segunda-feira, 10 de março de 2008

Anos 60 - Encontro com a memória - Elias Santos E Raquel Novais

FONTE: http://www.ufmg.br/liberdade/encontrocomamemoria.htm

Anos 60 - Encontro com a memória

Elias Santos E Raquel Novais

Relato de uma época sombria. Não dá para entender como o professor do ICEx e atual chefe de Gabinete da Reitoria, Mauro Braga, lança mão de tanta serenidade para recontar os anos vividos pelo movimento estudantil da UFMG durante o regime militar. Preso três vezes e sujeito ao regime de liberdade vigiada por um ano e meio, Braga já entrou na UFMG, em 1968, determinado a participar da luta política contra a ditadura. "Meu interesse eram as lutas pelas liberdades democráticas", afirma.
O ano de 1968 foi marcado, no mundo todo, por manifestações. "Em Belo Horizonte, quando retornamos da Semana Santa, encontramos as escolas fechadas pelo exército. Os alunos não podiam entrar na Escola de Engenharia e houve uma manifestação que culminou na ocupação da Assembléia Legislativa", conta Braga. Nesse dia, as escolas saíram em passeata e, segundo o professor, a invasão da Assembléia funcionou como mecanismo de defesa. Havia ameaça de prisão, mas, como pondera Braga, "não havia o AI-5 (Ato Institucional nº 5), havia um arcabouço legal a ser respeitado. Era necessário o presidente da Assembléia autorizar a entrada da polícia e ele não fez isso. Um dos manifestantes era seu filho, o Manuel Costa". A polícia usou um megafone para informar que os estudantes poderiam sair com a garantia de que não seriam presos. A memória de Braga faz mais uma ponte com a atualidade. "Uma pessoa resolveu sair e foi presa. Era o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, estudante em Ouro Preto". O episódio terminou com os deputados levando os estudantes para casa.
A participação no Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) realizado em Ibiúna (SP), também em 1968, rendeu a Mauro Braga a sua primeira prisão. "A polícia chegou no sábado de manhã e prendeu 800 pessoas, algo fanaticamente grande. Fomos levados para São Paulo e ficamos uma semana no presídio Tiradentes", relata.
A edição do AI-5 foi uma surpresa para os estudantes. "Eu me lembro direitinho. Estávamos reunidos na minha casa, entre os quais uma pessoa muito querida e que foi assassinda pela ditadura, o Idalisinho Soares Aranha Filho. Chegou alguém e disse que o AI-5 havia sido editado". Para Braga, todos percebiam o acirramento político, mas "a gente era até meio ingênuo, romântico e não tínhamos a visão de que estava para vir um ato daquela gravidade, que transformaria a vida do País".
Em 1969, Braga participou da criação do DA do ICEx. "Aí começou um período muito ruim". Neste mesmo ano, foi realizado o congresso da União Estadual dos Estudantes (UEE). "Para disfarçarmos, fizemos uma calourada de um lado do prédio e o Congresso do outro. Foi eleito presidente da UEE um estudante também assassinado pela ditadura, o Gildo Macedo Lacerda, com quem convivi muito". As manifestações internas na Universidade naquele ano levaram Braga mais uma vez para a cadeia. "No final de 1971 voltei a ser preso, fiquei uns 100 dias na prisão. Era uma época difícil, a tortura estava institucionalizada. Você entrava e não sabia se saía", conta.
As lembranças, os detalhes, os nomes surgem como se os fatos tivessem acontecido há poucas semanas. Sobre a sociedade brasileira pós-ditadura, Braga comemora: "Hoje está em vigência a garantia das plenas liberdades democráticas".
Elias Santos E Raquel Novais

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