terça-feira, 25 de setembro de 2007

LULA NA ONU

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u331237.shtml

25/09/2007 - 11h54
Lula defende biocombustíveis e critica subsídios agrícolas de países ricos
Publicidade
da Folha Online
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou hoje da abertura da Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York, nos Estados Unidos. No discurso de abertura, Lula defendeu o consumo dos bicombustíveis --como o álcool e o biodiesel-- para redução das mudanças climáticas.
Mike Segar/Reuters

Lula anuncia plano para combater mudanças climáticas e propõe conferência para 2012
"Não haverá solução para os terríveis efeitos das mudanças climáticas se a humanidade não for capaz também de mudar seus padrões de produção e consumo. O mundo precisa, urgentemente, de uma nova matriz energética. Os biocombustíveis são vitais para construí-la."
Segundo Lula, os biocombustíveis reduzem "as emissões de gases de efeito estufa". "No Brasil, com a utilização crescente e cada vez mais eficaz do etanol, evitou-se, nesses 30 últimos anos, a emissão de 644 milhões de toneladas de CO² na atmosfera."
O presidente brasileiro afirmou que além de ser uma fonte alternativa de energia, os biocombustíveis "podem abrir excelentes oportunidades para mais de uma centena de países pobres e em desenvolvimento na América Latina, na Ásia e África. "Podem propiciar autonomia energética, sem necessidade de grandes investimentos. Podem gerar emprego e renda e favorecer a agricultura familiar. E podem equilibrar a balança comercial, diminuindo as importações e gerando excedentes exportáveis."
Lula negou que a produção de biocombustíveis coloque em risco a segurança alimentar. "A cana de açúcar ocupa apenas 1% de nossas terras agricultáveis, com crescentes índices de produtividade. O problema da fome no planeta não decorre da falta de alimentos, mas da falta de renda que golpeia quase 1 bilhão de homens, mulheres e crianças. É plenamente possível combinar biocombustíveis, preservação ambiental e produção de alimentos."
O presidente aproveitou a conferência para anunciar que o Brasil vai organizar "uma conferência internacional sobre biocombustíveis" em 2008. "Lançando as bases de uma ampla cooperação mundial no setor. Faço aqui um convite a todos os países para que participem do evento."
Crescimento
Lula disse que seu governo conseguiu combinar crescimento econômico com redução da desigualdade social. "A sustentabilidade do desenvolvimento não é apenas uma questão ambiental, é também um desafio social. Estamos construindo um Brasil cada vez menos desigual e mais dinâmico. Nosso país voltou a crescer, gerando empregos e distribuindo renda. As oportunidades agora são para todos."
O presidente defendeu ainda o programa Fome Zero --prioridade de seu governo. "Honramos o compromisso do Programa Fome Zero ao erradicar esse tormento da vida de mais de 45 milhões de pessoas. Com dez anos de antecedência, superamos a primeira das Metas do Milênio, reduzindo em mais da metade a pobreza extrema no nosso país. O combate à fome e à pobreza deve ser preocupação de todos os povos. É inviável uma sociedade global marcada pela crescente disparidade de renda. Não haverá paz duradoura sem a progressiva redução das desigualdades."
Relações econômicas
Lula aproveitou a assembléia da ONU para defender um novo padrão de relação comercial entre os países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento. Em seu discurso, ele disse que a "superação definitiva da pobreza exige mais do que solidariedade internacional". "Ela passa, necessariamente, por novas relações econômicas que não penalizem os países pobres."
"A Rodada de Doha deve promover um verdadeiro pacto pelo desenvolvimento, aprovando regras justas e equilibradas para o comércio internacional. São inaceitáveis os exorbitantes subsídios agrícolas, que enriquecem os ricos e empobrecem os mais pobres. É inadmissível um protecionismo que perpetua a dependência e o subdesenvolvimento", disse.
Lula afirmou que o "Brasil não poupará esforços para o êxito das negociações, que devem beneficiar sobretudo os países mais pobres".
Sul-sul
Lula disse ainda que o Brasil se orgulha das relações que criou com países da América Latina, África, Ásia e Oriente Médio. "Temos atuado para aproximar povos e regiões, impulsionando o diálogo político e o intercâmbio econômico com os países árabes, africanos e asiáticos, sem abdicar de nossos parceiros tradicionais."
"Todos concordamos ser necessária uma maior participação dos países em desenvolvimento nos grandes foros de decisão internacional, em particular o Conselho de Segurança das Nações Unidas. É hora de passar das intenções à ação", disse ele.

41 anos do Massacre da Praia Vermelha:

41 anos do Massacre da Praia Vermelha: LEIA MATÉRIA QUANDO DOS 40 ANOS DE TAL EPISÓDIO

FONTE: http://noticias.uol.com.br/educacao/ultnot/ult105u4758.jhtm
19/09/2006 - 14h51

Evento na UFRJ marca os 40 anos do "Massacre da Praia Vermelha"Da RedaçãoEm São Paulo -->A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) promove nesta sexta-feira, dia 22, vários eventos para lembrar os 40 anos da invasão de sua faculdade de medicina pela polícia da ditadura militar, episódio que ficou conhecido como o Massacre da Praia Vermelha.A ação da polícia fluminense ocorreu na madrugada de 22 de setembro de 1966, data que a União Nacional dos Estudantes (UNE) havia elegido como o Dia Nacional de Luta contra a Ditadura.Na ocasião, cerca de 600 estudantes que haviam ocupado a unidade foram retirados à força pelos policiais, em meio a agressões e o que testemunhas descreveram como atos de vandalismo contra as instalações da faculdade.Ao contrário do que sugere o nome que ficou para a história, ninguém morreu no "massacre". No entanto, o episódio é considerado um marco na história do movimento estudantil pós-1964, e no combate à ditadura militar.À mesma época da invsão à UFRJ, ocorriam greves estudantis em São Paulo e no Rio, prisões de líderes do movimento e protestos contra, entre outras coisas, o encarecimento dos custos das refeições subsidiadas para estudantes.A tensão de 1966 desembocou, dois anos mais tarde, já no lendário ano de 1968, nos grandes conflitos de rua entre estudantes e polícia (estes com saldo de várias mortes), na guerra entre alunos da Filosofia-USP e do Mackenzie, e finalmente na prisão de mais de mil participantes do congresso da UNE, que seria realizdo clandestinamente no interior de São Paulo.Para lembrar a data, a partir das 9h a UFRJ inaugura uma exposição intitulada "Rebeldes da Praia Vermelha", faz sessão solene de seu conselho universitário e descerra uma placa alusiva à invsão. Às 18h30, haverá um show de MPB com o sambista Elton Medeiros e outros, no teatro de arena do campus.Mais informações podem ser obtidas no site da Faculdade de Medicina da UFRJ.

Relato da invasão da PUC


Relato da invasão da PUC
Diretório Central dos Estudantes da PUC-SP

A invasão
No dia 22 de setembro de 1977, aproximadamente ao meio dia, iniciou-se no Salão Beta na PUC uma Assembléia Estudantil Metropolitana. Essa Assembléia visava a decidir as medidas a serem tomadas em protesto pelo cerco policial da USP [Universidade de São Paulo], da PUC [Pontifícia Universidade Católica] e da FGV [Fundação Getúlio Vargas], no dia 21, que impediu a realização do III Encontro Nacional dos Estudantes (ENE). Encerrada às 14 h., deliberou a realização, à noite, em frente ao TUCA, de um Ato Público de repúdio à repressão ao III ENE.Simultaneamente à assembléia, em condições precárias, delegados de vários Estados se reuniram e realizaram o III Encontro Nacional dos Estudantes na PUC.Às 21 horas, iniciou-se o Ato Público, com a presença de cerca de 2.000 estudantesEstava sendo lida em coro uma Carta Aberta denunciando as medidas policiais tomadas no dia 21, quando nas esquinas das ruas Monte Alegre e Bartira, pararam várias viaturas policiais comandadas pelo Secretário de Segurança Pública do Estado. Investigadores civis e tropas de choque desceram das viaturas, bateram as portas com violência e começaram a dar cacetadas e a jogar bombas nos manifestantes que se encontravam sentados.Devido à violência da investida, os estudantes se levantaram e correram para a entrada da PUC, vários em pânico. Os policiais os perseguiram, histéricos, dando cacetadas e jogando bombas que expeliam gás, outras que soltavam chamas e outras ainda que espirravam líquidos que queimavam a pele. Os estudantes que entraram na PUC se chocaram com outros que estavam saindo das classes e indo embora para a casa. Tudo isso contribuiu para aumentar o pânico, fazendo que vários estudantes caissem na rampa e fossem pisoteados e queimados.Vários estudantes conseguiram escapar, descendo a rua Monte Alegre e outros pelos fundos da PUC. Mas os policiais, agindo de maneira coordenada e rápida, cercaram o prédio logo em seguida, invadindo-o também pelas entradas das ruas Bartira, Ministro de Godoy e João Ramalho.Consumado o cerco e a invasão, aumentou a violência. No restaurante, vários estudantes e professores, em intervalo de aula, estavam fazendo um lanche ou tomando café, quando viram a correria na rampa. Assustados, fecharam a porta de vidro do restaurante. Minutos depois chegaram os policiais, que quebraram a porta a golpes de cassetetes e invadiram o restaurante, espancando e insultando alunos, professores e funcionários.Alunos que estavam nas sedes das entidades estudantis foram expulsos à força, muitas vezes sem ter tempo sequer de recolher seus documentos e material didático. No DA [Diretório Acadêmico] Leão XIII e no CA [Centro Acadêmico] 22 de agosto, colegas que jogavam xadrez viram os tabuleiros serem jogados longe a pontapés.As sedes dos DA de Filosofia e Letras, DA Leão XIII, CA de Ciências Sociais e Serviço Social, CA 22 de agosto e do DCE [Diretório Central dos Estudantes] foram totalmente depredadas. Portas que estavam fechadas apenas com o trinco foram arrombadas a pontapés. As gavetas foram arrancadas fora das mesas e seu conteúdo jogado no chão. Em vários restos de portas ficaram bem nítidas as marcas dos pontapés. Em diversas salas foi pichada a sigla CCC (Comando de Caça aos Comunistas), organização terrorista que, como a AAB [Associação Anticomunista Brasileira], vem ameaçando a segurança da população. Uma lista enorme de bens das entidades foi levada pela polícia.A biblioteca também foi invadida e seus ocupantes expulsos aos gritos e ameaças de cassetetes. Os policiais jogaram vários livros no chão.Entraram com violência e, usando palavras de baixo calão, nas salas de aula, prendendo todos os seus ocupantes, e muitas vezes espancando-os.Alunos que participavam de um ensaio de coral na Casa Paroquial também foram presos.Estudantes feridos, principalmente os que foram queimados pelas bombas que provocaram chamas, só a muito custo foram atendidos. Os policiais não só demoraram muito para levá-los à ambulância, como espancaram os colegas que procuravam atendê-los.Cabe ressaltar que os policiais, principalmente os investigadores à paisana, comportavam-se com a máximo de violência e arbitrariedade. Espancavam quem quer que passasse à sua frente. Várias pessoas viram um colega que sofreu empurrões e cacetadas e, quando caiu no chão na rampa do prédio novo, levou pontapés. Mesmo depois de dispersado o Ato Público, continuaram jogando bombas, Vários policiais mostravam-se demasiadamente excitados, sem autocontrole, com os olhos completamente “vidrados”. Insultos, palavras de baixo calão e provocações eram feitos o tempo inteiro. Toda essa violência era absolutamente desnecessária, pois não houve, em nenhum momento, qualquer tentativa de reação por parte das vítimas da agressão policial.No estacionamento de automóveis, mais de 1.500 professores, funcionários e alunos ficaram sentados pelo menos uma hora no chão de pedregulhos, submetidos à triagem policial. Investigadores circulavam nervosamente entre as pessoas sentadas e quando reconheciam na multidão alguma pessoa que procuravam, ou quando alguma pessoa muito ferida exigia ser levada a um hospital, abriam caminho a golpes de cassetete e pontapés entre a multidão. Todas essas violências foram presenciadas pelo Cel. Erasmo Dias, que nada fez para impedi-las.Cerca de 700 estudantes foram conduzidos em ônibus da Prefeitura ao Batalhão Tobias de Aguiar. Alguns foram conduzidos ao DEOPS [Delegacia Estadual de Ordem Política e Social]. Todos esses colegas foram fichados. Entre os presos, é bom lembrar que havia grande número de estudantes que estavam sem documentos por tê-los perdido durante a invasão. No DEOPS colegas foram submetidos a sevícias e a tratamentos humilhantes. Alguns tiveram que prestar depoimento apoiados numa perna só, ameaçados de serem espancados se perdessem o equilíbrio ou se uma perna encostasse na outra. Um colega, que foi violentamente espancado por investigadores, reclamou, a um delegado, do tratamento a que estava sendo submetido. Então o delegado, em tom irônico, pediu a um investigador que “cuidasse do caso”. Esse investigador levou o colega a um canto e continuou o espancamento.Desses 700 colegas, 37 foram logo em seguida enquadrados na Lei de Segurança Nacional. Esses estudantes, vítimas da invasão, passaram a ser interrogados como réus num processo que corre pelo DEOPS e, em outro, que corre pela Polícia Federal. De outro lado, a autoridade que assumiu a responsabilidade pela invasão e pelas violências cometidas é agraciado pelo Ministro do Exército com a “Medalha do pacificador”, a mesma que foi atribuída ao Dr. Harry Shibata (Médico legista que ficou conhecido por ter assinado o atestado de óbito de Vladimir Herzog, em 1975, declarando que ele havia se suicidado, apesar de todas as evidências de que ele havia sido torturado e morto nas dependências do DOI-CODI de São Paulo, como foi comprovado posteriormente).Considerações finais 1. A invasão, ao que tudo indica, foi premeditada.O ato público foi apenas um pretexto para justificar a invasão policial. Se o objetivo do Cel. Erasmo Duas fosse apenas dissolver o ato, poderia tê-lo feito usando formas menos violentas, pois sua realização foi decidida na Assembléia do meio-dia, onde havia muitos informantes da polícia.2. A invasão teve os seguintes objetivos:a) Represália à realização do III ENE. Este regime que retirou toda a autonomia das entidades estudantis, que fechou os DCEs, UEEs [União Estadual dos Estudantes] e a própria UNE [União Nacional dos Estudantes], que transformou os sindicatos em corporações pelegas, que reprime e tortura aqueles que procuram se organizar em defesa de seus legítimos interesses, não vai deixar o nosso movimento avançar sem também o reprimir, pois este regime se sustenta na exploração da maioria da população e não tolera a reorganização dos vários setores da população em defesa dos seus direitos.b) Atingir com brutalidade a Reitoria da PUC, que tem se caracterizado pela independência frente às pressões do regime, como quando cedeu as instalações da Universidade para a 29ª Reunião Anual da SBPC, pela defesa intransigente da Autonomia Universitária.3. Reafirmamos o propósito de continuar a luta em defesa da autonomia universitária. É necessário se pôr fim à triagem ideológica que vigora em todas as Universidades. É necessário denunciarmos pressões financeiras que a PUC está sofrendo desde a realização da Reunião da SBPC.Numa Universidade onde não predomine o obscurantismo cultural, é indispensável a ampla liberdade de pesquisa e debate. Nesse sentido, quaisquer livros e publicações, por mais polêmicos que sejam, devem circular livremente e serem analisados segundo o interesse acadêmico e não segundo o prisma de policiais em função de censor.4. As entidades estudantis se regem por princípios de democracia e representatividade. Decisões referentes a atos públicos, tirada [eleição] de delegados para os congressos estudantis e eleição de diretorias são tomadas pelo conjunto dos estudantes, em assembléias e eleições onde não há Lei Falcão, nem AI-5, nem Lei de Segurança Nacional. Nas assembléias, os únicos elementos infiltrados são policiais disfarçados.Nas entidades estudantis os alunos se organizam para defesa de seus interesses acadêmicos e para se posicionarem frente a questões políticas nacionais. Reafirmamos o propósito de continuar lutando em defesa de nossas entidades representativas, visando ao fortalecimento dos CAs e dos DCEs livres, a criação de UEEs em todos os Estados e a reconstrução de uma entidade estudantil em nível nacional.5. Reafirmamos também que as intimidações policiais não diminuirão as nossas lutas por Liberdades Democráticas. Acreditamos que invasões como a que sofreu a PUC só deixarão de ocorrer quando o povo, através de uma Assembléia Constituinte Livre, Democrática e Soberana, substituir o regime policial em que vivemos, por um regime que atenda aos interesses da maioria da população.

São Paulo, 22 de novembro de 1977, DCE-LIVRE da PUC/SP
*Publicado no jornal Folha de S. Paulo em 28 de novembro de 1977.

RESPOSTA DO SENADOR ALOÍZIO MERCADANTE: AINDA SOBRE A QUESTÃO DO SENHOR RENAN CALHEIROS

RESPOSTA DO SENADOR ALOÍZIO MERCADANTE: AINDA SOBRE A QUESTÃO DO SENHOR RENAN CALHEIROS
(A QUESTÃO SÓ SERÁ RESOLVIDA COM A SAÍDA DO SENHOR RENAN CALHEIROS DO SENADO FEDERAL)
DE: Senador Aloizio Mercadante Oliva
PARA: Otávio Luiz Machado
DATA: 24 Sep 2007



"Espero que leia e compreenda minhas razões e as providências que estão sendo tomadas em relação aos processos contra o senador Renan Calheiros:
1) Nova representação contra o senador Renan Calheiros - Conforme tenho dito, esse processo apenas se iniciou. O senador Renan Calheiros não foi absolvido. A Mesa do Senado acaba de receber nova denúncia de que Renan Calheiros teria participado de um esquema de desvio de dinheiro em ministérios chefiados pelo PMDB. Essa nova representação somente agora passará a ser analisada. Portanto, novamente gostaria de esclarecer que são quatro representações, quatro processos diferentes. Estamos julgando um único mandato, mas estamos analisando quatro representações. O julgamento não acabou. Haverá mais três votações, que podem levar à cassação do mandato do senador Renan. Eu sobrestei meu voto para aguardar a análise de todos os processos e, assim, formar uma convicção definitiva diante do conjunto das acusações. Defendo que os processos podem até ter relatores diferentes, mas deveriam ser todos apreciados numa única sessão, porque, enquanto não dermos um voto terminativo sobre o futuro do senador Renan Calheiros, a Casa continuará se desgastando. Volto a dizer: em relação ao primeiro processo, não há conclusão sobre a tese fundamental da denúncia de que a empreiteira Mendes Júnior pagou, por meio de lobista, as contas pessoais do presidente do Senado. Mas considerei que há graves indícios que precisam ser esclarecidos. Ficaram dúvidas e incertezas. Sendo assim, na votação desse primeiro processo, eu não poderia ter votado pelo arquivamento de modo algum, e não poderia absolver Renan. Ainda não há uma visão abrangente, acabada do processo. Meu voto não foi de omissão. Foi um voto transparente, de quem entende que o julgamento de mérito se faz com base na conclusão do processo das quatro denúncias, quando, então, será possível assumir uma posição definitiva. 2) Licenciamento de Renan - Conforme disse em meu discurso da última terça-feira, na tribuna do Senado, já havia defendido e continuo defendendo que o presidente Renan se licencie. Considero que ele deve ter assegurado o direito de defesa, mas, ao insistir em sua permanência no cargo, Renan prejudica as votações e o andamento dos trabalhos na Casa e é grande o desgaste institucional. É como se os grandes erros que ele cometeu, que poderão ser crimes se forem comprovados, fossem da própria instituição.> 3) Sessões abertas - Um requerimento pedindo que as sessões futuras sejam abertas foi apresentado e apoiado pela bancada do PT e pelos líderes dos partidos, a partir de um pronunciamento meu, que sempre defendi o voto aberto, essencial para dar a transparência necessária e evitar qualquer tipo de manipulação do voto. 4) Voto aberto - Aprovamos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, nesta quarta-feira, emenda à Constituição que acaba com todas as votações secretas no Congresso Nacional. Gostaria de lembrar que nos últimos 20 anos o PT luta pelo voto aberto. Fomos derrotados em 2003. Nesta quarta-feira, na sessão da CCJ, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) apresentou parecer mantendo o sigilo nas votações de indicações e vetos, mas alterou o documento a partir das minhas argumentações. Passou a defender a extinção do voto secreto. O parlamentar tem que assumir sua responsabilidade. Acho que é preciso ser absolutamente radical na transparência. É preciso ter coragem para assumir responsabilidades, e tenho feito isso. Sempre fiz. O que é inconcebível é que possamos ter 43 senadores anunciando ter votado pela cassação de Renan, quando, no painel, foram registrados somente 35 votos contra o presidente do Senado. Isso fragiliza a representação e não permite ao eleitor se identificar ou não com a votação de quem a tenha feito. Vou trabalhar com afinco, não vou me ausentar, não vou me omitir, serei coerente. Declararei meu voto definitivo assim que houver o julgamento final desse processo, a partir do conjunto dos indícios e das provas oferecidas para essas denúncias. Um abraço Senador Aloizio Mercadante".


COMENTÁRIO: A ação que prorroga a continuidade do Senhor Renan Calheiros enfraquece o Senado Federal. E parou o país. Um Senador não deveria usar de expedientes como a abstenção nas votações. A atitude do Senador Aloízio Mercandante contribuiu para a continuidade da impunidade.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Movimento estudantil começa a se mobilizar contra Renan

FONTE: http://blogdobarbosa.jor.br/?p=437

Movimento estudantil começa a se mobilizar contra Renan

por Carlos A. Barbosa September 18, 2007 Hora postada: 14:07
O DCE [Diretório Central dos Estudantes] e os centros acadêmicos de diversas faculdades da PUC-RJ [Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro] prmoverão, nesta quinta-feira, a partir das 13h, uma passeata em protesto contra a decisão do Senado, que não aprovou a cassação do mandato do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), afrontando, assim, a ética política e a moralidade.


Depois da Diretoria da UNE receber gordas emendas parlamentares de Senadores, aceitar ser homenageada no Senado presidido pelo Senhor Renan Calheiros (Não devemos nos dirigir a triste figura chamando-a por Vossa Excelência ou Senador) e ficar CALADÍSSIMA quando da votação da ABSOLVIÇÃO do mesmo, os estudantes da GIGANTE PUC-RJ está promovendo um ATO SIGNIFICATIVO, que deveria ser REPETIDO pelos CENTROS ACADÊMICOS, DIRETÓRIOS ACADEMICOS, DCES, ONGS, etc. A UNE depende aprovar seus projetos de mais de 5 MILHÕES DE REAIS junto às estatais e ao próprio PLANALTO. O SILÊNCIO É TÁTICO!

VEJAM NO PORTAL MOVIMENTO ESTUDANTIL: Especial: parceria UNE-Rede Globo

Localizei um sítio muito interessante chamado PORTAL MOVIMENTO ESTUDANTIL.
O que nos chamou a atenção foi DIVERSIDADE de temas, a INTENSIDADE de debates e a CURIOSIDADE que o sítio desperta àqueles que o acessam.
No chamado "Especial: parceria UNE-Rede Globo", percebemos que temos lá várias produções nossas com comentários e críticas.
O DEBATE QUE O PAÍS PRECISA FAZER SOBRE OS quase 3 MILHÕES que o país está financiando, creio que deveria ser precedido dos desafios que as UNIVERSIDADES PRECISAM ENFRENTAR para COLABORAR EM TAL TAREFA.
O endereço é:

http://movebr.wikidot.com/especiais:une-globo

DOCUMENTOS ESSENCIAIS QUE TRATAM DA HISTÓRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL BRASILEIRO

DOCUMENTOS ESSENCIAIS QUE TRATAM DA HISTÓRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL BRASILEIRO


Nas três postagens abaixo divulgamos mais TRÊS DOCUMENTOS ESSENCIAIS QUE TRATAM DA HISTÓRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL BRASILEIRO:

1) NOTA DO PRESIDENTE DA UNE (ROBERTO GUSMÃO) LIDA NO CONGRESSO NACIONAL BRASILEIRO EM 03/10/1947

2) TEXTO: REMEMOREX - Uma Rebeldia Necessária, por Ary Costa Pinto e Marianna Francisca Martins Monteiro

3) TEXTO: 1968: a experiência de um movimento nacional, por Nilton Santos

O objetivo mais uma vez é o de gerar um maior debate sobre a história do movimento estudantil, inclusive discutindo as bases necessárias para a reconstituição da mais relevante história, sobretudo num momento de maior amadurecimento democrático do nosso país. É importante frisar as implicações dos trabalhos feitos hoje para a feitura da história das futuras gerações de pesquisadores ou historiadores, assim como para a reflexão das futuras gerações de cidadãos do nosso país acerca do tema, que infelizmente está sendo tratado na contemporaneidade da pior forma que o tema merece atenção.

NOTA DO PRESIDENTE DA UNE (ROBERTO GUSMÃO) LIDA NO CONGRESSO NACIONAL BRASILEIRO EM 03/10/1947

NOTA DO PRESIDENTE DA UNE (ROBERTO GUSMÃO) LIDA NO CONGRESSO NACIONAL BRASILEIRO EM 03/10/1947

A diretoria da União Nacional dos Estudantes solicita divulgar o seguinte:

1. Causaram estranhesa à classe estudantil, as sensacionais manchetes dos vespertinos de ontem, provocadas pelas infelizes declarações do Sr. Hamilton Nogueira contra a União Nacional dos Estudantes.
2. O Senador Hamilton Nogueira afirmou que a UNE está eivada de comunistas. Tais palavras carecem de fundamento. A União Nacional dos Estudantes congrega os alunos de todas as escolas superiores do país, acima de qualquer distinções políticas. A afirmação de S. Exª demonstra uma total ignorância dos objetivos das entidades da classe universitária.
A atual Diretoria da UNE foi eleita por larga margem de votos num congresso em que se encontrava legitimamente representada toda a classe estudantil brasileira e, até agora, não tem feito senão cumprir as resoluções do referido certamem, como podemos provar.
Levando-se em conta a gravidade das acusações do senador Hamilton Nogueira à União Nacional dos Estudantes, vanguardeira das lutas pela democracia em nosso país – reptamos S. Exª a apontar e documentar qualquer atitude partidária da atual diretoria.

3. A “Campanha Nacional pró petróleo” foi lançada em obediência a uma determinação do Congresso. Evidentemente, não perguntemos aos colegas que desejam as letras dos cartazes, o credo político que professam. Isto seria absurdo. Porém, estamos certos de que as legendas que neles figuram nada contém de partidário. Frisamos que a UNE ainda não exagerou ponto de vista sobre a exploração do petróleo e que os referidos cartazes limitam a agitar a questão de interesse para o nosso povo.
4) Acrescentamos, outrossim, que o ex-colega Ernesto Bagdócimo negou que tivesse prestado qualquer informação a respeito ao senador Hamilton Nogueira;
5) Terminado êstes esclarecimentos, queremos deixar bem claro não serão palavras como as do Senador Hamilton Nogueira que poderão dividir e enfraquecer a classe estudantil.
Os estudantes estão firmes e unidos e nada os afastará das normas diretrizes traçadas pela Declaração de Princípios e Programa Administrativo do recente X Congresso Nacional.
A Diretoria.
Rio de Janeiro, 2 de outubro de 1947
Roberto Gusmão, Presidente

REMEMOREX - Uma Rebeldia Necessária, por Ary Costa Pinto e Marianna Francisca Martins Monteiro

REMEMOREX - Uma Rebeldia Necessária

Ary Costa Pinto: é Jornalista. Foi pesquisador do Divisão de Iconografia e Museus do Departamento de Patrimônio Histórico da Prefeitura Municipal de São Paulo, também integrou a equipe do Centro Ecumênico de Documentação e Informação atuando no Programa História do Movimento Operário no ABC. Desenvolveu pesquisa sobre edição de livros didáticos para cursos de requalificação profissional na equipe do Programa Integrar coordenado pela professora Maria Nilde Mascelani na PUC.. Foi um dos editores de Apesar de Tudo-UNE REVISTA, quando cursava História na FFLCH-USP.

Marianna Francisca Martins Monteiro: é professora do Instituto de Artes da Unesp, Autora de Noverre: Cartas sobre a Dança- Natureza e Artifício no Balé de Ação, publicado pela Edusp, em 1998. Dedica-se à pesquisa na área de dança, teatro e antropologia da performance. Foi uma das editoras de Memorex: Apesar de Tudo- UNE REVISTA, quando cursava Ciências Sociais na USP.


Foi com enorme satisfação que atendemos ao convite do professor Otávio Luiz Machado, pesquisador da história do movimento estudantil brasileiro, para reeditar, por meio eletrônico, o trabalho Elementos para uma História da UNE, publicado pela primeira vez em 1978, através da Edições Guaraná e do DCE- Livre Alexandre Vanuchi Leme, da Universidade de São Paulo, trabalho esse que sucessivas gerações de estudantes e pesquisadores denominaram Memorex[1].
Decorridos 30 anos daquela experiência, vimos neste convite a oportunidade de rebater algumas imprecisões que observamos em resenhas antigas e recentes sobre esse trabalho. Entre elas, há algumas de viés nitidamente ideológico, recheadas do pior defeito da história social: o anacronismo. Outras, foram elaboradas por mentes indolentes que sequer leram o texto em questão ou o fizeram com pouca atenção e cujo propósito não parece ser esclarecer, mas sim ocultar ou escamotear fatos.
A rigor, desde que foi publicado, durante a ditadura militar que infelicitava a nação, o trabalho gerou impaciência em correntes antidemocráticas tendo sido, inclusive, objeto de inquérito militar, instaurado em 20 de setembro de 1978 pela Aeronáutica, que determinou pedido de busca dos seus editores (ver fac-símile).
A primeira estultice publicada a respeito apareceu no livro O que é movimento estudantil da coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense, onde o autor, Antonio Mendes Jr, o saudoso “Paxá”, ao fazer indicações bibliográficas, considera o Memorex leitura obrigatória, mas faz a injusta ressalva de que a publicação traz muitos trechos copiados da obra O Poder Jovem de José Arthur Poerner, durante muitos anos a mais respeitada sobre o tema. Contudo, nunca apontou qual trecho foi copiado. A bem da verdade, o grupo que elaborou o trabalho pouco escreveu, pois é uma coletânea de documentos, em sua maior parte da própria UNE, que ali aparecem ordenados cronologicamente, constituindo-se na fase de documentação da pesquisa, sugestivamente intitulada por isso de Elementos para uma História da UNE.
Inspirados numa metodologia historiográfica, a maioria senão a totalidade do grupo formado por adolescentes e recém-adolescentes, realizou um mergulho na metodologia da pesquisa a partir de documentos. Pela primeira vez, esses universitários e secundaristas freqüentaram a Biblioteca Mário de Andrade de São Paulo e, depois, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e compreenderam na prática a diferença entre fontes primárias e fontes secundárias numa pesquisa. Pela primeira vez, o estudo da história foi vivenciado por aqueles estudantes como um processo de descoberta e elaboração de fontes documentais e não apenas digestão de trabalhos interpretativos ou de pesquisa realizados por outros. O lema que fizemos questão de estampar nas páginas da publicação - aprender é produzir - retratava a nossa opção metodológica, nossa forma de fazer, e apontava para um projeto pedagógico, para uma “paidéia”, próxima de Paulo Freire.
Esse é o aspecto original da realização do Apesar de Tudo- UNE REVISTA, Elementos para uma História da UNE, o de ter se constituído como processo educacional, como uma experiência pilôto realizada por um grupo de estudantes, em 1978, passível de ser multiplicada em numerosos outros âmbitos. Por traz de uma pedagogia, como se sabe, há sempre uma visão de mundo, uma política, por isso o Memorex também foi militância estudantil, definição de posição ideológica e colaboração com a reconstrução dos órgãos nacionais e locais de representação estudantil.
Ligações familiares, escolares, antigos relacionamentos que se reencontraram na USP, todo tipo de circunstância corrobora para o encontro entre essas pessoas numa convivência cheia de inquietações. Longe de terem se conhecido no movimento estudantil, os componentes desse grupo se encontravam num apartamento em São Paulo, onde moravam três dos editores de Memorex. Tinham, eventualmente, alguma experiência no movimento secundarista e no movimento estudantil universitário, mas jamais haviam militado juntos. A equipe de Memorex revelava maiores afinidades com as fileiras da contra-cultura, do Rock and Roll que, às vezes unia mais que o movimento estudantil. Havia também um claro posicionamento desses jovens contra a ditadura militar. A consciência política do grupo era bem elaborada e definia-se com clareza pela luta contra a ditadura, percebendo o movimento estudantil como uma vanguarda cultural, artística, filosófica e científica. Atribuía, além disso, ao conhecimento da historia a potencialidade de lançar as bases de um entendimento político a partir do qual as forcas sociais poderiam construir sólidas e representativas organizações.
Pensávamos nesse âmbito alargado dos grandes rumos políticos, mas constituíamos apenas um grupo de amigos, conhecidos, cidadãos pensantes, reunidos num apartamento. Se analisarmos as origens familiares desse grupo vamos encontrar uma presença significativa de filhos de ex-militantes comunistas. Não era por acaso! A originalidade e especificidade de Memorex se dá nessa tensão entre a militância política tradicional e a militância contra-cultural. Dentro da contra-cultura, convém ressaltar que os elementos mais velhos do grupo tinham um envolvimento significativo com a imprensa alternativa: Bondinho, EX, Revista Versus, Jornal Nós Mulheres; com a militância feminista e com a ala mais contra-cultural do Teatro Oficina. Entre os secundaristas do grupo, Arnaldo editava uma publicação de poesias e textos, A Mais, que circulava no Colégio Equipe. Essas foram referências importantes na definição e escolha da linguagem do Memorex.
A Edições Guaraná constituía o que hoje chamamos de uma equipe multidisciplinar voltada para o resgate da tradição editorial e gráfica do movimento estudantil. Era a tradição iniciada pelo artista gráfico Rogério Duarte, por Ferreira Gullar e Arnaldo Jabor na revista Movimento da UNE, no início dos anos 60, que nos interessava resgatar. Em grande parte porque avaliávamos como muito tímida a imprensa estudantil que se praticava e procurávamos romper com essa timidez, como pode ser observado nos “slogans” ou palavras de ordem que adotamos e que podem ser vistas na publicação: “Edições Guaraná, contra o mofo e a timidez”; “Experimentar não esclerosar”, entre outras.
A não apreensão do caráter experimental da publicação Apesar de Tudo- UNE REVISTA, leva alguns pesquisadores a escrever sandices, como foi o caso de Angélica Muller, em comunicação científica apresentada no XXIV Simpósio Nacional de História ANPUH[2], que contém as reflexões de um capítulo de sua tese integralmente dedicado à análise de Memorex. Nessa comunicação, a historiadora afirma que grande parte dos textos do Memorex não trazem referências de origem, ou autoria, reclama da falta de informação sobre os editores de Memorex.
A autora parece estar bem preocupada com os usos políticos da história e até mesmo surpresa com o impulso dos conhecimentos teóricos, mas pouco se pergunta a respeito do “mistério” do expediente de Memorex e parece não se dar conta das inúmeras referências que acompanham a maior parte da documentação publicada.
Um pesquisador atento não deixaria de visualizar o expediente da publicação, na página referente aos anos 61/62, gestão Aldo Arantes, onde se lê: “ EXPEDIENTE: Apesar de Tudo- UNE REVISTA, uma realização conjunta de Edições Guaraná e DCE –Livre Alexandre Vanuchi Leme, listando em seguida, por ordem alfabética, seus treze editores sem estabelecer qualquer hierarquia entre eles. Revela, assim, que assumíamos a autoria da publicação, mas tínhamos prudência frente aos rigores com que o regime militar tratava os estudantes, jornalistas, artistas e intelectuais.
Esse mesmo pesquisador, se estivesse interessado em esclarecer quem era o grupo que assinava o trabalho, por meio da internet, logo teria em mãos o telefone de alguém e, rapidamente, chegaria aos sobreviventes, que poderiam explicar muita coisa e talvez responder algumas de suas perguntas. Ficaria sabendo que o Arnaldo que aparece sem sobrenome é o Antunes, nosso querido poeta. Talvez o pesquisador também se comprazesse em saber que o artista que tanto admiramos, Nuno Ramos, também se matava no “ past up “, além de digitar e revisar textos.
O interessante é que nenhum deles se tornou político ou mesmo aprofundou sua relação com o movimento estudantil. O caráter progressista e político da produção artística e intelectual de muitos dos elementos do grupo em fase posterior só confirma, no entanto, o ponto inicial do grupo que nos anos 70 se reuniu em torno de uma militância fora dos parâmetros da esquerda tradicional, interessado na renovação das linguagens artísticas, sem jamais abandonar o viés político. Esse viés político, ao ser alimentado, expressava a recusa em separar a grande política, do partido, do Estado, dos órgãos nacionais, da pequena política contra–cultural do quarteirão, dos comitês, dos cine-clubes, dos teatros de periferia, da imprensa nanica, da literatura de mimeógrafo.
Depois de concebido e diagramado Memorex, passamos a buscar apoio para sua impressão. Acreditávamos, que o nosso caráter de grupo independente e o sentido de coletânea de documentos que conferimos humildemente a nossa obra, haveria de facilitar a obtenção desse apoio e de algum recurso financeiro. Como a publicação estava pronta circulávamos a fotocópia de um “boneco” já paginado e tentávamos convencer a diretoria do DCE, dos centros acadêmicos a apoiar a edição de Memorex.
Definitivamente, o Memorex não foi gestado no interior do DCE- Alexandre Vanuchi Leme. Na capa da publicação, credita-se com clareza o DCE e a Edições Guaraná, no meio da publicação aparece o crédito horizontal da Edição Guaraná. A análise desses dois dados deveria no mínimo suscitar algumas questões: Quem é o sujeito da enunciação? O que seria Edições Guaraná. Por que haveria o DCE de trabalhar com a Edições Guaraná?
Aspecto importante em qualquer análise de discurso é a definição do sujeito da enunciação. E nesse item Angélica Müller cochila. Para ela esse sujeito é o DCE da USP, ignora solenemente a Edições Guaraná, os autores do trabalho.Talvez, seja hoje difícil acreditar que o Brasil já tenha sido governado por forças que não hesitavam em recorrer à truculência para impedir que a juventude brasileira pudesse investigar, descrever e analisar seu passado. E, no entanto, essas forças existem e hoje se apresentam com novos simulacros e astúcias, mas com o mesmo objetivo: impedir que a nossa juventude tenha acesso ao seu passado e possa escolher livremente o que lembrar e preservar.
Nos anos 70, na Universidade São Paulo, ao lado das intensas atividades políticas, existiam muitas articulações com propósitos artísticos e culturais como os grupos de teatro da Politécnica, da Faculdade de História, da Ciências Sociais, como o jornal mural A Ponte, a revista Balão e ainda grupos que se reuniam por interesse em fotografia, música, cinema. Nem sempre seus membros estavam diretamente envolvidos com as atividades políticas. Tal era o caso da Edições Guaraná que reuniu estudantes de História, das Comunicações, das Ciências Sociais, além de secundaristas e vestibulandos.
Cabe ainda reafirmar que não tínhamos o perfil do estudante militante. Éramos jovens democratas interessados no fim do regime militar, cuja intolerância nos impedia de exercer os mais banais direitos civis. É importante lembrar que naquele momento os movimentos culturais juvenis mostravam grande vitalidade com um grande número de iniciativas, como as da poesia de mimeógrafo, entre outras do chamado movimento undergroud. É no contexto desta rebeldia juvenil, coletiva e universitária que a Edições Guaraná precisa ser entendida. Nesse sentido, o fato de eventualmente algum de seus membros ter ou não copiado trechos de O Poder Jovem não tem qualquer relevância. O mais importante foi que conseguimos reunir um grupo de jovens de diferentes faixas etárias para analisar um tema espinhoso e realizar um produto que um vasto grupo social estava desejando.
Com “grande perspicácia”, a mesma historiadora observa que as páginas da publicação não são numeradas. De fato, não há numeração de página no Memorex. Tivemos, na ocasião, um entendimento que os anos da cronologia seriam suficiente para estabelecer seqüência e localização, até porque, se não nos falha a memória, não havia mais números em nosso estoque de “letra set”, e muito menos fôlego financeiro para adquirí-las. De fato, a ignorância a respeito das condições e o contexto em que foi produzido o Memorex, acarreta uma serie de avaliações equivocadas.
Angélica Muller, em sua comunicação, também afirma que a publicação é de 1979 quando é, de fato, de 1978. Essa imprecisão na datação faz grande diferença na apreensão da conjuntura em que o trabalho veio à luz. Em 1978, a ditadura ainda agia com muita truculência, sem falar que a Edições Guaraná se adiantara em relação aos dirigentes estudantis na iniciativa de elaborar uma historia da UNE. Para completar, Müller reivindica para si o estabelecimento da data da criação da UNE em 1938, parecendo não perceber que o Memorex estampa em letras garrafais: “1938 – O Segundo Congresso. A separação da CEB dos estudantes ou a formação da verdadeira UNE.”
A elaboração da revista Apesar de Tudo – UNE REVISTA (Memorex) acolhia e incentivava a colaboração de todos e isto trouxe como conseqüência uma variação de aprofundamento em cada período pesquisado. Entretanto, é preciso registrar que a maior dificuldade estava em encontrar a documentação e, sobretudo, mexer com um tema tabu, já que não é possível ignorar que a UNE colocava-se, desde as primeiras horas, como uma das principais adversárias do regime. Nosso desafio era olhar para o passado e construir formas participativas de resgate e interpretação. Só nos interessava produzir pesquisa que refletisse aquele momento de interesse coletivo pela UNE.
Já havíamos dado grandes passos na obtenção de documentos e depoimentos quando foi criada a Comissão Pró UNE, que entre outras resoluções decidiu que era necessário elaborar um histórico da entidade que se pretendia reorganizar. Nós da Edições Guaraná acreditávamos poder contribuir para a UNE e para o movimento estudantil divulgando uma sistemática de trabalho, uma metodologia que em si propiciava a mobilização, a conscientização e a organização dos estudantes: propúnhamos que o Memorex se tornasse brinde de recepção de calouros, acompanhado de eventos, discussões palestras... tratava-se de criar com a publicação um instrumento de mobilização.
O que se concretizou foi uma fecunda parceria entre a Edições Guaraná e o DCE que fez a compra antecipada de parte da tiragem, viabilizando o custeio da impressão e dos fotolitos da publicação. Até então havíamos trabalhado por conta própria, financiando os gastos com a pesquisa, a composição de textos, o material da arte final etc. A diretoria do DCE da USP que tinha conhecimento de que estávamos trabalhando nessa pesquisa procurou-nos com o propósito de fazermos essa parceria. Quando apresentamos as artes finais eles aprovaram e prontamente foram enviadas para a gráfica. Em poucos dias a revista entrou em circulação e em menos de dois meses sua tiragem de 10 000 exemplares havia se esgotado. Os estudantes exibiam grande carinho e orgulho por aquela realização. Entretanto, os órgãos de segurança entraram em ação para impedir sua circulação. Felizmente, a rapidez de sua distribuição frustrou qualquer efeito neste sentido.
O período compreendido entre o Congresso de Ibiúna e 1978 não foi objeto de nossa pesquisa, em parte porque não nos encontrávamos muito afastados dele. E também porque a ação dos dirigentes da UNE na dura condição de clandestinidade impedia que se produzissem muitos documentos oficiais escritos e no momento em que realizamos nosso trabalho seria quase impossível tentar resgatá-los.
A contribuição que buscávamos dar era: 1) revelar a institucionalidade da UNE que o regime militar destruiu e isto significava apontar para a existência de um legado documental da entidade; 2) destacar a significativa contribuição cultural que emergiu no interior da entidade ao longo de sua história; 3) mostrar a UNE como ambiente de reflexão dos problemas nacionais; 4) mostrar a entidade como geradora de mobilizações em defesa de projetos de interesse nacional; 5) mostrar a entidade como propulsora de renovações estéticas.
Hoje, depois de constatar que passados tantos anos os estudantes brasileiros continuam a demonstrar grande carinho pelo Memorex, Apesar de Tudo- UNE REVISTA, não temos dúvida em afirmar, lembrando o grande poeta Paulo Leminski: ...“Valeu ter encharcado a cara de suor. Valeu!”

[1] A publicação tem um título múltiplo: Apesar de Tudo – UNE REVISTA, Elementos para uma Historia da UNE e, finalmente, Memorex, nome do remédio cuja embalagem compõe a ilustração da capa.
[2] Angélica Müller. “Os Usos Políticos do Passado: A Construção da História da União Nacional dos Estudantes na sua Reconstrução (1976-1979)” In Anais do XXIV Simpósio Nacional de História- 2007, Associação Nacional de História – ANPUH. http://snh2007.anpuh.org/resources/content/anais/Ang%E9lica%20M%FCller.pdf. Acessado em 12/09/2007.

Texto: 1968: a experiência de um movimento nacional, por Nilton Santos

Título: 1968: a experiência de um movimento nacional

Autor: Nilton Bahlis dos Santos – Vice-presidente da UNE em 1967/1968, Organizador do livro “História da UNE”, publicado em 1980 pela Editora Livramento[1].

Cientista da Informação e Pesquisador da FIOCRUZ, especializado em sistemas complexos e na Internet
Curriculum Lattes: http://lattes.cnpq.br/2353934077824449
Blog Pessoal: http://nilton-santos.spaces.live.com/
Email: nilton-santos@clubedofuturo.org.br

Introdução:

Pouco se sabe sobre a experiência da UNE de 1968. Os depoimentos sobre o ano mais importante do movimento estudantil brasileiro, em geral fazem referências de algumas manifestações regionais que ganharam grande significado, em particular a passeata dos 100.000 no Rio e as manifestações de São Paulo. A importância dessas mobilizações é inegável, visto a concentração de Universidades nestes dois estados e o grande número de estudantes existentes. Mas o que talvez tenha sido mais importante para a sobrevivência quase exclusiva na memória social é o papel político destes estados e a existência neles de uma imprensa de caráter “nacional” que de certa forma lhe deu espaço e divulgação. Ao contrário, são desconhecidas, por outro lado, importantes manifestações regionais como a mobilização massiva dos estudantes secundaristas baianos, em 1967, que de certa forma foi a “escola” de onde a diretoria da UNE e as entidades regionais tiraram as experiências que impulsionaram para a generalização das mobilizações nacionalmente. Também são praticamente desconhecidas as manifestações estudantis de Minas Gerais que foram importantes atores na reorganização da UNE mantendo erguidas as bandeiras da UNE no pós 64 e onde a repressão foi feroz. Do mesmo modo mobilizações importantes ocorreram em Curitiba, Fortaleza, Recife e Rio Grande do Sul, Pará, por exemplo, para citar apenas algumas, que praticamente não aparecem e não são comentadas (ou o são apenas rapidamente) nos livros e publicações que falam da UNE de 1968. Não se fala também da ação organizada da UNE e de sua diretoria, que foi decisiva na extensão das mobilizações a todo país e em sua coordenação. Neste artigo, falamos um pouco sobre isto. Nossa intenção é apontar alguns elementos e pistas para várias iniciativas de pesquisadores que procuram recompor a experiência do movimento estudantil em todas suas cores.



1968: a experiência de um movimento nacional

Pouco se sabe sobre a experiência da UNE de 1968. Os depoimentos sobre o ano mais importante do movimento estudantil brasileiro, em geral fazem referências de algumas manifestações regionais que ganharam grande significado, em particular a passeata dos 100.000 no Rio e as manifestações de São Paulo. A importância dessas mobilizações é inegável, visto a concentração de Universidades nestes dois estados e o grande número de estudantes existentes. Mas o que talvez tenha sido mais importante para a sobrevivência quase exclusiva na memória social é o papel político destes estados e a existência neles de uma imprensa de caráter “nacional” que de certa forma lhe deu espaço e divulgação. Ao contrário, são desconhecidas, por outro lado, importantes manifestações regionais como a mobilização massiva dos estudantes secundaristas baianos, em 1967, que de certa forma foi a “escola” de onde a diretoria da UNE e as entidades regionais tiraram as experiências que impulsionaram para a generalização das mobilizações nacionalmente. Também são praticamente desconhecidas as manifestações estudantis de Minas Gerais que foram importantes atores na reorganização da UNE mantendo erguidas as bandeiras da UNE no pós 64 e onde a repressão foi feroz. Do mesmo modo mobilizações importantes ocorreram em Curitiba, Fortaleza, Recife e Rio Grande do Sul, Pará, por exemplo, para citar apenas algumas, que praticamente não aparecem e não são comentadas (ou o são apenas rapidamente) nos livros e publicações que falam da UNE de 1968. Não se fala também da ação organizada da UNE e de sua diretoria, que foi decisiva na extensão das mobilizações a todo país e em sua coordenação. Neste artigo, falamos um pouco sobre isto.

Diversos fatores estão na origem das manifestações estudantis de 68 no Brasil.

É inegável que elas parte de um fenômeno de abrangência mundial já que foram simultâneas às mobilizações estudantis na França, no México, nos EUA, na Alemanha e no Japão, para citar apenas algumas das mais importantes.

Alguns fatores contribuíram para elas ocorressem. Por um lado elas estão relacionadas a uma certa fatiga, que começava a se sentir, do processo do crescimento econômico do pós-guerra. Este crescimento tinha criado uma realidade econômica nova, mas se mostrava incapaz de promover uma distribuição de renda e resolver problemas sociais, frustrando as expectativas que tinha gerado. Por outro lado, a “revolta estudantil”, como chegou a se chamar, era estimulada pela emergência de novas alternativas de esquerda em escala internacional, estimuladas pela vitória e consolidação da revolução cubana e pelo sucessos da luta revolucionária no Vietnam e na Indochina, além da criação da Organização Latinoamericana de Solidariedade (OLAS) com sua bandeira de “criar um, dois, três Vietnãs...”

Estes fatores encontraram uma massa estudantil em crescente em número (pela ampliação do número de universidades e escolas) e desapontada com a educação em crise e com uma sociedade “moralmente enferma”.

A educação tradicional, em geral, e a universidade arcaica com chamávamos na época, não era capaz de responder nem mesmo as necessidades de formação técnica de mão de obra colocada pelo capitalismo em desenvolvimento, muito menos satisfazer os objetivos humanistas e sociais que se esperava da educação.

Por outro lado o desenvolvimento dos meios de comunicação e a concentração urbana tornavam visíveis a “dupla moral” da sociedade, onde se pregava uma moral que já não era praticada. A sociedade capitalista com sua incitação aos “prazeres” do consumo, a liberdade individual, entrava em contradição com a moral conservadora. Se a contradição não era percebida para os mais velhos habituados a esta dupla moral, para os jovens não tinha nenhum sentido este tipo de hipocrisia. Isto os levava a desconsiderar ambas e constituir sua própria moral, dando espaço praticamente por toda a parte para as minorias mais diversas, para o “direito a experiência”, para bandeiras contra qualquer tipo de opressão (“é proibido proibir”) e por liberdade sexual.

Do ponto de vista particular em nosso país, passávamos um momento onde a pequeno-burguesia em particular, começava a manifestar timidamente seu descontentamento estimulado por um movimento estudantil cuja vanguarda centrava suas ações em manifestações políticas de rua desafiando a Ditadura. Isto abria uma discussão das classes dominantes e inclusive dentro dos militares sobre dois possíveis caminhos: o de buscar a institucionalização da Ditadura abrindo alguns canais democráticos (redução da Censura, maior espaço para o jogo político, etc.) para tentar atrair e neutralizar as camadas médias; ou endurecer...

Foi neste ambiente que se processou a mobilização estudantil de 1968 no Brasil. As condições eram favoráveis as mobilizações. Mas faltava uma variável capaz de favorecer a sincronização das iniciativas estimuladas por este ambiente, e a sua construção como um movimento nacional. E esta variável, apesar de todas divergências que existiam entre as lideranças, foi sua capacidade de estabelecimento de uma unidade de ação na prática. E para isto a UNE e suas estruturas de organização (Executiva Nacional, Congresso, Conselhos, UEEs, DCEs e Grupos de Trabalho) tiveram um papel fundamental.

A Une antes de 68

Uma intensa luta política e ideológica se desenvolveu na vanguarda estudantil no período posterior ao golpe de 1964. Nesta luta política esta vanguarda colocou em cheque a chamada “esquerda reformista” como era então caracterizada a política do PCB e formou o que passou a ser chamada de “esquerda revolucionária”.

No período imediato posterior a 1964 a hegemonia da Ação Popular, com seu “Movimento contra a Ditadura” (MCD), era inconteste. Nesta época, até pela grande repressão, mas principalmente pelo privilégio quase exclusivo dado as ações políticas de rua, a mobilização era praticamente de setores de vanguarda. Na oposição a esta posição se encontrava principalmente o PCB que propunha o privilégio quase exclusivo das lutas específicas estudantis. A Política Operária e o Partido Comunista do Brasil, na luta política contra o “reformismo” do “Partidão”, terminavam por se aliar a AP.

Em 1966/1967 começa uma modificação da correlação de forças com a luta interna dentro do PCB que termina por levar a ruptura dos setores mais importantes de suas bases estudantis, particularmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, influenciados pelo surgimento internacional de uma esquerda revolucionária formada sob o impacto da revolução cubana, do Vietnam e da OLAS, e no país pela Política Operária, PC do B e pela AP. Nesse período as mobilizações são basicamente de vanguarda e co raras exceções não passam de algumas centenas de estudantes os que fazem passeatas, sempre reprimidas, e confrontam a repressão

Em agosto de 1967, se realiza em um convento de padres na cidade de Valinhos, Estado de São Paulo, o 29o Congresso da UNE. A diretoria eleita foi uma composição de esquerda revolucionária, com presidente e 3 diretores da AP, 3 diretores da Política Operária (PO) e 3 das Dissidências Internas Regionais (DIs) do PCB (1 do RJ, 1 de SP e 1 do RS).

No Congresso foi aprovada a “Carta Política da UNE”, dedicada a uma análise da situação internacional, da situação nacional e ao estabelecimento de um programa geral. A modificação que o XXIX Congresso provocou foi o resgate da bandeira das lutas específicas, tentando retirá-las daqueles que procuravam dar-lhes um conteúdo legalista e reformista.

“Era necessário lutar também contra aqueles que diziam que a ‘luta específica é reformista e a luta política é revolucionária’. Era necessário compreender que tanto a luta política quanto a específica poderiam ter uma condução reformista ou revolucionária. E o Congresso procura então representar uma alternativa de condução das lutas específicas, de modo da vinculá-las a uma luta política contra a Ditadura Militar” (História da UNE, 1980: 66-70)”.

Os eleitos para a nova diretoria foram como presidente Luiz Gonzaga Travassos da Rosa (AP-SP), e como vices Nilton Bahlis dos Santos (DI - Rio Grande do Sul) José Roberto Arantes de Almeida (DI - São Paulo), Luís Raul Machado (AP - RJ), Jacques Zajdsznajder (DI - Rio), José Carlos Mata-Machado (AP - Minas Gerais), José Carlos Moreira (AP - Pernambuco), Peri (PO - Bahia), Jari Cardoso (São Paulo) e Edson (Minas Gerais). Como já foi dito, “um presidente e nove vices, um grupo de dez pessoas que passou a utilizar nomes frios, dirigentes de uma entidade sem sede, sem patrimônio, sem arquivos e sem infra-estrutura, a não ser aquela das entidades estaduais” (Sanfelice, José Luís. Movimento Estudantil: a UNE na resistência ao golpe de 64. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1986).
.
Ainda em Valinhos, foi feita uma rápida reunião de articulação da Diretoria, e se decidiu que os novos diretores se dividiriam e iriam “levar as decisões do 29º Congresso às bases estudantis de todo o país”. Depois de passar um mês, dando informes sobre as decisões do 29.o Congresso em reuniões mais ou menos massivas nas principais universidades do país, os 10 diretores se encontraram em sua primeira reunião, durante dois dias no Rio de Janeiro, para organizar a diretoria e planejar a sua ação na gestão que se iniciava.

Apesar das divergências de posições políticas e de que o deslocamento dos diretores se dava em grande parte por iniciativa de suas tendências estudantis, a direção da UNE de 1967/1968 conseguiu na maior parte da gestão de maneira coordenada e com decisões tomada por decisão da maioria.

Já nos primeiros meses, quando seus diretores ainda se apresentavam pelo país, esta diretoria viveu sua primeira grande experiência de mobilização de massas. E elas aconteceram na Bahia, onde estudantes secundaristas começaram uma luta contra a Lei Orgânica. Uma intensa agitação começou a se desenvolver praticamente em todas as escolas. Esta mobilização de milhares de estudantes foi ganhando as ruas dos bairros e da cidade, e luta que começara em torno de questões tipicamente estudantis foi ganhando um conteúdo político a partir de sua própria dinâmica no confronto com a política educacional e a repressão da Ditadura.

A preparação das mobilizações de 1968

Apesar das mobilizações secundaristas na Bahia não terem sido convocadas pela UNE, dois de seus diretores (Luis Raul e Peri) terminaram por participar na liderança do movimento. A experiência destas mobilizações foi intensamente discutida na direção da UNE e entre as lideranças estudantis, nas discussões de preparação do Conselho Nacional da entidade que se realizou em fevereiro de 1968, com representantes de UEEs e DCEs.

A Ditadura Militar estava dando sua resposta a crise da Universidade, que não respondia as necessidades de formação de mão de obra para o mercado. Com o Acordo Mec-Usaid, ela propunha a privatização da Universidade. Para criar uma opinião favorável a aceitação de sua política a Ditadura corta verbas do ensino, aprofundando a crise e praticamente levando o sistema educacional à falência, começa a cobrar Anuidade dos estudantes (inicialmente de caráter simbólico para criar o hábito) e restringe as vagas nos vestibulares criando a figura dos excedentes (que passavam no vestibular mais não tinham vaga).

A UNE também oferece sua resposta. A experiência da Bahia mostrava na prática que se manifestando, de forma independente, na luta por suas reivindicações, os estudantes podiam assumir uma dinâmica de luta contra a política educacional do governo que se desdobrava em uma luta política contra a Ditadura e a repressão.

O Conselho da UNE de início de 68 define assim, como centro da mobilização, a luta contra a política educacional do Governo e contra o Acordo Mec-Usaid, Suas resoluções apontava o caminho das luta por reivindicações específicas centradas em 3 bandeiras: Mais Vagas, Mais Verbas para a Universidade, e contra as Anuidades. Por outro lado define a necessidade de uma estruturação e massificação do movimento estudantil em torno de suas entidades e em Grupos de Trabalhos (GTs) como organizações de base para a mobilização dentro das Universidades e nas lutas de rua, permitindo mantê-las apesar da repressão com processos de dispersão e reagrupamento.

Esta estratégia, nos meses seguintes, leva a um processo de sincronização do movimento, favorecendo que as entidades estudantis ganhem um caráter massivo, e que se crie um ambiente de intensa agitação nas universidades. A intensificação das mobilizações, em graus e ritmos diversos, se desenvolve então em todo o país, com picos ora numa ou em outra região. As mobilizações estudantis que explodiam por toda a parte no mundo, nesta mesma época, vêm ainda estimular o seu desenvolvimento.

Mas este crescimento começa a colocar novos problemas. A radicalização política do movimento estudantil, atuando de forma independente e atraindo camadas da pequena burguesia, começa a chegar em um impasse, já que ele não tinha capacidade de derrotar a Ditadura. O movimento estudantil atraindo professores e funcionários, reivindicando a autonomia universitária e criando comissões paritárias de estudantes, professores e funcionários, disputa o poder dentro da Universidade. Por outro lado o crescimento das mobilizações em muitos lugares consegue conquistar as ruas e neutralizar a repressão, que fica acompanhando a distância e apenas intervindo às vezes, quando a manifestação já estava se dispersando.

Mas o movimento estudantil não tem condições de impor sua vontade. Nestas condições reaparecem com força as divergências entre as diferentes alternativas das tendências: alguns apontam o caminho da radicalização das lutas de rua contra a Ditadura, com a expectativa de acumular forças para derrubá-la; outros apontam o caminho da violência armada de vanguarda ou de massas; outros ainda propõem a radicalização da luta disputando o poder dentro da Universidade e buscando contribuir para uma embrionária reorganização das lutas operárias que começavam a se manifestar nas Greves de Osasco e Contagem e na organização das oposições sindicais. Do mesmo modo, do outro lado, aparecem divergências no interior do bloco de poder: liberalizar ou endurecer.

Enquanto ainda se desenvolviam manifestações em diversas regiões do país, a diretoria da Une em meados do ano de 68, se reúne para organizar o XXX.o Congresso e coloca nele as esperanças de resposta para a continuidade do movimento e de reorganização de sua Unidade.

O Congresso da Une

O XXXo Congresso da Une foi concebido em quatro fases:

1) Debate nas escolas e eleição dos Delegados diretamente na Base;
2) Congressos Regionais de amadurecimento das discussões;
3) Congresso Nacional fechado realizado em São Paulo;
4) Apresentação das Resoluções às Bases.

A estrutura do congresso demonstra já uma mudança em relação aos congressos anteriores realizados na clandestinidade. O que se pretende agora é consolidar a UNE enquanto uma representação estudantil de caráter massivo com a base estudantil participando diretamente nasdiscussões das teses apresentadas ao congresso e nas decisões.

A orientação da diretoria da UNE era de, onde fosse possível, organizar a discussão das propostas políticas do congresso em assembléias abertas e massivas nas Universidade, e escolher os delegados com representação proporcional a participação e posicionamentos. Onde isto não era possível se deveria no mínimo se eleger os delegados em reuniões fechadas e nos GTs, organização da vanguarda estudantil nas escolas.

Esta concepção aprovada unanimemente pela diretoria refletia a compreensão que a UNE entrava em uma nova fase onde ela não era mais o “prêmio” de uma disputa e negociações entre tendências de caráter político-partidário, mas uma entidade realmente de massa apesar colocada na ilegalidade pela Ditadura.

Julgávamos que com as mobilizações massivas de 68 criáramos as condições para dar este passo e que ainda que realizássemos a fase de reunião nacional fechada, poderíamos garantir a representatividade dos estudantes nas fases anteriores. O que não compreendemos naquele momento e só percebemos com a dinâmica do congresso, é que a UNE já não cabia mais em um Congresso fechado. Que o número de delegados, conhecidos e eleitos abertamente, com a representatividade que ganharia o congresso cresceria tanto que não seria mais possível manter qualquer caráter conspirativo.

Os diretores tinham ido para as bases para organizar o congresso junto com as entidades locais e de base; as assembléias e debates se multiplicavam e de repente o número de delegados já passava de 800. Algumas discussões ainda são feitas entre diretores sobre a possibilidade de fazermos a fase do congresso nacional aberta, no CRUSP. Mas a engrenagem já estava em marcha e dificilmente conseguiríamos consenso para uma mudança de rumo. Se tentássemos poderíamos quebrar a entidade...

... e nos reunimos no Congresso com a esperança de que a Ditadura não encontrasse um consenso para reprimi-lo e prender um número tão grande de lideranças estudantis.

A queda do congresso e as repercussões da prisão de quase 1000 lideranças estudantis mostravam o impasse da co-relação de forças apresentava. As manifestações dos delegados dentro da prisão (que fizeram greve de fome para quebrar a incomunicabilidade), dos estudantes que explodiram em manifestações por todos o país, e a mobilização de outros setores populares ajudaram a apressar a libertação de quase todos os presos de Ibiúna. A ditadura manteve presos apenas menos de uma centena de estudantes, àqueles mais evidentes, lideranças regionais como Vladimir Palmeira, José Dirceu, Jean Marc entre outros e os diretores nacionais da entidade.

Escaparam, graças a fuga e uso de identidades falsas apenas três diretores da UNE: o Luis Raul, o Arantes e eu. Por acaso de três posições diferentes e na reunião de diretoria, foram apresentadas três propostas de como eleger a nova diretoria. O Luis Raul propunha um novo congresso clandestino com a mesma configuração de antigamente; o Arantes propunha eleger a diretoria em congressos regionais e somar os votos nacionalmente; e eu, propunha uma “fuite en avant” (fuga para a frente), um processo de eleição direta nas escolas o que colocaria a defesa da UNE diretamente nas mãos da base estudantil e obrigaria a repressão a se dispersar.

As propostas decorriam de posições políticas e avaliações diferentes do quadro político que se apresentava na vida do país. A corrente do Arantes começava a ver a possibilidade de responder ao endurecimento do regime militar pela luta armada; a minha tendência julgava ser possível oferecer uma resposta pelo aprofundamento da organização e representatividade do movimento
[2], para manter as mobilizações mesmo com um endurecimento do regime, e acumulando forças para desdobramentos futuros; por último, para a corrente do Luis Raul, o movimento estudantil devia continuar ido as ruas e continuar golpeando a Ditadura, apoiando-se na pequena burguesia.

O Conselho da UNE, chamado a tomar a decisão sobre isto, deliberou pela posição de Arantes. E quase na clandestinidade, sem representatividade e conhecimento dos estudantes, foi eleita uma nova diretoria, praticamente desmantelada e dizimada pela repressão em pouco tempo.

Aqueles estudantes que se mobilizaram por toda à parte levantando suas bandeiras específicas, disputando o poder no interior da Universidade, indo as ruas por suas lutas específicas e garantindo sua mobilização apesar da repressão da Ditadura, não conseguiam garantir a sobrevivência orgânica de suas entidades. Mas aquelas mobilizações permaneceram na história do país e na memória de sua vanguarda até serem retomadas quase uma década depois. Significaram também a formação, a educação política e a experiência de organização de uma geração de brasileiros que continuaram lutando de várias formas na clandestinidade e que depois ofereceram sua experiência para a reorganização das lutas e a democracia no país.


[1] Quando Otávio Luiz Machado me convidou a escrever este artigo ele me perguntou sobre o livro História da UNE. Comentei que não via importância neste livro, apesar de ter conseguido depoimentos de vários dirigentes da década de 60. Apesar dele ter uma tiragem de 3000 exemplares, pensava que pouco impacto ele tivera já que não via referências ao livro nas notícias e artigos sobre 68 que eu tomava conhecimento. Posteriormente a sua pergunta, fiz uma pesquisa na Internet e descobri que vários pesquisadores e livros sobre a UNE fazem referência ao livro, já que ele é um dos poucos documentos que traziam depoimentos de dirigentes de várias gestões da UNE em uma época que eles não davam entrevistas em jornais e televisão. Mudei então de opinião: acho que ele cumpriu seu papel.
O livro sobre a UNE foi uma das formas de colaboração que estabeleci com as diretorias que reorganizaram a UNE nos anos 1979/1982 a partir de uma solicitação, aos ex- Diretores da entidade que estavam no exílio, feita por Rui César em um Congresso da Anistia realizado em Roma no início de 1978. Ele solicitou que voltássemos para ajudar na reorganização da entidade e eu retornei às vésperas da eleição da Diretoria da UNE, no final de 1979.
Fiz então inúmeras palestras e percorri, com lideranças da época, salas de aula falando da História do Movimento Estudantil e da UNE. Estas atividades me levaram a organização do livro em colaboração com a entidade.
Na época participei também da ocupação simbólica do prédio da UNE como resposta às ameaças do Governo de reprimir as eleições da diretoria da entidade. Era um pouco a mistura de duas épocas. Após as eleições participei da primeira reunião da nova diretoria e propus que ocupassem definitivamente o prédio da entidade. Os diretores me ouviram e ficaram de discutir o assunto. Minha idéia era que a diretoria e um grupo de estudantes ocupassem e se entrincheirassem no prédio chamando os estudantes para se incorporar e garantir a ocupação.
Esperava que isto acontecesse a qualquer momento. Passaram-se, no entanto alguns meses e não tive retorno da proposta ou percebi qualquer movimentação com este objetivo até o momento quando os jornais estamparam notícias que os estudantes reunidos em um conselho da UNE na Bahia tinham decidido retomar o prédio da entidade. Alguns dias depois a polícia ocupou o prédio e o mais rapidamente possível começou a demolição.
[2] Minha tendência se chamava Universidade Crítica e o fato de ser sua principal levava o pessoal de outras tendências a brincar me chamando de “Reitor da Universidade Crítica”.
A Universidade Crítica se constituiu como tendência formal no bojo de alguns movimentos estudantis de 1968 no Brasil que propunham a organização de comissões paritárias de estudantes, funcionários e Professores para disputar poder no interior da Universidade e desenvolver uma crítica ao conteúdo de ensino. Sofríamos, também, uma certa influência dos movimentos estudantis de maio na França que contestavam o próprio sistema educacional e da Universidade Crítica de Berlim que colocavam sobre crítica, paradigmas da ciência e da sociedade capitalista industrial.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O livro didático que a Globo quer proibir

FONTE: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=25279

O professor de História Mario Schmidt responde à altura, diante da campanha de difamação contra o seu livro didático capitaneada pelo diretor executivo do jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel. ''Em primeiro lugar exigimos respeito. Nós jamais acusaríamos o sr. Kamel de ser racista apenas porque tentou argumentar racionalmente contra o sistema de cotas nas universidades brasileiras''. Veja a resposta na íntegra.

O livro de história que Kamel difamou
A respeito do artigo do jornalista Ali Kamel no jornal O Globo de 18 de setembro de 2007 sobre o volume de 8ª série da obra Nova História Crítica, de Mario Schmidt, o autor e a Editora Nova Geração comentam: Nova História Crítica da Editora Nova Geração não é o único nem o primeiro livro didático brasileiro que questiona a permanência de estruturas injustas e que enfoca os conflitos sociais em nossa história. Entretanto, é com orgulho que constatamos que nenhuma outra obra havia provocado reação tão direta e tão agressiva de uma das maiores empresas privadas de comunicação do país.
Compreendemos que o sr. Ali Kamel, que ocupa cargo executivo de destaque nas Organizações Globo, possa ter restrições às posturas críticas de nossa obra. Compreendemos até que ele possa querer os livros didáticos que façam crer ''que socialismo é mau e a solução para tudo é o capitalismo''. Certamente, nossas visões políticas diferem das visões do sr. Ali Kamel e dos proprietários da empresa que o contratou. O que não aceitamos é que, em nome da defesa da liberdade individual, ele aparentemente sugira a abolição dessas liberdades.
Não publicamos livros para fazer crer nisso ou naquilo, mas para despertar nos estudantes a capacidade crítica de ver além das aparências e de levar em conta múltiplos aspectos da realidade. Nosso grande ideal não é o de Stálin ou de Mao Tsetung, mas o de Kant: que os indivíduos possam pensar por conta própria, sem serem guiados por outros.
Assim, em primeiro lugar exigimos respeito. Nós jamais acusaríamos o sr. Kamel de ser racista apenas porque tentou argumentar racionalmente contra o sistema de cotas nas universidades brasileiras. E por isso mesmo estranhamos que ele, no seu inegável direito de questionar obras didáticas que não façam elogios irrestritos à isenção do Jornal Nacional, tenha precisado editar passagens de modo a apresentar Nova História Crítica como ridículo manual de catecismo marxista. Selecionar trechos e isolá-los do contexto talvez fosse técnica de manipulação ultrapassada, restrita aos tempos das edições dos debates presidenciais na tevê. Mas o artigo do sr. Ali Kamel parece reavivar esse procedimento.

Ele escolheu os trechos que revelariam as supostas inclinações stalinistas ou maoístas do autor de Nova História Crítica. Por exemplo, omitiu partes como estas: ''A URSS era uma ditadura. O Partido Comunista tomava todas as decisões importantes. As eleições eram apenas uma encenação (...). Quem criticasse o governo ia para a prisão. (...) Em vez da eficácia econômica havia mesmo era uma administração confusa e lenta. (...) Milhares e milhares de indivíduos foram enviados a campos de trabalho forçado na Sibéria, os terríveis Gulags. Muita gente foi torturada até a morte pelos guardas stalinistas...'' (pp. 63-65).
Ali Kamel perguntou por onde seria possível as crianças saberem das insanidades da Revolução Chinesa. Ora, bastaria ter encotrado trechos como estes: ''O Grande Salto para a Frente tinha fracassado. O resultado foi uma terrível epidemia de fome que dizimou milhares de pessoas. (...) Mao (...) agiu de forma parecida com Stálin, perseguindo os opositores e utilizando recursos de propaganda para criar a imagem oficial de que era infalível.'' (p. 191) ''Ouvir uma fita com rock ocidental podia levar alguém a freqüentar um campo de reeducação política. (...) Nas universidades, as vagas eram reservadas para os que demonstravam maior desempenho nas lutas políticas. (...) Antigos dirigentes eram arrancados do poder e humilhados por multidões de adolescentes que consideravam o fato de a pessoa ter 60 ou 70 anos ser suficiente para ela não ter nada a acrescentar ao país...'' (p. 247) Os livros didáticos adquiridos pelo MEC são escolhidos apenas pelos professores das escolas públicas. Não há interferência alguma de funcionários do Ministério.
O sr. Ali Kamel tem o direito de não gostar de certos livros didáticos. Mas por que ele julga que sua capacidade de escolha deveria prevalecer sobre a de dezenas de milhares de professores? Seria ele mais capacitado para reconhecer obras didáticas de valor? E, se os milhares de professores que fazem a escolha, escolhem errado (conforme os critérios do sr. Ali Kamel), o que o MEC deveria fazer com esses professores? Demiti-los? Obrigá-los a adotar os livros preferidos pelas Organizações Globo? Internar os professores da rede pública em Gulags, campos de reeducação ideológica forçada para professores com simpatia pela esquerda política? Ou agir como em 1964?

Leia também:

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Chico e as moças de ontem e de hoje - Fernando Peregrino*

Chico e as moças de ontem e de hoje
Por Fernando Peregrino*
*Secretário de Estado.

Fonte: arquivo. Publicado no Jornal do Brasil

Chico Buarque sempre foi um crítico agudo da sociedade de seu tempo. Lembro-me de sua luta contra a censura que tentava impedi-lo de cantar para os estudantes da UFF, em 1973, no auge da ditadura militar. Para combinar essa apresentação, certo dia, junto com dois colegas, fui ao seu encontro no Canecão - onde ele fazia um show com o MPB4. Na porta lateral, esperei-o para pedir que fizesse um show em Niterói para arrecadar fundos para o movimento estudantil. Era uma época de prisões e torturas. Precisávamos de recursos para custear advogados e material para nossa campanha contra a repressão política. O compositor não hesitou e marcou o dia. O ''cachê'' seria um whisky no camarim... Não deu outra, a censura apertou-nos na véspera - sob pena de fechar a faculdade - e proibiu que ''Apesar de você'' estivesse entre as músicas que seriam cantadas.
Chico entrou no palco - numa quadra de esportes adaptada como auditório - tendo na primeira fila meia dúzia de censores prontos para encerrar o show caso ele desobedecesse a ordem. Ele não se deu por vencido. Com seu violão deu os primeiros acordes da canção proibida e fez sinal para a platéia começar. Arrepios à parte, todos, como um coral ensaiado, cantaram ''Apesar de você'' acompanhados pelo sonoro silêncio do compositor com um sorriso quase infantil nos lábios. Uma corajosa e eloqüente denúncia em meio a um dos períodos mais duros da repressão.
''Hoje você é quem manda, falou tá falado, não tem discussão/ A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão/ ...Você que inventou o pecado esqueceu-se de inventar o perdão!./ Apesar de você amanha há de ser outro dia!''.
Mas por que estou lembrando esse episódio? Em recente entrevista à Folha de São Paulo, Chico não denuncia governos, mas a própria sociedade: ''Querem exterminar os pobres do Rio!'' Ele não está se referindo a aparatos. Ele se refere a algo tão sutil quanto perigoso. Ele repele os preconceitos da classe média, dos nossos moços e moças contra os pobres da favela, os pobres das ruas, os que não têm carro ou que têm carros velhos, os que vestem roupas sem grife, e por aí vai. Para mostrar como esse preconceito está se disseminando, Chico lançou a pérola: ''No meu tempo, as moças bonitas eram de esquerda, hoje são de direita''.
Não pensem que aquelas mais de duas mil pessoas que cantavam desafiando a censura na frente dos censores, sob a regência do próprio Chico, eram de militantes de esquerda, como nós. Eram simplesmente moços e moças de 20 anos que - através da música - se posicionavam ao lado da luta pela liberdade... Espontaneamente. Eram de esquerda, como disse o cantor na entrevista!
E como pensam os chamados moços e moças hoje em dia? Quando alguns deles - integrantes dessa classe média - chamam de políticos populistas os governantes que fazem políticas públicas emergenciais - como os restaurantes populares, o cheque cidadão, a farmácia popular, escola de qualidade para pobres - nada mais fazem que exalar também seu preconceito contra os pobres. Não é assim que se referem, por exemplo, ao ex-governador Leonel Brizola, ao ex-governador Garotinho e à atual governadora Rosinha Garotinho?
Não se pode dizer que o Chico apóie essa ou aquela política pública. Nem tampouco esse ou aquele governante. Mas é a mais pura verdade que os pobres já estão sendo exterminados pela incúria e pelo preconceito de segmentos da ''elite'' brasileira. Segmentos que tentam ceifar qualquer iniciativa de política pública para salvar ou redimir essa ampla maioria do povo brasileiro.
Preconceito é uma arma perigosa e tão letal quanto às armas convencionais, porque é ele que aciona o gatilho dessas últimas. Infelizmente, esse preconceito vem encontrando eco nas moças e moços, de ontem e de hoje. Mas há um poderoso antídoto: a arte e a cultura brasileira podem sensibilizar a juventude contra o preconceito que ameaça de degradação a nossa própria sociedade. E nesse particular, Chico e sua música são exemplares. Falta também parte da mídia deixar os preconceitos de lado. E quem sabe, ajudar a formação de uma juventude livre deles.

*Fernando Peregrino é secretário chefe de Gabinete da governadora do Rio de Janeiro

sábado, 15 de setembro de 2007

Repercussão no blog de Jamildo: O silêncio da Une foi comprado?

FONTE: http://jc.uol.com.br/blogs/blogdejamildo/2007/09/13/index.php#11323

O silêncio da Une foi comprado?
MOVIMENTO ESTUDANTIL 13/09/2007 18:57O


No seu blog, o mestrando de sociologia da UFPE Otávio Luiz Machado reclama do silêncio da UNE em torno do Renangate. Levanta uma boa discussão, ao apontar o financiamento de projetos da instituição pela Casa, com o nome de vários senadores e suas emendas para a entidade. Incluindo o nome do presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha.
Na sua avaliação, a UNE realmente se distanciou das lutas estudantis e tornou-se uma entidade ligada aos interesses menores de sua cúpula. “São projetos milionários para a produção de livros contando a história do movimento estudantil. Num deles, já aprovado, são gastos R$ 2,3 milhões. Noutro, o projeto soma R$ 1,5 milhão”, diz.
“O silêncio da Une mais uma vez assustou os estudantes. Nem a situação do Senado da República merece sequer uma única "notinha" da direção da UNE. Mas a situação é explicável: no momento a UNE busca captar mais alguns milhões de reais para aquilo que chama de "MEMÓRIA DA UNE". E tem a conivência de diversos Senadores e Senadoras. !

PARA LER OS COMENTÁRIOS NO BLOG DO JAMILDO:

http://jc.uol.com.br/blogs/blogdejamildo/comentarios.php?codigo=11323&canal=0

Número de estudantes no nível superior cresce 13,2%, diz IBGE

É satisfatório o aumento do número de estudantes no ensino superior brasileiro. E desejável. Mas não resolveremos os problemas do país se os novos ingressos tenham na universidade apenas a forma de resolver os seus problemas individuais e a sua ascensão social. A aprendizagem de cidadania, de participação política e de construção de um projeto de país só será efetivo quando tivermos uma direção da UNE (União Nacional dos Estudantes) presente nos campi das Universidades, de Centros e Diretórios Acadêmicos batalhando para a melhoria dos cursos e da melhor formação dos estudantes, assim como envolvidos em projetos coletivos. Resolveremos os problemas individuais de milhares de jovens (e adultos), mas nunca os problemas brasileiros que poderiam ser resolvidos com o envolvimento de jovens em projetos ainda durante o seu curso, assim como formados numa base intelectual sólida que resulte num compromisso social intenso no seu longo exercício profissional. São milhões de reais desembolsados cujo compromisso final do estudante é pagar a conta e ir embora.
Nas universidades públicas, também, ao invés de cobrar mensalidades (como muitos pretendem), o ideal seria
O bom exemplo é a Faculdade de Medicina da UFMG:
http://www.medicina.ufmg.br/dmps/internato/

Ali são aliados formação profissional e Cidadania, pois é o seguinte objetivo do Internato Rural (IR): "é uma disciplina obrigatória do Curso de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ministrada no 11o. período do curso. Chamada hoje de Internato em Saúde Coletiva, se desenvolve em rodízios trimestrais sucessivos, enviando os alunos para cidades do interior do Estado, e para a região Metropolitana de Belo Horizonte (preferência para alunos casados, com filhos, arrimo de família ou com casos de doença grave na família)".


FONTE: FOLHA ONLINE/EDUCAÇÃO
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u328297.shtml

14/09/2007 - 10h05
Número de estudantes no nível superior cresce 13,2%, diz IBGE
CLARICE SPITZda Folha Online, no Rio
A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) 2006, pesquisa feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que em 2006 5,874 milhões de brasileiros freqüentavam o ensino superior, cursos de mestrado e doutorado. O número representa um acréscimo de 13,2% em relação ao ano anterior.
André Porto/Folha Imagem
Segundo IBGE, Crescimento pode ser explicado pelo envelhecimento da população brasileira
Segundo o IBGE, o forte crescimento pode ser explicado pelo envelhecimento da população brasileira e por uma procura mais intensa por um curso universitário nesse ano.
Apesar do crescimento de estudantes com maior nível de escolaridade, eles ainda representam apenas 10,7% do total de estudantes brasileiros. A pesquisa mostra que a grande maioria dos estudantes de 3º grau estava na rede particular de ensino (75,5%).
A maior presença de estudantes na escola se dá na faixa etária entre 7 e 14 anos (97,6%). Santa Catarina tem quase toda a população na escola (99%). Já Acre e Alagoas são Estados com menor taxa de freqüência nessa faixa etária.
Entre 2005 e 2006 o percentual de crianças de 5 e 6 anos na escola aumentou três pontos percentuais. Este aumento, diz o IBGE, pode ser reflexo de mudança na legislação, que prevê matrícula obrigatória a partir dos seis anos até 2010.
Analfabetismo
A Pnad aponta ainda que a taxa de analfabetismo recuou de 10,2% em 2005 para 9,6% em 2006. No ano passado, 14,9 milhões de pessoas não sabiam ler e escrever. Segundo a consultora do IBGE Vandeli Guerra, a queda na taxa tem influência direta do aumento da taxa de escolarização.
"A taxa de analfabetismo caiu em todas as regiões, sobretudo, o Nordeste", disse.
Já ao considerar as pessoas com 10 anos ou mais e com menos de quatro anos de estudo, os chamados analfabetos funcionais, esse percentual sobe para 23,6%. O número médio de anos de estudo do brasileiro é de 6,8 anos. As mulheres em geral estudam mais. Enquanto as mulheres têm em média 7,0 anos de estudo os homens têm 6,6 anos.

A UNE E A GLOBO

A UNE SE CALOU TAMBÉM EM RELAÇÃO ÀS CONCESSÕES DE TV NO BRASIL.
SUA GRANDE PARCEIRA DO PROJETO MEMÓRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL TAMBÉM PODE DORMIR SOSSEGADA. AS DA VENEZUELA, NÃO!

O

A nudez da Mônica, que foi amante do Senhor Renan Calheiros (não o chamaremos nem de Senador nem de Vossa Excelência), talvez traga um pouco mais de debate sobre a questão, que será encerrada somente com a cassação do Presidente do Senado (com a perda do mandato). A UNE prometeu pensar numa manifestação somente em novembro. A nota da entidade é clara: "Teremos uma nova jornada em novembro e muitas outras serão construídas". É para rir? Ou chorar? Mas apenas uma dica para quem gostaria de saber o pôrque do prazo: Até lá A UNE já terá captado os recursos junto às estatais e terão seus grandes projetos culturais aprovados pelo Ministério da Cultura (Minc). É bom dizer que só para os seus projetos sobre a HISTÓRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL O QUE A UNE PRETENDE ARRECADAR DE RECURSOS PÚBLICOS PARA NÃO FAZER NADA DE RELEVANTE TOTALIZAM 5 MILHÕES DE REAIS (r$5.000.000,00). Só não podemos dizer quantas EMENDAS PARLAMENTARES (de Deputados Federais e de Senadores) estão sendo negociadas no momento. A cooptação da UNE é total!!! Tanto da ala mais progressista, como da ala mais conservadora dos PODERES.

A Nota da UNE (caso Renan) saiu: fraca, sem uma clara posição tomada, sem indignação e sem comprometimento da entidade no debate sobre a questão


A nota da UNE saiu. Mas não enxergamos ali nenhuma indignação, posição fechada sobre a questão ou mesmo enfrentamento da entidade com a questão.
É uma repetição do que o próprio Planalto vem reafirmando: 1) apuração pela Polícia Federal e outros órgãos; 2) A necessidade da reforma política; 3) E lamentos. Antes do julgamento de Renan a UNE já deveria ter construído uma agenda sobre a questão. É bom que se diga que o Caso Renan já se arrasta há 03 meses. É bom que se diga que a nota da UNE saiu quase três dias depois.
Quanto ao SENADO, É BOM QUE SE DIGA QUE A UNE também não se incomodou em iniciar a comemoração do que seria seus 70 anos (em agosto) justamente no Senado Federal. A ida do evento para um outro local poderia ser uma forma de protesto importante, mas mantiveram lá mesmo com a presença de um Presidente de Senado que não consegue explicar minimamente os seus ganhos e os seus gastos, sonega dados à Receita Federal (o famoso empréstimo) etc. Ou seja, um Presidente de Senado (e do Congresso Nacional) sem condições de ficar no comando de uma casa. Mas a UNE se calou o tempo todo. O recebimento de emendas parlamentares de acusados de corrupção ou de acobertar a corrupção também não é nenhum problema para a UNE.
Em suma, a nota é tardia, não permite aos brasileiros conhecer sua posição sobre o Caso Renan e acaba defendendo por fim o Presidente do Senado, que é irmão de um ex-Presidente da UNE chamado Renildo Calheiros, que sempre está muito presente nas atividades da UNE até hoje. A UNE deveria cobrar de parlamentares do PT, PC do B, PSB e outros que compõe a chamada esquerda brasileira a votarem contra Renan Calheiros e a favor do Brasil. A entidade prefere a posição conciliada com os interesses dos poderosos, não convocou ninguém às ruas para defender a democracia e não debateu com os estudantes um posicionamento claro acerca do assunto. A nota é frustante!

FONTE: http://www.une.org.br/

Em nota divulgada nesta sexta-feira, presidente da UNE, Lúcia Stumpf, reafirma a postura de repudio aos casos de corrupção e exige a apuração de todas as denúncias contra o presidente do Senado

Pra combater a corrupção, Reforma Política já!
O "caso Renan Calheiros" é o capítulo mais recente da prolongada crise do sistema político-partidário no Brasil. A UNE declara sua firme posição ao lado dos que exigem uma apuração séria de todas as denúncias de corrupção no país e ao lado dos que criticam a absurda falta de transparência do Senado ao definir por uma sessão fechada para votação que culminou na não-cassação do senador.
As investigações têm que continuar, com liberdade para que a Polícia Federal e a Justiça exerçam sua função e apurem as denúncias em curso. Afinal, a sociedade brasileira exige saber se as denúncias são verdadeiras ou não. Caso se configure qualquer infração legal, exigiremos a imediata aplicação rigorosa da lei e punição dos envolvidos.
Fica mais uma vez demonstrado que o Brasil precisa urgentemente de uma Reforma Política que ataque o principal elemento que interfere no compromisso dos representantes políticos com o povo: o financiamento privado das campanhas eleitorais. Tal sistema cria laços de envolvimento entre muitos políticos e os seus financiadores de campanhas, em detrimento dos seus eleitores e do conjunto da sociedade, a quem deveriam estar respondendo.
Precisamos, na verdade, de uma profunda Reforma Política capaz de mudar a dinâmica do sistema brasileiro, desde a eleição dos nossos representantes até a forma de funcionamento das instituições. Rejeitamos o modelo atual e lutamos por uma reforma que radicalize os instrumentos de promoção da democracia, promovendo a ampliação da participação popular. Para tanto, é urgente o estabelecimento do financiamento público exclusivo de campanha, a adoção do instituto da fidelidade partidária e a votação em lista fechada, instrumentos que visam fortalecer o debate em torno de projetos, acima das vaidades e interesses individuais. Neste momento, nossa pressão é também para que o Senado seja capaz de retomar seus trabalhos e para que aprove leis que façam melhorar as condições de vida do povo e que favoreçam o desenvolvimento do Brasil.
Por fim, há um elemento fundamental na luta por transformações, e do qual jamais abriremos mão, seja nos marcos atuais ou em um ambiente mais democrático: a mobilização popular. Apenas com povo na rua somos capazes de pressionar as Casas Legislativas, o Poder Executivo, o Judiciário e qualquer poder estabelecido por mudanças concretas. O Brasil precisa de muita gente na rua para lutar por uma Reforma Política Democrática, por mudanças na política macro-econômica que permitam um modelo de desenvolvimento com crescimento, distribuição de renda e educação a todos os brasileiros e brasileiras.
Por isso realizamos passeata em frente ao Banco Central em julho e uma grande Jornada em Defesa da Educação no mês de agosto, em unidade com o conjunto dos movimentos sociais. Teremos uma nova jornada em novembro e muitas outras serão construídas.
Estamos atentos e estaremos sempre ao lado do povo na luta por um Brasil justo, soberano e desenvolvido.Lúcia Stumpf, presidente da UNESão Paulo, 14 de setembro de 2007