plano apresenta cinco blocos de sugestões: 1º) solução para o problema educacional; 2º) solução para o problema econômico do estudante; 3º) reforma dos objetivos gerais do sistema educacional brasileiro, no sentido da unidade e da continuidade; 4º) reforma universitária; 5º organizações extra-escolares”.

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