sexta-feira, 28 de março de 2008

FALA DA PROFESSORA CÉLIA FRAZÃO LINHARES NA PALESTRA DE OTÁVIO LUIZ MACHADO NA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UFF

FALA DA PROFESSORA CÉLIA FRAZÃO LINHARES NA PALESTRA DE OTÁVIO LUIZ MACHADO NA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UFF – DEMOCRACIA E MOVIMENTOS ESTUDANTIS NO BRASIL (02 DE OUTUBRO DE 2007)


“Nós pudemos coincidir essa conferência de Otávio Luiz Machado, aqui nessa semana inicial do mês de outubro, na mesma semana de aniversário de Ruy Frasão Soares. Essas coincidências nunca são fortuitas. (...) Gostaria ainda de sublinhar a importância desse tema. No meu entendimento essa relevância vem de mãos dadas com uma série de outras problemáticas que também vão rompendo uma cerca que anda escondida nas margens do debate acadêmico. E forçando através de brechas e de frestas, permitindo assim entrar nessas centralidades múltiplas com que se fazem as relações entre universidade, sociedade e movimentos sociais. (...)
Acreditamos que ao discutir os movimentos estudantis vamos abrir novas hipóteses, que nem vão deificar os estudantes como aqueles que nunca erram, e nem tampouco atirá-los como aqueles que sub-repticiamente se lançam em movimentos sem saídas. Nem uma coisa nem outra. (...) Quando o Otávio me escreveu por e-mail dizendo que ele iria publicar o livro eu respondi pra eles mais ou menos assim: “Pois bem, Otávio, eu penso que esse seu trabalho miudinho e persistente é uma forma inextinguível de ir animando toda a sociedade nesse empenho de reinventar a democracia. É tão importante, pensou eu, reconhecer como é que a democracia se reinventa em suas sutilezas e em suas funcionalidades de uma macro-política que muitas vezes se esconde nos apelos e caminhos intersticiais. (...) Eu vejo essa manhã plural que estamos realizando com legiões de pessoas que se representam em cada um de nós. Cada um de nós traz uma legião de amigos e de instituições que desejam e que tem esperança no movimento estudantil. Tema que se arrasta nas margens desde 1918 com a revolução de Córdoba feita e liderada pelos estudantes. E que vem tramitando na generosidade daqueles que a partir do movimento estudantil contestaram uma ditadura que nos sufocava. Se não fosse uma coragem ética que é muito difícil estar na contramão e é muito difícil estar numa posição diferente daquele que faz o pensamento único, que constrói heróis e vilões. E exercitar a sua própria maneira de pensar; uma maneira de pensar responsável que não seja individualista, porque ela ressoa e se enlaça com as instituições com as quais pertencemos e com as quais nos responsabilizamos pela sua construção. (...) Lembro que Ruy enfrentou essa ditadura com extrema dignidade jamais denunciando colegas. E foi por isso que ele foi sacrificado e assassinado nos espaços sórdidos que o Estado brasileiro abrigou em nome de um terrorismo. É preciso que cuidemos porque ele continua infiltrado nas nossas instituições e, lamentavelmente muitas vezes, também nas nossas ações. É por acreditar nisso que eu saltei as cercas e promovi esse encontro apesar do precipitado do momento com pouco tempo e sem condições de convidar como eu gostaria muitos outros participantes pra ele. Mas que no momento junto com vocês percebo que valeu a pena, porque não temos almas pequenas (...) O Otávio tem sido um guardião e um fermentador desse tema, porque tem colocado hipóteses que não são tranqüilas, não no sentido de que ele tenha alguma verdade. Ele sabe da complexidade do movimento. Mas ele procura levantar hipóteses numa provocação ao nosso pensar. E por isso eu sou extremamente agradecida ao Otávio. Além disso, esse trabalho incansável do Otávio não se resume em discursos inflamados, mas pelo contrário, esses discursos estão apoiados num lastro de pesquisa extremamente sérios e que vão ampliando e se enredando em todo o Brasil, numa rede que não é silenciosa, mas que me parece tampouco é raivosa e que vai apostando numa outra política pesquisadora e investigativa que se faz voltando a trabalhar com o pensamento de Foucault como uma ferramenta como ele gostava - que vai cartografando as estruturas universitárias e sociais mostrando onde estão as travas, os espaços de frestas e brechas e por onde caminhando na construção de outros movimentos estudantis. Então eu passo a palavra ao Otávio, que pela sua obra e, sobretudo pela sua colocação a partir de agora vai se auto-apresentar com aquilo que nós temos de mais importante, que é uma das melhores expressões nossas as nossas palavras articuladas com ações e com as nossas ações (...) Eu quero agradecer a toda a discussão que o Otávio trouxe, e sublinhar esse trabalho de formiguinha com essa tenacidade. Acho assim extremamente importante ficar também como um grifo o que ele diz sobre a nossa responsabilidade de viver. E viver é participar, é influir e é deixar marcas. Nesse sentido volto aquilo que eu tinha falado: temos sempre estado impregnados de uma política grandiosa que vem de diretrizes e de grande ações. E é preciso entrelaçar a macropolítica com a micropolítica com as sutilezas. Cada dia é um presente de muitos minutos e de muitas horas que podem ser vividas intensamente. Um minuto – nós sabemos desde os existencialistas como Sartre, naquele esforço de resistência dos franceses acossados de todos os lados, foi aí que um dos personagens de Sartre disse: “naquele minuto eu vivi e transbordei a minha vida”. Então a intensidade tanto retomada por Deleuze nos ensina isso: ações tidas como menores pode fazer esse pequeno deslocamento da política”.

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