segunda-feira, 10 de março de 2008

Anos 70 - Não foi tempo perdido

FONTE: http://www.ufmg.br/liberdade/naofoitempoperdido.htm

Anos 70 - Não foi tempo perdido

Yara Castanheira

Samira Zaidan, hoje professora da Faculdade de Educação, sonhava em ser médica, mas trabalhava muito para ajudar a família. Mesmo assim, fez duas tentativas, frustradas, no vestibular para o curso de Medicina. Em 1973, a opção pela Matemática abriu-lhe as portas para a vida universitária. Neste ano, ela e as calouradas estreavam na UFMG. O Diretório Central dos Estudantes (DCE), então dirigido por João Machado, havia proposto a substituição do trote pelas calouradas. O clima era de efervescência cultural: debates, festas, shows, exposições, jornal Gol a Gol se Pega com o Pé é Dibra.
Caloura na Universidade, veterana no movimento estudantil. Samira participou ativamente das manifestações de rua no ano de 1968, como estudante do Colégio Municipal. Casou-se em 72, época em que seu marido, aluno da Faculdade de Ciências Econômicas, foi suspenso da Universidade pelo decreto-lei 477, que propunha a suspensão daqueles considerados subversivos.
A militância, sua e de seu marido, já tinha tornado Samira uma pessoa conhecida na UFMG. Foi tesoureira do DCE em 1973, presidente do Diretório Acadêmico (DA) do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) em 1974. Em 1975, foi eleita a primeira mulher presidente do DCE da UFMG e em sua gestão promoveu a primeira eleição direta para a diretoria do DCE durante o período da ditadura.
Na presidência do DCE, ela viveu conflitos e inseguranças. Mas o arquiinimigo acabou lhe fortalecendo. Um episódio ilustra bem a expressão "o tiro saiu pela culatra". O DCE havia marcado debate sobre a abertura da Petrobrás para grupos estrangeiros. No dia do evento, o então Reitor da UFMG, professor Eduardo Cisalpino, avisou a Samira de que a Secretaria de Segurança havia comunicado que uma bomba explodiria no DCE Cultural às 17 horas, horário do evento, e, logo, o debate deveria ser suspenso. A diretoria do DCE não aceitou o cancelamento e a própria Secretaria ofereceu o serviço anti-bomba.
Samira relata o desfecho dessa história: "O DCE foi tomado por um conjunto de homens da Secretaria de Segurança, vestidos de branco e procurando a bomba. A sede social do DCE tinha dois andares praticamente vazios, apenas com mesas, cadeiras e banheiros. Mais de uma hora e aqueles homens vagando ali dentro, olhando pés de cadeira e cantos... Nos demos por satisfeitos. O Professor Muniz Bandeira, o Cisalpino e eu fomos ao Secretário de Segurança pedir a retirada do "serviço". Para isso, assumimos inteira responsabilidade pela "liberação" do local. O Professor Cisalpino argumentou com o Secretário que a "bomba" encontrava-se do lado de fora e não de dentro, pois, a essa altura, mais de mil estudantes já se aglomeravam na porta do DCE."
O fato mostrou que as propostas do DCE tinham o apoio dos estudantes, Samira perdeu a insegurança pessoal e acredita ter sido uma presidente dedicada, sempre um pouco "mãezona" de todo mundo, sempre acompanhando todas as atividades da UFMG. Em 1977, eleita para o Conselho Universitário, fez parte da Comissão de Segurança Externa do 3º Encontro Nacional de Estudantes. Mas isso é outra história.
Yara Castanheira

Nenhum comentário: