FONTE: http://www.ufmg.br/liberdade/frasesqueoventovemasvezesnoslembrar.htm
Frases que o vento vem às vezes nos lembrar
Lígia Beatriz de Paula Germano
Falar de uma memória do movimento estudantil da UFMG, compreendida entre 1960 e 1980 – sua trajetória, suas aflições e suas vitórias – significa trazer à tona uma disposição de tornar público um leque de opiniões sobre quase tudo: o que desagradava, a que se opunha, como poderiam ser o mundo, o país, a escola, o curso, a família, os amores, os desafetos.
Estridente, engajado, irreverente, debochado, indignado, esse movimento se fazia ouvir mesmo em silêncio. Em Belo Horizonte, na Passeata da Mordaça, os estudantes desfilaram com a boca selada por fitas durex, em clara oposição à ditadura militar. Assim como em outras cidades, os estudantes de Minas tomavam as ruas e, ruidosos, demonstravam que, mesmo perseguidos, reagiam sempre.
Nesse movimento, criou-se um espaço em que as discussões de toda ordem podiam acontecer; último reduto em que tendências políticas expressavam-se; peças de teatro eram encenadas; jornais de entidades e de grupos artísticos e políticos, impressos; filmes, nacionais e estrangeiros, exibidos em cineclubes; shows de artistas acossados pela ditadura militar, encenados. Sua vitalidade advinha de sua generosidade em acolher os párias do regime militar; mostrava um mundo possível, reverso ao que acontecia para além da Universidade. Ademais, buscavam legitimar a rua como espaço de livre expressão, manifestando-se, por exemplo, no centro de Belo Horizonte, contra o assassinato do estudante Edson Luís, no Rio de Janeiro, em 1968. Neste mesmo ano, o movimento defendeu, entrincheirado, a Escola de Engenharia, a de Medicina, a Face e a Fafich, quando foram invadidas por militares.
Os anos 70, com suas greves, trouxeram os estudantes de volta à cena pública. Abaixo a Ditadura, Mais verbas para a Universidade, Pelas Liberdades Democráticas, passeatas e Dias Nacionais de Luta contra as prisões e pelas liberdades. O III Encontro Nacional de Estudantes pela Reconstrução da UNE foi impedido pelas forças militares, que transformaram Belo Horizonte num palco de guerra, resultando na prisão de cerca de 850 estudantes – 348 obrigados a sair da Escola de Medicina da UFMG por um longo corredor formado de policiais. Longe de acanhar-se frente a essa truculência, dois anos depois, em 1979, em Salvador, seria instalado, finalmente, o XXXI Congresso da UNE.
O movimento estudantil da UFMG sempre teve predileção pela visibilidade – promovendo grandes eventos, com e na presença de um grande número de estudantes. Esse movimento ainda participou da Campanha pela Anistia e do movimento pelas Diretas Já. Sempre inquieto. Sempre atrevido. Sempre no meio da rua.
Lígia Beatriz de Paula Germano
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