terça-feira, 31 de março de 2009

Tarso assina anistia política de Miguel Arraes em Recife

COMENTÁRIO DE OTÁVIO LUIZ MACHADO: O Ministro Tarso Genro, que na solenidade não se dirigiu em nenhum momento ao igualmente homenageados do ato, os estudantes Jonas e Ivan, mortos brutalmente no dia 1 de abril de 1964, deveria ao menos colocar no site do Ministério o que aconteceu na solenidade. O mais grave foi impedir que a irmã de Jonas (Marisa Barros) falasse no ato. Só não aconteceu pela força dela mais uma vez em tentar mostrar ao povo brasileiro os primeiros assassinatos da ditadura, que nossas elites (incluindo a nossa elite política atual) insistem em esquecer.

fonte: http://www.mj.gov.br/data/Pages/MJ7CBDB5BEITEMIDD15C9A573C814AABB7113C695FA8C6A3PTBRIE.htm

31/03/2009 - 12:31h

Tarso assina anistia política de Miguel Arraes em Recife
Brasília, 31/03/09 (MJ) – Há exatos 45 anos, quando um golpe militar instalou a ditadura no país, o então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, foi preso pelos militares e conduzido para fora do Palácio do Campo das Princesas, sede do governo do estado. É nesse mesmo local que, nesta quarta-feira (1º), às 11h, o ministro da Justiça, Tarso Genro, assinará a portaria que concederá anistia política a Arraes.
O ato será realizado na abertura da 20ª Caravana da Anistia, com a presença do governador do estado, Eduardo Campos, neto de Arraes, do prefeito de Recife, João da Costa, do presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Mozart Valadares Pires, e do presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão.
Durante a cerimônia, haverá sessão de memória em homenagem a Arraes e a Dom Helder Câmara. E o governador promoverá a doação do acervo documental do Instituto de Criminalística do Estado para o Memorial da Anistia Política no Brasil, do Ministério da Justiça.
À tarde, no Tribunal de Justiça de Pernambuco, duas turmas especiais da Comissão de Anistia realizarão sessão especial de julgamento. Na pauta, requerimentos de perseguidos políticos pernambucanos.
Duas caravanas
Na quinta-feira (2), ainda em Recife, a Comissão realizará a 21ª Caravana da Anistia. Na Câmara Municipal, o evento vai homenagear Francisco Julião e as Ligas Camponesas, que organizava trabalhadores rurais em torno da luta pela reforma agrária. Novamente, duas turmas especiais apreciarão processos de pedidos de anistia.
Com as duas caravanas, a Comissão de Anistia pretende julgar mais de 60 requerimentos de pernambucanos que sofreram perseguição política durante a ditadura. “O projeto resgata a dignidade do perseguido onde ela foi ferida e cumpre a missão de tornar público o pedido de desculpas do Estado brasileiro”, afirma o presidente da Comissão, Paulo Abrão.
Desde seu lançamento, em abril de 2008, a Caravana da Anistia já percorreu 11 estados em todas as regiões do país, apreciando mais de 350 requerimentos. Além de tornar público o trabalho e os critérios da Comissão, o projeto aproxima a juventude brasileira da temática da luta pela democracia.
Criada em 2002, a Comissão recebeu mais de 64 mil requerimentos, dos quais cerca de 45 mil já foram apreciados. Foram anistiados 29 mil brasileiros – em menos da metade, cerca de 12 mil casos, houve reparação econômica por danos comprovados.

Depoimentos coletados pelo PROENGE JÁ EM 2009


Editorial do JC A ESCOLA E O SEU MEIO

Editorial do JC (Recife), 30 de Março de 2009

A ESCOLA E O SEU MEIO

Os cada vez mais freqüentes casos de violência escolar devem manter acesa a luz de alerta da Nação, por enquanto laranja e, se nada for feito, brevemente vermelha. Essa é uma questão gravíssima, porque indicadora do ensino e aprendizado que temos e o País que queremos. Procurar as razões está cada vez mais complicado, porque fica difícil de entender e explicar que apenas a pobreza seja responsável pelo desencaminhamento de jovens, já não mais apenas garotos adolescentes mas, também, garotas que agridem professores e professoras e bloqueiam inteiramente vocações, já abaladas por salários baixos.
Além da questão social, que indiscutivelmente tem a ver com o comportamento hostil de parte de nossa juventude – assim como em passado não muito distante caracterizava a juventude transviada – há agravantes que fazem desse um tema muito complexo, até porque tem a ver com a preocupação pedagógica que acompanha a história do País, particularmente a história republicana, e que costuma ser contada a partir de Anísio Teixeira e do manifesto dos educadores no começo dos anos 30. Um percurso e uma preocupação a que se juntaram o nosso notável Paulo Freire e gerações de educadores formados sob teorias pedagógicas que vão da mais rigorosa estratificação a Summerhill, a escola para a democracia, idealizada há quase um século no interior da Inglaterra e que ainda hoje leva a discussão, principalmente quando se constata o cada vez maior distanciamento entre a escola e a família.
O que se tem como lição elementar é que a violência nas escolas reflete padrões de comportamento que são forjados frequentemente nas ruas e tolerados no lar, quando não gerados diretamente da tendência de fazer da escola apenas um depósito de filhos, como sabiamente comentou o vigilante Luiz Carlos Lemos em reportagem deste JC sobre a união que faz melhor a escola. E o desdobramento desse raciocínio é ainda mais educativo: “A gente tem que participar, pelo bem delas”. A repórter Margarida Azevedo foi conferir essa lição entre os educadores e constatou o consenso. Dirigentes e professores são unânimes: quanto maior o envolvimento da comunidade na rotina escolar, melhor o funcionamento das escolas e o aprendizado.
E já não se trata apenas de ter nesse envolvimento a primeira gota do antídoto contra o veneno da violência que se manifesta de forma brutal, com freqüência destruindo vocações de mestres e mestras que procuram outro meio de sobrevivência, deixando a vocação nas salas de aula. O trabalho de união por uma melhor escola tem a ver com o lado emocional do processo, porque aproxima os personagens da mesma trama, afinando o diálogo, o que é sempre construtivo em qualquer atividade. Os bons resultados que essa relação propicia foram vistos por nossa repórter em escolas do Grande Recife e aí estão postos, para quem ainda não percebeu, exemplos como o da Escola Municipal Brites de Albuquerque, em Olinda.
Ali, no Brites de Albuquerque, se desenvolve um projeto chamado Família e Escola com a realização de encontros sistemáticos para discutir os problemas da comunidade. Discute-se sobre temas geralmente distantes dos bancos escolares na ótica do ensino, mas muito presentes na realidade: drogas e violência, inclusive violência sexual que caracteriza um dos aspectos da brutalidade que vai às ruas e que termina pela criação de delegacias da mulher ou a necessidade de um legislação especificamente voltada para a agressão contra mulheres. Um detalhe do que se passa nessa escola de Olinda é ilustrativo da importância de uma educação com maior aproximação entre pais e educadores: há oito anos a escola não é pintada, mas não tem pichações, e as bancas são conservadas, porque alunos e comunidades sabem que ali está um patrimônio coletivo, de todos. Certamente não é a perfeição, mas um modelo a seguir a aprimorar, no conjunto de preocupações em se saber o que acontece com o nosso ensino.

Monografia sobre a Revolucionária de Minas Gerais,

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Instituto de Ciências Humanas


Corrente Revolucionária de Minas Gerais: uma resistência armada ao regime militar brasileiro no Estado de Minas Gerais (1967-1969).


Thiago Veloso Vitral

Belo Horizonte
2008
Thiago Veloso Vitral


Corrente Revolucionária de Minas Gerais: uma resistência armada ao regime militar brasileiro no Estado de Minas Gerais (1967-1969).

Trabalho apresentado à disciplina Monografia II, do Curso de História do Instituto de Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Orientadora: Carla Ferretti Santiago.


Belo Horizonte
2008

Dedico este trabalho à vida e à memória do meu avô Zeuxis Veloso.


AGRADECIMENTOS


Sou grato a todos os professores que fizeram parte de minha formação acadêmica, principalmente a minha orientadora Carla Ferretti Santiago, por sua orientação tranqüila e segura. Suas leituras e intervenções, sempre pertinentes, foram fundamentais para a conclusão deste trabalho. Obrigado também pela compreensão e tolerância nos momentos em que não consegui cumprir com as datas, devidos a fatores pessoais. Deixo registrados minha admiração e respeito intelectual e pessoal. À banca examinadora, professor Carlos Evangelista Veriano e professora Andréa Casa Nova Maia, agradeço pelas críticas e observações tão precisas.
Agradeço ao historiador Otávio Luiz Machado, por sua preocupação em preservar a memória da esquerda mineira que se opôs ao regime militar, fato fundamental para a concretização deste trabalho.
Com grande intensidade, agradeço aos amigos e companheiros, principais riquezas de um período acadêmico. Que tempo bom, e isso devo a vocês. Em destaque agradeço a você Joca, amigo que perpassa qualquer época. Ao amigo Marcão agradeço pelo incentivo a começar este curso tão maravilhoso. Obrigado também aos colegas do Arquivo Público Mineiro, companheiros de tantas tardes inesquecíveis.
Talvez não caiba, mas seria uma injustiça não lembrar de todos os compositores e intérpretes que durante esses quatro anos e meio de curso, suavizaram tantos momentos de estresse. Obrigado.
A minha namorada Dani, agradeço pela sua paciência e sabedoria. Obrigado Dani sua força foi fundamental.
E por fim agradeço a minha família pelo apoio e confiança: minha tia Vale (pessoa extraordinária), minha querida avó Fina, Daniela e Bruno, Robson, e o meu sobrinho Lucas. Este último carrega o peso de representar todas as crianças do Brasil, grande incentivo de um estudante de História. Em especial agradeço ao meu avô Zeuxis Veloso, pessoa que me ensinou a viver, respeitando a tudo e a todos. Obrigado vô, faço do seu comportamento minha teoria de vida.


LISTA DE ABREVIATURAS


ALN – Ação Libertadora Nacional
AP - Ação Popular
APM – Arquivo Público Mineiro
APML – Ação Popular Marxista Leninista
BNM – Brasil Nunca Mais
BOC – Bloco Operário e Camponês
COLINA – Comando de Libertação Nacional
CORRENTE – Corrente Revolucionária de Minas Gerais
DOP – Delegacia de Ordem Pública
DOPSMG – Departamento de Ordem Política e Social Minas Gerais
FNL – Frente de Libertação Nacional
IC – Internacional Comunista
IPEG – Instituto de Previdência do Estado da Guanabara
IPM – Inquérito Policial Militar
MAR – Movimento de Ação Revolucionária
MNR – Movimento Nacionalista Revolucionário
MOLIPO – Movimento de Libertação Popular
MR8 – Movimento Revolucionário 08 de outubro
MR21 – Movimento Revolucionário 21 de Abril
MR26 – Movimento revolucionário 26 de março
MRM – Movimento Revolucionário Marxista
MRT – Movimento Revolucionário Tiradentes
OBAN – Operação Bandeirantes
OLAS – Organização Latino-americana de Solidariedade
ORM-POLOP – Organização Revolucionária Marxista – Política Operária
JUC – Juventude Universitária Católica
PCB – Partido Comunista do Brasil / Partido Comunista Brasileiro
PCCH – Partido Comunista Chinês
PC do B – Partido Comunista do Brasil
PCR – Partido Comunista Revolucionário
PCBR – Partido Comunista Brasileiro Revolucionário
PCUS – Partido Comunista da União das Repúblicas Socialistas e Soviéticas.
PE - Pernambuco
POC – Partido Operário Comunista
PRT – Partido Revolucionário dos Trabalhadores
PT – Partido dos Trabalhadores
RN - Rio Grande do Norte
TL – Tendência Leninista
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto
UNE – União Nacional dos Estudantes
URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
USAID – United States Aid of Development (Serviço de Informações e Propaganda dos Estados Unidos)
VAR PALMARES – Vanguarda Armada Revolucionária Palmares
VPR – Vanguarda Popular Revolucionária



SUMÁRIO


INTRODUÇÃO................................................................................................................. 07

1 ESQUERDA BRASILEIRA, O PERCURSSO PARA A LUTA ARMADA............ 09
1.1 Partido Comunista do Brasil (PCB): origem, representatividade e cisões............ 09
1.2 A opção pela luta armada e a nova esquerda brasileira.......................................... 14
1.2.1 ORM – POLOP.......................................................................................................... 16
1.2.2 AP – Ação Popular.................................................................................................... 17
1.2.3 Os movimentos nacionalistas................................................................................. 18
1.2.4 PCB – As dissidências armadas................................................................................ 19

2 A CORRENTE POR ELA MESMA .......................................................................... 24
2.1 A formação................................................................................................................... 24
2.2 O movimento de massas.............................................................................................. 26
2.3 A luta armada.............................................................................................................. 30

3 A CORRENTE SOB O OLHAR DO DOPS/MG ....................................................... 34
3.1 O imaginário anticomunista em ação........................................................................ 34
3.2 O Monitoramento da CORRENTE pelo DOPS/MG............................................... 37

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 41

REFERÊNCIAS................................................................................................................ 43

ANEXOS............................................................................................................................ 48







INTRODUÇÃO


Após o golpe 1964, medidas antidemocráticas e uma forte repressão tomaram conta do país, ocasionando uma incansável caça àqueles que impunham resistência ao governo. Dentre essas resistências, os grupos clandestinos de esquerda foram os que mais sofreram com o aparato repressor. No entanto, é preciso ressaltar que neste momento boa parte esquerda brasileira se encontrava em pleno processo de transformação. A forma de resistência pacífica da esquerda, até então predominante, aos poucos ia cedendo espaço para uma ação mais enérgica e radical.
Um exemplo claro é o Partido Comunista do Brasil (PCB), grande representatividade da esquerda na época, adepto a forma de resistência pacífica, que gradativamente foi se fragmentando em várias células de esquerda armada por todo o país, inclusive em Minas Gerais. Nesse sentido, esta pesquisa tem como premissa maior recuperar historicamente a memória do grupo Corrente Revolucionária de Minas Gerais (CORRENTE), uma dissidência do PCB que se portou como resistência armada ao regime militar no Estado de Minas Gerais.
O marco temporal da pesquisa será de 1967 a 1969, momento de atuação da CORRENTE no cenário mineiro. Porém, será preciso retornar a marcos anteriores, como o surgimento do PCB em 1922, e fatores, de âmbito nacional e internacional, que influenciaram a sua criação.
Portanto, esses assuntos serão abordados no primeiro capítulo, quando tento demonstrar, através da referência bibliográfica citada ao longo do texto, o percurso da esquerda brasileira para a luta armada em oposição ao regime militar pós-1964.
No segundo capítulo a Corrente Revolucionária de Minas é analisada a partir da memória de seus principais membros. Para tanto utilizo como fonte de pesquisa, entrevistas e depoimentos oriundos dos Projetos “A Corrente Revolucionária de Minas Gerais”, “Reconstrução Histórica das Republicas Estudantis da UFOP”, e, “A Atuação do Diretório Acadêmico da Escola de Minas de Ouro Preto: entre o desenvolvimentismo e o radicalismo (1956 e 1969)” ambos realizados pelo Laboratório de Pesquisa Histórica do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto. [1]
No terceiro capítulo também procuro demonstrar características que evidenciam a Corrente Revolucionária de Minas Gerais como uma resistência armada ao regime militar no Estado de Minas Gerais. Porém neste momento trabalho com uma ótica inversa, ou seja, a ótica da repressão. Sendo assim, utilizo como fontes, a documentação produzida pelo Departamento de Ordem Política e Social de Minas Gerais (DOPS/MG) [2], referente à organização mineira (CORRENTE). Neste mesmo capítulo, analiso ainda a forte presença do imaginário anticomunista como justificativa utilizada pela política investigativa e repressiva dos governos militares.
A possibilidade de trabalhar com as fontes orais e escritas, nos direciona para uma história contraposta. Acredito que o cruzamento das fontes permitirá uma melhor abordagem do tema, já que trabalho com a posição da resistência (fonte oral) e com a posição do governo (fonte escrita), embate que instiga a interpretação histórica, artifício de todo historiador.
Por último ressalto que esta pesquisa se insere na linha de interpretação da história política. Não a história política tida como metódica e tradicional, mas a história política vista por René Remond como uma “histoire renouvelée”, onde o fenômeno político é entendido como campo de representação do social, considerando a sociedade civil como objeto de estudo. Para Remond, a história política ao se ocupar de estudos sobre processo eleitoral, partidos políticos, grupo de pressão, opinião pública, mídia, entre outros, “integra todos os atores, mesmo os mais modestos, no jogo político, perdendo assim seu caráter elitista e individualista e elegendo as massas como objeto central” (FERREIRA, 1992, p.267). Sendo assim, trata-se, portanto, de estabelecer sobre nosso objeto de estudo (Corrente Revolucionária de Minas Gerais), pontos de contatos entre a esfera política e social.


1 ESQUERDA BRASILEIRA, O PERCURSSO PARA A LUTA ARMADA

“Em 1964, a derrota ou a vitória das esquerdas contra os golpistas não era dada. Mas a ‘inação é que tornou a derrota inevitável. ’”
Denise Rollemberg.[3]

O presente capítulo será dividido em duas partes. Na primeira realizo uma breve reconstituição da história do Partido Comunista do Brasil (PCB) desde sua origem no movimento operário brasileiro até a década de 1960, momento das dissidências armadas que opuseram ao regime militar brasileiro e contribuíram para o fim da hegemonia pecebista como representatividade da esquerda brasileira. O estudo do PCB se dá, principalmente, pelo fato do partido ser o principal tronco dos grupos armados em resistência ao regime militar, tal como é a Corrente Revolucionária de Minas Gerais (CORRENTE), objeto cerne deste trabalho. A análise do PCB também será fundamental para a caracterização desta nova esquerda que surge com um comportamento (pensamento e postura revolucionária) crítico ao do partido. Na segunda parte do capítulo, trato da opção da nova esquerda pela luta armada como postura revolucionária em resistência aos governos militares. Analiso o que levou a adoção das armas e os principais grupos armados que agiram violentamente em oposição ao regime.
Para tanto, utilizo da revisão bibliográfica citada ao longo do capítulo e da referência em anexo.


1.1 Partido Comunista do Brasil (PCB): origem, representatividade e cisões


O Partido Comunista do Brasil (PCB) nasce no ano de 1922 como uma forma de centralização do movimento operário, motivo pelo qual seu estudo perpassa a história da política operária brasileira.
Na segunda metade do século XIX, o Brasil substitui gradativamente a mão de obra escrava pelo trabalho assalariado. As lavouras de café e as indústrias recém criadas recebem imigrantes, em sua maioria, italianos, portugueses e espanhóis. Acompanhando o acelerado crescimento industrial[4] do período, surgem novas categorias e classes sociais, onde podemos destacar a burguesia e a classe operária.
Neste mesmo contexto os trabalhadores começaram a se organizar para resistir às duras condições de vida e de trabalho a que eram subordinados: longa jornada; ausência de descanso semanal remunerado e de férias anuais; admissão e demissão sem contrato; entre outras. As primeiras organizações que apoiaram a classe operária contra tais condições foram as Associações de Socorro Mútuo. O mutualismo consiste em oferecer aos seus associados, proteção e assistência na ausência de políticas públicas de amparo social: pensões, indenizações, remédios, enterros, hospitais, entre outras. Tais associações foram além do caráter assistencialista quando, ao lado dos sindicatos, atuaram de forma política, como reivindicadoras de melhores condições trabalhistas e na organização da classe operária[5].
Logo em seguida o anarcossindicalismo e o socialismo irão tomar a frente e orientar o movimento operário no final do século XIX e começo do século XX. Para os socialistas, o movimento operário devia ser dirigido por um partido institucional. Já os anarcossindicalistas - tendência libertária - privilegiavam a educação da conscientização política de classe, e valorizavam a organização independente dos trabalhadores através de ligas, associações operárias e sindicatos. Suas manifestações foram marcadas por greves e conscientização de classe através da imprensa operária, fatos que caracterizaram o anarcossindicalismo como uma das principais tendências do movimento operário da época[6].
Nos anseios das militâncias anarcossindicalistas e socialista formaram os primeiros grupos comunistas no Brasil. Uma cisão do movimento anarcossindicalista que simpatizava com a Revolução Russa de 1917, caracterizando-a como um movimento libertário, viria o lado dos socialistas, criar pequenos partidos comunistas em várias regiões do país. Partidos esses, que no ano de 1922 realizaram um congresso e formaram o Partido Comunista do Brasil. Portanto, o PCB nascia do ativismo sindical do movimento operário brasileiro e se formava sob influência decisiva da Revolução Socialista de Outubro na URSS. No ano de 1924 o partido se condicionava à III Internacional Comunista no IV Congresso da organização.
Ao decorrer de sua trajetória o PCB teve sua história atrelada à história do Brasil. A periodização utilizada por Moisés Vinhas, demonstra bem a riqueza da história do partido:

(...)1922-1930 correspondem ao período de formação, os anos de 1930-1945 assinalam o surgimento da Aliança Nacional Libertadora, a quartelada de 1935 e a sombria época do Estado Novo. 1945-1947 assinala o tempo áureo da vida do partido, os anos da legalidade, quando se converteu na primeira experiência brasileira de partido de massas. Já 1948-1958 são anos negros, em que a dedicação e o heroísmo cotidianos dos militantes não conseguiam vencer o sectarismo, o golpismo e o mandonismo da linha. Os dois últimos períodos (1958-1964 e 1964-1974) são marcados pela desestalinização e retomada de uma política ampla e pelo golpe de estado e repressão, que sangraram e dividiram o PCB, sem conseguirem, contudo, aniquilá-lo nem empurrá-lo para o desvario e os becos sem saída da história. (VINHAS, 1982, p.02).

Destaca-se no partido, sua predominância na ilegalidade e suas inúmeras crises internas. No entanto, nas primeiras décadas de sua existência o PCB teve sua história marcada por importantes acontecimentos: os congressos, onde foi definida e redefinida a política do partido, e discutida a situação do país; criação de veículos de comunicação importantes nas propagações de suas idéias, como os jornais A Classe Operária e A Nação e a revista Autocrítica; participação em eleições quando na legalidade e através da legenda BOC (Bloco Operário e Camponês); busca por políticas de alianças (tenentes); entre outros.
Como a proposta deste capítulo não é exclusivamente fazer uma reconstrução da história do PCB, mas sim tratar do caminho percorrido pela esquerda brasileira até o regime militar, avanço na história do partido até a crise do stalinismo (década de 1950), acontecimento que irá nortear uma nova política para o partido, acarretando várias cisões no PCB na década de 60.
No congresso de criação do partido realizado nos dias 25, 26 e 27 de março de 1922, além da escolha do secretário geral e da comissão geral executiva, e da aprovação do estatuto baseado no Partido Comunista Argentino, são averiguadas as 21 condições de admissão do partido à Internacional Comunista (IC). Sendo assim, no ano de 1924, após uma tentativa frustrada no final de 1922, o Partido Comunista do Brasil é legitimado como membro da III Internacional Comunista criada por Lênin na URSS, pressuposto que caracteriza a linha leninista do PCB no período.
Com a morte de Lênin em março de 1924 e a partir do VI Congresso da IC, o stalinismo começa a se consolidar no movimento comunista internacional. Como uma das 21 condições de admissão na IC era seguir sua linha política, o PCB também se redefiniu de acordo com a situação em questão, o que significou uma interferência direta na estrutura criada pelo partido até aquele momento. Um exemplo de reestruturação, em decorrência da nova orientação política stalinista, foi a reformulação no órgão maior do partido, o Comitê Central. Astrogildo Pereira (ex-anarquista e um dos fundadores do PCB), Secretário Geral do partido no momento, é exonerado do cargo ao adotar a política de “proletarização” sob orientação da IC. Na Conferência dos partidos comunistas da América Latina, realizado em maio de 1930, na cidade de Buenos Aires, Astrogildo Pereira foi duramente criticado pela sua postura, sendo forçado pelo PCB a escrever uma autocrítica, ato que o garantiu no partido no momento, mas não o poupou da destituição do cargo. A proletarização consistia em substituir os intelectuais dos partidos comunistas associados à IC por operários.
A orientação stalinista do PCB durou até o ano de 1956, quando no XX Congresso do Partido Comunista da URSS (PCUS) Nikita Kruschev lê o relatório denunciando o “culto à personalidade” e realizando severas acusações a Stalin. Tais denúncias ocasionaram fortes crises no movimento comunista mundial, e conseqüentemente no PCB.
Durante os primeiros meses o PCB se omitiu em relação às acusações de Kruschev, achando que poderia ser um complô estadunidense sobre o líder soviético. Só com a veracidade legitimada com o retorno da delegação do partido do XX Congresso na URSS que o PCB se manifestou. Junto a uma autocrítica que reconhecia os erros das deformações provocadas pelo stalinismo, o PCB reviu uma série de fatores degradantes: falta de democracia interna; excesso de centralismo e mandonismo por parte da direção do partido; e principalmente, o dogmatismo exacerbado. O dogmatismo consistia em tentar enquadrar a realidade brasileira às formas e teorias elaboradas nos PUCS, ou seja, a utilização e a cópia, sem nenhum espírito crítico, das idéias de comunistas e partidos comunistas de outros países.
Em meio à crise do stalinismo surgem no PCB duas posições diferentes: os que vêem o partido deformado pelo stalinismo, e os que se mantinham comprometidos com o passado e fiéis às orientações stalinistas. Entre essas duas posições extremas, prevaleceram aqueles que realizaram uma releitura do partido a favor de uma nova política.
Sendo assim, em março de 1958, o comitê central aprova uma nova política que tem como premissa a luta contra o imperialismo estadunidense e o monopólio da terra, através da política da frente ampla, única, nacionalista e pacífica. Todos (operários, camponeses e burguesia) unidos contra o imperialismo, dentro da legalidade constitucional e da organização de massas. Como meta para essa nova política foram traçadas: política exterior independente; progresso e independência da economia nacional; reforma agrária em favor dos camponeses; elevação de vida do nível do povo; e, consolidação e ampliação da legalidade democrática[7].
No ano de 1960 é realizado o V Congresso do PCB, onde são confirmadas e mantidas as teses da declaração de março de 1958. Como o partido já vivia uma enorme crise interna, o V Congresso intensifica as divergências, o que acarretaria em 1962 na maior cisão do PCB. Os oposicionistas a esta nova linha – Diógenes Arruda, Pedro Pomar, João Amazonas, Ângelo Arroio, Maurício Grabois, entre outros – que no ano de 1954, no IV Congresso tinham adquirido notoriedade e força dentro da direção do partido, reforçam suas críticas à direção do PCB, e são expulsos por serem responsabilizados pelo dogmatismo e sectarismo que acompanhou o partido principalmente nas duas décadas anteriores. Logo, a oposição expulsa realiza uma “conferencia extraordinária” e cria uma nova legenda. Como no ano de 1961, o PCB em uma conferência nacional troca o nome de Partido Comunista do Brasil para Partido Comunista Brasileiro objetivando a legalidade, a dissidência mantém o nome de Partido Comunista do Brasil com a sigla de PC do B.
O PC do B nasceu em 1962 como uma manutenção do ideário stalinista que foi abandonado pelo PCB após o XX Congresso da PUCS, e com forte influência teórica e ideológica do Partido Comunista Chinês (PCCH) liderado pela figura de Mao Tse Tung. Tal grupo liderado por Diógenes Arruda, Pedro Pomar João Amazonas, Maurício Grabois, entre outros, considera ineficaz a revolução pacífica pretendida pelo PCB, e privilegia a luta revolucionária na área rural brasileira por meio de uma guerra sustentável, e com forte apoio das massas, principalmente camponesas. Porém, é preciso salientar que a experiência da política da “Guerrilha popular prolongada” só será planejada no final da década de 60, após o lançamento do documento Guerra Popular: caminho da luta armada no Brasil[8]. Até então, a política do PC do B não ultrapassou o debate ideológico através de meios de comunicação, como o refundado jornal A Classe Operária, um dos principais veículos de comunicação do PCB, criado em 1º de maio de 1925.
Quanto a sua estratégia política, o partido (PC do B) não alterou o caráter “etapista” de revolução adotado pelo PCB. Primeiramente se faria a revolução burguesa, para em seguida, realizar a revolução socialista.
Com a formação do PC do B em 1962, iniciou-se uma disputa em torno de quem seria a continuidade do Partido Comunista do Brasil criado em 1922. Ambos (PCB e PC do B) se autodenominam herança do I Congresso do movimento comunista que formou o Partido Comunista do Brasil na década de 20. No site oficial do PC do B, o partido é caracterizado como o verdadeiro partido comunista fundado em 1922, segundo Jean Rodrigues Sales, “os partidos políticos dão uma atenção especial à escrita de sua história e ao uso de seu passado para justificar a atuação política no presente” (SALES, 2007, p.170).
Assim como o PCB, o PC do B também enfrentou crises internas e cisões. Uma das principais crises ocorreu em torno do debate da guerrilha urbana. Tal debate dividiu o partido entre os favoráveis e os desfavoráveis à ação no perímetro urbano, contribuindo para os dois maiores rachas no partido entre os anos de 1966 e 1967: a Ala Vermelha, em São Paulo e no Centro-Sul, e o Partido Comunista Revolucionário (PCR) no nordeste. Ambos os grupos aderiram à guerrilha na cidade. A Ala Vermelha deu origem ainda a dois grupos clandestinos ligados a guerrilha urbana em São Paulo: o Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), e o Movimento Revolucionário Marxista (MRM).
O PC do B, ao lado de organizações como a ORM-POLOP, AP, os movimentos nacionalistas, e as dissidências armadas do PCB pós 64[9], contribuiu no processo que punha fim à hegemonia pecebista como representatividade da esquerda brasileira, trazendo a tona uma nova esquerda em resistência ao regime militar.


1.2 A opção pela luta armada e a nova esquerda brasileira


A falta de eficácia do caminho pacífico – principalmente em resistir ao Golpe de 1964 - juntamente com a forte repressão da ditadura, a pressão de países socialistas, o exemplo de lutas de libertação nacional (Argélia e Vietnã), a influência teórica internacional, e o exemplo de revoluções anteriores (Russa, Chinesa, e principalmente, Cubana), explicam a adesão de boa parte da esquerda brasileira à luta armada no Brasil em resistência ao regime militar.
Sob forte influência da Revolução Cubana, referência de toda esquerda latino-americana, a esquerda brasileira também pensou a revolução socialista pelo viés da luta armada de guerrilha. A experiência de Che Guevara e Fidel Castro em Sierra Maestra, teorizada por Regis Debray na obra “Revolução na Revolução”, caracteriza o modelo revolucionário de Cuba como “foquismo”. Essa teoria consiste num “foco militar rural” que através de sua posição estratégica pudesse iniciar a vanguarda da luta revolucionária e a tomada do poder pelas massas. Porém, como veremos mais à frente, poucos foram os grupos brasileiros que seguiram tal método a risca. Sendo assim, o exemplo a ser seguido foi a possibilidade de vencer uma revolução antiimperialista, que visava a derrubada do regime através da luta armada, não necessariamente na via dos focos guerrilheiros.
Há fortes indícios que os primeiros esboços da guerra de guerrilha no Brasil ocorreram no início da década de 60, com forte respaldo das Ligas Camponesas e já sob forte influência da Revolução Cubana. O movimento logo foi abortado pelo governo de João Goulart na região de Goiás.
A verdade é que só após o Golpe de 64 ocorreu a criação de inúmeras siglas de grupos de esquerda armada, já que parte expressiva da esquerda brasileira só aderiu à luta armada de fato, em decorrência da crise na esquerda brasileira pós-64, e pela forte repressão do governo ditatorial.
Daniel Aarão Reis Filho utiliza a expressão “nova esquerda” para caracterizar e abranger as organizações e partidos políticos clandestinos que surgiram no país em oposição e/ou alternativa ao Partido Comunista do Brasil. Segundo o historiador, a multiplicidade das organizações de esquerda põe fim ao monopólio representativo pretendido pelo PCB desde o ano de 1922, e traz uma nova postura e comportamento da esquerda brasileira. A teoria sendo substituída pela prática que traria efeitos imediatos: a luta armada no campo; o fator militar e o exército revolucionário; a guerra prolongada em lugares estratégicos; a política independente em relação à burguesia; entre outras[10].
O projeto Brasil: Nunca Mais contabilizou aproximadamente 40 organizações clandestinas de esquerda que se dividiam sobre três fatores:

(...) o caráter da revolução brasileira (nacional-democrática ou socialista), as formas de luta revolucionária (maior ou menor pesos das massas – urbanas ou rurais – na luta armada, desenvolvida em moldes que se aproximava mais do modelo soviético, chinês ou cubano), e o tipo de organização necessária ao processo revolucionário (no modelo partidário marxista-leninista clássico ou com flexibilidade organizacional inspirada no exemplo da guerrilha cubana). (RIDENTI, 2007, p.29).

Levando em consideração o grande número de organizações clandestinas de esquerdas do período, exponho a seguir esses grupos divididos a partir de suas matrizes originárias: Organização Revolucionária Marxista-Política Operária (ORM-POLOP), Ação Popular (AP), Movimentos Nacionalistas, e principalmente o PCB. [11]


1.2.1 ORM – POLOP


A Organização Revolucionária Marxista - Política Operária (ORM – POLOP) foi criada no ano de 1961, como resultado da fusão da juventude do Partido Socialista das seções da Guanabara e São Paulo - estes últimos adeptos ao pensamento de Rosa Luxemburgo -, de estudantes da “Mocidade Trabalhista de Minas Gerais” e de dissidentes do PCB. A POLOP foi o primeiro agrupamento a se organizar como opção partidária ao PCB e também ao PTB, considerando suas atitudes conciliadoras e reformistas. Sendo assim, a POLOP elaborou um “‘Programa Socialista para o Brasil’, onde afirmava que o grau de evoluções do capitalismo no país comportava e exigia transformações socialistas imediatas, sem qualquer etapa nacional-democrática” (BNM, 1985, p.103).
Só após a deposição de João Goulart que a POLOP ensaiou a estratégia guerrilheira contra o novo regime; até então, a organização se manteve nos debates teóricos e doutrinários dentro da esquerda marxista.
No ano de 1967, na onda da luta guerrilheira que se espalhava pela América Latina sob influência da Revolução Cubana, a POLOP deu origem a importantes grupos em decorrência de cisões em seu interior: Comando de Libertação Nacional (COLINA), Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) Partido Operário Comunista (POC), etc.
O COLINA teve seu raio da ação principalmente no Estado de Minas Gerais, com algumas ramificações no Rio de Janeiro. De acordo com as idéias defendidas pela Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), o grupo passou a executar em 1968, ações armadas que viabilizariam a guerrilha no campo. Após forte repressão do regime o grupo se desmantelou e se aliou a VPR, dando origem em seguida ao VAR – Palmares. Como veremos no segundo capítulo, o COLINA realizou ações conjunta com a Corrente Revolucionaria de Minas Gerais (CORRENTE).
A VPR foi fundada a partir da fusão de dissidentes da POLOP, como já foi dito, e do “Movimento Nacional Revolucionário” (MNR) [12]. Suas ações consideradas espetaculares a caracterizaram como um dos principais grupos que através das armas enfrentaram a ditadura no Brasil: ataque a bomba ao serviço de informações e propagandas dos Estados Unidos (USIS) e ao Quartel-General do II exército em São Paulo; justiçamento do Major norte-americano Charles Chandler (em parceria com a ALN); captura de fuzis e armas no Hospital de Cambuci e no quartel do exército em São Caetano do Sul; seqüestro dos embaixadores japonês, alemão e suíço como moeda de troca (ações conjuntas com outros grupos); etc. Vale ressaltar que o Grupo teve como figura lendária o ex-capitão do exército Carlos Lamarca. Depois de forte repressão do regime, a VPR foi desmantelada no ano de 1972.
O POC também se constituiria das cisões da POLOP com a dissidência leninista do PCB no Rio Grande do Sul. Tal grupo foi bastante expressivo no meio estudantil, estabelecendo também presença no meio operário. A organização seguiu a linha política da POLOP, tendo adeptos e críticos à luta armada, motivo de racha e cisões posteriormente.


1.2.2 AP – Ação Popular


A Ação Popular foi fundada em julho de 1962 em um congresso realizado em Belo Horizonte. Composta de cristãos progressistas ligados à Ação Católica, em particular a Juventude Universitária Católica (JUC), o grupo se autodenominou um “movimento político” inspirado em idéias humanista de Jacques Maritain, Teilhard de Chardin, Mounier, e do padre Lebret. Suas maiores atuações ocorreram no meio estudantil, onde controlava as sucessivas diretorias da União Nacional do Estudante (UNE). Já com propostas de acordo com o pensamento marxista desde sua fundação, foi entre 1965 e 1967 que a organização adotou de fato o marxismo como guia teórico em suas atividades. A partir de 1968 a AP assume variantes tipicamente maoístas. No ano de 1971, defende a união de todas as correntes marxista-leninistas o que propiciaria mais tarde a integração de partes de seus militantes ao PC do B.
Após cisão interna ocorrida em 1968, a AP originaria uma nova sigla, PRT, o Partido Revolucionário dos Trabalhadores. Seus fundadores discordavam do maoísmo ortodoxo seguido pela direção da AP. Diferente da AP, o PRT se envolveu em ações armadas, sendo dissolvido no ano de 1971 após ser atingido pela repressão.
Vale ressaltar que na década de 1980, já com a sigla APML – Ação Popular Marxista Leninista – a organização (AP) se fundiu ao recém criado Partido dos Trabalhadores (PT).


1.2.4 Os movimentos nacionalistas


Houve no Brasil varias organizações armadas ligadas ao nacionalismo revolucionário: MNR, MR-26, MR-21, MAR, FNL, RAN, etc. Os movimentos nacionalistas giravam em torno do ex-governador do Estado do Rio Grande do Sul Leonel Brizola (Brizolismo), e tinha como objetivo, as conquistas democráticas, as reformas de base, e a libertação nacional.
O principal grupo surgido do nacionalismo revolucionário foi o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), originado após o golpe de 1964, da união de militantes políticos exilados no Uruguai e militares cassados pelo exército (em especiais marinheiros, cabos e sargentos). O MNR foi uma das primeiras articulações guerrilheiras no Brasil, e comandadas do exílio no Uruguai. Brizola a princípio resistia à teoria do foco guerrilheiro. Este achava que levantes populares eram mais eficazes do que uma luta de guerrilha prolongada. Entretanto à medida que seus planos foram se esvaindo, o ex-governador não teve outra saída senão “apostar todas as suas fichas” na implantação de guerrilhas. Sendo assim, foi implantado no Estado de Minas Gerais, na proximidade do Pico da Bandeira, a Guerrilha do Caparaó (1966/1967), tentativa de foco guerrilheiro que não passou de um período de treinamento sem a realização de nenhuma ação. Tanto a Guerrilha do Caparaó como a Guerrilha do Araguaia, mostraram a inviabilidade de adoção do modelo foquista de revolução no Brasil. Esta inviabilidade se dá por alguns fatores: extensão do território; falta de apoio da população, e isto foi claro nas duas guerrilhas citadas acima; inexistência de uma campanha nacional precisa contra o governo, entre outros. Através da política de exportação da Revolução Cubana, o MNR teve um apoio considerável de Cuba.


1.2.4 PCB – As dissidências armadas


Pelos motivos já esclarecidos em páginas anteriores, o PCB foi o tronco principal dos grupos clandestinos de esquerda atuantes no regime militar. No ano de 1967, após o VI Congresso[13] do PCB, aumentaram as divergências internas no partido, o que determinou uma série de dissidências. Dentre essas dissidências destacamos: MR-8, PCBR, ALN, Corrente Revolucionária de Minas Gerais, entre outras. Como mostra o organograma que criei.

[ ...]

O Movimento Revolucionário 8 de Outubro consiste na nova denominação da “DI da Guanabara”, a Dissidência da Guanabara do PCB. Seu nome faz alusão à morte de Che Guevara, que ocorreu na Bolívia no dia 8 de Outubro de 1967, e foi adotado após o famoso seqüestro do embaixador estadunidense, Charles Burke Elbrick, ação realizada em conjunto com a ALN. [14] Além de suas estratégias de ações serem semelhantes as da ALN, o MR-8, difere desta, defendendo a idéia de um novo partido marxista, crítico ao programa do PCB. Mais tarde, o MR-8 contará com um núcleo de militantes vindos da VPR, dentre esses, Carlos Lamarca, que é assassinado no sertão da Bahia no dia 17 de setembro de 1972, em missão pelo grupo. No ano de 1972 o MR-8 é desestruturado, ressurgindo no ano seguinte com uma orientação política bastante diferente da anterior, inclusive com crítica a luta armada.
O Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), também defendia a idéia de um partido marxista que reformulasse a linha tradicional do PCB em relação sua aliança com a burguesia e seu caminho para se chegar ao socialismo. O grupo surgiu da corrente oposicionista do PCB depois de 1964. Articulado pela figura de Mário Alves, jornalista e intelectual de forte prestígio, que foi expulso do PCB após divergências com o Comitê Central e com seu principal líder no momento, Luiz Carlos Prestes, o PCBR se consolidou formalmente no ano de 1968. O grupo também adotou a guerrilha rural e urbana como estratégia. No início da década de 70, a forte repressão atingiu a organização, prendendo parte de sua direção (Apolônio de Carvalho, Miguel Batista, Jacob Gorender, etc.) e matando outros, entre esses, Mário Alves. No segundo capítulo, também veremos a ligação e contatos do PCBR – através de seus principais dirigentes – com a Corrente Revolucionária de Minas Gerais.
Sem dúvida, o grupo guerrilheiro mais expressivo do Brasil durante o período militar foi a Ação Libertadora Nacional (ALN), formado com base na dissidência de São Paulo e comandado por Carlos Marighella, e, mais tarde, Joaquim Câmara Ferreira. Devido a sua forte ligação e contribuição à Corrente Revolucionária de Minas Gerais, tal grupo merece uma atenção especial.
Antes de se tornar o famoso guerrilheiro da ALN, Carlos Marighella já dotava de uma incrível condição teórica. Seus textos e livros não foram só referência para a esquerda brasileira, mas também para toda esquerda latino-americana. Também inconformado com a predominância do discurso e com a aliança com a burguesia, Carlos Marighella participa da conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS) realizada em 1967 em Cuba. A OLAS atendia o chamado da Revolução Cubana para um plano de ação revolucionaria continental. Ao regressar de Cuba, Carlos Marighella é expulso do PCB por ter participado da conferência sem a autorização do Comitê Central. É neste momento que surge a ALN com as seguintes propostas:

(...) luta de libertação nacional, a montagem de uma organização revolucionária nacional, patriótica, de caráter amplo e ampla autonomia tática, e, principalmente, o desencadeamento de ações revolucionárias como base para afirmação da organização, e para a formação do exército popular de libertação nacional. (REIS, 1985, p. 206).

Como evidencia o nome, a Ação Libertadora Nacional tem como primeiro objetivo a libertação nacional, para depois realizar a revolução socialista, condizendo com a teoria de duas etapas para a revolução. Porém, enquanto o PCB admitia uma aliança com a burguesia, a ALN condicionava a primeira fase da revolução a operários e camponeses.
Logo em sua formação a ALN se distancia das outras dissidências do PCB, ao rejeitar a idéia de partido. Marighella negava a estrutura centralizada de partido, considerando prejudicial à ação revolucionária. Apesar de sua forte autonomia dentro do grupo, Marighella dava total liberdade tática aos militantes da organização. Um exemplo disso seria a ação que deu no seqüestro do embaixador dos Estados Unidos. Junto do MR-8, alguns militantes da ALN realizaram a operação sem consultar Carlos Marighella.
A ALN foi uma das organizações mais próxima de Cuba. A partir da OLAS, Marighella tem a Revolução Cubana como uma vanguarda para a revolução latino- americana. Um dos ensinamentos que mais empolga Marighella foi à possibilidade de vencer uma revolução a partir do zero e com um grupo mínimo de combatentes. Apesar de toda influência da Revolução Cubana, a ALN substitui a teoria do foco guerrilheiro pelas “colunas guerrilheiras móveis, que se deslocariam contando com pontos de apoio de antemão assentado” (GORENDER, 1998, p.107), devido principalmente à dimensão física do país.
A ALN teve seu raio de ação principalmente na cidade, com o intuito de obter recursos e poder organizar a guerrilha rural e o exército de libertação nacional.

O Guerrilheiro urbano não teme em desmantelar ou destruir o presente sistema econômico, político e social brasileiro, já que sua meta é ajudar ao guerrilheiro rural e colaborar para a criação de um sistema totalmente novo e uma estrutura revolucionária, social e política, com as massas armadas no poder. (Marighella, 1969, p.2) [15].

Suas principais ações foram: expropriação do trem pagador em São Paulo, e do carro pagador do IPEG, no Rio de Janeiro; a tomada da Radio Nacional, em São Paulo; o justiçamento do major natural do Estados Unidos Charles Chandler (em parceria da VPR) e do empresário Bulissem da Supergasbrás, que coordenava o financiamento da OBAN; tomada de sindicatos têxteis, etc.
Vale ressaltar que no ano de 1971 surgem duas dissidências da ALN: o Movimento de Libertação Popular (MOLIPO) e a Tendência Leninista (TL).
No ano de 1969, mais precisamente no dia 4 de novembro, Carlos Marighella é assassinado em uma Rua de São Paulo, no conturbado caso da Alameda Casa Branca. A partir daí, sucessivas prisões e mortes – dentre essas a do substituto de Marighella, Câmara Ferreira – tomam conta do dia-a-dia da organização, até culminar em sua desestruturação no ano de 1974.
A “ação faz a vanguarda” lema da Ação Libertadora Nacional (ALN), reflete bem o anseio revolucionário da – nova – esquerda armada esboçada neste capítulo. Agora que apresentada, de forma ampla e geral, caio nas particularidades do grupo mineiro Corrente Revolucionária de Minas Gerais (CORRENTE), objeto de estudo dos capítulos seguintes.


2 A CORRENTE POR ELA MESMA

“A gente usava armas porque invadiu a nossa e tomou a nossa vida e falou o que pode e o que não pode. Estabeleceu regras e cortou a nossa liberdade. É um direito. Eu acho que o direito a revolta a tirania é um direito do cidadão”.

Marco Antônio Victoria Barros[16]


Neste capítulo apresento a Corrente Revolucionária de Minas Gerais a partir da memória de alguns de seus integrantes. Para tanto, utilizo como fontes de pesquisas, entrevistas e depoimentos de ex - militantes do grupo mineiro, oriundos dos projetos “A Corrente Revolucionária de Minas Gerais”, “Reconstrução Histórica das Repúblicas Estudantis da UFOP”, e, “A Atuação do Diretório Acadêmico da Escola de Minas de Ouro Preto: entre o desenvolvimentismo e o radicalismo (1956 e 1969)” ambos realizados pelo Laboratório de Pesquisa Histórica do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto. Sendo assim o presente capítulo será dividido em três partes. Na primeira parte abordo a Formação da Corrente Revolucionária de Minas Gerais (CORRENTE) a partir de sua dissidência com o PCB. Logo em seguida, na segunda parte do Capítulo, analiso a 1ª fase do grupo, no qual o movimento de massa ainda se encontrava consistente. E finalmente no 3º subtítulo trago a investida da CORRENTE na luta armada, até sua fusão na Ação Libertadora Nacional (ALN).


2.1 A formação


Como analisado no capítulo anterior a Corrente Revolucionária de Minas Gerais é fruto das discussões que precederam o VI Congresso do PCB ocorrido no ano de 1967. Nas discussões do Congresso, polarizaram-se duas vertentes. A vertente oficial, que optava pela resistência pacífica à ditadura, e a vertente que defendia a adoção da luta armada como resistência aos governos militares.
A corrente oposicionista era liderada, entre outros, por Mário Alves, Apolônio de Carvalho, Jacob Gorender, Miguel Batista do Santos, Câmara Ferreira, Carlos Marighella, e aos poucos, foi recebendo apoio de integrantes de comitês estaduais do PCB, dentre esses, do Comitê Estadual de Minas Gerais. Vale ressaltar que os comitês estaduais preenchiam boa parte de seu quadro com militantes representantes do movimento estudantil. Logo em seguida, em 1967, com o desfecho do VI Congresso, a corrente oposicionista do partido foi expulsa, o que acarretou em varias cisões armada por todo o país.
Foi neste processo que a cisão mineira do PCB originou o Grupo Corrente Revolucionária de Minas Gerais (CORRENTE). Segundo Ricardo Apgaua, um dos membros do grupo na época, antes mesmo da efetiva cisão com o partido, a extensão mineira do PCB já se definia de forma particular em relação ao Comitê Central, principalmente no que diz respeito ao método revolucionário:

Nesta época começamos a nos antecipar ao rompimento com o PCB e montamos o que chamamos de Comitê Estadual Paralelo. Dele fazíamos parte o Mário Alves, Mário Roberto Galhardo Zanconato (Xuxu), que pertencia à sessão estudantil estadual e era o líder do partido no movimento estudantil universitário, o Gilney Amorim Vianna, que nesse momento assume o contato com o pessoal do movimento operário, o José Júlio (Araújo) e eu, que dirigia o partido no movimento estudantil secundarista e detinha, pelo trabalho que tinha feito, o contato com os grupos do interior do estado. A partir daí, a gente começa a montar, no movimento estudantil, uma estrutura voltada para a luta armada e a planejá-la. Quando os membros da Corrente Revolucionária do PCB, em Minas, fomos expulsos do partido, já contávamos com uma estrutura partidária funcionando. Passamos a atuar como a Corrente Revolucionária de Minas Gerais[17].

Com núcleos originários nas Cidades de Ouro Preto e Belo Horizonte, a CORRENTE se constituiu basicamente por estudantes secundaristas e universitários[18], servidores públicos[19], e operários. Fato que evidencia sua atuação no movimento estudantil e operário, como veremos a seguir.
Em Ouro Preto a CORRENTE foi organizada por Hélcio Pereira Fortes[20], aluno da Escola Técnica, e ex - integrante do Comitê Estadual do PCB em Minas Gerais. Já em Belo Horizonte a organização mineira foi orientada pela figura de Mário Alves[21], até o surgimento de posições contrárias. Enquanto Mário Alves defendia a reorganização partidária, a CORRENTE se colocava na posição de uma organização livre da centralização de um partido. Logo, Mário Alves, junto com Apolônio de Carvalho e Jacob Gorender, fundaria o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), e o grupo mineiro se aproximaria de Carlos Marighella e sua Organização, ALN. Marighella defendia que as cisões do PCB não deviam se organizar em torno de uma única representação, mas sim, em grupos menores que pudessem se dividir em distintas frentes de resistência. No decorrer do capítulo veremos a forte ligação da organização mineira com a ALN, até o seu desmembramento no ano de 1969. No entanto, apesar de sua estreita relação com o grupo de Marighella, a CORRENTE mantinha-se como uma organização autônoma e independente, com direção e estrutura própria. Segundo Gilney Amorim Viana, um dos lideres do grupo, Marighella “tinha uma opinião de que os grupos tinham liberdade tática, e só seguiriam uma orientação estratégica” (VIANA, 2004).[22]


2.2 O movimento de massas


Já antes da cisão com o PCB, o grupo que formaria a Corrente Revolucionaria de Minas Gerais dividia sua atuação em setores de massas. Essa estrutura se estendeu ao grupo revolucionário, mesmo com a adoção da luta armada. Num primeiro momento a CORRENTE procurou manter sua atuação no meio operário e no meio estudantil juntamente com a luta armada. Porém, com o aumento das atividades armadas, os setores sociais, que continham os melhores quadros da organização, tiveram que ceder seus principais militantes para a guerrilha urbana; fato que era comum nas organizações clandestinas de esquerda.
O movimento estudantil, base da CORRENTE em sua formação, era composto, em sua maioria, de militantes oriundos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), das Escolas de Minas e Farmácia de Ouro Preto, e da Escola Técnica também em Ouro Preto. O líder do setor universitário era o Mário Roberto Galhardo Zanconato, da Escola de Medicina, mais conhecido como “Xuxu”. Da Escola de Minas de Ouro Preto listamos como militantes, o Lincoln Ramos Viana, Pedro Carlos Garcia Costa, Abelardo Magalhães, Athauaupa Valença Padilha, e o César Epitácio Maia. Este último foi preso no 30º Congresso da UNE em Ibiúna, representando a organização mineira. Da Escola de Farmácia é referenciada a Yone Lima (“Marcinha”). No Movimento Estudantil Secundarista temos o Antonio Carlos Bicalho Lana (“Cauzinho”), o Marco Antônio Victoria Barros (“Play”), o Antônio Mendes Barros (‘Toninho’) a Marília Angélica do Amaral, o Antônio de Pádua Rodrigues, e o Ricardo Apgaua[23]. O núcleo estudantil compunha suas atividades com discussão e orientação política entre os estudantes, reivindicações estudantis, pichações com expressões de protesto contra a ditadura, e panfletagem em torno das universidades e nas portas das fábricas, com o destaque para fábrica da Alcan, no bairro de Saramenha, em Ouro Preto.
O movimento estudantil constitui-se após o golpe de 64, em um dos mais importantes setores de combate ao regime, motivo de atração dos grupos clandestinos de esquerda. Seu enfraquecimento se deu pela migração de boa parte de sua militância para a “profissionalização revolucionaria”, com a luta armada, e por medidas governamentais a favor de seu desmantelamento, como o Decreto – Lei nº. 477, de 26 de fevereiro de 1969. Tal decreto demonstra claramente a preocupação do governo com o movimento estudantil e com as instituições de ensino. [24]
Vale ressaltar que Lincoln Ramos Viana e Pedro Carlos Garcia Costa, militantes da CORRENTE, foram expulsos da Escola de Minas de Ouro Preto, com respaldo no Decreto 477, como comenta o próprio Lincoln:

Quando o movimento estudantil a nível nacional adquiriu uma força muito grande com as passeatas do Rio de Janeiro, o governo militar para tentar diminuir esta força baixou um decreto-lei dizendo que todo aluno de uma universidade que fosse tido como “subversivo”, ou seja, que tivesse participação em atividades políticas poderiam ser enquadrados neste decreto e ser impedido de estudar em qualquer universidade durante três anos. Então, lá em Ouro Preto eu e o Pedro fomos enquadrados neste decreto. Foi simplesmente uma conversa de uma meia-hora com algumas perguntas com o secretário da Escola. Fechou-se o processo e o Ministro da Educação da época (Tarso Dutra) assinou uma portaria nos enquadrando. E fomos expulsos da Escola de Minas de Ouro Preto. Eu estava passando do 4o para o 5o ano de Geologia, faltava apenas fazer as provas finais. Nem isto foi permitido e perdi todo o 4º ano. Era 17 de Novembro de 1969. [25]

Como já foi ressaltado, a Corrente Revolucionária de Minas Gerais teve ativa participação no meio operário, que se encontrava mobilizado contra o arrocho salarial implementado pelo regime, e contra as medidas para o enfraquecimento do movimento, adotadas pelo governo, como demonstra Jacob Gorender:

De 1964 a 1970, o Ministério do Trabalho destituiu as diretorias de 563 sindicatos, a metade de trabalhadores da indústria. Das seis confederações de empregados, quatro sofreram intervenção. Nos anos 64-65, concentraram-se 70% das intervenções ministerialistas. Ao mesmo tempo, o Governo Castello Branco pôs em vigência legislação quase proibitiva do direito de greve (somente as greves contra atrasos de pagamento terão alguma tolerância) e revogou conquistas importantes de categorias profissionais como os ferroviários, portuários e estivadores, marítimos e petroleiros. [26]

A CORRENTE possuía também, uma ativa base operária, operada primeiramente por Gilney Amorim Viana, e posteriormente, por Hélcio Pereira Fortes, que foi um grande interlocutor entre o movimento estudantil e o movimento operário, organizador do jornal “1º de Maio”, órgão de propaganda da organização, voltada para sua base operária. Já em Ouro Preto, Hélcio vinha desenvolvendo um bom trabalho na fábrica de Alumínio ALCAN, quando foi deslocado para a Cidade Industrial (Contagem), onde aconteceria a primeira greve de expressão no Brasil, após o golpe de 64.
Já com movimentação desde março de 1968, a grande greve de Contagem eclodiu de fato no dia 16 de abril na Belgo-Mineira. Com adesão de fabricas vizinhas, estima-se aproximadamente um total de 16 mil trabalhadores parados. Além da CORRENTE, outras organizações clandestinas também participaram do movimento, como foi o caso da Ação Popular (AP) e do Comando de Libertação Nacional (COLINA).
Com forte influência no Movimento Sindical, tal como no Sindicato dos Metalúrgicos, onde se destaca a direção da militante Conceição Imaculada de Oliveira[27], a CORRENTE foi um dos principais quadros da greve. Ninguém melhor que Gilney Amorin Viana para comentar a participação da organização mineira na greve de Contagem:

Olha, na greve de Contagem a Corrente teve um papel fundamental. Primeiro na eleição do Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem. (...) Então, tudo começa com a nossa vitória na direção do sindicato e com um trabalho clandestino que nós fazíamos desde a retomada do movimento após o golpe. Particularmente 65, 66 e 67 teve o processo de reorganização. E então, nós fizemos todo o movimento. Nessa época nós tínhamos gente do Partidão e da AP (Ação Popular). A liderança maior era da AP, que nós colocamos na presidência. (...) Todas as lideranças deles tinham quadros bons. Mas o que aconteceu? Eles foram cassados. E os nossos quadros meio Partidão e meio Corrente não eram conhecidos. Então, eles não foram cassados. Então, foi aí que nós colocamos um quadro que era ligado a gente na presidência e na secretaria, que era um cargo estratégico. Colocamos a Conceição Imaculada. Então, ali nós tínhamos uma influência muito grande no sindicato. E nós fizemos umas comissões de fábricas. Várias comissões de fábricas na Belgo e na Mannesmam. Então, esse é um processo aonde a gente disputava também com a POLOP (Organização Política Marxista – “Política Operária”), mas não tanto com a POLOP, mas com a divisão da POLOP, inicialmente com o POC (Partido Operário Comunista) e outros começamos a fazer um trabalho lá. Mas nós éramos uma força hegemônica. [28]


Gilney também comenta que a Greve foi articulada de dentro para fora, ou seja, pela própria comissão da Belgo-Mineira:

E na verdade a primeira greve se deu de dentro pra fora. Ela não se deu do sindicato para lá. Embora nós tivéssemos uma influência no sindicato, porque não tinha ambiente político para fazer uma greve no sindicato. E a greve foi dirigida pela comissão de fábrica da Belgo-Mineira. E nisso aí o Hélcio Pereira Fortes teve um papel estratégico, porque nós deslocamos o Hélcio de Ouro Preto para ser quadro da Corrente profissionalizado lá em Contagem na cidade industrial. Então, ele foi uma peça de articulação, de concepção. (...). E foi uma coisa belíssima, porque nós inovamos muito antes de Osasco de como uma comissão de fábrica fez uma greve de dentro da fábrica e em plena fábrica. E inovou. E nós tivemos um papel fundamental. [29]

A Greve durou até o dia 2 de maio, e foi tida como vitoriosa, tanto em termos de repercussão política, quanto numa remuneração salarial, que não era a pretendida, mas suficiente para cessar a greve. O então Ministro do Trabalho Jarbas Passarinhos veio até Belo Horizonte, e após debate com manifestantes, concedeu um aumento de 10% aos trabalhadores. Em outubro do mesmo ano, outra greve foi articulada em Contagem, porém com menos sucesso, já que nesta época a repressão estava mais alerta.
Assim como o movimento estudantil, o setor operário da Corrente Revolucionária de Minas Gerais também teve que ceder militantes para a luta armada, forma de resistência que irá prevalecer na 2ª fase do grupo.


2.3 A luta armada


No final da década de 1960, com os movimentos de massas já bem desarticulados, em virtude da intensificação da repressão e da perda de militantes, as ações armadas se tornaram a realidade da maioria dos grupos clandestinos de esquerda em oposição à ditadura militar. Com a Corrente Revolucionária de Minas Gerais não foi diferente. A partir de 1968, o grupo intensifica a preparação de seus militantes para a luta armada, que se realizaria ainda no mesmo ano. Ainda em 1968, o grupo divulga o documento “Orientação básica para atuação: 20 pontos”, como uma carta de estratégia para luta armada revolucionária. [30]
O grande orientador estratégico militar da CORRENTE foi Carlos Marighella. O guerrilheiro, ao regressar da Conferência da OLAS (Organização Latino-Americana de Solidariedade) adota uma postura revolucionária, no qual será adotada pela organização mineira. Segundo Gilney Amorin Viana, Marighella

(...) inverte a clássica teoria foquista, que vem de um conceito chinês maoísta, e de que a guerra começa no campo e o campo cerca a cidade. Marighela falou: “No Brasil nós não temos uma base camponesa como tem na China e tudo. Então aqui a cidade é estratégica. A guerra começa na cidade, vai ao campo e volta à cidade”. Isto é uma inversão estratégica que o Marighela fez do pensamento de Mao e que Fidel (Castro) e (Ernesto) Che encamparam. Também em relação à visão foquista de montar um foco e ficar ali resistindo, o Marighela achava que, no Brasil como não tinha uma base camponesa muito forte, então tinha que se fazer um foco e uma coluna estratégica. Este é um conceito básico da guerra revolucionária que o Marighela criou. [31]


Sendo assim, a estratégia da Corrente Revolucionária de Minas Gerais foi realizar ações armadas no perímetro urbano, principalmente, com o intuito de arrecadar verba para uma futura guerrilha no campo, que seria iniciada em regiões estratégicas, como explica Ricardo Apgaua além de citar alguns integrantes do grupo:

Quando começamos a estruturar a Corrente, definimos o que chamávamos eixos estratégicos para a luta contra a ditadura no estado de Minas Gerais. Eram, principalmente, cidades com unidades militares de peso e confluências de estradas importantes, capazes de dividir o país e criar problemas de abastecimento em caso de bloqueio. Entre as cidades que definimos como estratégicas, no estado, me lembro de Belo Horizonte, Governador Valadares, Montes Claros e Juiz de Fora. Nesta última ficava o comando da IV Região Militar. Em Juiz de Fora tínhamos um grupo muito bem organizado. Deles, me recordo do Marco Antônio, do Rogério de Campos Teixeira e dos irmãos Roberto e Antônio Guedes. Penso que todos eles foram presos. Em Montes Claros, também nos apoiamos na estrutura existente, dirigida pelo Porfírio e por um marceneiro que chamávamos “Nego” e de cujo nome já não me lembro. Em Valadares, até então tínhamos o José Adão coordenando as nossas atividades. Trouxemos o José Adão para Belo Horizonte e enviamos para lá o João Domingos Fassarella, então estudante de filosofia. [32]

Além do levantamento de verbas, as ações armadas na cidade também tinham o objetivo de treinar guerrilheiros, servir de propaganda armada da revolução, e servir como meio de sustento da organização. Tais ações constituíam de “expropriações” [33] a casas comerciais, bancos, e lojas de armamentos. Das ações realizadas pela CORRENTE, citamos algumas referenciadas por seus integrantes: assalto a agências bancária na região de Ibirité e Belo Horizonte; tentativa de assalto à loja de armas; assalto em uma pedreira para obtenção de explosivos; assalto a uma casa comercial (Farmácia) na região central de Belo Horizonte, assalto à casa noturna na zona sul de Belo Horizonte; e, assalto a automóveis que facilitariam as ações.
Devido ao seu estreitamento com a ALN, a CORRENTE contou com militantes realizando treinamento guerrilheiro em Cuba. Dentro do programa de implementação do socialismo na América Latina, defendida pela OLAS, Carlos Marighella firmou um acordo de treinamento de guerrilheiros brasileiros com o governo cubano. Da organização mineira que estiveram em fase de treinamento em Cuba temos o Ricardo Apgau, o Antônio Carlos Bicalho Lana, o José Júlio, e o José Silva Tavares, que por lá ficaram aproximadamente dois anos. Para Ricardo Apgau o treinamento guerrilheiro em Cuba seria uma forma de sanar a falta de experiência dos jovens guerrilheiros armados no Brasil. Outra contribuição de Marighella a Corrente Revolucionária de Minas Gerais foi o envio de instrutores para dar treinamento de guerrilhas a seus militantes em Minas Gerais. Segundo Mário Roberto Galhardo Zanconato[34] entre a CORRENTE e a ALN, a contribuição foi recíproca, principalmente no que diz respeito às trocas de militantes.
No entanto, a onda de ataques armados realizados pela CORRENTE durou até aproximadamente os meses de março e abril de 1969, quando boa parte de sua militância “caiu” [35] , ocasionando o desmantelamento do grupo. A partir daí a organização se fundiu à Ação Libertadora Nacional. Vale ressaltar que alguns integrantes da CORRENTE que se transferiram para a ALN, chegaram a se destacar nesta organização, como foi o caso de Antônio Carlo Bicalho Lana, Mário Roberto Galhardo Zanconato, José Júlio, Arnaldo Rocha, e o Hélcio Pereira Fortes. Este último se tornou o principal líder da ALN após a morte de Joaquim Câmara Ferreira, substituto de Carlos Marighella. Assim como Antônio Carlos Bicalho Lana, Hélcio Pereira Fortes foi morto pela repressão enquanto militante da ALN.
Agora que analisei a CORRENTE na perspectiva de seus integrantes, chamando atenção para fatores que a caracterizam como uma resistência ao regime militar, proponho compreender, a partir de agora, como a “força repressora”, para uns, ou “a manutenção da ordem”, para outros, legitima essa caracterização, através de medidas para conter a organização mineira. Sendo assim, no próximo capítulo enfoco o tratamento da polícia política da época em relação à Corrente Revolucionária de Minas Gerais.


3 A CORRENTE SOB O OLHAR DO DOPS/MG

“(...) Organização Clandestina subversiva, denominada Corrente, que tinha como objetivo, a tomada do poder pela luta armada (...)”. [36]

DOPS/MG.

Como já foi salientado, neste capítulo abordo a Corrente Revolucionária de Minas Gerais a partir das fontes do DOPS/MG. Logo, o capítulo será dividido em duas partes. Na primeira parte analiso o surgimento do imaginário anticomunista no Brasil, especificamente em Minas Gerais, e como esse imaginário se deu como fator norteador da polícia política brasileira e principalmente mineira. Para esta discussão utilizo também da referência bibliográfica citada ao longo do texto. Já na segunda parte do capítulo, tento demonstrar, através das fontes pesquisadas no acervo do DOPS/MG, como a Corrente Revolucionária da Minas Gerais foi tratada e repreendida pela polícia política. Portanto, desde já alerto para o imaginário anticomunista presente nos discursos policiais, seja de forma explicita ou velada, considerando que as fontes analisadas estarão sempre relacionadas à imagem da “subversão comunista”.


3.1 O imaginário anticomunista em ação.


Utilizado como justificativa maior para o golpe de 1964, o anticomunismo é o termo que expressa claramente a opinião e o sentimento oposto e adverso ao comunismo.
Após a Revolução Russa de 1917, com a ameaça da proliferação das idéias comunistas, aumentaram proporcionalmente as medidas para contê-las. No Brasil, as primeiras grandes ondas de ações anticomunistas ocorreram entre o período de 1935 e 1937, em decorrência do “Levante Comunista”. Tal movimento de insurreição que ocorreu em Natal (RN), Recife (PE) e Rio de Janeiro, foi liderado por tendências comunistas e militares nacionalistas da Aliança Nacional Libertadora (ANL), organização que congregava várias tendências políticas antifascistas (socialistas, comunistas, liberais progressistas). O “Levante Comunista” foi logo repreendido pelo Governo Vargas.
A partir daí constituiu-se o mito “Intentona Comunista”, onde a imagem do comunismo passou a ser propagandeada de forma marginal e delinqüente, que colocaria sério perigo à “ordem em vigência”. Ou seja, o comunismo foi relacionado à imagem do “mal”, através de adjetivos que denotam significados negativos, como: “piratas”, “dementes”, “bárbaros”, “selvagens”, “degenerados”, “pecadores”, “demoníacos”, entre outros.
Logo, ao longo dos anos a recusa comunista e a propaganda anticomunista foram constituindo-se como núcleo essencial da cultura política nacional. O autor Rodrigo Patto Sá Motta (2002), em sua obra intitulada “Em guarda contra o “perigo vermelho”: o anticomunismo no Brasil (1917-1964)”, analisa como o sentimento do comunismo em nome da “defesa da democracia” esteve presente nos contextos de 1935/37, na Guerra Fria, e na conjuntura de 1964:

No que se refere às fases do anticomunismo agudo, três momentos se destacam: primeiro, o período entre 1935-1937, já mencionado; depois, o início da Guerra Fria, principalmente nos anos de 1946 a 1950, quando após breve interregno legal o PCB foi proscrito e voltou a ser perseguido; por fim, a crise de 1964, que levou ao golpe militar. Nos três períodos referidos, as atividades anticomunistas foram intensificadas, sendo que em 1937 e 1964 a “ameaça comunista” foi argumento político decisivo para justificar os respectivos golpes políticos, bem como para convencer a sociedade (ao menos parte dela) da necessidade das medidas repressivas contra a esquerda [37].

Após o golpe de 64, o imaginário anticomunista, seguido de suas práticas, aparece como uma forma de proteção ao regime em vigência. Eram considerados comunistas, e consequentemente, terroristas, ladrões, e subversivos, qualquer pessoa ou organização coletiva que discordava ou ameaçava os governos militares. Sendo assim, os mais perseguidos foram os estudantes e operários organizados, sindicalistas, artistas e intelectuais em protestos contra o governo, partidários de esquerda (principalmente do PCB), e militantes de organizações clandestinas de esquerda, como a Corrente Revolucionária de Minas Gerais.
Dentre os articuladores do anticomunismo, podemos destacar elementos sociais que vão desde empresários, políticos, intelectuais, religiosos, e principalmente militares, que a princípio suspeitavam de tudo e de todos. A polícia política era a principal encarregada da investigação e repreensão desses tidos como suspeitos. Na parte da investigação, a polícia trabalhava em conjunto com o serviço de informação, e recebia considerável ajuda da figura dos informantes[38], que carregados do imaginário anticomunista, colaboravam espontaneamente com a polícia política no Brasil.
Num trabalho sobre o imaginário anticomunista e o policiamento político[39], Rosângela Assunção realiza um preciso estudo sobre a definição de polícia política. A autora conclui que todas as fontes consultadas convergem para a mesma explicação. Ou seja, um polícia com a premissa de vigiar, controlar e reprimir aqueles que continham um projeto político contrário ao estabelecido, tal como os anarquistas e os comunistas. Como define Luiz Apolônio, autor do Manual de Polícia Política e Social, adotado pela Escola de Polícia de São Paulo em 1954, e citado por Rosângela Assunção:

A polícia política exerce sua missão em um largo raio de ação. Dentro do país zela pela manutenção da ordem político-social, pela segurança das instituições, da forma de governo e da segurança da autoridade, prevenindo e reprimindo as greves, atentados, agitações, conspirações, conjurações, revoluções, a propaganda e a disseminação das ideologias subversivas e dissolventes. Utiliza, em larga escala, agentes secretos em todos os setores onde eles se fizerem necessários [40].

No Brasil a polícia política começou a se constituir a partir da década de 1920, quando o imaginário anticomunista já estava apurado em decorrência de fatos como a Revolução Russa de 1917, e com a “ameaça” de ideologias contrárias, sobretudo no meio operário, que neste momento recebia fortes influências de imigrantes anarquistas e comunistas. Vale ressaltar que na primeira metade do século XX os principais centros urbanos do país assistiram profundas mudanças econômicas, políticas e sociais. Dentre essas destacamos o crescimento do setor industrial e conseqüentemente a contingência de trabalhadores oriundos do interior do país e do exterior.
Em Minas Gerais não foi diferente, a polícia política mineira também foi criada com o intuito de combater às desordens sociais decorrente das “influencias negativas” das “ideologias subversivas”. Sendo assim tal policiamento teve como marco inicial a criação da Delegacia de Segurança Pessoal e Ordem Política e Social em 1927, que possuía as seguintes atribuições: zelar pela existência política e segurança interna da República; garantir, por meios preventivos, a manutenção da ordem; vigiar quaisquer manifestações públicas e as ações de indivíduos perturbadores da ordem; manter vigilância sobre a ação de indivíduos filiados às modalidades de anarquismo e do comunismo; diligenciar a expulsão de estrangeiros que se tornarem perigosos; garantir o exercício dos direitos individuais e a liberdade do trabalho; investigar os fatos referentes à violação das leis protetoras da vida e da integridade física das pessoas, e do estado civil; entre outros. Após a extinção desta secretaria em 1931, suas funções e atribuições foram transferidas para a Delegacia de Ordem Pública (DOP). No ano de 1956, a antiga delegacia deu origem ao Departamento de Ordem Política e Social de Minas Gerais (DOPS/MG[41]).
Portanto será o DOPS/MG um dos principais encarregados pelo policiamento político, durante o regime militar no Estado de Minas Gerais; assim como a investigação, monitoramento e repressão dos grupos clandestinos de resistência armada ao Regime, tal como aconteceu com a Corrente Revolucionária de Minas Gerais.


3.2 O Monitoramento da CORRENTE pelo DOPS/MG


Através da documentação produzida pelo DOPS/MG veremos como a Corrente Revolucionária de Minas Gerais foi caracterizada com total presença do imaginário anticomunista já analisado. Tomarei como principal base de análise, os Inquéritos Policiais Militares (IPM’s) referentes à organização mineira e suas ações. [42] Tais inquéritos eram constituídos pelos termos de perguntas aos indiciados, termos de inquirição das testemunhas e ofendidos, autos de reconhecimentos, e o relatório final e conclusivo do inquérito[43]. Esse relatório se constituía de introdução; fatos delituosos ocorridos; análise sucinta do movimento comunista internacional e suas influências na estruturação de grupos subversivos no Brasil; estruturação do movimento clandestino em questão; análise jurídica das ocorrências; ações criminosas que motivaram o inquérito; indiciados; pedidos de prisão preventiva; e conclusão.
Sendo assim, abordo os aspectos questionados nos depoimentos e resumidos no relatório final, nunca esquecendo da subjetividade do discurso policial. Vale ressaltar ainda, que os depoimentos e interrogatórios, na maioria das vezes, eram realizados sob tortura física e ou psicológica, fato que levanta dúvidas a respeito das informações obtidas nos interrogatórios, já que a forte coerção física pode levar um interrogado a declarar aquilo que o interrogador deseja ouvir, a fim de cessar com os castigos físicos.
O Primeiro ponto a ressaltar é a denominação que a CORRENTE recebia da polícia política:

(...) entidade ilegal que se propunha a obter a derrubada do governo por intermédio da luta armada, com a finalidade de implantar um Estado Socialista chefiado por uma Ditadura do Proletariado, nos moldes ditados pela doutrina comunista (...) [44].

Em outra ocasião, o DOPS/MG definia a CORRENTE como uma “organização clandestina de origem marxista leninista partidária de uma ação mais violenta adepta da tática adotada na Revolução Cubana” (APM – Fundo DOPS/MG, Rolo 003, Pasta 0029-1, Imagem 1424). No entanto a respeito desta segunda definição, cabe aqui fazer uma ressalva e alertar para um equívoco cometido pelo DOPS/MG em relação ao grupo mineiro. A Corrente Revolucionária de Minas Gerais, talvez por influências de Carlos Marighella, negava a estrutura partidária marxista-leninista adotada por outras organizações, como o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), e se portava como uma organização autônoma da centralidade de um partido. Equívocos como este, evidenciam a preocupação da repressão em rotular o grupo com chavões consagrados, sem a mínima preocupação efetiva em compreender sua orientação política.
Nos documentos pesquisados, a Corrente Revolucionária de Minas Gerais também é vista como fruto das cisões do PCB em decorrência de seu VI Congresso no ano de 1967. Uma dissidência do PCB em Minas, resultante basicamente do Comitê Estadual de Minas Gerais. Sua estrutura é apontada nos IPM’s da seguinte forma: num primeiro momento (1967) a articulação era feita nos setores de massas (operário, servidores e estudantil), e a partir de 1968, selecionaram os militantes que na qualidade de “profissionais”, realizariam as ações armadas.
Sobre os setores de massas é destacado nos relatórios dos DOPS, a imprensa clandestina, como o Jornal “1º de Maio”, já citado no capítulo anterior, e o jornal “Faísca”, folhetim que era redigido entre outros, por Gilney Amorim Viana, e era impresso e distribuído por servidores públicos. Segundo o DOPS a imprensa clandestina da esquerda, insuflava a greve e gerava a subversão comunista.
No que diz respeito à luta armada, para o DOPS/MG, a grande influência da esquerda nacional e conseqüentemente da CORRENTE foi Carlos Marighella, que ao retornar da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS) em Havana, procurou difundir a luta guerrilheira armada por toda esquerda brasileira.
Para ilustrar o seguimento da CORRENTE as idéias de Marighella e sua opção pela luta armada, o DOPS/MG apresenta em um dos seus inquéritos sobre a organização mineira, supostos trechos do documento que define a estratégia revolucionária da CORRENTE, “Orientação básica para atuação: 20 pontos”, já mencionado no capítulo anterior.
A Revolução Brasileira é parte integrada da Revolução Socialista Mundial e da Revolução Latino-Americana, devendo conjugar-se, sob a bandeira da OLAS, à luta revolucionária que os povos irmãos da América travam contra o inimigo comum.[45] (Os grifos são do próprio DOPS).

Portanto, a utilização da citação acima nos inquéritos, exemplifica claramente a intenção do DOPS/MG em relacionar a Corrente Revolucionária de Minas Gerais a imagem da OLAS, que tinha a intenção de constituir uma revolução socialista por toda América Latina. Ainda no mesmo documento, o DOPS mineiro destaca e explora trechos que abordam a guerra de guerrilha e a tomada do poder pelas armas.

As condições do Brasil indicam que a guerra de guerrilha é a mais adequada para começar a desenvolver a luta armada popular e para criar o núcleo inicial do exercito revolucionário. [46]
A tomada do poder pelas forças revolucionárias e a destruição do aparelho do Estado burguês-latifundiário só podem ser realizadas através da luta armada. No curso do processo revolucionário será necessário combinar várias formas de lutas de massas, pacíficas e armadas, legais e ilegais. Todas as demais formas de lutas devem servir ao desenvolvimento da luta armada e não lhe constituir obstáculo. [47]

O trecho destacado serve para o DOPS/MG reforçar a imagem da CORRENTE como um grupo subversivo, perigoso, que precisa ser combatido.
Outro fator bastante abordado nos inquéritos policiais é o intercambio da CORRENTE com outras organizações de esquerda. Uma preocupação do sistema de investigação e do policiamento político foi tentar detectar uma possível união dos grupos clandestinos de esquerda que opuseram ao regime, fato que não aconteceu, além de contatos paralelos entre lideranças de diferentes grupos. Vale ressaltar também, que nos depoimentos e interrogatórios, quase sempre buscavam chegar a outro grupo ou a um guerrilheiro específico. Nos interrogatórios aos membros da CORRENTE, o questionamento sobre o paradeiro de Carlos Marighella foi um fator constante, devido à estreita relação do grupo mineiro com a Ação Libertadora Nacional (ALN). Portanto, essa ligação da CORRENTE com a ALN e ainda com o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário) é apontada pelo DOPS como uma via de troca de militantes e apoio financeiro.
Tomando como base os termos de perguntas aos indiciados, no que diz respeito à localização geográfica de atuação da CORRENTE, o DOPS chama atenção para as seguintes regiões: Belo Horizonte, Ouro Preto, Juiz de Fora, Divinópolis, Governador Valadares, Teófilo Otoni, Montes Claros e Vitória da Conquista (Bahia). Portanto, a atuação da CORRENTE no interior do Estado evidencia seu projeto de instalação da guerrilha rural.
Também foram monitorados, os “aparelhos” [48] da organização mineira. No decorrer da investigação, foi determinada a existência de “aparelhos” da CORRENTE nas regiões de Belo Horizonte, Teófilo Otoni, Governador Valadares, Montes Claros, e Vitória da Conquista, no Sul da Bahia. Vale ressaltar que todo o material encontrado no interior das casas mencionadas acima foi apreendido, por se tratar de bens pertencentes a uma organização clandestina. Dentre esses, os materiais bélicos (armamento, munições e explosivos) que eram obtidos através de compras ou roubos para a realização das ações armadas.
Aos poucos a CORRENTE foi eficientemente monitorada pelo aparato repressivo do DOPS/MG. Suas estratégias e ações que alimentavam a repulsa anticomunista da polícia política mineira foram fortemente repreendidas. O que para as organizações de esquerda eram companheiros, atuação, expropriação, rapto, repressão, entre outros, para o policiamento político era comunista, subversão, assalto, seqüestro, e manutenção da ordem. E foi justamente em cima destas terminologias que a Corrente Revolucionária de Minas Gerais foi contida em nome da “segurança nacional”.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Mesmo tendo sido consideravelmente abordado pela historiografia brasileira nos últimos anos, a luta armada no regime militar, sempre que retomada, se transforma em alvo de polêmica e interpretações contrárias. O grande questionamento é até que ponto podemos considerar, de fato, a esquerda armada como uma resistência aos governos militares, predicativo mais comum a seu respeito.
Sendo assim, o estudo da Corrente Revolucionária de Minas Gerais, mais uma vez retoma este impasse. No entanto, nesse sentido, sua análise não difere das demais organizações clandestinas de esquerda que optaram pela prática da guerrilha como tentativa de conter a política governista. Como ressalta muito bem Marcelo Ridenti, mesmo com caminhos divergentes para alcançar o socialismo, em seu primeiro momento o projeto da esquerda era único, ou seja, resistir e combater a ditadura militar. Portanto, a utilização de tal adjetivo (resistência) nos parece o mais apropriado para a caracterização da luta armada nesse regime, já que, devido às deficiências e à fragilidade da esquerda, a tomada do poder e a instauração de um governo socialista estavam longe de se concretizar. Sobretudo, nos últimos anos o adjetivo de resistência vem sendo utilizado com a composição do termo democrática (resistência-democrática), “que tem servido para justificar e legitimar opções políticas posteriores de ex-guerrilheiros, já inseridos no processo institucional no quadro da democratização da política brasileira” (RIDENTI, 2007, p.134). Tal como Ridenti, não concordo com esta leitura, já que a palavra democracia dificilmente era abordada com uma ênfase maior pelas organizações clandestinas da esquerda armada. O que se enfatizava, como já foi dito, era a derrubada do governo para a implantação do Estado Socialista.
No entanto, mesmo longe de concluir seu objetivo final, foi notória a resistência dos grupos de esquerda armada ao regime militar. Em Minas Gerais, com a Corrente Revolucionária não foi diferente. Suas ações e comportamentos se mostraram presentes numa época em que o espaço para reivindicação e manifestação era praticamente nulo. Vale admitir que do ponto de vista prático, essas ações não surtiram muito efeito, além do sustento da própria organização. A não ser a greve de Contagem em 1968, que mesmo não sendo uma ação efetivamente armada, contou com uma participação fundamental da CORRENTE, e obteve um ajuste salarial a nível nacional. Por outro lado, essas ações representavam a insatisfação e a resposta, principalmente, à forte repressão e às medidas políticas e econômicas adotadas pelos governos militares. Sendo assim, a polícia política mineira tratou logo de abortá-las, desmantelando a organização mineira, que mais tarde se fundiria ao quadro da Ação Libertadora Nacional (ALN). Muitos militantes, a maior parte deles jovens, foram presos, torturados e mortos em nome do seu inconformismo, ou do conformismo da maioria.
Sendo assim concluo com uma citação utilizada por Marco Antônio Victória Barros, um dos integrantes da CORRENTE, que analisa o período em que viveu, e hoje é preocupado em preservar esta memória.

“Nestas páginas, portanto, ganham vida homens e mulheres que agiram com altruísmo de acordo com as suas idéias e consciência. Coisa bem pouco comum em um país cuja cultura política dominante é marcada pela acomodação, diversas. Mas vários destes indivíduos assumiram o risco da incompreensão, do ostracismo, das prisões, da tortura e até da morte”. [49]

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ANEXO A - Ações armadas listadas nos Inquéritos Policiais Militares referentes à Corrente Revolucionária de Minas Gerais.


ü Assalto à Drogaria São Félix - Belo Horizonte, 25 de Outubro de 1968.
ü Assalto à Boite Seis-as-Seis - Belo Horizonte, 01 de Dezembro de 1968.
ü Assalto à firma Itaminas Comércio de Minérios S/A - Sarzedo, 30 de Janeiro de 1969.
ü Assalto à Agência do Banco de Minas Gerais - Ibirité.
ü Assalto à mercearia Nossa Senhora da Conceição - Cidade Industrial, Contagem, 03 de Fevereiro de 1969.
ü Assalto à Caixa Econômica Estadual, Agência Alfredo Balena - Belo Horizonte, 31 de Março de 1969.
ü Roubo de um carro Simca - Belo horizonte, (região das mangabeiras), 20 de Março de 1969.
ü Tentativa de assalto à Casa Tucano - Belo Horizonte, 01 de Abril de 1969.
ü Tentativa de assalto à Mercearia São Vicente - Belo Horizonte, 14 de Dezembro de 1968.
ü Tentativa de assalto à pedreira de Belo Horizonte, a fim de obterem explosivos – Belo Horizonte, 20 de Janeiro de 1969.
ü Tentativa de resgate de dois militantes da CORRENTE que se encontrava no Hospital do Pronto Socorro - Belo Horizonte.



ANEXO B - Inquéritos Policiais Militares referentes à Corrente Revolucionária de Minas Gerais.


ü IPM – Caixa Econômica Estadual
ü IPM – Drogaria São Félix
ü IPM – Firma Itaminas Comércio de Minérios S/A
ü IPM – Boite Seis-a-Seis
ü IPM – Casa Tucano
ü IPM – Armazém São Vicente
ü IPM – Carro Simca
ü IPM – CORRENTE


ANEXO C - Lista dos indiciados nos Inquéritos Policiais Militares referentes à Corrente Revolucionária de Minas Gerais e suas ações. [50]


* NOMES * CODINOMES
Abner de Souza Pereira Natal
Afonso Carlos Vitor Hugo
Ana Lúcia Batista Estrela e Ivana
Antônio Carlos Bicalho Lana Cauzinho
Antônio Carlos Madeira
Antonio José de Oliveira Lopes
Antônio Magalhães Antunes
Antônio Maria Clarret Tôrres Clarret
Antônio Resende Guedes
Ápio Costa Rosa
Armando Teixeira Frutuoso Juca
Arnaldo Fortes Drumond João e Joaquim
Braz Teixeira da Cruz Braz
Carlos Marighella
Celso Aquino Ribeiro Carlos
Conceição Imaculada de Oliveira Helena
Délio de Oliveira Fantini Daniel
Demétrio da Rocha Ribeiro Isaac
Efigênia Maria de Oliveira Santa
Elias Siqueira
Elza Pereira
Eustáquio Pinto de Oliveira Taque
Farid Helou
Fernando Freitas Picardi Vanderley
Francisco Antônio de Souza Jorge
Geraldo Clemente Soares Martelete, Rogério, Esquema, e Dino
Geraldo Moreira da Silva Moreira
Gilberto Fernandes Gomes de Faria
Gilney Amorim Viana Augusto
Hélcio Pereira Fortes Ernesto, Alex, Roberto, e Manoel
Henrique Roberti Sobrinho
João Domingos Fassarela
Joaquim Antônio da Fonsêca Careca e Fonsêca
Joaquim Câmara Ferreira Cavalcanti, Vasco, e Toledo
José Adão Pinto Evaldo e Luis Carlos
José Alfredo Preto e Henrique
José Antonio Pinto Pinheiro Joaquim
José Júlio de Araújo Israel e JJ
José Martins da Silva
José Natalino Magalhães Trem Bom e Zezé
José Salvati Filho
José Silva Tavares Corisco e Tavares
Judas Tadeu Tibúrcio Sérgio
Juversino Cândido da Silva Sílvio
Leila Dias de Araújo Lia, Laura, e Lourdes
Lincoln Ramos Viana
Lívio Lopes
Lúcio Dias Nogueira Tringuelas, Rodrigo, e Edson
Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues
Marcelo Ribeiro Vaz Marcelinho e Marc
Márcio Araújo de Lacerda Humberto e Gringo
Marco Antônio Victória Barros Chico e Play
Margot de Alvarenga Araújo
Maria Imaculada Diniz Imaculadinha
Maria Mendes Barbosa
Marília Angélica do Amaral Rosa
Mário Roberto Galhardo Zanconato André, Rocha, Juca, e Xuxu
Matias Gomes Barbosa Nego
Monir Tahah Sab Maurício
Olavo Gualberto fróes Antônio e Paulo
Oswaldo Severiano de Silva Valdo
Otávio Reis da Silva Ramos
Otto José Walter Schneider
Paulo Geraldo Ferreira
Pedro Paulo de Andrade Cruzeiro
Rachid Rachid de Araújo Filho
Ricardo apgau Eloy e Eduardo
Rodolfo de Carvalho Troiano
Rogério de Campos Teixeira
Rouberdário Diniz Valério Dário e Pedro
Salatiel Teixeira Rolins Roberto Pena Forte
Sergio Bittencourt Siqueira Aníbal e Atayde
Sônia Maria Ferreira Lima Daniela e Estela
Yone de Souza Grossi
Wilson Romeu
(1º Nome ilegível) de Freitas Castros Ruy e Edgard


ANEXO D - Prisão preventiva


v Presos para averiguação:
ü Abner de Souza Pereira
ü Antônio José de Oliveira
ü Antônio Magalhães
ü Arnaldo Fortes Drumond
ü Celso Aquino Ribeiro
ü Délio de Oliveira Fantini
ü Demétrio da Rocha Ribeiro
ü Elias Siqueira
ü José Adão Pinto
ü José Alfredo
ü José Natalino Magalhães
ü Lívio Lopes
ü Lúcio Dias Nogueira
ü Márcio Araújo de Lacerda
ü Marco Antônio Victoria Barros
ü Maria Mendes Barbosa
ü Mário Roberto Galhardo Zanconato
ü Rogério de Campos Teixeira
ü Rouberdário Diniz Valério
ü Yone de Souza Grossi
ü (1º Nome elegível) de Feitas Castro

v Foragidos
ü Antônio Carlos Bicalho Lana
ü Antônio Rezende Guedes
ü Ápio Costa Rosa
ü Armando Teixeira Frutuoso
ü Carlos Marighella
ü Efigênia Maria de Oliveira
ü Elza Pereira
ü Francisco Antônio de Souza Jorge
ü Geraldo Moreira da Silva
ü Gilberto Fernandes Gomes de Faria
ü Gilney Amorim Viana
ü Hélcio Pereira Fortes
ü Henrique Roberti Sobrinho
ü João Domingues fassarela
ü Joaquim Câmara Ferreira
ü José de Silva Tavares
ü José Júlio de Araújo
ü José Salvati Filho
ü Leila Dias de Araújo
ü Margot de Alvarenga Araújo
ü Marília Angélica do Amaral
ü Monir Tahah Sab
ü Paulo Geraldo Ferreira
ü Rachid Rachid de Araújo Filho
ü Ricardo Apgaua
ü Salatiel Teixeira Rolim
ü Sérgio Bittencourt Siqueira
ü Sônia Maria Ferreira Lima
ü Wilson Romeu














[1] Os projetos “A Corrente Revolucionária de Minas Gerais”, “Reconstrução Histórica das Republicas Estudantis da UFOP”, e, “A Atuação do Diretório Acadêmico da Escola de Minas de Ouro Preto: entre o desenvolvimentismo e o radicalismo (1956 e 1969)” foram organizados e coordenados pelo historiador Otávio Luiz Machado.
[2] No ano de 1998, após a instalação de uma comissão parlamentar, o Arquivo Público Mineiro (APM) recebeu os documentos do extinto DOPS/MG, colocando em disponibilidade para consulta em 2005, após a organização e confecção do arranjo disponível em meio digital. Seu acesso é feito por meio de sistema informatizado de pesquisa, que permite a busca por assuntos, tipos documentais, datas e nomes.

[3] ROLLEMBERG, Denise. Esquerdas revolucionárias e luta armada. In: DELGADO, Lucília de Almeida Neves; FERREIRA, Jorge (Orgs.) O Brasil republicano 4 – O tempo da ditadura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. P. 41-91.


[4] De acordo com José Antonio Segatto na obra intitulada “Breve História do PCB”, entre 1880 a 1889 foram criadas aproximadamente 400 indústrias, chegando a um número de 636 estabelecimentos industriais, com 54.169 operários; no ano de 1907 este número sobe para 3.410 estabelecimentos com 156.250 operários e, em 1920 para 13. 336 indústrias com 275.512 operários.
[5] Sobre o assunto ver também: JESUS, Ronaldo Pereira de; Viscardi, Claudia Maria Ribeiro. A experiência mutualista e a formação da classe trabalhadora no Brasil. In: FERREIRA, Jorge; REIS FILHO, Daniel Aarão (Orgs.). A formação das tradições (1889-1945). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. P. 21- 51. (Coleção as esquerdas no Brasil).
[6] O anarcossindicalismo se diferencia do anarquismo (outra tendência libertária) quanto à proposta de ação política contra o capitalismo. Enquanto o anarcossindicalismo orienta e direciona os trabalhadores a caminho da revolução, os anarquistas se negam a trabalhar na organização do operariado, acreditando na revolução espontânea e independente do proletariado, após a educação política. Sobre o assunto ver: SFERRA, Giuseppina. Anarquismo e anarcossindicalismo. São Paulo: Ática, 1987. 93 p.

[7] SEGATTO, José Antonio. Breve história do PCB. 2ª. ed. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1989. 136p.
[8] O maior exemplo dessa luta revolucionaria foi à Guerrilha do Araguaia (1972/1974). Tal guerrilha foi planejada no sul do Pará, na região do Rio Araguaia. Uma área estratégica para a implantação do exército popular que faria a revolução objetivada pelo partido. O foco guerrilheiro foi descoberto e aniquilado pela força governamental em 1974.
[9] A Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (ORM-POLOP), a Ação Popular (AP), os movimentos nacionalistas, e as dissidências armadas do PCB, serão tratadas no decorrer do capítulo.
[10] SÁ, Jair Ferreira de (Orgs.). Imagens da Revolução: documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961 a 1971. 2 ed. Rio de Janeiro: Expressão Popular, 2006. 464p. (Coleção assim lutam os povos).


[11] Uma outra tendência existente no Brasil desde o ano de 1929 foi a Trotskista, um agrupamento político adepto as idéias de Leon Trotsky, um dos líderes da revolução Russa de 1917, que acabou sendo expulso da URSS pelo governo de Stalin. Porém, por sua forte crítica a luta armada - a meu ver, a característica fundamental da nova esquerda brasileira - não insiro o grupo à nova esquerda atuante no regime militar.
[12] Trato do MNR mais adiante, ao abordar os movimentos nacionalistas.
[13] No VI congresso do PCB (1967), foram reiteradas, a forma de resistência pacífica adotada no V Congresso, e a confiança no apoio da burguesia, principais fatores que originou a corrente oposicionista dentro do partido.


[14] Vale ressaltar que a Dissidência do Rio de Janeiro (DI/RJ) também adotou o nome de MR-8, porém esta dissidência logo foi abortada pela força governamental.

[15] MARIGHELLA, Carlos. Minimanual do guerrilheiro urbano. 1969. Disponível em: <http://www.consultapopular.org.br/formacao/textosclassicos/MANUAL%20DO%20GUERRILHEIRO%20URBANO.doc/view>. Acesso em: 24 Ago. 2008.
[16] Depoimento de Marco Antônio Victoria Barros (militante da CORRENTE) a Otávio Luiz Machado. Ouro Preto, Projeto Reconstrução Histórica das Repúblicas Estudantis da UFOP, 2003. Disponível em: <http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/depoimento-de-marco-antnio-victoria.html> Acesso em: 20 de maio de 2008.

[17] Depoimento de Ricardo Apgaua a Otávio Luiz Machado. Ouro Preto: Laboratório de Pesquisa Histórica da UFOP/Projeto A Corrente Revolucionária de Minas Gerais, 2004. Disponível em: Acesso em: 21 de maio de 2008.
[18] Ver no anexo E a relação nominal de estudantes indiciados nos inquéritos policiais militares referentes à Corrente Revolucionária de Minas Gerais.
[19] Ver no anexo F a relação nominal dos funcionários públicos indiciados nos inquéritos policiais militares referentes à Corrente Revolucionária de Minas Gerais.
[20] Hélcio Pereira Fortes, ativista político desde cedo, atuou na União Colegial Ouropretense, e na Escola Técnica Federal. Ingressou na Escola de Metalurgia, mas não chegou a concluir o curso. Em 1963, passou a fazer parte do PCB, vindo atuar na ilegalidade logo após o golpe de 64. No grupo Corrente Revolucionaria de Minas Gerais, como um dos principais membros, teve importante participação tanto no meio estudantil e operário, quanto na luta armada. Em 1969, com o desmantelamento do grupo mineiro, Hélcio se ingressou na ALN, vindo a ser um dos principais militantes da organização. No ano de 1972, Hélcio foi morto com apenas 24 anos de idade, sob forte tortura no DOI-CODI/SP.
[21] Em 1945, o jornalista Mário Alves passou a integrar o Comitê Estadual do PCB na Bahia, e em 1957, foi eleito para o Comitê Central. Após o golpe de 64, Mário Alves tornou-se um dos principais líderes oposicionista dentro do partido. Por sua oposição a orientação predominante na direção do PCB, Mário Alves foi afastado da comissão executiva do partido, e foi atuar em Belo Horizonte, onde permaneceu até 1967. Em Belo Horizonte Mário Alves contactou e orientou o grupo mineiro do PCB que formaria a Corrente Revolucionária de Minas Gerais.
[22] Depoimento de Gilney Amorin Viana a Otávio Luiz Machado. Ouro Preto: Projeto “A Corrente Revolucionária de Minas Gerais”, 2004. Disponível em: <http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=1074> Acesso em: 14 de abril de 2008.


[23] Depoimento de Ricardo Apgaua a Otávio Luiz Machado. Ouro Preto: Laboratório de Pesquisa Histórica da UFOP/ Projeto: A Corrente Revolucionária de Minas Gerais, 2004. Disponível em: Acesso em: 21 de maio de 2008.
[24] Brasil. Decreto-Lei 477, de 26 de fevereiro de 1969. Define infrações disciplinares praticadas por professores, alunos, funcionários ou empregados de estabelecimentos de ensino público ou particulares, e dá outras providências. Disponível em: <www.acervoditadura.rs.gov.br/legislacao_14.htm> Acesso em: 27 de Ago. de 2008.
[25] Depoimento de Lincoln Ramos Viana a Otávio Luiz Machado. Ouro Preto: Projeto “A Atuação do Diretório Acadêmico da Escola de Minas de Ouro Preto - o desenvolvimento e o radicalismo entre 1956 e 1969”, 2003. Disponível em: <http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2007/07/depoimento-de-lincoln-ramos-viana.html> Acesso em 21 de maio de 2008.
[26] GORENDER, Jacob. O combate nas trevas: das ilusões perdidas a luta armada. Op. cit. P.153.

[27] A mineira Conceição Imaculada de Oliveira foi operária metalúrgica e entrou para militância do PCB no ano de 1963. Após as discussões do VI Congresso do partido, Conceição Imaculada de Oliveira acompanhou a dissidência mineira do PCB, e passou a integrar a Corrente Revolucionária de Minas Gerais. Em 1967 se tornou a primeira mulher a interar a direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem, tendo fundamental participação na greve de Contagem.
[28] Depoimento de Gilney Amorin Viana a Otávio Luiz Machado. Ouro Preto: Projeto “A Corrente Revolucionária de Minas Gerais”, 2004. Disponível em: <http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=1074> Acesso em: 14 de abril de 2008.


[29] Depoimento de Gilney Amorin Viana a Otávio Luiz Machado. Ouro Preto: Projeto “A Corrente Revolucionária de Minas Gerais”, 2004. Disponível em: <http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=1074> Acesso em: 14 de abril de 2008.
[30] No capítulo seguinte, veremos supostos trechos deste documento, apreendidos pelo DOPS-MG.

[31] Depoimento de Gilney Amorin Viana a Otávio Luiz Machado. Ouro Preto: Projeto “A Corrente Revolucionária de Minas Gerais”, 2004. Disponível em: <http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=1074> Acesso em: 14 de abril de 2008.
[32] Depoimento de Ricardo Apgaua a Otávio Luiz Machado. Ouro Preto: Laboratório de Pesquisa Histórica da UFOP/Projeto A Corrente Revolucionária de Minas Gerais, 2004. Disponível em: Acesso em: 21 de maio de 2008.
[33] O termo expropriação é utilizado geralmente por militantes e ex-militantes para designar assaltos com a justificativa de expropriar a riqueza de um determinado estabelecimento, para a realização da guerrilha revolucionária.
[34] Mário Zanconato foi um dos 15 presos políticos trocado pelo resgate do Embaixador do Estados Unidos Charles Burke Ellbrick seqüestrado por um comando em conjunto da ALN e do MR – 8. A lista dos presos liberados constitui-se de integrantes das principais organizações clandestinas do país.
[35] Expressão utilizada pelos militantes em geral, para designar a prisão ou captura pela polícia política.
[36] APM - Fundo DOPS/MG, Rolo 003, Pasta 0032 (3), Imagem 2160.

[37] MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho. São Paulo: Perspectiva: Fapesp, 2002, p. 22.
[38] A respeito da figura do informante contribuinte ao Regime Militar ver: MAGALHÃES, Marionilde Dias Brepohl de. A lógica da suspeição: sobre os aparelhos repressivos à época da ditadura militar no Brasil. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 17, nº 34, p.203-220, 1997.
[39] ASSUNÇÃO, Rosângela Pereira de Abreu. DOPS/MG: imaginário anticomunista e policiamento político (1935-1964). 2006. 177f. Dissertação (mestrado em História) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
[40] ASSUNÇÃO, Rosângela Pereira de Abreu. DOPS/MG: imaginário anticomunista e policiamento político (1935-1964). 2006. 177f. Dissertação (mestrado em História) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. P.22.


[41] Guia de fundos e coleções do Arquivo Público Mineiro. Secretaria de Estado de Minas Gerais, Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte, 2006.
[42] Ver a relação dos Inquéritos Policiais Militares referentes à CORRENTE, no anexo B.
[43] Tanto os termos de perguntas aos indiciados quanto os termos de inquirição das testemunhas e os autos de reconhecimentos, consistem nos depoimentos dos entrevistados (indiciados, testemunhas e ofendidos) ao DOPS/MG, e transcritos pelo próprio DOPS/MG.
[44] APM - Fundo DOPS/MG, Rolo 003, Pasta 0029-1, Imagens 1430 e 1431.
[45] APM - Fundo DOPS/MG, Rolo 003, Pasta 0028, Imagem 1184.
[46] APM - Fundo DOPS/MG, Rolo 003, Pasta 0028, Imagem 1187.
[47]APM - Fundo DOPS/MG, Rolo 003, Pasta 0028, Imagem 1184.
[48] Os “aparelhos” são casas alugadas por uma organização clandestina, que servem de moradia de seus militantes, e guarda de materiais.
[49] [49] Entrevista de Ricardo Apgaua a Otávio Luiz Machado. Ouro Preto: Laboratório de Pesquisa Histórica da UFOP/ Projeto: A Corrente Revolucionária de Minas Gerais, 2004. Disponível em: Acesso em: 21 de maio de 2008.

[50] Na lista de indiciados contam os nomes de todos aqueles que foram citados nos IPM`s da Corrente Revolucionária de Minas Gerais. Portanto não se trata necessariamente apenas de membros da organização mineira, mas também, de integrantes de outros grupos clandestinos de esquerda que mantinham contatos com a CORRENTE.