sábado, 1 de março de 2008

DISSERTAÇÃO: O MOVIMENTO ESTUDANTIL NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU: UM ESTUDO NA VISÃO DE SEUS SUJEITOS (por Maria Guimarães da Silva)

MARIA GUIMARÃES DA SILVA

O MOVIMENTO ESTUDANTIL NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU: UM ESTUDO NA VISÃO DE SEUS SUJEITOS

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
CURSO DE MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
SÃO PAULO
1994

MARIA GUIMARÃES DA SILVA

O MOVIMENTO ESTUDANTIL NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU: UM ESTUDO NA VISÃO DE SEUS SUJEITOS


Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Serviço Social à comissão julgadora da PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO, sob a orientação da professora Doutora Maria Lúcia Carvalho da Silva



PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
CURSO DE MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
SÃO PAULO
1994







DEDICATÓRIA







À lembrança de
João Luiz,
exemplo de dedicação e de vida.



Para
Luzia,
que me ensinou as primeiras letras, dividiu
comigo momentos difíceis e partilha hoje da alegria
de mais uma etapa vencida.



Para
Luiz Humberto,
que surgiu no meio dessa caminhada,
dando-me mais estímulo para continuar caminhando e
para percorrer novos caminhos.


AGRADECIMENTOS

À Professora Maria Lúcia Carvalho da Silva, pela compreensão, apoio e competência no acompanhamento deste trabalho;
À Professora Cláudia Lúcia Mattos Carneiro, pela oportunidade que me proporcionou de trabalhar na área estudantil;
À Valda, amiga rara, que com dedicação e competência clareou algumas das minhas idéias, contribuindo com a realização deste trabalho;
À Equipe da Pró-Reitoria de Recursos Humanos da UFU, pelo apoio, sem o qual não teria concluído este trabalho;
Aos Estudantes, sujeitos desta pesquisa, pelos depoimentos, pela disposição e abertura aos dados tão relevantes ao desenvolvimento do trabalho;
E a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização e conclusão deste trabalho

Agradeço!

BANCA EXAMINADORA

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ABSTRACT


This present research emphasises the student movement and their participation from the point of view of an analysis of the representations which the students from the Federal University of Uberlândia, Minas Gerais, make regarding this institutional and social reality in which they are inserted.
It takes into view an understanding of the daily life of the student and an awareness of his personal universe, perceiving his feelings, his vision, his values, his ideas on The University Institute, the society and the very dynamics of student organizations.
The results of the research demonstrate the main questions around which the students mobilize themselves during their passage through university, taking on different positions in view of the changing situations of the Brazilian Political History.
It is an investigation which analyzes the mediating factors in student participation and the role played by the university movement in the conquest of it’s citizenship, in the renewal of the university and in the building of a freer and more democratic society. It is a study which contributes towards a reflection about “A University” in which “The Student Movement” can developed fully.



RESUMO

O presente estudo enfatiza o movimento estudantil e a participação dos universitários a partir da análise das representações que os estudantes da Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, fazem acerca desta realidade institucional e social em que estão inseridos.
Objetiva a compreensão do cotidiano estudantil e o conhecimento de seu universo pessoal, percebendo seus sentimentos, sua visão, seus valores, suas concepções sobre a Instituição Universitária, a sociedade e a própria dinâmica das organizações estudantis.
Os resultados da pesquisa evidenciam as principais questões em torno das quais os estudantes se mobilizaram durante sua trajetória universitária, assumindo diferentes posições face aos momentos conjunturais da história política brasileira.
Constitui-se em uma investigação que analisa os fatores intervenientes na participação estudantil e o papel vivido pelo movimento universitário na conquista da cidadania, na renovação da universidade e na construção de uma sociedade mais livre e democrática. É um estudo que contribui para a reflexão sobre uma Universidade na qual o Movimento Estudantil possa plenamente se desenvolver.

ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO I
A Participação Estudantil no Brasil: um Breve Histórico 27

CAPÍTULO II
As Questões de Cidadania, Democracia e Participação na Universidade
Brasileira Atual 67

CAPÍTULO III
A Trajetória do Movimento Estudantil na UFU: Fragmentos de uma
História 81

CAPÍTULO IV
Caracterização do Perfil do Estudante da UFU e Análise de suas
Representações sobre a Universidade e o Movimento Estudantil 115

CONSIDERAÇÕES FINAIS 192

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 210

ANEXOS 219



ÍNDICE DAS TABELAS

Tabela 01 - Distribuição dos estudantes por curso 120
Tabela 02 - Distribuição dos estudantes por curso e sexo 121
Tabela 03 - Distribuição dos estudantes por curso e faixa etária 122
Tabela 04 - Distribuição dos estudantes por curso e o estado civil 123
Tabela 05 - Distribuição dos estudantes segundo curso e procedência 125
Tabela 06 - Distribuição dos estudantes segundo a cidade de
procedência 126
Tabela 07 - Distribuição dos estudantes segundo o curso e a moradia 128
Tabela 08 - O local em que fazem suas refeições 129
Tabela 09 - Relativo à manutenção financeira 130
Tabela 10 - Distribuição dos estudantes segundo o curso e o
exercício de atividades remuneradas 131
Tabela 11 - Tipo de atividades 133
Tabela 12 - Jornada de trabalho 134
Tabela 13 - Remuneração 134
Tabela 14 - Composição familiar 135
Tabela 15 - Situação profissional do pai 136
Tabela 16 - Situação profissional da mãe 137
Tabela 17 - Renda familiar 138
Tabela 18 - Características da UFU 139

Tabela 19 - Visão do estudante sobre a UFU no que se refere à
participação estudantil 141
Tabela 20 - Movimento estudantil na UFU 142
Tabela 21 - Movimento estudantil desenvolvido em cada curso 143
Tabela 22 - Nível de satisfação dos alunos em relação aos respectivos
cursos 145
Tabela 23 - Órgãos nos quais os estudantes confiam para
representa-los 147
Tabela 24 - Relação dos entrevistadores segundo o curso, o vínculo
com a entidade estudantil e o ano de ingresso na UFU 152
Tabela 25 - Relação dos entrevistados segundo sexo, faixa etária
e moradia 153
Tabela 26 - Distribuição dos alunos segundo a situação e jornada de
trabalho 154
Tabela 27 - Situação da família 155
Tabela 28 - Grau de instrução dos pais 156





INTRODUÇÃO

A motivação para trabalhar este tema surgiu a partir da reflexão sobre a minha experiência profissional em vários contatos e discussões com os estudantes, defrontando-me com sua realidade cotidiana e muitas vezes angustiando-me com seus problemas, suas dificuldades, suas frustrações, seus momentos de apatia e descrença na universidade; outras vezes presenciando e partilhando dos seus momentos de grandes realizações, de euforia e de engajamento em projetos profissionais, políticos e sociais, sumamente importantes e que contribuem com ações criadoras e renovadoras, não só no âmbito da universidade, mas também na sociedade como um todo.
A participação estudantil é o resultado de vários fatores históricos e sociais que caracterizam o movimento estudantil universitário em vários momentos e em várias localidades. Assim, também têm significado as ocasiões em que os estudantes apresentam-se apáticos e desencantados com a universidade e com o próprio movimento estudantil.
Apesar da ousadia e da crença na possibilidade de mudanças e inovações, caraterísticas que marcam o espírito dos jovens, os momentos de conflitos, de desestímulos, de descrédito e frustrações também compõem o cenário do movimento estudantil universitário.
Nos diversos diagnósticos sobre a crise desse movimento realizados seja através da universidade, seja através dos próprios alunos e das suas entidades representativas, um dos pontos cruciais refere-se à questão da participação, envolvendo aspectos estruturais da instituição, desmotivação do alunado de maneira geral e, ainda, a inadequação da gestão das entidades estudantis.
Reconhecidamente, as análises dos determinantes da situação crítica pela qual passa a questão da participação estudantil são controvertidas, bem como as alternativas para reverter a situação.
Independentemente das diversas análises que se possam fazer e com base no pressuposto de que os estudantes da UFU apresentam uma reduzida e inexpressiva participação em termos do seu movimento estudantil no contexto da vida da universidade e da sociedade em geral, é possível vislumbrar alguns aspectos da questão a partir da análise das representações que os próprios alunos fazem sobre a universidade e o movimento estudantil.
Historicamente o estudante universitário defendeu temas relevantes e de grande abrangência na realidade social brasileira. A participação estudantil organizada a nível nacional é reconhecida com a criação da UNE em 1937, adquirindo progressiva emancipação e centralização nas lutas estudantis. Mas a participação política estudantil na vida brasileira é anterior a esse período. Ela existiu através de segmentos estudantis isolados, nos vários cantos do país e em diferentes momentos políticos. Há registros da participação estudantil desde o Brasil Colônia, na Primeira República, na Segunda República, até os dias atuais. Ela é fato presente na vida nacional e na área de educação em particular.
O estudante lutou e luta pela democratização das instituições de ensino e, conseqüentemente, pela democratização da sociedade em geral, pois a universidade é parte dinâmica dessa sociedade. Ela constitui parte integrante do todo social. Deve, assim, participar da reflexão crítica sobre a organização da sociedade. Os estudantes viveram momentos revolucionários, conscientes de que a luta estudantil era, ao mesmo tempo, interna e externa à universidade, imbricada com as lutas sociais mais amplas. Nem sempre conseguiram os resultados esperados, mas, sem dúvida, foram movimentos mobilizadores da opinião pública para os problemas da universidade e da comunidade em geral.

"É interessante observar que nos debates, nesses seminários estudantis e, de forma mais explícita, nas declarações deles emanadas, sobre a reforma do ensino superior, os estudantes colocam sempre o problema da reforma da sociedade e as questões políticas mais globais."

Isso demonstra que os estudantes têm uma preocupação com as questões específicas da educação, mas também estão atentos e interessados nos aspectos mais globais da sociedade e atuam no sentido de buscar mudanças. Assim, estiveram presentes nos grandes movimentos e nas grandes decisões políticas e, é claro, sofreram as suas conseqüências, muitas vezes desastrosas.
Com o golpe de 1964, o efeito imediato na área educacional foi sentido nos órgãos estudantis, através da retirada dos seus representantes do Fórum Universitário e da desativação de outros, seguidas da implantação de medidas restritivas à participação estudantil. Foi durante esse período que tomou forma a doutrina da reforma universitária, expressa na lei 5.540/68, sendo desencadeadas ações autoritárias sobre as instituições de ensino, contra as quais os estudantes interpunham resistências. Essas resistências se manifestaram no renascimento do movimento estudantil.
A Universidade Federal de Uberlândia - UFU - foi criada em 1969 e nesse período viveu alguns conflitos com estudantes. A exemplo de muitas universidades no país, resultou da federalização de um grupo de faculdades isoladas, de caráter privado. Esta universidade compreendia, na época, cinco escolas superiores, a Faculdade de Direito, a de Ciências Econômicas, a de Artes, a de Ciências e Letras e a Faculdade Federal de Engenharia, que existiam isoladamente. Somente a de Engenharia era uma instituição pública. A denominação da Universidade era Fundação Universidade de Uberlândia.
Em 1972, as Faculdades de Odontologia, de Veterinária e de Educação Física, criadas pelo Governo do Estado de Minas Gerais, passaram a fazer parte da Fundação, bem como, em 1974, a Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia.
Em 1976, somente a Faculdade de Engenharia continuava sendo pública e o conjunto das faculdades funcionava nos moldes de uma universidade particular, embora o próprio decreto de criação da Universidade a caracterizasse como Federal. Nessa época, foi encaminhado ao MEC um projeto para efetivamente federalizar a universidade, o que aconteceu de fato em 1978, pelo decreto-lei nº 6.532, sob a forma de Fundação .
O processo de federalização e de junção desses vários cursos foi precedido de um período de indefinição quanto aos rumos da instituição, principalmente para o curso de Engenharia, que corria o risco de se tornar particular.

"A Faculdade de Engenharia não tinha perspectiva de futuro como escola nova e, principalmente, como escola federal isolada, ligada a uma universidade particular. Então era fundamental que a Faculdade de Engenharia se integrasse à Universidade. Mas a integração a uma Universidade particular era também algo completamente estranho."

A junção dos vários cursos enfrentou dificuldades não só de ordem administrativa e acadêmica, mas também as relacionadas com a participação dos estudantes, que buscaram garantias quanto ao seu direito ao ensino público existente na Faculdade de Engenharia.
A federalização da UFU se deu num momento em que o sistema econômico dava mostras de falência pelo aumento do endividamento externo, paralisação de novos investimentos e aceleração da inflação. Conseqüentemente o otimismo expansionista do ensino superior, veiculado pela reforma de 68, apresentava os primeiros sintomas de exaustão. Configuram-se cortes e contenção de recursos na área educacional, principalmente nas universidades. Dessa forma, o receio da comunidade estudantil de que se privatizasse a Faculdade de Engenharia ao invés de federalizar as demais tinha sentido, pois o governo acenava com a proposta do ensino superior pago.
A relação da administração da universidade com os estudantes era caracterizada pelo autoritarismo e as suas decisões políticas eram perpassadas pela influência de políticos da cidade e região, sem nenhuma consideração à comunidade universitária, sem qualquer discussão mais aberta no seio da universidade. Dessa forma os estudantes, descontentes com o rumo das negociações, desencadearam vários movimentos no sentido de interferir nas decisões.
No final da década de 70 e início dos anos 80, havia no contexto brasileiro prenúncios de uma possível redemocratização e, no conjunto institucional, já se previam mudanças.
Em relação às universidades, criaram-se mecanismos e comportamentos em direção a uma proposta de mais abertura e democratização, principalmente nos locais onde os estudantes e docentes começavam a se organizar. Surgiam movimentos por maior participação nas decisões, com mobilização inclusive para a escolha dos dirigentes universitários, por autonomia e democratização, bem como pela defesa do ensino público e gratuito como direito de todos e dever do Estado.
A participação estudantil manifestava-se com diferente intensidade nos vários locais, repercutindo também diferentemente nas universidades.
A UNE, reconstruída em 1979, continuava na clandestinidade, não conseguindo uma mobilização estudantil mais geral. Em algumas instituições de ensino superior a participação já era estimulada por parte de alguns dirigentes, em outras as relações continuavam distantes e autoritárias. A UFU pertencia a esse último grupo, sendo suas relações caracterizadas pelo autoritarismo e pela centralização de poder, fatores que podem, em princípio, limitar a participação.
No segundo semestre de 1980, tomou posse novo reitor, nomeado pelo Presidente da República sem nenhuma consulta prévia à comunidade universitária. Juntamente com a nova administração, foi empossada na Pró-Reitoria Estudantil e de Extensão uma professora da área médica que também prestava serviços no Hospital de Clínicas e tinha um bom relacionamento com os estudantes de medicina, que eram respeitados e influentes em termos de movimento estudantil na UFU.
A pró-reitora empossada assumiu o cargo já com a preocupação de criar uma infra-estrutura necessária ao atendimento das questões estudantis. E, como já conhecia o trabalho do serviço social no hospital, decidiu que seria criado um Setor de Apoio ao Estudante, a ser dirigido por uma assistente social. Como eu participava, como assistente social, da mesma equipe de saúde da então pró-reitora, surgiu o convite para que passasse a integrar sua nova equipe.
O Setor de Apoio ao Estudante criado naquele momento tinha a responsabilidade de "implantar o serviço social na área, planejando, organizando e executando programas que respondessem aos interesses e necessidades dos estudantes da UFU."

"Desde o início de sua prática os assistentes sociais consideraram a participação não só como um princípio de valor, mas também uma estratégia de ação."

Assim, o Setor de Apoio ao Estudante trabalhou a participação no sentido histórico de conquista da autopromoção, de consolidação das conquistas em termos de coletividade. A participação, considerada como qualidade política capaz de construir condições de democracia, liberdade e convivência, é que vai possibilitar ao estudante tomar parte nas decisões fundamentais a respeito das suas questões na universidade.
A partir daí, o estudante passa a ser considerado pelo serviço social um sujeito político capaz de criar e gerir ações e metas de relevância para si e para a comunidade universitária.
Embora nos primeiros momentos os estudantes tivessem uma atitude de desconfiança em relação ao Setor, pois consideravam-no em oposição aos seus interesses pelo fato de ser um órgão da Reitoria, aos poucos foram conferindo credibilidade a este que passou a ser um canal efetivo de participação da comunidade estudantil.
A atuação do Setor cresceu em termos qualitativos e quantitativos. A partir da credibilidade adquirida entre os estudantes, a assistente social dessa área passou a fazer parte também de várias comissões que tratavam de assuntos relacionados com os interesses da comunidade estudantil, como, entre outras, as comissões que discutiam o estágio curricular e extra-curricular, o método de avaliação, a criação do restaurante universitário.
Por solicitação das entidades estudantis, também desenvolveu atividades de assessoria na realização de projetos de extensão, eventos culturais, esportivos e de lazer.
Com o crescimento da demanda e contando somente com uma assistente social , o Setor atendia praticamente a procura espontânea e as necessidades imediatas, e, quando necessário, contava com o apoio dos demais assistentes sociais da UFU em regime de colaboração .
Em 1983, com o novo organograma da universidade, o Setor passou a ser uma Divisão, demonstrando esta alteração o reconhecimento da relevância do trabalho desempenhado pelo órgão, tendo sido criada, inclusive, uma Diretoria Estudantil, dado o volume de trabalho e o significado da área para a comunidade estudantil. Tal fato expressou a importância que a pró-reitoria dava a esse segmento, uma vez que essas mudanças se traduziam em mais autonomia nas decisões e maior abrangência em termos de ação.
A partir de 1984, outra assistente social se integrou à Divisão, possibilitando assim melhoria na qualidade do atendimento.
Dessa forma, a Divisão se transformou progressivamente num espaço do estudante, num órgão de referência ao qual ele recorre na busca de alternativas de solução para as mais diversas problemáticas. Alternativas estas, ele bem o sabe, que são encontradas em conjunto e nunca impostas pelos profissionais da área.
Em relação ao próprio funcionamento, muitas reestruturações foram feitas a partir das críticas e sugestões pontuadas pelos estudantes. A Divisão se constituiu num espaço onde se colocavam os problemas de forma acessível e democrática. A participação desse segmento foi incentivada como estratégia de ação no sentido sócio-político, ajudando a construir relações democráticas, não só enquanto proposta de serviço social, mas também porque os próprios estudantes conquistavam seus espaços na universidade. Foi um caminho de conquista mútua. Por um lado, a busca por parte da comunidade estudantil da garantia de seus direitos e objetivos e, por outro, o serviço social tendo a oportunidade de implantar uma nova frente de trabalho numa nova área na universidade. Ambos lutavam por um espaço democrático.
Assim, qualquer que fosse a intenção da administração superior da universidade, em 1980, ao criar o Setor de Apoio ao Estudante, na realidade cotidiana o Setor se pautou sempre pelo compromisso com a população estudantil. Suas ações estiveram todo o tempo voltadas para esse segmento, embora em muitos momentos não se conseguisse superar a sua fragilidade diante da estrutura hierárquica superior, da qual emana a maior parte das decisões. Era necessário democratizar a Instituição como um todo e não somente esta Divisão, pois não faz sentido apenas essa área e o próprio serviço social apresentarem uma relação democrática e horizontal com os estudantes e se preocuparem com o nível de participação dos mesmos nas decisões essenciais da universidade. Na visão do aluno,
"Este (a Divisão) é o único local na universidade que recebe bem o estudante e se preocupa com ele na sua totalidade."


"A DIAOS é o único órgão na universidade que a gente não tem problema de relacionamento e que se preocupa não só com o aspecto técnico, mas também com a formação maior do estudante."

Percebe-se, assim, que o estudante tem uma visão própria das situações que ocorrem na universidade e das relações que vive no cotidiano universitário. Dá significado às várias ações desencadeadas e à própria estrutura administrativa e acadêmica às quais está submetido através de normas e regulamentos. Sente e vive a universidade de forma peculiar.
Observa-se na universidade um certo descaso com essa área e uma lacuna de conhecimento em relação aos estudantes. Presenciam-se, na prática cotidiana, ilações inconsistentes sobre eles. Predomina no meio universitário uma visão de que são apáticos, desinteressados e não têm participado nem mesmo das questões que lhes dizem respeito mais diretamente. Mas não existe um estudo bem fundamentado sobre o estudante e sua realidade a partir da sua própria visão. Não se sabe o que ele pensa de fato sobre o movimento estudantil, como se sente e como explicita suas relações na universidade, como entende a universidade, a cidadania, a democracia e a participação no contexto universitário e no contexto social em geral. Sabe-se, em princípio, que estes são aspectos com presença constante nas suas reivindicações.
Sempre foi minha preocupação ao longo desses dez anos à frente da Divisão de Apoio ao Estudante conhecer e entender a visão do aluno sobre estas questões e refletir sobre alguns aspectos referentes a esse segmento a partir do seu ponto de vista, ou seja, dos seus sentimentos, da sua opinião, das suas manifestações sobre o seu cotidiano. A vivência desses anos de trabalho junto à área estudantil, desenvolvendo projetos em conjunto com os estudantes e acompanhando um pouco sua trajetória, permitiu conhecer parte de sua vida e compreender o alcance das suas dificuldades, de suas reivindicações, de seus desejos de mudanças, de suas lutas por currículos mais adequados, enfim, viveu-se a problemática posta pela área, mas sem um aprofundamento sobre pontos específicos e sobre a visão do aluno a respeito destes. O que se percebe é que os estudantes participam diferentemente em vários momentos da vida da universidade e que, na verdade, são desconhecidos, embora permaneçam na instituição um período significativo de suas vidas. A universidade pensa o estudante como alguém transitório e com isso limita a sua participação nas decisões fundamentais. Por sua vez, o estudante internaliza esse sentimento de transitoriedade e não cria vínculos, não se sente parte da universidade, restringindo as suas possibilidades de viver um processo de cidadania.

"Espera-se da escola que contribua com a qualificação da cidadania, que vai além da reivindicação da igualdade formal, para exercer de forma responsável a defesa de seus interesses. É a aquisição de conhecimentos, compreensão de idéias e valores, formação de hábitos de convivência num mundo cambiante e plural, entendidas como condições para que essa forma de exercício da cidadania contribua para tornar a sociedade mais justa, solidária e integrada."

Assim, a universidade necessita estar atenta às questões postas pelos estudantes e às exigências da sociedade no momento atual, ouvindo, compreendendo e valorizando as contribuições que possam emergir deste contexto. Então, não é simplesmente desconsiderá-lo porque o compreende como transitório. Essa mentalidade cultural pode influenciar diretamente na ação dos estudantes, no sentido de não expressarem suas opiniões acerca de temas importantes para sua formação universitária, limitando a possibilidade de uma participação efetiva. Além disso, existem outros aspectos que podem influir no movimento universitário e no processo de participação: as normas da Instituição, as relações professor-aluno, o modelo de ensino, a organização dos cursos e a estrutura de poder, a insegurança do mercado de trabalho, o estímulo que a instituição oferece, enfim, as relações sociais vividas na universidade.
Os aspectos subjetivos também podem interferir diferentemente na vida do estudante. Alguns superam seus problemas pessoais com mais facilidade que outros. A história de vida de cada um direciona sua trajetória de forma diversificada.
Pela própria natureza do atendimento realizado pelo serviço social, o assistente social desenvolve sua ação no sentido de procurar entender as dificuldades e as relações que o estudante vive na universidade de maneira a desvendar sua realidade. Dessa forma, o interesse por qualquer tema que se refira ao estudante é força motivadora para este trabalho.
Refletindo a trajetória do próprio serviço social nesse período de dez anos de atividade na área estudantil, desenvolvendo com os estudantes projetos de extensão comunitária e programas assistenciais tais como bolsa de estudo, bolsa-trabalho, bolsa-alimentação, além do plantão de atendimento permanente, encontram-se nos alunos manifestações distintas a respeito de vários aspectos da vida universitária. Percebe-se que eles possuem representações valiosas acerca do seu cotidiano e da própria universidade. Representações que, entendidas como uma dimensão da práxis social, são históricas, construindo-se no real e fundamentando-se em todo o processo de vivência a partir do qual os alunos edificam suas crenças e valores, produzindo, assim, conteúdos concretos baseados nos seus referenciais ideológicos e culturais, nos seus sentidos, imaginação e memória.

"Na representação social, ou seja, a verbalização das concepções que o indivíduo tem do mundo que o cerca, pode-se detectar os valores, a ideologia e as contradições, enfim, aspectos fundamentais para a compreensão do comportamento social. A representação traz no seu bojo valores, afetos e concepções."

Assim, direcionando a pesquisa para o estudo das representações que os estudantes da UFU fazem sobre a universidade e sobre o movimento estudantil, os resultados constituem uma possibilidade de contribuição para o surgimento de novas ações na universidade, no sentido de considerar a realidade visualizada pelo estudante, compreendendo como se efetiva sua participação. Portanto, é desvendando o universo de suas representações que se percebem seus sentimentos, sua visão, seus valores, ideologias e suas concepções a respeito do contexto universitário e do seu cotidiano na universidade. E é desse conjunto de questões que fazem parte do seu real que ele elabora as representações que compõem o seu imaginário, fundamentam suas concepções, direcionam seu pensamento e suas ações, definindo sua participação. Nesse estudo procurou-se captar o movimento que configura essa dinâmica de relação que reflete os valores, os símbolos e significados oriundos das diferentes vivências do estudante, visualizando como participou e participa do cotidiano da universidade, do próprio movimento estudantil e da sociedade em geral.
Dentre os aspectos que permeiam cotidianamente a ação do serviço social e as manifestações dos estudantes na universidade, aparecem de forma intensa as questões referentes à cidadania, à democracia e à participação, e é nesse sentido que se encaminhou este estudo. Procurou-se entender a universidade e o movimento estudantil a partir das representações produzidas pelos estudantes, à luz dessas três categorias eleitas inicialmente como norteadoras da análise interpretativa.
Optou-se por uma metodologia que permitisse um estudo qualitativo e ao mesmo tempo proporcionasse uma visão geral a respeito dos estudantes da UFU.
Dessa forma a pesquisa foi dividida em duas fases. A primeira delas constituiu na aplicação de questionário em 5% dos estudantes matriculados nos cursos de graduação da UFU em 1992 e a análise dos dados permitiu a obtenção de um perfil desses estudantes.
A segunda fase constituiu na realização de entrevistas com os presidentes de alguns diretórios acadêmicos de cursos que foram apontados pelos alunos, na primeira fase, como possuidores de um movimento estudantil mais atuante, como os de História e Engenharia, e de outros cursos apontados como menos atuantes, como os de Direito e Artes. Ainda foram entrevistados os presidentes de diretórios considerados como de atuação média, como Medicina, Odontologia e Pedagogia. Entrevistou-se também o presidente do DCE, uma vez que é o órgão de representação máxima dos estudantes, e mais três alunos que não tiveram nenhuma participação como representantes de entidade estudantil. Estes últimos foram escolhidos aleatoriamente: foram os primeiros a procurarem a Divisão de Assistência ao Estudante no período da realização da pesquisa e se dispuseram a serem entrevistados.
Assim definiram-se onze sujeitos significativos para serem entrevistados com o objetivo de conhecer suas representações acerca das questões citadas anteriormente, objeto do presente estudo.
Espera-se que os resultados obtidos contribuam para a compreensão do cotidiano do estudante na UFU e para se repensar a universidade como um todo. É um estudo que privilegia a fala dos estudantes e valoriza o conhecimento desses sujeitos na medida em que apresentam a universidade a partir das suas representações. Por esta razão, é um trabalho rico e instigante porque traz a particularidade de ouvir um segmento da comunidade universitária que tem muito a contribuir para o debate sobre a universidade.
A maioria dos estudos realizados sobre a universidade e o cotidiano universitário são escritos a partir da visão dos educadores, dos profissionais, ou seja, dos estudiosos do assunto. São escassos os textos produzidos a partir da visão dos estudantes. Dessa forma, pensa-se que este trabalho é oportuno e útil ao serviço social, à comunidade estudantil e à universidade, na medida em que oferece subsídios para o repensar das práticas cotidianas no interior da instituição. Proporciona uma reflexão crítica sobre o movimento estudantil e a universidade. Possibilita, ainda, a proposição de algumas alternativas para a construção e reconstrução da universidade enquanto formadora do homem-cidadão e produtora de conhecimento, ciência e tecnologia. É um estudo que se insere no debate acerca do movimento estudantil, da educação e da universidade brasileira.
Esta dissertação sinaliza para a importância do estudante como sujeito inovador e capaz de ousar e de enfrentar novos desafios. Os estudantes estão presentes nas grandes discussões da vida nacional e nas situações marcantes da história da universidade e do país.
As reflexões aqui levantadas foram organizadas ao longo de quatro capítulos estruturados da seguinte forma: o primeiro capítulo apresenta um breve histórico da participação estudantil no Brasil, demonstrando os principais momentos em que os estudantes se posicionaram contestando ou reivindicando. Ressalta sua presença na luta permanente pelas liberdades democráticas, por melhores condições de vida e sua constante preocupação com os aspectos mais gerais da sociedade.
No segundo capítulo discute-se o momento atual pelo qual passa a universidade, enfatizando a cidadania, democracia e participação no contexto universitário.
O terceiro capítulo proporciona uma visão geral do movimento estudantil na Universidade Federal de Uberlândia, trazendo à tona um pouco da sua trajetória. É uma tentativa de situar o leitor frente ao locus do estudo em tela.
O quarto e último capítulo tece uma análise das representações dos estudantes, construindo um perfil geral destes, demonstrando como vêem a universidade e o próprio movimento estudantil. Este capítulo apresenta resultantes da pesquisa de campo, ou seja, a visão do estudante sobre a UFU e sobre o movimento estudantil existente na Instituição.
O trabalho contém dados expressivos para se entender a comunidade estudantil, segmento básico da universidade, e intenta fornecer subsídios à política estudantil e às ações desenvolvidas na instituição analisada no tocante às suas práticas e ao seu projeto institucional-pedagógico.

CAPÍTULO I

A PARTICIPAÇÃO ESTUDANTIL NO BRASIL: UM BREVE HISTÓRICO

Este capítulo traz uma apresentação do Movimento Estudantil no Brasil, ressaltando especificamente os principais fatos e aspectos para os quais os estudantes canalizaram suas ações nos vários momentos da realidade nacional. Não se pretende apresentar ou discutir aqui correntes teóricas básicas que visualizam o Movimento Estudantil a partir de diferentes explicações sociológicas, mas sim evidenciar concretamente a constatação da presença dos estudantes nos vários momentos vividos pela sociedade brasileira. Entende-se que este movimento não se dá desvinculado das questões que perpassam as relações e o contexto social e é influenciado por vários fatores.

"O Movimento Estudantil é o resultado de um conjunto de fatores históricos e sociais, tais como a condição de jovem, a origem familiar, a influência do tipo de carreira profissional escolhida, as teorias que aprende, as práticas da comunidade estudantil e as práticas políticas dentro e fora da universidade."

Os estudantes brasileiros protestaram contra coisas palpáveis e concretas, às vezes até distantes da sua realidade. Suas ações sempre desencadearam novas ações no contexto da sociedade. As razões para o desencadeamento desse movimento variam imensamente, mas são reivindicações e manifestações relacionadas aos interesses imediatos do mundo estudantil para um movimento maior da sociedade brasileira.

"Quando se fala de sociedade brasileira em todos os seus movimentos e transformação, não se pode prescindir da determinação precisa do significado da participação do estudante no processo de transformação social. O estudante não é, contudo, o agente humano que, por excelência, conduz o processo de transformação, mas sua expressão renovadora é associada com outras forças de renovação e ganha vitalidade quando se integra a um processo já desencadeado."

Dessa forma, sem dúvida, o movimento estudantil contribuiu para os avanços da sociedade e têm papel de fundamental importância na superação das questões sociais, na construção de um novo homem e de uma nova sociedade.
Antes da criação da UNE, os estudantes não tinham uma organização própria que permitisse uma militância regular, portanto procuravam participar politicamente sobretudo no seio de outras entidades.
Na verdade estiveram presentes nos vários momentos da vida nacional, desde as manifestações de rua contra os aumentos de preços das passagens dos bondes, contra a dominação das oligarquias, defendendo o Voto Secreto de Monteiro Lobato, da Liga Nacionalista de Bilac, até as passeatas contra a corrupção e a favor do impeachment do Presidente Collor, recentemente. Sabe-se que não foi somente a ação dos estudantes que interferiu nesses processos, no entanto é notória sua influência, principalmente na formação da opinião pública e no despertar de desejos idealistas, próprios da juventude. Dessa forma, não há como negar a sua contribuição para a sociedade, na renovação e no fortalecimento da vontade de ter um país diferente, um país onde predominem mais justiça e mais solidariedade, um país que possa construir sua democracia.
Então, mesmo não sendo uma ação decisiva e isolada, a atuação dos estudantes marcou momentos da realidade brasileira. O movimento estudantil não foi e não é homogêneo e nem harmônico. Nem todos os estudantes tiveram uma participação política ativa e contestadora da ordem estabelecida. Mas, fundamentalmente, duas correntes direcionaram a sua ação: uma voltada para a participação política em conjunto com a classe trabalhadora e outra contestadora da ordem a partir dos interesses das classes médias e da burguesia.
No Brasil Colônia, não querendo discutir o mérito do movimento, os estudantes tiveram participação ativa quando soldados franceses invadiram o Rio de Janeiro em 1710. Também tiveram papel inspirador no movimento da Inconfidência Mineira. A participação política estudantil contribuiu com o surgimento da imprensa acadêmica, tanto em Olinda quanto em São Paulo, cidades em que foram instaladas as primeiras faculdades brasileiras, além da Bahia e Rio de Janeiro.
As campanhas pela abolição da escravatura e pela instalação da república também foram marcadas pela presença dos estudantes. Estes tiveram grande significância no movimento literário, introduzindo mudanças no conteúdo da poesia, através de Castro Alves e Tobias Barreto. Estes abolicionistas desencadearam debates públicos, conferências e produziram escritos em prosa e verso em defesa da abolição da escravatura. Em São Paulo, outros grupos de estudantes se destacaram na empreitada de proporcionar a fuga de escravos. Participaram dessas ações estudantes do Rio e da Bahia. Com a causa ganha, sentiram-se vitoriosos, embora sabendo que não foram os únicos responsáveis pela vitória. Mas foi um movimento que tomou corpo nas faculdades e a imprensa acadêmica contribuiu para o processo de reflexão sobre o tema e sua divulgação. Ao mesmo tempo se envolveram na campanha republicana, até porque julgavam que a abolição viria como conseqüência automática da república.
No final do Império, os estudantes participaram de um dos primeiros movimentos de massa no Brasil. Foi um movimento contra o Imperador, quando este aumentou o preço das passagens dos bondes. Os estudantes receberam a revolta do povo com entusiasmo e espontaneamente a ela se associaram.
No que se refere às instituições de ensino, elas controlavam as atividades dos professores e estes eram os controladores das atividades estudantis. Controlavam suas faltas, sua aprendizagem e principalmente o comportamento dos estudantes. Os estatutos dessas instituições tratavam das formas de punição dos que apresentavam comportamento inaceitável.
Os estudantes não contavam com informações sobre dívida externa, evasão de recursos e processos de comercialização existentes no país exportador de matéria-prima e importador de manufaturados.
Durante a Primeira República a atuação política dos universitários se tornou dispersa pela falta de uma coordenação e também pela ausência de plataformas de luta que os mobilizassem. Mas não estavam indiferentes aos conflitos político-sociais. Houve manifestações esporádicas. Começavam a delinear-se os primeiros traços de uma política educacional estatal. Até então a política educacional acontecia praticamente no âmbito da Igreja.
Os estudantes participaram dos movimentos contra a Light e contra o aumento das passagens dos bondes. Engajaram-se na Campanha de Rui Barbosa à presidência da república, mas não conseguiram dar um sentido permanente e contínuo à sua participação.
Com a primeira guerra, o nacionalismo econômico abrindo possibilidades de trabalho nas várias indústrias que foram improvisadas, os estudantes ingressaram na Liga Nacional, fundada, entre outros, por Olavo Bilac e, despertos para os problemas nacionais, levaram à frente várias campanhas, inclusive a do combate ao analfabetismo.
Na década de 20, a juventude em São Paulo experimenta um período de entusiasmo com a liga do Voto Secreto, que deu origem posteriormente ao grupo formador do Partido Democrático. Foi um momento de contribuição no aceleramento do processo de luta pela democratização, pois influenciou novos agrupamentos estudantis, generalizando a tese do voto direto, adotado, em princípio no Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade de Direito.
O movimento constitucionalista de São Paulo, conduzido sobretudo pela classe média em ascensão, buscando autonomia do Estado e a constitucionalização da Federação, contou com a adesão da mocidade universitária. Foi um momento de acentuada dissociação operário-estudantil, verificado desde 1917, quando das greves deflagradas pelos trabalhadores paulistas. Naquela época, os estudantes não só não apoiaram o movimento grevista, que se estendeu por várias cidades paulistas e outros estados, como também assumiram algumas atividades dos trabalhadores. Por outro lado, estes não participaram do movimento constitucionalista, em que os estudantes tanto se empenharam junto com a nova burguesia emergente.
No contexto da educação, a reforma de 1925 procurava impedir a entrada da política e da ideologia não oficiais no ensino superior. No que se refere aos estudantes, determinava a introdução da cadeira de Instrução Moral e Cívica nos currículos e, como medidas repressivas, foram institucionalizadas formas de participação controlada. Incentivava-se a formação de associações de estudantes, no âmbito de cada estabelecimento de ensino, reconhecidas oficialmente para fins científicos, literários e de assistência. Essas associações poderiam receber recursos do Estado, consignados nos orçamentos de cada escola. O reconhecimento e o apoio em relação a essas associações consistiam em mecanismos de controle dos estabelecimentos de ensino e, indiretamente, do governo.
Outra forma controladora dos estudantes era a indicação dos colegas que teriam ensino gratuito. Até então, o ensino era pago pelos estudantes e cada escola superior da União daria gratuidade de ensino para cinco alunos, dos quais três eram indicados pelos próprios colegas.
Em 1927, as conclusões do Congresso de Ensino Superior realizado no Rio de Janeiro foram no sentido de que todo o ensino superior no Brasil se organizasse sob a forma universitária. A formação dessas universidades deveria ser a partir de duas faculdades destinadas ao ensino profissional, mantendo autonomia jurídica e pedagógica, às quais se acrescentaria uma Faculdade de Letras e outra de Ciências e Altos Estudos (Filosofia), sendo o ensino gratuito nestas duas últimas. Realizou-se também, em Belo Horizonte, a II Conferência Nacional de Educação, onde foram levantados os principais pontos no sentido de impedir um único tipo de universidade para todo o país. Cada universidade deveria organizar-se conforme suas condições peculiares e as da região onde se localizava. As pesquisas deveriam ser desenvolvidas de acordo com as condições e necessidades regionais e as universidades deveriam gozar de autonomia integral, inclusive financeira.
Vargas assumiu o poder em 1930 com o auxílio da burguesia e de certos setores militares. Na reestruturação da superestrutura do Estado, foi criado, em 1930, o Ministério da Educação e Saúde. A partir daí, implementou-se o projeto de universidade consubstanciado na fusão de várias instituições isoladas.
De acordo com o Estatuto das Universidades Brasileiras, criado em 1931, o corpo discente de cada instituto de ensino superior, incorporado ou não em universidade, deveria organizar diretórios de estudantes, compostos, cada qual, de nove membros, no mínimo. Seus objetivos seriam os de "criar e desenvolver o espírito de classe, defender os interesses gerais dos estudantes e tornar agradável e educativo o convívio entre os membros do corpo discente."
Como o Estatuto foi criado num tempo de intensa repressão política, evidencia-se o controle sobre as atividades dos universitários. Implementam-se dispositivos para dificultar a mobilização política da comunidade universitária. É negado ao estudante tomar parte oficialmente em qualquer atividade de caráter político-partidário dentro da universidade. Não poderia apresentar-se em nenhuma solenidade ou evento com uniforme ou emblema de partidos políticos. Mas, ao mesmo tempo, esse controle repressivo era amenizado com a distribuição de algumas bolsas de estudo que também exerciam mecanismo de controle, uma vez que o estudante teria o benefício suspenso se fosse considerado culpado de qualquer ação indigna ou fosse reprovado.

"Durante a vigência dessa política autoritária, criou-se uma entidade das escolas superiores de todo o país. Primeiro o Conselho Nacional de Estudantes, depois a União Nacional de Estudantes. A UNE foi o resultado da tentativa de cooptação dos estudantes opositores ao autoritarismo pelo Estado, interessado no seu controle por mecanismos corporativos."

Existia desde 1929 a Casa do Estudante do Brasil, fundada por um grupo de estudantes cariocas, cujo caráter era beneficiente-assistencial. Era também um instrumento de troca entre o Estado, distribuidor de empregos e recursos financeiros, e os estudantes pobres, fornecedores de apoio político. A Casa do Estudante mantinha residência para estudantes procedentes de outras cidades fora do Rio e promovia atividades esportivas e de lazer. Portanto, tinha interesse na associação que congregaria todos os estudantes universitários e tinha pretensão de filiar-se à Confederação Internacional dos Estudantes, sediada em Bruxelas. Para isso precisava ser reconhecida pelos estudantes em todo o país como sua representante.
Em agosto de 1937, iniciou-se no Rio o Conselho Nacional de Estudantes, promovido pela Casa do Estudante e líderes de diversas cidades do país. O Conselho foi solenemente instalado pelo Ministro da Educação e os participantes aprovaram uma pauta que proibia a discussão de temas políticos. Os Estatutos do Conselho, aprovados durante as sessões, propunham, como objetivo principal, o caráter exclusivo da representação estudantil. Seria composto por representantes de todos os centros acadêmicos e associações estudantis. Em 1938, já em plena vigência do Estado Novo, o Conselho reuniu-se novamente, denominando-se II Congresso Nacional de Estudantes. Congresso este que, composto de representantes do Ministério da Educação e de delegados de oitenta centros acadêmicos e associações estudantis, aclamou Vargas seu presidente de honra, bem como os interventores nos Estados componentes da Comissão de Honra, os ministros e reitores membros honorários. Dentre as teses apresentadas, predominavam as que tinham a simpatia do Estado. As principais nessa linha diziam respeito à luta pela Siderurgia, nacionalização do Ensino, combate ao analfabetismo, formação da força de trabalho industrial, assistência social aos estudantes. Outras, entretanto, continham críticas ao regime autoritário, como as que chamavam a atenção para a necessidade de incluir uma cadeira de Sociologia em todos os cursos a fim de evitar o inculcamento, nos estudantes, de ensinamentos reacionários.
Também foi apresentada durante o conselho a tese da criação da UNE, União Nacional dos Estudantes, transformando o Conselho Nacional em Conselho Consultivo e conferindo à Assembléia Geral poderes para eleger a presidência da UNE. A Casa do Estudante do Brasil seria uma espécie de departamento administrativo-assistencial. A proposta ainda apresentava uma política educacional que defendia a universidade aberta a todos, diminuição das taxas de exames e matrículas, a livre associação dos estudantes dentro da universidade, representação paritária nos conselhos universitário e técnico-administrativo, a elaboração de currículos por comissões de professores especializados e representantes estudantis, aproveitamento dos estudantes em cargos de monitores e estagiários, cargos estes a serem criados. Os Estatutos da UNE foram aprovados nesse congresso.
Um ano depois da sua criação, com o apoio da Casa do Estudante do Brasil, as relações entre as duas entidades foram cortadas devido à proximidade de relações e interesses entre a Casa do Estudante e o Estado. Isso não agradou à UNE, que foi expulsa da Casa do Estudante do Brasil.
Antes de 1938, data efetiva da criação da UNE, a participação do estudante não se constituiu num movimento contínuo e nem permanente de conformação própria. Na realidade, os estudantes circunstancialmente se engajavam em outros movimentos da sociedade.
Na década de 40, as atividades da UNE consistiram na organização de federações estudantis nos Estados, na resistência contra o registro da imprensa estudantil no Departamento de Imprensa e Propaganda, órgão da Presidência da República encarregado da censura, no protesto contra os aumentos de tarifas dos transportes coletivos e de taxas escolares, no estabelecimento de relações com entidades internacionais, principalmente a Confederação Internacional dos Estudantes e a União dos Estudantes da América.
A orientação política da UNE e da maioria dos estudantes era contrária ao regime autoritário do Estado Novo, mas a repressão policial às manifestações políticas fez com que essa posição se deslocasse para o plano internacional, combatendo-se o autoritarismo no Brasil pela defesa da causa dos países de regime liberal-democrático, em guerra contra os de regime facista, em muitos aspectos semelhante ao daqui.
O II Congresso da UNE, realizado no Rio em dezembro de 1938, trouxe na sua pauta, entre outros temas, os da situação cultural, função da universidade, formação e orientação técnica, bolsas de estudos, viagens de intercâmbio universitário, cooperação intelectual dos estudantes, influência do intercâmbio cultural e artístico na unidade do pensamento universitário, bibliotecas, situação econômica e taxa de matrícula.
A primeira diretoria da UNE defendia um plano de reforma educacional no país, resumindo as conclusões do Congresso sobre as dezenas de teses apresentadas, sendo o plano mais importante a reforma universitária.
Esta diretoria passou a coordenar, com parcos recursos materiais, o movimento estudantil brasileiro, a vida e as atividades das organizações estudantis espalhadas pelo país, procurando dar a esse movimento e a essas organizações um cunho de unidade e um sentido nacional. Apoiou nessa fase a campanha dos estudantes do Paraná contra o aumento das taxas de matrícula pretendido pelas diretorias das escolas que compunham a universidade daquele estado, a campanha pela mudança da portaria 142, que exigia o sigilo das notas no decorrer do ano letivo, e a da nacionalização do Ensino.
Uma das maiores dificuldades dessa primeira diretoria foi a divergência com a Casa do Estudante, cujos métodos se vinculavam ao prestígio pessoal da presidência da Casa.
A entidade apresentou resoluções no sentido de impedir novos aumentos de taxas de contribuições escolares e de implantar a federalização das faculdades particulares. Instituiu a carteira única do estudante para facilitar a movimentação das caravanas universitárias e obtenção de vantagens econômicas para os estudantes nos transportes, na compra de livros e nas diversões. Enfatizou também as atividades cívicas, lançando uma mensagem à nação, no dia da Independência, pela completa emancipação do nosso querido Brasil. Fundou ainda o Teatro da UNE.
Os Estatutos da entidade distinguiam as associações estudantis em representativas, culturais, esportivas, femininas e assistenciais.
Sem sede desde o seu despejo da Casa do Estudante e por isso funcionando precariamente, a UNE voltou-se para sua inserção no quadro político brasileiro. Desenvolveu campanha contra o Eixo. Os estudantes se bateram pela derrota do nazi-facismo internacional e pela democratização nacional. Percorreram em comissões as redações dos maiores jornais do País para expressar solidariedade à causa aliada, o que funcionou como bloqueio junto à imprensa simpatizante do Eixo. O movimento estudantil produziu efeitos sobre a opinião pública nacional, tanto que os nazistas e facistas sustentaram, na época, que as atividades dos estudantes não passavam de manifestações de baderneiros e jovens irresponsáveis. Mas estes assumiram publicamente a posição de vanguardeiros das manifestações de rua dos movimentos de massa antifascistas, estimulando o crescimento no Brasil da corrente partidária dos Aliados, que se irradiava a partir da UNE e demais entidades estudantis. Cabe-lhes o mérito de terem deflagrado, corajosamente, as lutas contra as forças estrangeiras infiltradas no país, denunciando-as publicamente e conseguindo contê-las com seu clamor. Manifestações e passeatas estudantis imobilizaram as tramas que os simpatizantes do Eixo preparavam para pôr em prática.
O controle dos bens dos súditos do Eixo por parte das autoridades brasileiras, medida governamental que se seguiu à campanha estudantil, determinou também o fechamento de clubes e agremiações de origem alemã, italiana e japonesa, uma vez que essas entidades reuniam grupos simpatizantes pela causa totalitária e promoviam atividades e demonstrações de solidariedade ao nipo-nazi-facismo.
No Rio, o fechamento do Clube Germânia fez com que os estudantes reivindicassem ao Presidente Getúlio Vargas a cessão do edifício da praia do Flamengo, sede do clube, para ali instalarem várias entidades estudantis. Apesar do despacho favorável, o Ministro da Educação, Gustavo Capanema, expressou dúvidas quanto à viabilidade da cessão do imóvel, sem o seu tombamento e o levantamento dos bens nele contidos. Como vários órgãos federais almejavam instalar-se no prédio, os estudantes decidiram, então, ocupá-lo. A UNE passava, assim, a ter uma sede, onde os estudantes se estabeleceram reafirmando seus propósitos contra o nazismo.
Nesse período, o movimento estudantil não apresentava muitas divisões internas e isso contribuía para o sucesso dos seus propósitos.
Em 1943, o Ministério da Educação criou a Juventude Brasileira, conforme modelo da Juventude Facista italiana e fez a sua instalação na sede da UNE. O presidente da UNE se demitiu e a entidade enfrentou crise tão grave quanto a do despejo da Casa do Estudante do Brasil.
Em março de 1945, com a vitória dos aliados, os estudantes resolveram brigar no plano nacional pela anistia.
Prosseguiram a campanha iniciada pela democratização do país. Na repressão ao movimento estudantil na praça da Liberdade, em Recife, ocorreu a morte de um estudante e esse fato fez romper a trégua entre os estudantes e a ditadura. A morte do estudante pernambucano arregimentou estudantes de todo o país contra o Estado Novo. A UNE declarou guerra ao governo, mobilizando estudantes, políticos e trabalhadores para frustrar a chamada União Nacional em torno de Vargas.
Conclamaram o povo, nas escadarias do Teatro Municipal de Recife, à luta pela anistia e pela democratização. Obtiveram a vitória da anistia, mas, após esta, veio a cisão do movimento estudantil até então unificado. Luiz Carlos Prestes recebeu expressivo apoio dos estudantes, que passaram a formar a esquerda liderada pelo Partido Comunista Brasileiro. Contudo, a maioria dos estudantes se reuniu em torno da UDN (União Democrática Nacional), liderada pelo Brigadeiro Eduardo Gomes.
Derrubado o Estado Novo, empossado o governo Marechal Eurico Dutra, desencadeou-se nova reação policial contra o movimento estudantil. Em face disso começou a haver uma aproximação entre os estudantes udenistas e comunistas.
De 1947 a 1950 a UNE foi dirigida por estudantes vinculados ao partido socialista e se destacou na luta pela defesa do patrimônio territorial e econômico do Brasil, empolgando a juventude, a partir do início dessa fase com a campanha para a criação da Petrobrás e pela proteção das riquezas minerais brasileiras. A repressão policial contra os estudantes se intensificou, nesse período, principalmente depois do lançamento da campanha O Petróleo é Nosso. Essa campanha, talvez o maior movimento de opinião pública já registrado no Brasil, foi lançada pela UNE, em 1947, simultaneamente no Rio e São Paulo.
Nesse período a UNE foi invadida pela primeira vez pelo esquema policial do governo Dutra, por ocasião do Congresso da Paz e dos protestos contra o aumento dos preços das passagens de bondes.
Uma das maiores conquistas dessa fase foi a gratuidade do ensino universitário, obtida em nova campanha da UNE.
Em 1951, Getúlio Vargas retornou à Presidência da República pelo voto popular direto, apoiado, principalmente, por Ademar de Barros, do PSP paulista, pelo PTB, partido de Getúlio, e por alas estaduais do PSD e UDN.
A União Nacional os Estudantes vinha sendo dirigida, desde 1949, por um grupo de estudantes direitistas. Nesse período, foi dominada pela infiltração norte-americana, sendo na realidade direcionada pela estudante Helen Rogers, enviada pelo departamento de Estado Norte-Americano, em atendimento a solicitação do estudante brasileiro Paulo Egydio Martins, presidente da União Metropolitana de Estudantes do então Distrito Federal.
A esse período, 1950-1956, corresponde um decréscimo na participação política estudantil, quando a apatia do movimento se viu agravada pelo surgimento do peleguismo universitário. O aliciamento dos pseudolíderes estudantis pelo Ministério da Educação atestava o quanto a entidade era importante no cenário nacional.
Os dispositivos estatutários progressistas da UNE é que garantiram o prosseguimento da participação, ainda que sem entusiasmo, da entidade na campanha pela criação da Petrobrás, bem como a greve contra o provimento ilegal de Cátedra, as manifestações contra fraudes nos exames e as greves em protesto contra a ineficiência das faculdades.
Com o início do governo de Juscelino Kubitscheck, a liderança estudantil reacionária teve sua atenção mais voltada para a obtenção de empregos públicos criados com o surgimento de novas empresas do que propriamente para o enfrentamento à repressão policial aos seus colegas progressistas. O grupo democrático se aproveitou desse momento e retomou a direção da entidade, reconquistando-a logo depois da campanha, que paralisou o Rio por dois dias, contra o aumento dos preços das passagens dos bondes.
Encerrou-se a fase direitista no movimento estudantil, também chamada período Negro ou Policial da UNE, ou ainda, simplesmente, o tempo de Paulo Egydio .
Em seguida se deu a recuperação política do movimento estudantil, quando o Presidente Juscelino Kubitschek solicitou seu apoio para salvar o regime, pois a greve estudantil propiciava rearticulações golpistas contra o seu governo. Não querendo servir de instrumento ao golpismo, os estudantes se viram obrigados a negociar.
Durante a greve contra o aumento das passagens dos bondes, os sindicatos operários se solidarizaram com a UNE, surgindo a União Operário-Estudantil contra a Carestia. Com a repercussão da União Operário-Estudantil, os Estados Unidos enviaram estudantes para tentar desarticular o movimento, procurando inserir o anticomunismo como plataforma básica das atividades programadas pelos estudantes brasileiros. A proposta foi rejeitada pelos diretores da UNE com o argumento de que não interessava à entidade a indústria do anticomunismo. Mesmo assim, os órgãos de repressão e propaganda do Brasil e Estados Unidos encarregaram-se de fazer infiltração ideológica do capitalismo norte-americano-ocidental tanto sob formas sutis quanto através dos cassetetes. A diretoria da UNE promoveu um amplo movimento de politização estudantil, diminuindo-se o controle que o Ministério da Educação sobre ela exercia. Formou-se a primeira frente única de católicos e comunistas no movimento estudantil, a partir da UME .
Em 1957, a UNE liderou a campanha contra a empresa americana American Can, que ameaçava destruir a indústria brasileira de latarias. No ano de 1958, desencadeou a campanha contra Roberto Campos, sobretudo porque propunha o acordo de Roboré, que previa aplicações de recursos da Petrobrás na Bolívia. A Campanha foi coroada com a demissão de Roberto Campos da Superintendência do BNDE. A UNE acumulava, assim, mais uma vitória no rol de suas campanhas. Conseguiu, também, provocar a instalação de uma CPI para verificar denúncias de corrupção na Shell e na Esso.
Com uma atuação voltada para as questões específicas da educação, a UNE promoveu o 1º Seminário Nacional da Reforma do Ensino, engajou-se na campanha de defesa da Escola Pública, contribuindo para os debates sobre a elaboração e aprovação da Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional. Desse Seminário resultou a Declaração da Bahia, abordando três assuntos básicos: A Realidade Brasileira, A Universidade no Brasil e A Reforma Universitária.
Dessa forma, a UNE mobilizou os estudantes, que se manifestaram em diversos momentos sobre a ordem política, econômica e educacional.
Em 1960, a campanha para as eleições presidenciais mobilizou o país, tendo a UNE enfrentado dificuldades para participar dela devido à proibição de seu Estatuto. Nesse período, começa a ascensão católica no movimento estudantil, com o predomínio da Ação Popular - AP - na UNE, que surgiu da dissensão entre o grupo estudantil da JUC (Juventude Universitária Católica) e a hierarquia religiosa da Igreja Católica.
Na crise nacional gerada pela renúncia do Presidente Jânio Quadros e a tentativa de setores militares e outros no sentido de impedir a posse do vice-presidente, a UNE agiu rapidamente, decretando greve geral dos estudantes, deslocando sua diretoria para o Rio Grande do Sul, centro de resistência legalista, e pronunciando-se através da Rede da Legalidade, que tinha à sua frente Leonel Brizola. A sede da UNE no Rio foi fechada e os estudantes fizeram circular nota dizendo que a Constituição Brasileira não seria desrespeitada e que a UNE defenderia a democracia, embora a polícia do governador do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda, perseguisse seus líderes.
A crise gerada pela renúncia de Jânio Quadros foi contornada com a posse do vice-presidente João Goulart, introduzindo-se o regime parlamentar.
Em 1962, realizou-se o 2º Seminário Nacional de Reforma Universitária, em Curitiba. O Seminário deu origem à Carta do Paraná, que se dividiu igualmente em três partes principais: Fundamentação Teórica da Reforma Universitária, Análise Crítica da Universidade Brasileira e Síntese Final: esquema tático de luta pela Reforma Universitária.
A Carta do Paraná repudia o ensino que divide o homem em compartimentos estanques, reivindica a expressão de humanismo integral e critica a cultura dominante na universidade que internalizou valores e interesses da classe média sem levar em conta valores e interesses da maioria da população brasileira. Discorda do repasse de recursos do Estado ao ensino particular e dá ênfase à participação dos alunos nos órgãos decisórios das universidades. Essa participação, considerada fundamental, é fixada em um terço.
Embora sem alcançar seus objetivos iniciais, a greve pelo um terço não foi considerada um fracasso total, pois, no seu discurso, contribuiu para aumentar a consciência política do estudante e para sensibilizar a opinião pública em torno dos problemas da universidade no Brasil.
A UNE se engajou definitivamente em todas as questões políticas de relevância nacional, expressas, em geral, pelas propostas de reformas sociais. Mas a luta político-ideológica no seio da UNE atingia o seu auge com os setores progressistas se batendo entre si tão intensamente quanto ocorria no combate principal entre estes e o conservadorismo. No movimento estudantil, a luta intensa ocasionava divisões: ao mesmo tempo que se lançava a palavra de ordem legalidade com Jango, poderosos setores universitários se integravam na tendência pró-luta armada com Leonel Brizola. Toda essa ebulição política, com sua carga de divisões internas e provocações golpistas, não impediu, contudo, que a UNE promovesse iniciativas bastante positivas, principalmente no que tange à politização estudantil. Os estudantes, efetivamente, tomavam consciência da realidade nacional e se aproximavam do povo, participando, por exemplo, da campanha de alfabetização de Paulo Freire e campanhas sanitárias de erradicação de doenças no campo.
Os estudantes tiveram efetiva participação nos grandes comícios pelas reformas de base, e, juntamente com as representações operárias e sindicais, apoiavam o Presidente Goulart quando dos anúncios de decretos que contrariavam os interesses dos latifundiários e grandes proprietários. Estes se disseram dispostos a matar ou morrer, mas não aceitavam medidas comunistas. O anticomunismo era a tática propagandista dos senhores que se sentiam ameaçados nos seus feudos, e se acentuava a exploração política da fé religiosa das massas humildes.
A gestão da UNE 1963/64, tendo à frente José Serra , viveu um dos períodos mais agitados, social e politicamente, da história do Brasil. Com o golpe de 64, os estudantes acorreram às ruas participando das manifestações antigolpistas. Os militares detonaram tiros contra a massa estudantil e incendiaram a sede da UNE, que foi dissolvida e passou a viver na clandestinidade.
A ditadura impõe ao país uma subordinação aos interesses do bloco capitalista, sob o comando norte-americano. Valia tudo para acabar com a subversão comunista. Suspender e expulsar estudantes, prender e torturar, demitir professores, invadir faculdades, intervir policialmente nas entidades estudantis, acabar com qualquer tipo de reuniões ou assembléias estudantis, acabar com a participação discente nos órgãos colegiados da administração universitária, destruir a Universidade de Brasília, enfim, acabar com o processo de renovação do movimento estudantil e da universidade.
As autoridades calaram os estudantes durante todo o período de governo do Marechal Castelo Branco. A Lei Suplicy de Lacerda destruiu a autonomia e a representatividade, transformando as entidades estudantis em apêndices do Ministério da Educação. Foi uma fase de repressão, de violência contra estudantes, intelectuais e universidades. Os líderes estudantis foram presos, exilados ou simplesmente desaparecidos.
Das lideranças que escaparam da repressão, algumas tentaram reorganizar o movimento estudantil, sob o comando da União Metropolitana dos Estudantes (UME), buscando inclusive o diálogo com as novas autoridades. E outras, ligadas às idéias marxistas, desenvolveram ações no sentido da formação de uma frente estudantil, uma vez que naquele momento não se conseguia a hegemonia da esquerda. A frente elegeu uma junta governista que, em regime colegiado, deveria dirigir os destinos da UNE.
Os objetivos imediatos dessa junta eram a derrota no Congresso do projeto de extinção da UNE, a recuperação da sede da Entidade e a organização do 27º Congresso Nacional dos Estudantes, objetivos esses que não foram atingidos.
O Congresso Nacional aprovou o projeto de extinção da UNE e criou, em seu lugar, o Diretório Nacional dos Estudantes , sediado em Brasília, que só poderia reunir-se, ordinariamente, nas férias escolares. Proibia greve e propaganda político-partidária por parte das entidades estudantis. O movimento estudantil estava, assim, submetido à tutela do governo.
Os estudantes vaiaram o Presidente Castelo Branco na aula inaugural da Universidade do Brasil, na ilha do Fundão, quando cinco deles foram presos pela polícia do Exército. Esse fato revitalizou a solidariedade e a mobilização dos Diretórios Acadêmicos e da UME.
Acentuava-se o repúdio à Lei Suplicy de Lacerda. Em 1965, realizou-se o 24º Congresso da UNE em São Paulo, deflagrando-se a greve que paralisou mais de sete mil alunos da Universidade de São Paulo que se manifestavam contrários a quaisquer medidas ameaçadoras da democratização do ensino. Neste Congresso, prevaleceu o domínio da Ação Popular, que, junto com os Independentes e Política-Operária, Partido Comunista do Brasil e outras facções menores, pronunciou-se contrariamente à participação estudantil nas eleições dos Diretórios Acadêmicos e Diretórios Centrais de Estudantes, conforme determinava a Lei Suplicy de Lacerda. Os filiados ao Partido Comunista Brasileiro votaram a favor da participação nas eleições. A prevalência da decisão de não participar nas eleições gerou o primeiro rompimento de correntes dentro do Movimento Estudantil, no período posterior ao golpe de 64, passando os comunistas do PCB à oposição interna.
A não participação nas eleições, como forma de protesto, a subestimação das reivindicações de caráter educacional e o novo surto de repressão policial militar tornaram a enfraquecer o movimento estudantil.
Os Diretórios Acadêmicos Livres desenvolveram intensa atuação nas passeatas promovidas pela UNE, destacando-se a de solidariedade na campanha contra a destruição da Universidade de Brasília. Várias entidades livres, apesar de reconhecerem o erro de sua independência das faculdades, mantiveram uma atitude constante de denúncia e resistência ante a ditadura.
Em 1966 o movimento estudantil se fixou na temática das liberdades democráticas para a denúncia da intervenção norte-americana na educação e em outros setores da vida nacional . As lideranças estudantis se aprofundavam nas reivindicações universitárias, recomendando que os alunos não pagassem a anuidade instituída a partir desse ano. Tal atitude tinha por significado o repúdio às determinações norte-americanas de privatizar o ensino brasileiro e não propriamente o valor econômico do custo das anuidades. O movimento estudantil se mobilizou também para a invasão dos restaurantes universitários, arbitrariamente fechados, e para as greves contra o pagamento de anuidades.
O vigésimo oitavo congresso, previsto para Belo Horizonte, foi proibido pelo governo federal; a sede da União Estudantil de Minas, fechada pelo Departamento de Vigilância Social, foi ocupada por tempo indeterminado pela Polícia Militar. Enquanto o esquema de repressão policiava a sede do Diretório Central, a UNE se reunia num salão do porão da Igreja São Francisco de Assis, convento dos padres Franciscanos.
Os resultados deste congresso se referiam à necessidade de vincular a defesa da cultura e o combate ao terror e ao obscurantismo à superação do estado de subdesenvolvimento decorrente de uma dependência econômica internacional, que desvirtuava nossa cultura, fazendo da alienação do povo o seu instrumento de preservação.
Setembro de 1966 foi um dos períodos mais conturbados da história do Movimento Estudantil Brasileiro. Mais de cinqüenta mil estudantes se mobilizaram contra o pagamento das anuidades e a favor das liberdades democráticas.
Nesse mês, com o apoio do Presidente Castelo Branco, foi criado o Movimento Universitário para o Desenvolvimento Econômico Social - MUDES .
Em vez de aderir ao programa proposto pelo MUDES, os estudantes estenderam suas manifestações a outros pontos do país. Elegeram o dia 22 de setembro como o dia nacional de luta contra a ditadura. A UNE decretou greve geral no dia 18 de setembro, que culminou, na madrugada do dia 23, com o massacre da Praia Vermelha. Desde a véspera do massacre, após uma passeata em que o “slogan” mais ouvido foi o povo organizado derruba a ditadura, seiscentos estudantes estavam presos por centenas de policiais, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Alguns dias depois do massacre que provocou a morte de 28 pessoas, os estudantes realizaram a Passeata dos Cem Mil, quando o governo federal ordenou um recuo tático, retirando das ruas o aparato militar e permitindo as manifestações .
A rebelião dos estudantes se manteve no governo Costa e Silva, contra o prolongamento da ditadura de Castelo Branco. Os estudantes continuaram a ser presos, espancados e processados.
O novo governo, além de não se preocupar com a democratização e reestruturação das universidades, reduziu suas verbas, ocasionando o fechamento de algumas delas.
Na realização do vigésimo nono congresso da UNE, em Campinas, houve invasão policial, com depredação do convento dos padres beneditinos e a prisão de estudantes e sacerdotes. Mas, assim mesmo, elegeu-se o novo presidente e, em meio à repressão, elaborou-se um documento de denúncia à ditadura e ao imperialismo e contra a intervenção nas universidades. Definiram-se propósitos de aliança com as classes trabalhadoras que poderiam contribuir para a transformação social. A UNE posicionou-se contra a reforma universitária proposta pelo governo e contra o Acordo MEC/USAID. Decidiu promover seminários sobre o Acordo, as lutas de libertação nacional, a internacionalização da Amazônia e a Aliança Operário-Camponesa Estudantil. Intensificou também a luta contra o decreto que proibia greves estudantis.
O movimento estudantil voltou a crescer quando da morte de um estudante no restaurante do Calabouço no Rio de Janeiro, em 1968. A polícia assassinou o estudante Edson Luiz numa ação desencadeada de surpresa, enquanto vários estudantes faziam suas refeições. Essa atitude criou um clima emocional facilitador da integração do movimento estudantil com o povo. O fato despertou forças de oposição e protesto. Pessoas e setores que se mantinham indiferentes, de súbito se mobilizaram num esforço coletivo para deter a violência. Violência contra os direitos fundamentais do homem. Milhares de pessoas foram às ruas nas principais cidades, em demonstrações pacíficas, das quais as mais importantes foram realizadas no Rio, tornando-se conhecidas como as Passeatas dos Cem Mil Manifestantes. Estas passeatas davam a impressão de que se vislumbrava uma fase de abertura democrática.
Esta sensação fez com que muitos se manifestassem sem medo. Jornalistas escreveram mais artigos de denúncias sobre a injustiça e a opressão.
Em agosto de 68, a brutalidade aconteceu em Brasília. A UnB foi invadida, arrombadas salas de aulas e os alunos, professores e parlamentares espancados.
Foi o tempo de arrocho salarial, da desmobilização sindical e da tortura.
No trigésimo congresso da UNE, previsto para Ibiúna, todos os congressistas foram presos, inclusive suas principais lideranças . Era o início de um período caótico para o movimento. As prisões em massa e o clima de terror policial tornavam difícil qualquer participação dos estudantes em suas entidades, a maioria delas invadidas e fechadas. Foi um tempo de medo e silêncio. A repressão era grande, a colocação de um simples cartaz contra o ensino pago exigia um cuidadoso esquema de segurança. As metralhadoras e as viaturas policiais eram uma constante nos campi universitários.
A decretação do Ato Institucional nº 5 interrompe o movimento estudantil em 68. Sem condições para se reunirem, os estudantes começaram a se agrupar e se arregimentar em organizações de luta armada. Era um caminho que eles acreditavam poder conduzi-los à libertação.
Em 1968, concretiza-se a Reforma Universitária com a Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968.

"A UNE entendia a reforma universitária como uma transformação total da universidade, com abertura para o povo, a participação efetiva dos estudantes na sua direção e orientação de ensino voltada para os problemas nacionais, servindo assim de instrumento de luta de libertação dos trabalhadores e povo brasileiro."

Contudo, antes de findar o ano de 1968, o governo legislou a Reforma Universitária consentida pelo movimento militar de 1964. A Reforma tratou do regime jurídico e administrativo das universidades, da estrutura, implantando a matrícula por disciplina, aumento de vagas no ensino superior, ciclo básico e profissional, reconheceu a indissolubilidade entre pesquisa e ensino, criou o sistema departamental.
A Reforma trouxe ainda a implantação dos cursos de pós-graduação, a instituição da monitoria para os alunos e a expansão do ensino superior.
Como o Congresso Nacional permaneceu fechado de dezembro de 1968 a outubro de 1969, o governo militar passou a editar Atos Institucionais controlando as instituições e a sociedade civil.
Com a doença do Presidente Costa e Silva, os militares não respeitaram o texto constitucional, sendo colocado na Presidência outro militar, Emilio G. Medici, ao invés do Vice-Presidente, Pedro Aleixo.

"Com o governo de Emílio G. Médici, teve início o período mais notável do milagre econômico, da luta armada desenvolvida pelas organizações clandestinas e da fortíssima repressão. Enquanto isso a UNE e o movimento estudantil tinham as vidas de suas lideranças ceifadas pelo movimento de 64."

Na década de 70 foi criado o Conselho de Presidentes de Centros Acadêmicos, para tentar coordenar as lutas a nível da universidade. Os estudantes da USP boicotaram o restaurante universitário que duplicara o preço das refeições.
Em 1972 e 1973 realizaram-se os primeiros encontros de estudantes por área de formação. As prisões e assassinatos de estudantes motivaram assembléias e protestos em diversas escolas.
Em 1975, as perseguições políticas, prisões e mortes prosseguiram e as lutas por melhores condições de ensino também continuaram.
Surgiram as primeiras tendências políticas do Movimento Estudantil e os primeiros diretórios centrais desvinculados da burocracia universitária. Todas as tendências têm, nas suas pautas de reivindicação, a luta por mais verbas contra o ensino pago e pela democratização da universidade.
Em 1976, os estudantes realizaram em São Paulo o II Encontro Nacional dos Estudantes, reunindo-se a nível nacional pela primeira vez após 64. O encontro aconteceu na USP, reunindo 281 delegados e mais de 500 observadores. Foi nesse encontro que os estudantes decidiram desenvolver a campanha do voto nulo nas eleições municipais daquele ano e deram os primeiros passos para a reorganização do movimento estudantil. Para tanto, decidiram promover a Semana por Liberdades Democráticas e outras formas de manifestação. Assim, por exemplo, em Porto Alegre, cerca de dois mil estudantes, professores e funcionários deixaram de usar o Restaurante Universitário, em protesto contra o aumento dos preços das refeições, sendo também seguidos por vários outros no país. Na UnB, houve protestos contra a suspensão das eleições do Diretório Acadêmico e a proibição de debates sobre temas políticos, como o Decreto 477 e o Ato Institucional nº 5. O Reitor José Carlos de Azevedo instaurou inquérito para apurar responsabilidades.
Na Bahia, 1976 foi o ano de reconstrução do DCE através de eleições livres e diretas. O movimento estudantil baiano se solidificou e conseguiu um grande entrosamento com vários setores da sociedade. Foi criado o Trabalho Conjunto de Salvador, uma organização da qual participaram associações de bairros, sindicatos, oposições sindicais, profissionais liberais, travando lutas comuns por melhores condições de vida. Esse trabalho teve participação importante na preparação do congresso de reconstrução da UNE, que se realizaria na Bahia em 1979.
Em 1977 os estudantes voltaram às ruas para reforçar a luta contra a ditadura, que tudo fazia para impor o seu modelo repressor, centralizador, autoritário. A volta dos estudantes às ruas se baseava em reivindicações concretas: o rebaixamento das anuidades, a revogação das punições impostas aos colegas, verbas decentes e proporcionais à importância social das instituições universitárias, fim da aplicação indiscriminada do jubilamento, melhoria da alimentação fornecida nos restaurantes universitários e libertação de colegas presos pelos órgãos de repressão.
O governo, em represália a essas manifestações de rua, voltou a realizar prisões e torturas. As passeatas dos estudantes, de um lado, e a forte repressão policial de outro marcaram o ano de 1977.
O III Encontro Nacional de Estudantes, que seria realizado em Belo Horizonte, foi transferido para a Universidade de São Paulo por causa da repressão e das prisões efetuadas. Em virtude de a USP ter sido também cercada pela polícia, o Encontro foi transferido para a PUC de São Paulo. Mas os estudantes perceberam, pelas tentativas anteriores, que não poderiam realizar um Encontro aberto. Assim, ao mesmo tempo em que foi marcada uma assembléia no Salão Beta da PUC-SP, os delegados estudantis se reuniram numa sala vazia do campus e o III Encontro aconteceu com a participação de 60 entidades. O Encontro se realizou secretamente e teve como principal conclusão a formação de uma comissão PRO-UNE, que teria a incumbência de coordenar a reconstrução da Entidade Nacional e encaminhar as lutas estudantis. A polícia, que não conseguira impedir o Encontro, agiu com violência contra os que comemoravam a sua realização na frente do Teatro da PUC (TUCA), numa manifestação com mais de mil estudantes. A manifestação foi interrompida quando surgiram policiais comandados pessoalmente pelo Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Coronel Erasmo Dias. Com bombas e cassetetes, agrediram os manifestantes, chegando a invadir as salas de aulas. Foi uma violência sem medida. Sem exceção, estudantes, professores e funcionários foram levados para um estacionamento vizinho para uma triagem e cerca de 900 deles foram conduzidos em ônibus e viaturas policiais para o DOPS.

"Além da depredação do prédio, os estudantes se queixaram do desaparecimento de livros, revistas, documentos, papéis timbrados, mimeógrafos, segundo matéria da Folha de São Paulo de 29/09/77. Deixaram também centenas de feridos, entre eles cinco estudantes atingidos diretamente pelas bombas."

"A reitora da PUC/SP Nadir Kfouri encaminha ao MEC um relatório sobre os acontecimentos, enquanto a Polícia Federal, por determinação do Ministro da Justiça, Armando Falcão, instaura comissão de inquérito para investigar os acontecimentos a partir da denúncia do governador, Paulo Egydio Martins, e do Secretário de Segurança, Coronel Erasmo Dias, segundo os quais ficou patente que na PUC havia um autêntico Partido Comunista."

O movimento desencadeado pela sociedade civil e principalmente pelos trabalhadores, que iniciavam movimentos de organização de Comissões de Fábricas, por melhores condições de trabalho, reforçou os grupos operários enquanto sujeitos políticos.
A luta pela anistia e pela libertação de presos políticos e a criação do Comitê 1º de Maio teve a participação acentuada dos estudantes e de outros setores da sociedade.
Após a primeira passeata dos estudantes em São Paulo, pós 64, o Presidente da República, General Ernesto Geisel, acionou o AI-5 para colocar o Congresso em recesso e introduzir uma série de medidas que modificavam a legislação eleitoral e judiciária. Deu-se aí a introdução dos biônicos.
Os estudantes de todo o país aprovaram manifestações de repúdio a essas medidas. A tribuna livre da faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, em São Paulo, amanheceu com uma tarja negra, simbolizando o luto dos universitários.
Durante o ano de 1977, o AI-5 foi utilizado várias vezes para cassar mandatos e suspender direitos políticos do MDB.
Em maio de 1977, professores e intelectuais paulistas e cariocas divulgaram um manifesto segundo o qual "o papel da universidade consiste no exercício de uma reflexão crítica e necessariamente livre. E esse exercício não pode ser isolado da prática dessa liberdade em todos os domínios da vida social."

Apesar da proibição do governador Paulo Egydio, do estado de São Paulo, em 1977, os estudantes da USP saíram às ruas exibindo cartazes contra o ensino pago, por mais verbas para a universidade, contra o aumento das anuidades, pelo ensino público e gratuito para todos e contra a alta do custo de vida. A polícia acompanhou o trajeto ouvindo a leitura que os manifestantes faziam explicando as razões do movimento.
No Rio, os oito mil alunos da PUC iniciavam uma greve contra o aumento das mensalidades e exigiam a revogação das punições impostas a quatro estudantes. Os alunos da Faculdade de Ciências Sociais da Federal Fluminense paralisaram suas atividades por quinze dias exigindo a contratação de professores. Os alunos da Federal de Minas Gerais, do curso de Engenharia, fizeram greve por um dia em protesto contra a decisão do diretor da unidade de abrir inquérito contra dezessete universitários acusados de ocupar à força o restaurante universitário.
Em Brasília, os alunos da UnB entraram em greve contra a aplicação da pena de jubilamento a 600 colegas.
A movimentação estudantil atingiu também o sul do país. Os estudantes da Federal do Rio Grande do Sul, da PUC e da Universidade do Vale dos Sinos fizeram no dia 05 de abril uma passeata diante da Reitoria da UFRGS em protesto contra a prisão de estudantes, professores e jornalistas. Em Pernambuco, os alunos da Universidade Federal entraram em greve contra a prisão de um estudante, membro da Comissão de Justiça e Paz. A manifestação contra prisões arbitrárias, cassações, fechamento do congresso e atos de leis repressivas foi acompanhada pela polícia, que cercou o campus. Estudantes de todo o país participaram das comemorações operárias do 1º de maio.
Em São Paulo, antecedendo as manifestações do ABC, efetuaram-se 8 prisões de estudantes e operários. Esse fato levou os estudantes às ruas do centro, numa passeata com dez mil pessoas. A manifestação foi interrompida por uma cerrada barreira policial, comandada pelo próprio Secretário de Segurança, o Coronel Erasmo Dias. Quando os manifestantes ocupavam quase metade do Viaduto do Chá, estoura a primeira bomba de gás lacrimogêneo, uma prática que se tornaria comum a partir daí.

"A primeira reação foi de pânico e correria. Mas logo os estudantes, munidos de megafone, conseguiram restabelecer a calma. Todos se sentaram e durante algum tempo a polícia, parada no extremo do viaduto, ouviu o coro que pedia Liberdades Democráticas e Anistia."

As passeatas se repetiam em Ribeirão Preto, Campinas, São Carlos, Belo Horizonte, Curitiba, em repúdio às prisões arbitrárias e solidarizando-se com as manifestações estudantis em São Paulo.
Em telex encaminhado a todos os governadores de Estado, O Ministro da Justiça, Armando Falcão, afirmava que "passeatas, concentrações de protestos em locais públicos, assim como outras demonstrações contestatórias, são distúrbios de fundo e fim subversivos, não podendo, em conseqüência, ser tolerados."
As manifestações de 1978 foram, em sua maioria, de nível local ou estadual. "Além dos estudantes iniciam-se reivindicações de diversos setores da sociedade civil como os professores, as mulheres, os trabalhadores, etc. que começavam a lutar pelos seus direitos" . Foi em 78 que ocorreu a primeira greve dos metalúrgicos do ABC por aumento salarial. Com as greves ocorridas entre 1978-1980, o sindicato tornou-se um espaço-operário em que os metalúrgicos da região do ABC constituíram-se como sujeitos coletivos.
As grandes greves que eclodiram no ABC paulista aceleraram o processo de organização sindical. O movimento deu início a um processo de lutas muito mais amplo, estendeu-se por vários Estados, não só entre os trabalhadores da indústria metalúrgica, mas também envolvendo outras categorias. Descontentes com a política do governo do General Figueiredo, trabalhadores, metalúrgicos e funcionários públicos, entre outros, avançaram na luta por melhores condições de vida e liberdade de organização. A organização sindical se aprofundou, o movimento grevista passou a se caracterizar pela mobilização de grandes massas de trabalhadores e pelas articulações com várias organizações da sociedade civil. No conjunto da sociedade se vislumbravam mudanças mais profundas. Iniciava-se o movimento feminista, movimentos urbanos e as Comissões Eclesiais de Base, a Pastoral da Terra e outras organizações.
O movimento feminista se fez presente na discussão das desigualdades de sexo e sócio-econômicas enfrentadas no contexto cotidiano. O movimento negro, os movimentos urbanos abriam um espaço novo de intervenção e buscavam novas alternativas.
As greves no setor metalúrgico do ABC, em março de 1979, aglutinaram mais de duzentos mil trabalhadores num movimento que cada vez mais crescia em organização e prestígio.
Havia muitas promessas de abertura política, mas na prática acontecia intervenção nos sindicatos do ABC e dos professores em Brasília . As manifestações dos operários foram reprimidas por forças policiais com seus cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo. Mas inúmeras manifestações ocorriam no país, tanto no serviço público quanto nas empresas privadas. As oposições se multiplicavam e diversas categorias se reorganizavam.
As atitudes concretas adotadas pelo governo não atendiam às reivindicações da maioria da população, que lutava pela elevação dos salários, melhoria das condições de vida, terra para quem nela trabalha e liberdades democráticas.
Os estudantes se mobilizaram pela anistia ampla, geral e irrestrita de todos os presos, cassados, banidos e perseguidos políticos. Para o movimento estudantil, 1978 e 1979 foi um período de reorganização das entidades estaduais e dos diretórios centrais de estudantes. A comissão Pró-UNE intensificou os preparativos do Congresso de reconstrução da entidade nacional.
O acontecimento de maior vulto foi o IV Encontro Nacional dos Estudantes realizado em outubro de 1978, na USP, com uma representação maior que em todos os anteriores. Neste Congresso, decidiram apoiar os candidatos do MDB nas eleições de novembro e realizar o congresso de reconstrução da UNE, em Salvador, em 29 e 30 de maio de 1979. Preparavam-se para reconstruir a entidade nacional e por isso somente as reivindicações inadiáveis estavam sendo encaminhadas naquele período. Esperava-se a UNE. Mas os estudantes reagiram fortemente, com manifestações nos vários cantos do país, ao anúncio do Ministro da Educação, Eduardo Portella, de implantação do ensino pago.
O ano de reconstrução da UNE, 1979, caracterizou-se pela volta de banidos e exilados políticos, pela organização popular de vários segmentos da sociedade e um número cada vez maior de setores se engajava na luta por constituinte e anistia ampla, geral e irrestrita e articulação de novos partidos com a extinção do bipartidarismo.
É neste contexto que a UNE ressurge, no Centro de Convenção em Salvador, ao som de mais de dez mil vozes que gritavam: A UNE somos nós, nossa força e nossa voz.
Com a reconstrução da UNE, expressão máxima do movimento estudantil, este mais uma vez contribuía para a sociedade na conquista da democracia.
Criada numa tentativa de cooptação do Estado, num período autoritário, a UNE se definiu pela diretriz democrática, conseguindo garantir espaços políticos mesmo durante os períodos repressivos.
A década de 80 refletiu os resultados dos processos de mobilização e participação intensamente vividos pelas organizações populares e pelos movimentos sociais iniciados no final dos anos 70, que sinalizaram a reação da sociedade civil em busca de sua afirmação e fortalecimento perante o Estado autoritário e centralizador. O início dos anos 80 trouxe, ainda, a desilusão com o milagre econômico e o agravamento da crise política. Esses fatores constituíram aspectos fundamentais para a visibilidade do grau de insatisfação surgido nas diversas camadas da população, estudantes, intelectuais, empresários e trabalhadores. A crise econômica trouxe à tona uma sensação de incapacidade do Estado de dar respostas às demandas postas por vários setores. As situações de possível explosão social provocaram no país um clima de inquietação com várias invasões coletivas de terras, saques, depredação de ônibus em decorrência a deterioração da qualidade de vida.
O Movimento Estudantil, desarticulado desde 1968, iniciou um processo de rearticulação com a reconstrução da UNE desde 1979, e se mobilizou em âmbito nacional não só por melhores condições de ensino e mais verbas para a educação, mas inserindo-se no debate nacional sobre as questões políticas da vida do país.
No que diz respeito à universidade, a crise econômica manifestou-se na diminuição dos recursos financeiros, decadência valorativa do diploma de curso superior, movimentos de docentes e servidores e, conseqüentemente, maior politização da comunidade universitária.
Era visível uma tendência do poder público em se desobrigar da responsabilidade econômica pelo ensino superior.

"Professores, funcionários e estudantes assinalam, em suas manifestações, o sucateamento das escolas e das universidades. Sua posição ofensiva, inclusive, põe em primeiro plano a defesa do ensino, o que faz com que o apoio estudantil adquira um sentido exemplar."

A política do governo, no início da década de 80, direcionava as universidades públicas para um modelo empresarial, para a implantação do ensino pago e para a transformação das universidades federais autárquicas em Fundações.

"A política educacional do governo está em perfeita sintonia com o modelo econômico vigente e vem apontando com clareza cada vez maior para a privatização do ensino superior como solução para os problemas da universidade brasileira."

Assim, nos primeiros anos da década de 80, os estudantes se mobilizaram contra a implantação do ensino pago, boicotando o pagamento das anuidades nas universidades públicas e das mensalidades nas instituições particulares. A palavra de ordem desse período foi Boicote, que abalou a tranqüilidade das instituições particulares, pois a UNE começava a se reorganizar, tendo como temas o congelamento das anuidades escolares e mais verbas para a educação, 12% do orçamento da união, luta contra as "taxas ilegais" nas escolas oficiais, anistia para os alunos inadimplentes para com o crédito educativo e transformação deste programa em bolsas de estudos a fundo perdido. Defenderam também a federalização das escolas particulares falidas e o reconhecimento da UNE pelo MEC como entidade representativa dos estudantes brasileiros. Lutaram pelas eleições diretas para reitores e demais cargos diretivos das universidades e se mobilizaram pela campanha de maior participação estudantil nos órgãos colegiados.
Em termos mais gerais, se engajaram na luta pela Assembléia Nacional Constituinte e contra a Lei de Segurança Nacional. Realizou-se o 1º Encontro da Mulher Universitária Brasileira, tendo como meta o debate sobre a discriminação sofrida pela mulher. Fizeram intercâmbio com a União Internacional dos Estudantes, a Organização Continental Latino-Americana de Estudantes e participaram da campanha de solidariedade à população de El Salvador.
Com a aproximação das eleições presidenciais, participaram dos massivos comícios pelas Diretas já, momento de grande expectativa em relação às possibilidades de mudanças nos rumos da política econômica e democratização do país.
O quadro político-institucional se modificava, os movimentos sociais conseguiam relativa autonomia e eram cada vez mais o interlocutor coletivo frente ao Estado.

"Os Movimentos Sociais foram um dos elementos da transição política ocorrida entre 1978 e 1985. Eles expressaram tendências profundas na sociedade que assinalavam a perda de sustentação do sistema político instituído. Expressavam a enorme distância existente entre os mecanismos políticos instituídos e as formas de vida social. Mas foram mais do que isso: foram fatores que aceleraram essa crise e que apontaram um sentido para a transformação social. Havia neles a promessa de uma radical renovação da vida política."

O processo de organização da sociedade civil começava a aparecer também nas camadas médias assalariadas, que reorganizavam suas entidades e estruturavam novas instâncias de representação, como os professores universitários após a greve de 1980, que resultou na criação da ANDES (Associação Nacional dos Docentes das Escolas Superiores) e a FASUBRA (Federação das Associações de Servidores das Universidades Brasileiras). Estas entidades se juntaram ao movimento sindical, identificados na busca de melhores salários, emprego, condições de trabalho e da democratização do país.
A Nova República foi instalada no país em 1985, a partir da conciliação de várias facções políticas com um perfil conservador e frágil. O PMDB, partido de oposição na época, perdeu a sua capacidade de afirmar-se no combate pela democracia e se definiu à direita.

"A estratégia nascida do pacto conservador não tomou como ideal a República democrática da era atual. Perfilhou o caminho das composições de interesses, o que redundou, naturalmente, em um estágio no qual o poder ditatorial se prolonga com eficácia."

Assim, um governo fragilizado não podia ser democrático, era um governo de transição da classe dominante. Desenvolveu ações no sentido de desarticular as classes trabalhadoras e os setores mais rebeldes da sociedade. Tomou iniciativas populistas, como a legalização dos partidos comunistas, demonstrou simpatia diante da reforma agrária e agiu moderadamente diante das greves. Eram medidas desmobilizadoras.
Em relação às universidades, nomeou-se uma comissão de "alto nível" para propor uma nova política para a Educação Superior Brasileira. A exposição de motivos feita pelo Ministro da Educação, Marco Maciel, ao encaminhar a nomeação da comissão, apresentava um panorama do quadro crítico do ensino superior brasileiro, enfocando a má remuneração dos professores, a carência de equipamentos, laboratórios e bibliotecas, deficiências na formação dos alunos, sistemas antidemocráticos de administração e escolha de quadros dirigentes. Na verdade, após as conclusões desta comissão, nada se alterou, embora, no seio das universidades, professores, técnicos-administrativos e estudantes tivessem debatido e contribuído com o encaminhamento de propostas para os estudos da comissão.
A Nova República abriu vários debates em relação às universidades, mas se ateve aos discursos. Na prática, poucas mudanças ocorreram.
No que se refere aos estudantes, talvez o fato de maior significância tenha sido o "reconhecimento da UNE como entidade representativa do conjunto dos estudantes das Instituições de Ensino Superior do Brasil”, lei assinada pelo Presidente José Sarney e pelo Ministro Marco Maciel .
A sociedade brasileira vivia a transição para a democracia, impondo-se, principalmente com os movimentos sociais e outros de diversas categorias, mudanças que buscavam a democratização do país.
A sociedade civil, organizada ou não, manifestou-se e lutou, em 1988, para que o país tivesse uma constituição cidadã. Esta constituição avançou em termos de direitos do cidadão.
Os estudantes se mobilizaram para as questões específicas, vividas pelas universidades e também se engajaram nas lutas mais gerais da sociedade.
Em 1989 o país elegeu diretamente o seu presidente. Nos anos 80 verificava-se um nível elevado de politização da população, foi um período de aceleração das lutas pela garantia dos direitos do cidadão, por melhores salários e melhores condições de trabalho e de vida. Foram anos perdidos do ponto de vista econômico, mas relevantes do ponto de vista político-social. Grandes conquistas no campo democrático caracterizaram os anos 80.
Recentemente os estudantes voltaram às ruas. Agora sem repressão e sem cassetetes, os caras-pintadas contribuíram para a queda do Presidente Collor. Num movimento de protesto contra a corrupção no governo, liderados pelas entidades estudantis, os estudantes saíram às ruas para pedir o impeachment do Presidente Fernando Collor de Melo.

"Os caras-pintadas lotaram praças e ruas, empunhando faixas de todas as cores, gritando slogans e palavras de ordem, quebrando uma letargia de 20 anos e arrancaram a classe média de uma submissão fatalista na qual estava submersa."

Os estudantes saíram à frente de outras organizações, na busca de forças para derrubarem o presidente. Quase todos os dias aconteciam manifestações em vários pontos do país. Os jovens passaram a ser o centro das atenções e mobilizaram a opinião pública e entidades da sociedade em geral.
"Com a cara colorida de guache verde, amarelo e preto, eles surpreenderam pais e mães, professores, jornalistas e políticos como um furacão que de repente tomou as ruas do país e fez o Presidente cair."

O ressurgimento do movimento estudantil, em 1992, se deu por influência dos Anos Rebeldes, seriado transmitido pela Rede Globo, pela chegada a São Paulo dos jogadores da seleção brasileira de volei, ou ainda pela presença dos roqueiros? Não importa, os jovens foram estimulados pela luta a favor da ética e contra a corrupção. O que importa é observar que a história mostra ser a participação estudantil uma presença real na sociedade: ora dá ênfase às questões próprias e específicas da área estudantil, ora se engaja nos movimentos político-sociais, num movimento pendular. Mas é inegável o peso e a referência do Movimento Estudantil na história da construção das conquistas político-sociais do Brasil. É um movimento que buscou e busca, de forma inconteste, a luta pela democratização.


CAPÍTULO II


AS QUESTÕES DE CIDADANIA, DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO NA UNIVERSIDADE BRASILEIRA ATUAL

A universidade brasileira, no limiar de um novo milênio, em meio a várias crises políticas, econômicas e culturais, luta para vencer seus problemas, superar suas limitações e definir para si um novo papel na sociedade.
O mundo contemporâneo caracteriza-se por profundas e aceleradas transformações que se operam a partir do domínio da ciência e da tecnologia, que instrumentalizam o homem com novos recursos e novas descobertas. O avanço da informática, dos meios de comunicação de massa, da organização social do trabalho, a complexidade das relações sociais, políticas, econômicas e culturais, a redescoberta do valor ético nessas relações, enfim, os impasses deste final de século apresentam novos desafios às instituições de ensino superior.
São múltiplas as questões envolvidas no cotidiano da universidade. Iniciam-se reflexões sobre um novo projeto de universidade, vivem-se no meio universitário questionamentos sobre os rumos que deve tomar esta instituição. Revisam-se conceitos e concepções, objetivos e finalidades, depara-se com a necessidade de repensar e reconstruir a universidade no Brasil. O debate é travado não somente no seu interior, mas também na sociedade em geral. São retomadas antigas indagações e levantadas novas polêmicas. Novos desafios emergem em busca de novas alternativas.
Para alguns críticos e estudiosos do assunto, vários problemas e várias dificuldades têm contribuído cada vez mais para a deterioração das universidades. Os salários reduzidos dos seus profissionais, as condições físicas dos campi, em geral precárias, as instalações das salas de aulas e dos laboratórios sem condições ambientais de trabalho, os equipamentos inadequados e a falta de recursos humanos e financeiros demonstram o descaso com a área educacional. Para outros, a ausência de autonomia, de democratização e de participação caracteriza uma relação de poder autoritária e centralizadora, que limita a criatividade, a responsabilidade e a liberdade de servidores técnicos-administrativos, docentes e alunos, embora, para alguns, essas condutas diretivas sejam adequadas e necessárias, tendo em vista uma melhor produtividade. Há uma discussão instalada na sociedade acerca da qualidade dos serviços públicos e dos serviços privados, de maneira que, para alguns, a universidade deve ser pública e gratuita, enquanto que, para outros, o terceiro grau não deve ser de responsabilidade do Estado. A falta de uma política clara com respeito ao Ensino Superior e às funções da universidade dão margem ao estabelecimento de programas curriculares e sistemas de avaliação rígidos e inadequados à realidade.
Assim, todas estas questões estão em permanente confronto no interior das instituições de ensino superior e na sociedade em geral. Vive-se um processo que persegue a construção de um novo modelo administrativo, enfim, buscam-se novas respostas para as questões e para uma nova universidade. Explorar e discutir estas questões é uma tarefa desafiante e complexa, mas não é objeto da presente reflexão.
Face ao objetivo deste trabalho e considerando o debate em pauta, enfatizar-se-ão os aspectos referentes à cidadania, à democracia e à participação na universidade, sem, contudo, desconsiderar a relevância da discussão dos demais aspectos.
As novas exigências da sociedade moderna introduzem modificações no mercado de trabalho e conseqüentemente emerge daí a necessidade de um novo perfil de qualificação de mão-de-obra, desencadeando nas universidades a necessidade de repensar a formação que vem sendo oferecida ao educando. Sabe-se que as universidades não estão alheias aos acontecimentos e às mutações que vêm ocorrendo no meio social e espera-se delas que sinalizem novas direções.

"As exigências do mercado de trabalho fazem crescer a relação entre o nível de instrução do trabalhador e a produtividade. A tendência é que as empresas deixem de empregar um trabalhador que não pense e só aperte botões e passem a exigir um operário que raciocine, que tome decisões e avalie a qualidade do produto."

Assim, nas demandas postas pela sociedade começa a aparecer a necessidade de novos profissionais capazes de atuar não somente com a alta tecnologia, mas também com o homem-cidadão. Profissionais capazes de compreender não só as relações existentes na sociedade enquanto coletividade, mas entender o homem na sua individualidade. A universidade tem como desafio não só produzir conhecimentos técnicos, científicos e sociais, mas também acompanhar, entender e interpretar o movimento da sociedade e do mercado de trabalho. Ela tem, ainda, o desafio de contribuir para que, cada vez mais, todos tenham acesso à ciência, à cultura e à tecnologia, sem, contudo, instalar o caos no processo de substituição do trabalho humano pela máquina, pois a tecnologia também tem o seu lado perverso. Trata-se de uma instituição geradora e disseminadora do conhecimento, da tecnologia, uma instituição que caminha rumo ao progresso. E tem que pensar na formação do homem, pois este é o ator principal nesse cenário e, para isso, tem que contribuir com alternativas que ofereçam melhores condições de vida e de existência. Dessa forma, ela tem responsabilidade também na formação do cidadão. Ela deve proporcionar uma formação técnica competente, mas também uma formação crítica e comprometida com os problemas do seu tempo. Nesse sentido existe um consenso de que é preciso repensar e reconstruir a universidade, para que ela esteja coerente com sua época, ou seja, com o momento atual.
No dizer do prof. Ibañez, a universidade precisa "pensar o Brasil e o mundo como problemas, ou seja, a universidade tem o compromisso com a busca contínua de soluções para os problemas sociais, políticos, econômicos e culturais que afligem o Brasil e as sociedades contemporâneas" .
Dessa forma, pensar sobre o Brasil e os seus problemas é pensar sobre o papel e a função da universidade na construção da cidadania. É pensar o mercado de trabalho, o desemprego, a falta de acesso a bens e serviços da maioria da população brasileira. É pensar na produção da ciência cada vez mais avançada, é criar novas tecnologias, mas é também criar oportunidades para o surgimento de um novo homem.
Sem dúvida, a universidade é um espaço, por excelência, de reflexão, de produção do conhecimento e de análise da sociedade e dos seus rumos. Para tanto, deve ser autônoma e democrática, contribuindo de forma efetiva para a elaboração e divulgação do saber e a reconstrução histórica da sociedade. Ela tem condições e possibilidades de não somente reproduzir os conhecimentos e as relações sociais, mas também de propor mudanças e gerar novos conhecimentos científicos, tecnológicos e civilizatórios.

"A universidade tem a função de gerar saber que seja ao mesmo tempo voltado para o avanço da fronteira da ciência, da arte, da cultura e voltado também para o encaminhamento da solução dos problemas atuais e prementes dos grupos sociais majoritários. Ela tem a função de gerar um saber comprometido com a verdade porque esta é a base de construção do conhecimento. Um saber comprometido com a justiça porque esta é a base das relações entre os homens. Um saber comprometido com a beleza porque esta possibilita a expressão da emoção e do prazer. Um saber comprometido com a igualdade porque é a base da estrutura social inerente à condição humana. Um saber comprometido com o verdadeiro, o justo, o igualitário e o belo é, em verdade, um compromisso com a transformação da sociedade."

Nesse sentido, é importante considerar a cidadania, a democracia e a participação como categorias que alicerçam as bases de uma prática política e pedagógica da instituição universitária; acredita-se que a universidade poderá constituir-se numa instância crítica e uma interlocutora nos processos de desenvolvimento da sociedade. Ela poderá ser uma impulsora do desenvolvimento do homem e da sociedade, da cultura e da tecnologia. Assim, é necessário entender e vincular o processo pedagógico das instituições de ensino, de forma a não dissociar a formação técnico-científica da formação do cidadão. A universidade tem como objetivo não só produzir e disseminar a ciência, a cultura e a tecnologia, mas criar e inovar a própria forma de disseminação desse conhecimento e da produção acadêmica e os procedimentos pedagógicos próprios desta instituição. Em vista disso, poderá direcionar seus conteúdos e suas relações no sentido da manutenção ou não do status quo. Possui capacidade para mudar e interferir na rota estabelecida pelo sistema vigente e propor novos conhecimentos sobre as práticas sociais que se dão no seu interior e na sociedade. É isso que a faz diferente de outras instâncias de produção de conhecimento. A universidade se apresenta como sujeito estratégico para a conquista e a consolidação da cidadania e da democracia. Nessa compreensão de universidade, a vida acadêmica é geradora de conhecimento e promoção de cidadania, conhecimento e cidadania entendidos como indissociáveis dos conceitos de democracia e participação, elementos constituintes da universidade. Contudo, não se pode dizer que as universidades são as únicas responsáveis pela questão da cidadania, pois sabe-se que, nas sociedades capitalistas, as desigualdades sociais e a fragmentação do homem ainda são aspectos que dificultam a construção do cidadão. E a cidadania se apóia na igualdade fundamental das pessoas, decorrente da integração, da participação plena do indivíduo em todas as instâncias da sociedade. Ser cidadão é ter a possibilidade de usufruir igualitariamente dos bens produzidos na sociedade, é ter acesso aos bens culturais e ao saber disponíveis. Na universidade e na sociedade, o exercício da cidadania envolve os instrumentos e os conteúdos da aprendizagem. Não é somente dominar o conhecimento teórico de qualquer área do saber, "são necessários conhecimentos, capacidades, valores e atitudes para que os seres humanos possam sobreviver, desenvolver plenamente suas possibilidades, viver e trabalhar dignamente, participar plenamente do desenvolvimento político-econômico-cultural, melhorar sua qualidade de vida, tomar decisões fundamentais e continuar aprendendo."
Então, não basta dizer que a cidadania consiste em ter direitos respeitados. Isso é um dado importante, mas ela supõe um nível maior de exigência que se efetiva nas políticas sociais, educacionais, enfim, na sociedade em geral. A busca da cidadania é responsabilidade de todos, das pessoas representativas da política, dos dirigentes, dos trabalhadores, dos jovens, das organizações não governamentais e também da universidade. O compromisso da universidade com a cidadania não significa assumir um papel muito acima de suas possibilidades, acreditando que vai redimir a pobreza ou promover mudanças estruturais, mas significa centrar a atenção nas necessidades de aprendizagem básica, o que permite elaborar um modelo de ensino com maior abertura e interação com o meio social, um currículo adequado e atual, com profundidade de conteúdo e capaz de desenvolver no meio universitário esforços para tornar as sociedades mais igualitárias, solidárias e integradas. Assim, a universidade tem o compromisso com o ser humano e o seu destino. "Tem o compromisso de ajudar a superar a fragmentação do saber e a unilateralidade do homem, pois esta constrói apenas o meio-cidadão. A educação deve proporcionar a construção da omnilateralidade, ou seja, deve construir o cidadão." Cabe à universidade desenvolver suas ações numa perspectiva interdisciplinar, obedecendo ao princípio da universalidade. Para tanto, é mister que contribua para a democratização do poder, da cultura e da produção. Só assim se constrói a cidadania. Ser cidadão é ter consciência crítica desenvolvida, ter capacidade de entender o contexto em que se está inserido, emitir juízo fundado sobre as condições de vida e sobre a sociedade; é estar habilitado para levantar e enfrentar problemas com autonomia, organização política competente e emancipadora.
Nesse sentido, a política social e pedagógica das universidades tende a fortalecer-se para o exercício da cidadania, podendo ser a estratégia, por excelência, para a construção de uma sociedade democrática. Assim, a educação universitária pode não ser uma pré-condição da democracia e da participação, mas é parte, fruto e expressão do processo de sua constituição.

"A luta pela cidadania, pelo legítimo, pelos direitos, é o espaço pedagógico onde se dá o verdadeiro processo de formação e constituição do cidadão."

Nessa perspectiva, a luta pela educação, pela cultura, pelo emprego, pelo acesso aos bens e saber produzidos, bem como pela possibilidade de participação nos poderes decisórios e dirigentes, constitui-se num momento educativo e tem como objetivo a construção do cidadão. É um aspecto que cria um vínculo estreito entre a educação e a cidadania, a democracia e a participação. É uma postura permanente que leva as pessoas a agirem, individual ou coletivamente, com objetivos de defesa dos direitos, desenvolvendo sua capacidade de transformar qualitativamente a sua realidade, exercitando a prática da reivindicação e da apropriação de novos espaços. Para tanto, exige-se consciência crítica e responsabilidade. Assim, cabe às universidades educar para a cidadania, trazendo para seu interior as discussões postas pela sociedade, transformando o estudante num sujeito-aprendiz que se insere no debate, trazendo a comunidade para dentro da universidade e levando a universidade à comunidade num movimento contínuo de interação. Dessa forma, proporciona-se aos alunos uma aprendizagem coerente com a realidade e não uma formação descolada do real, e, às comunidades, a oportunidade de participar e contribuir para o debate com alternativas de respostas às suas preocupações. É, assim, possível fazer da universidade um espaço de construção coletiva do conhecimento, um espaço de encontros e divergências, mas sempre de enriquecimento e crescimento, nas propostas de transformação da sociedade. Para tanto, há que se conviver com um permanente dissenso na universidade, pois este é característico da democracia que deve permear o meio universitário. É preciso recuperar o pluralismo como estratégia inteligente, sensível e desafiadora que garantirá a competência do conjunto da universidade. Trata-se de entender que não existe apenas uma vertente como verdadeira, mas vários direcionamentos são postos pela sociedade e a universidade deve ser receptiva, aberta às polêmicas que se travam no seu interior. O divergente é um componente da democracia: "a diversidade é que faz que cada um de nós possa ter a sua particularidade, ser um criador, ser um inventor, ser um renovador permanente" . Essas são características que enriquecem a produção das universidades, conseqüentemente devem fazer parte de seu cotidiano. A universidade democrática é receptiva a todos os possíveis conteúdos e cada membro da comunidade universitária tem direito de participar livremente das decisões individuais ou coletivas. A universidade democrática oportuniza, ainda, a participação política nas questões mais específicas da vida universitária e nas mais gerais da sociedade.

"Uma das condições da criação e transmissão do saber e da cultura na universidade é a possibilidade de discuti-lo a todo momento, daí a importância da participação."

A universidade é um locus por excelência dedicado à discussão de idéias divergentes, à criação de um ambiente de confronto democrático e científico ao mesmo tempo. Nessa ótica poderá contribuir para o desenvolvimento da democracia e da participação, consolidando o homem-cidadão. É a instituição onde professores, estudantes e técnicos-administrativos lutam pela mais ampla liberdade de pensamento de forma a não se sentirem submetidos a nenhum patrulhamento ideológico.
A universidade brasileira deve referenciar na sua trajetória a construção da democracia. O momento atual visa à criação de alternativas e abertura de novos canais de intermediação nas áreas existentes e nas novas áreas de participação política, enfatizando a participação através de formas representativas. Na democracia representativa, as deliberações que dizem respeito à coletividade não são tomadas diretamente por todos que fazem parte dessa coletividade, mas por pessoas eleitas para esta finalidade.

"Entendendo por democracia representativa e participativa aquela forma de governo em que o poder não está nas mãos de um só ou de poucos, mas de todos, ou melhor, da maior parte e como tal se contrapõe às formas autocráticas. A democracia representativa e participativa emerge como viabilizadora da participação."

Nesse sentido, a participação é o caminho natural para o ser humano se expressar e se realizar e, nas universidades, é essencial, pois constitui-se numa dimensão do processo decisório.
Assim, a participação é uma discussão presente nas relações vividas na universidade, na comunidade e no próprio movimento estudantil. É um processo permanente e inerente ao ser humano. Não preexiste à sociedade, pois é algo que se aprende e se aperfeiçoa. Assim, na universidade, um passo importante no sentido de se adquirir essa aprendizagem, de tomar parte nas ações que dizem respeito à comunidade universitária é o resgate da capacidade de enfrentar o instituído. Urge que a universidade se prepare para promover mudanças nos seus currículos, nos seus sistemas de avaliação, nos sistemas acadêmicos dos seus cursos, de forma a torná-los mais eficientes e eqüitativos no enfrentamento das inovações tecnológicas, bem como na formação para a cidadania. Falar em cidadania na universidade significa falar numa educação emancipadora, na qual imperam as liberdades democráticas, os direitos individuais e coletivos, a liberdade de expressão, a igualdade e o respeito às divergências, enfim, a convivência com o pluralismo e a busca da democratização do poder, da cultura e da produção. As discussões das relações de poder que acontecem na universidade devem ser feitas de forma crítica, considerando a realidade política e cultural mais ampla da sociedade, pois a estrutura social exerce grande influência sobre a participação e os processos decisórios. Todos não participam da mesma maneira, mas há que se estabelecer uma forma ou canais de acesso de efetiva participação. Para tanto, os canais institucionais podem proporcionar condições objetivas e concretas de acesso às informações, aumentando o grau de consciência crítica. A criação de canais de participação real da comunidade universitária pode ser um aspecto de reformulação do estabelecido. Falar em Cidadania, Democracia e Participação na universidade significa, portanto, falar nos seus elementos fundantes, pois estas são categorias infinitamente ilimitadas sobre as quais as universidades devem basear seu processo educacional. Cada época histórica e cada cultura dá a essas categorias um determinado conteúdo e uma dimensão variável, mas constituem-se em eixos básicos de sobrevivência de qualquer sociedade que busca, fundamentalmente, uma transformação nas suas relações sociais, no seu modo de existir e no estabelecimento de novas formas de ocupar espaços e oferecer ao homem a oportunidade de ser cidadão. E, com certeza, à medida que as sociedades se organizarem, que os movimentos sociais estiverem cada vez mais presentes, que os indivíduos conseguirem realizar-se como cidadãos, a democracia será um norte para toda a sociedade.
A universidade e o ensino superior estão em debate. Fala-se do colapso instalado no interior das instituições de ensino, da indefinição de metas e rumos do ensino superior, da sua inadequação à realidade atual. Questiona-se a formação oferecida aos estudantes e o papel que ela desempenha no meio social. Na realidade, todas estas questões servem para confirmar a significância do papel que esta instituição exerce na sociedade e quão intensa é sua possibilidade de interferir na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, produzindo um saber que gere novas relações, nas quais o homem seja entendido na sua universalidade. Os problemas não são isolados, o homem não deve ser visto de forma fragmentada, e a sociedade está a exigir um conhecimento que supere o estabelecido, ou seja, espera-se competência técnica aliada à competência político-sócio-cultural. Trata-se, pois, de proporcionar aos educandos uma formação crítica, transdisciplinar e voltada para a construção da cidadania, entendendo-se por cidadania o direito de viver plena e dignamente, o direito de ter uma idéia e poder manifestá-la, o direito de poder optar e tomar decisões, o direito de participar e interferir no desenvolvimento político-econômico-cultural, ou seja, ter condições de acesso ao poder, à cultura e à produção.
Para tanto, há que se entender que a democracia é um dos pilares básicos da educação e vice-versa, pois é um regime que garante a liberdade de escolha e, ao mesmo tempo, é necessário que se tenha a informação, o saber, para se ter condições de optar.
Nessa perspectiva, a participação e a democracia devem ser exercitadas constantemente na universidade, como esperança permanente de construção da cidadania.
Assim, se exigirá cada vez mais das universidades não apenas a formação de profissionais para atender ao mercado de trabalho, não mais uma formação fragmentada, compartimentada do homem, mas sim a formação integral, a sua formação enquanto ser social. Então, a perspectiva interdisciplinar, o princípio da universalidade do conhecimento são desafios a serem enfrentados no cotidiano das universidades. Há que se desenvolver o conhecimento especifico numa perspectiva de globalidade.

"A universidade do próximo milênio deverá ser realmente autônoma, ocupada com a busca das soluções para grandes problemas nacionais e internacionais do seu tempo, e voltada para a construção e reconstrução permanente do conhecimento transdisciplinar e totalizante, nestes tempos de tantas e tão inquietantes transições na ciência, na política, na arte e na economia."

Isso significa a necessidade de conferir ao estudante uma formação omnilateral, uma consciência de seus diretos e de suas responsabilidades sociais. Significa capacitá-lo ao exercício profissional que levará em conta as realidades concretas e os problemas coletivos. As universidades serão capazes de oferecer um ensino diversificado, de qualidade aberto a todas as classes sociais. Será uma universidade adequada às necessidades do desenvolvimento econômico e social do país, realizando a formação da pessoa, do cidadão e do profissional. Assim, a democracia será uma crescente forma de existência social. Mas, para essa concretização, é preciso não parar de lutar e jamais perder a esperança, pois a educação não é tarefa para uma geração.

CAPÍTULO III


A TRAJETÓRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL NA UFU: FRAGMENTOS DE UMA HISTÓRIA

Como esta pesquisa se preocupa com o estudante universitário da UFU enquanto sujeito que desenvolve suas práticas acadêmicas, políticas e sociais no seio desta universidade, faz-se necessário conhecer um pouco da instituição, a sua trajetória, as suas condições históricas, buscando entender o que pode afetar, direta ou indiretamente, a vida deste estudante.
Não se trata, aqui, de um estudo da Instituição enquanto foco principal do problema, mas a Universidade e o estudante não podem ser considerados isolados e independentes. As relações vividas na instituição são resultantes da prática política, pedagógica e social desencadeada pelos componentes internos e externos que interferem diretamente na Instituição e no Movimento Estudantil.
A cidade de Uberlândia está localizada no Triângulo Mineiro, constituindo-se num dos mais importantes centros regionais do Estado de Minas Gerais. Conta hoje com aproximadamente quinhentos mil habitantes, sendo sua economia baseada principalmente nos setores agro-industriais e comércio.
Esta região foi inserida nos planos econômicos governamentais de desenvolvimento em 1972-74 e 1975-79, I e II Planos Nacionais de Desenvolvimento - PND, planos estes que consistiram na tentativa dos governos da ditadura militar de elaborarem o seu modelo de desenvolvimento para o Brasil. No que concerne ao setor agrícola, estes planos estabeleceram a necessidade de modernizar a agricultura, especialmente no centro-sul, o que abrangeu o Triângulo Mineiro. Isso beneficiou sobremaneira a região, possibilitando um crescente desenvolvimento, incentivando a industrialização e a modernização da agricultura e da pecuária, ocasionando uma migração, para Uberlândia, de grandes contingentes de população de outras regiões, atraídos pelo mercado de trabalho.
A instalação da capital federal no interior do país, a partir de 1960, também beneficiou o dinamismo econômico de Uberlândia, situada estrategicamente entre São Paulo - Goiânia - Brasília. A cidade se desenvolveu rapidamente, aumentando a sua capacidade de produção, expandiu a indústria da construção civil e a indústria alimentícia. Construíram-se grandes vias de comunicação ligando a cidade a várias regiões do país. Assim, grande parte da população do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba dirigiu-se a Uberlândia em busca de empregos e, conseqüentemente, melhores condições de vida.

"O vínculo político entre a oligarquia Triangulina e setores expressivos do Governo Federal foi sendo reforçado ao longo do processo de desenvolvimento da região. E esta vai se impondo e se firmando no Cenário Nacional."

Esse desenvolvimento não atingiu os aspectos culturais e educacionais, pois nesses pontos apresentava deficiências, existindo apenas algumas escolas secundárias, o que na época correspondia ao ginásio, escola de Contabilidade, alguns cursos técnicos e escolas primárias.
A cultura universitária era inexpressiva, a cidade se desenvolveu nos seus aspectos físico e econômico, apresentando grande crescimento demográfico e nenhum desenvolvimento mais importante nas letras, nas artes e na cultura em geral.

"Pelos idos da década de 50, um grupo de idealistas sonhava com a criação de escolas superiores como ocorreu em Uberaba, cidade vizinha de Uberlândia. Então foi organizada uma comissão pro-escolas superiores. Essa comissão foi muito atuante, fazia palestras, inclusive no Rotary Clube e em outras associações de Uberlândia, procurando estimular e levar adiante a idéia da criação de escolas superiores."

A cidade de Uberlândia, geograficamente bem situada e apoiada por políticos e deputados da cidade, garantia uma relação promissora com o governo federal.
No final da década de 50 e início da década de 60 iniciam-se na cidade os primeiros cursos superiores, entre os quais a Faculdade de Direito, a de Filosofia, a de Ciências Econômicas e a Faculdade Federal de Engenharia.
Por volta de 1966, iniciou-se o processo de criação da Escola de Medicina, decorrente de um movimento da sociedade de Uberlândia. Participaram desse movimento médicos, políticos da região, a sociedade em geral e os grandes proprietários rurais .
Assim, na década de 70, além do curso de Medicina, foram criadas novas faculdades, como a de Odontologia, a de Veterinária , a de Educação Física, estas criadas pelo Governo do Estado como uma Autarquia Educacional. As forças políticas de Uberlândia interferiram junto à Presidência da República, desde Juscelino Kubistchek até Figueiredo, no sentido de obter a criação dessas faculdades. Também foram determinantes neste processo o esforço da população, as ações de industriais e comerciantes, que doaram terrenos, materiais, laboratórios, equipamentos, e dos professores que lecionaram por muito tempo sem receber salários.
Os primeiros cursos superiores foram criados e funcionavam pela dedicação e idealismo que a população de Uberlândia cultivava. A cidade desejava crescer também no aspecto cultural. O sonho de ser uma grande metrópole acompanhou e acompanha o idealismo da sociedade de Uberlândia. "Uberlândia antigamente se comprimia para fazer as obras públicas, o prefeito e o vereadores não gastavam à toa, todos colaborando, o povo também tinha o prazer em colaborar."
Neste contexto, foi criada a Universidade de Uberlândia, pelo Decreto-Lei 762, de 14 de agosto de 1969, por uma ação pessoal do então Ministro Chefe da Casa Civil, Rondon Pacheco, que é de Uberlândia, sem passar o projeto pelo Congresso Nacional e sem ouvir o Conselho Federal de Educação. O ato foi sancionado pela Junta Militar, com base no Ato Institucional nº 6. Foi instalada como uma Instituição Particular. Criou-se uma Fundação mantenedora, responsável pela sua administração, cujo presidente tinha como uma de suas atribuições a nomeação do Reitor.
Naquele momento, somente a Faculdade Federal de Engenharia recebia recursos federais e apresentava um comportamento baseado nas diretrizes emanadas dos órgãos federais. Esta recebia orçamento próprio do Governo Federal, enquanto as demais faculdades que compunham a Universidade eram mantidas com as anuidades pagas pelos estudantes. A universidade nasceu federal desde a sua criação, o que foi confirmado pela lei nº 6.532, de 24 de maio de 1978, mas o então Ministro Golbery do Couto e Silva, que defendia o ensino superior pago, fez alguns acertos com os administradores da mantenedora no sentido de que os alunos continuassem a pagar as mensalidades.
"A existência de uma instituição de ensino superior contribuiu para o crescimento do município, que apresentou elevados índices de desenvolvimento econômico e de crescimento populacional após os anos 40, quanto tinha 42.179 habitantes, passando para 240.961 em 1980."
Buscando enfocar especificamente o tema ora em estudo, não se pretendeu discutir e apresentar análise do processo político e administrativo que envolveu a criação da Universidade. O que se pretendeu ressaltar é que nesse momento começavam a emergir as primeiras questões estudantis e os reflexos dessas decisões na vida estudantil dos universitários da Universidade de Uberlândia.
Em 1967, aconteceu o primeiro movimento grevista dos universitários de Uberlândia na Faculdade Federal de Engenharia, cujo motivo era a falta de recursos financeiros, a ineficiência de alguns professores, a busca da melhoria de ensino e a necessidade de contratação de novos professores.
Na implantação do curso de Veterinária, no início da década de 70, em virtude da indefinição do seu funcionamento, tendo, por razões políticas, uma parte instalada na cidade de Tupaciguara e outra em Uberlândia, e considerando que essa situação tendia a permanecer, seus alunos se organizaram, invadiram a reitoria e foram até o MEC, em Brasília, exigindo que se regularizasse essa situação de forma a oferecer uma formação profissional mais adequada.
Mas, na realidade, apesar de o Movimento Estudantil, a nível nacional, estar lutando pelas liberdades democráticas, os órgãos estudantis da Universidade de Uberlândia, nesse período, mantinham-se submissos às decisões da reitoria até mesmo no que se referia às questões específicas dos estudantes. Este comportamento fica evidenciado no ofício-circular nº 1, de 1º de setembro de 1972 do M.M. Reitor Dr. Juarez Altafim ao DCE: "Nos termos do Regimento Geral desta Universidade, convoquei para o próximo dia 14 de setembro, às 20 horas, nesta reitoria, o Colégio Eleitoral que irá eleger a próxima diretoria do Diretório Central dos Estudantes."
Assim, as atividades de trabalho realizadas pelo DCE nos aspectos de sucessão à direção da entidade eram organizadas, supervisionadas e presididas pela reitoria, que mantinha um controle permanente na escolha dos novos dirigentes: "Por ordem do Magnífico Reitor, tenho a honra de convocar V.Exª para reunião, a se realizar no próximo dia 29, quarta-feira, às 16 horas, na sede da reitoria. A pauta dos trabalhos se refere a preparação para as eleições do DCE.” Tais atitudes confirmam um direcionamento por parte da reitoria no final dos anos 60 e na década 70, como demonstra este comunicado da reitoria ao DCE: "Vimos pelo presente comunicar-lhe que, através da portaria R/UNU/32/76, o prof. Gladstone Rodrigues da Cunha, Magnífico Reitor da Universidade Federal de Uberlândia, resolveu:
Nomear junta governativa, que nos termos do art. 13, letra C, do regimento do Diretório Central dos Estudantes, assuma a direção do DCE desta Universidade até que novas eleições sejam convocadas pela reitoria."
No período que antecedeu à federalização da Universidade, os alunos do curso de Engenharia se movimentaram contra a aprovação do novo Estatuto da Universidade, por entenderem que com a sua implantação estar-se-ia desfederalizando o curso e oficializando o ensino pago também no curso de Engenharia, até então o único federal. Foi um período polêmico dentro da Instituição, uma vez que este Estatuto trazia no seu bojo um novo modelo estrutural, organizando-se a Universidade em Centros e Departamentos como previa a reforma universitária de 68. Os conselhos superiores da Universidade de Uberlândia aprovaram por unanimidade o novo Estatuto, mas do curso de Engenharia emergiu a grande polêmica. Este era federal e pelo novo Estatuto seria integrado à Universidade de Uberlândia, instituída como uma Fundação de direito privado. Foi a chamada "crise do Estatuto". Naquele período, os estudantes fizeram passeatas, picharam a cidade inteira com agressões ao reitor e aos conselhos superiores e ao próprio MEC. Desenvolveram um combate acirrado contra a administração da Fundação mantenedora das escolas superiores e contra os políticos locais que defendiam o novo Estatuto que tramitava no Ministério da Educação. A criação da Universidade de Uberlândia pelo Decreto-Lei nº 762, de 14 de agosto de 1969, provocou o nascimento de uma entidade que congregava dois tipos de ensino: federal gratuito e particular pago. Isso gerou manifestações de descontentamento entre os estudantes. Enquanto a maioria pagava altas taxas, os alunos da Engenharia pagavam somente uma taxa de expediente de matrícula.
Diante disso, os alunos e professores do curso de Engenharia enxergavam a possibilidade de se implantar, através deste Estatuto "Imoral" , o ensino pago na Engenharia. Essa preocupação se fundamentava no artigo 101, que dizia: "as anuidades só serão aumentadas na percentagem fixada, anualmente, pela comissão de encargos educacionais para todas as Universidades do país". (35% para 1978).
Este artigo, na opinião dos estudantes, evidenciava claramente a disposição do MEC em dar prosseguimento à política do ensino pago.
Movidos pelo pensamento de que todos têm direito ao ensino gratuito, os acadêmicos do curso de Engenharia, apoiados pela comunidade e por alguns diretórios acadêmicos de outras faculdades, se mobilizaram no sentido de federalizar as entidades particulares e, dessa forma, não acatar as intenções da reitoria.

"Uma primeira interpretação do Ministério da Educação era de que para consertar a Universidade de Uberlândia bastava a desfederalização do curso de Engenharia, deixando-o como ente privado, e houve um movimento intenso na Engenharia para, uma vez federal, ser sempre federal. O pessoal da Engenharia não concordava com a desfederalização."

A posição tomada pelo Diretório Central dos Estudantes era de que "No caso da Universidade de Uberlândia se tornar federal a mesma deveria oferecer ensino gratuito a todos os alunos como nas demais oficiais do país."
Em ofício do DCE encaminhado ao reitor comunicando a decisão da assembléia geral dos estudantes de Engenharia realizada no Uberlândia Clube em 23/11/76, evidenciava-se o descontentamento dos mesmos em relação às medidas tomadas pela reitoria. O ofício apresentava as seguintes manifestações:
1º - Ficou decidido que não haverá início das atividades escolares por parte dos alunos da Faculdade Federal de Engenharia da Universidade de Uberlândia para o ano letivo de 1977, caso haja qualquer movimentação em torno da aprovação do Estatuto proposto sem o atendimento das reivindicações deste corpo discente.
2º - Decidiu-se a não aceitação de qualquer aluno do curso de Filosofia assistindo aulas nas atuais dependências desta faculdade, visto estas serem insuficientes para uso dos seus próprios alunos.
3º - Os alunos não pagarão as taxas de matrículas por matéria cobradas anualmente, para o próximo ano.
Dessa forma, os alunos do curso de Engenharia fizeram várias manifestações e opinaram no sentido de que o novo Estatuto era ilegal e danoso aos interesses do ensino de Engenharia na região. Assim, em 1976 a nova reitoria voltou à carga com um novo Estatuto, que, na visão dos alunos, dissimulava as intenções anteriores: ao invés da desfederalização da Engenharia, apresentava uma proposta de criação de uma Universidade Federal.
A princípio a idéia parecia promissora, mas, na realidade, gerava uma preocupação no sentido de que se estaria implantando em Uberlândia um modelo de Laboratório Federal de ensino público pago, uma vez que oito das faculdades eram de caráter privado e, mesmo passando à responsabilidade do governo, continuariam a cobrar dos alunos o pagamento das mensalidades.
Partindo desta análise, os alunos da Engenharia tentaram uma mobilização, objetivando a inclusão no Estatuto de artigos que dessem garantias reais de que as taxas e anuidades seriam eliminadas, tal como acontecia em todas as universidades federais do país.
O movimento não foi endossado pelos demais diretórios, porque aqueles aceitaram a proposta da reitoria de que as taxas e anuidades dos alunos veteranos seriam congeladas e somente os alunos ingressantes pagariam preços reajustados.
Quando, em sua campanha política, o então candidato à presidência da república, João Batista Figueiredo, esteve em Uberlândia, os estudantes universitários fizeram manifestações e não deixaram que ele visitasse o campus universitário. Naquela oportunidade, ele prometeu, em praça pública, que quando assumisse a presidência regularizaria a situação da universidade e daria gratuidade a todos os seus cursos. Como a Universidade continuou a cobrar dos seus alunos, em 1979, já no governo Figueiredo, desencadeou-se uma greve estudantil contra o pagamento das anuidades escolares, principalmente porque o Ministro da Educação, Eduardo Portela, anunciava a implantação do ensino pago no país.
Na Universidade de Uberlândia, em virtude da greve e das manifestações estudantis, aconteceu a expulsão de vários estudantes que entravam nas salas de aulas para informar sobre o Movimento Estudantil a nível local e nacional.
Apesar da sinalização de um contexto social de mais liberdade, pois 1979 foi o ano da reconstituição da UNE, da volta de banidos e exilados políticos, ano em que organizações populares e os trabalhadores estavam se organizando e manifestando-se politicamente, na UFU a realidade ainda era de repressão e punição aos estudantes. Nesse período, quatro acadêmicos do curso de Medicina, um do curso de Direito, um do curso de Artes e um do curso de Engenharia foram suspensos com a justificativa de que estavam insuflando os colegas à greve.
Os estudantes continuaram em greve e fizeram uma comunicação da paralisação dos recolhimentos das parcelas de anuidade conforme decisão do Conselho Deliberativo do DCE, juntamente com vários cursos representados pelos seus diretórios acadêmicos. Em março de 1979, o pagamento da anuidade foi suspenso pelos alunos. Naquele período, os estudantes divulgaram um manifesto dizendo que não desejavam, de maneira alguma, ver prejudicados os trabalhos de consolidação da Universidade de Uberlândia, sua expansão e melhoria constante do ensino superior, e, para tanto, desejavam colaborar com a sua administração na busca de objetivos comuns. Entretanto, face a promessa feita pelo senhor Presidente da República, por ocasião do encerramento de sua campanha, em Uberlândia, desejavam ver efetivados os objetivos da federalização com a isenção do pagamento de anuidade, conforme todas as Universidades Federais.
No final de 79 e início de 80, os manifestos estudantis clamavam por gratuidade de ensino, por democracia e revogação das punições de suspensão dos estudantes.

"Hoje o autoritarismo é uma das características mais marcantes na universidade brasileira, que passa por uma grande crise motivada principalmente pelo descompromisso que se torna cada vez maior do governo para com a educação.
Em Uberlândia o arbítrio tem marcado presença na história do nosso campus. Esse autoritarismo se revela na própria falta de democracia onde a maioria da comunidade universitária, alunos, professores e funcionários, é marginalizada das decisões da universidade, além da falta de liberdade de manifestação e expressão. Mais especificamente com os alunos, temos tido exemplos tais como a suspensão de colegas da Medicina, impedidos de falar em salas de aula, a retirada abusiva de cartazes afixados corretamente pelos alunos para se comunicarem com os colegas, o aumento excessivo de taxas de serviço sem aviso prévio, listas de chamadas, dentre outros.
Na Engenharia, o último reflexo do autoritarismo se manifesta na suspensão do nosso companheiro Jeter Luiz Gomes. O caso do nosso companheiro foi apenas a gota d'água de uma situação que vem perdurando há muito tempo e que culminou com a paralisação das aulas em repúdio a tais atitudes. Por isso lutamos pela revogação da suspensão do companheiro.
Pelo fim do autoritarismo, pela liberdade de manifestação e expressão e pelo respeito ao estudante."

O clamor por liberdade de expressão e pelo fim do autoritarismo também aparece nesta carta aberta à comunidade estudantil:
"Em reunião realizada no dia 01/10/79, nós, alunos do curso de Psicologia, decidimos, em assembléia, aderir ao movimento grevista, esclarecendo que esta decisão não se prende unicamente ao nosso colega Jeter (Engenharia) suspenso na semana passada, mas principalmente pelos seguintes motivos:
1 - Falta de liberdade de manifestação e expressão, caracterizada, principalmente, pela retirada de cartazes afixados corretamente pelos alunos, avisos em sala de aula, etc;
2 - Pela presença obrigatória às aulas, sob pena de reprovação por faltas;
3 - Pelo policiamento repressivo (fardado e ideológico) de que somos alvo durante nossa permanência no campus universitário;
4 - Pela demissão de professores que portam idéias diferentes das que mantém o sistema e admissão de outros pelo fato de servirem de instrumento à manutenção do sistema;
5 - Pela implantação de taxas de matrículas abusivas e pelo preço excessivo de taxas de serviços prestados pela Universidade (xerox);
6 - Por manterem um critério de avaliação por notas que massacram o estudante com decoreba, para as sucessivas provas, prejudicando-lhe o tempo que deveria ser destinado à pesquisa, ao questionamento cultural, desvinculando cada vez mais o jovem da realidade brasileira, pela alienação.

Considerando que todos estes itens e inúmeros outros são frutos da REPRESSÃO de um sistema do qual nossa universidade é legítima representante.
Considerando ainda a nossa missão de co-produtores da história da humanidade e especificamente do Brasil.
Nós, os alunos do curso de Psicologia, resolvemos unir as nossas forças para que, juntos com os estudantes paralisados da Universidade e de todo o país, lutemos por melhores condições de ensino, pela liberdade de manifestação e expressão, entendendo que estas reivindicações são justas e constituem direito de todos os estudantes brasileiros."

Evidencia-se, desta maneira, a paralisação dos estudantes em busca de maior liberdade e de garantia do próprio espaço e autonomia do movimento estudantil em meio a um clima autoritário vigente na universidade. Observa-se uma preocupação dos mesmos no sentido de contribuírem nos momentos decisivos da vida da Instituição.

"O estudante não pode abdicar de seus direitos de participar das decisões que lhe dizem respeito diretamente. A separação geográfica do ensino superior em três centros distintos: exatas, humanas e biológicas acabou por desintegrar o estudante, a universidade, o profissional que de tão especializado em sua área é totalmente refratário às outras, tendo simplesmente uma visão unilateral do mundo em que vive."

Assim, são notórios a necessidade dos estudantes da UFU e o seu interesse na busca da participação e ainda a sua preocupação com a fragmentação do ensino e da aprendizagem, que limita a dimensão do homem, fato este que já vinha sendo ressaltado na história da participação estudantil da UFU. Na sua trajetória, na década de 70, encontram-se reivindicações específicas, como a luta pelo passe escolar, e realização de grande debate com candidatos a prefeito de Uberlândia e a classe estudantil, ambos em 1976. Deflagraram movimentos grevistas contra o autoritarismo reinante na universidade e pela federalização de todos os cursos da Universidade de Uberlândia. A nível nacional, participaram dos encontros de reconstrução da UNE e do próprio movimento estudantil nos Estados.
Em abril de 1978, estudantes da UFU participaram do I Seminário Estadual dos Estudantes de Engenharia, em Viçosa, buscando a reconstrução do Movimento Estudantil. Em junho do mesmo ano, juntamente com estudantes de todo o Estado, realizaram o I Encontro Estadual de Estudantes, em Juiz de Fora, o primeiro passo concreto para reerger a UEE de Minas Gerais. Participaram do II Encontro Estadual em Belo Horizonte e do Congresso de Reconstrução da UEE de Minas Gerais em Ouro Preto.
A década de 80 se inicia com uma forte mobilização estudantil contra o pagamento da taxa de matrícula e de mensalidades que ainda vinham sendo cobradas em vários cursos da Universidade. As taxas referentes ao pagamento das mensalidades foram extintas em março de 1980, quando o Presidente João Batista Figueiredo cumpria a promessa feita em praça pública. Mas as taxas de matrícula continuaram a ser pagas pelos estudantes semestralmente e sempre foram motivo de contestação em função do seu significado e não pelo valor monetário. O governo acenava com a possibilidade de reverter a estrutura educacional existente no país e o então Ministro da Educação, Eduardo Portela, respeitado crítico literário, que também tinha idéias reformistas, chegou a anunciar que o ensino superior seria pago. Os estudantes se mobilizaram em todo o país reivindicando mais verbas para a educação, ensino público e gratuito, não pagamento das taxas de matrículas nas federais e das mensalidades nas particulares e pela liberdade de expressão.
O colapso econômico se caracterizava pela crise de energia, as condições embaraçosas do balanço de pagamentos, os custos crescentes da dívida externa e a pressão inflacionária cada vez maior. Assim, o início dos anos 80 é marcado de um lado pela recessão, pela falta de recursos para investimentos na área social e, de outro, pelo movimento de organização da sociedade civil e pelas lutas por melhores condições de vida e de trabalho.
Na UFU, em 1980, os estudantes que ingressaram na Universidade visitaram várias favelas da cidade e debateram a questão do direito à habitação, durante a calourada. Denunciaram ações de despejo que vinham ocorrendo nos Bairros Marta Helena, Maravilha, Tibery e outros, onde proprietários das casas utilizaram a violência, com pessoas armadas, para retirar os moradores, uma vez que os terrenos seriam vendidos para as construtoras da cidade. Os temas mais freqüentes nos debates e palestras se referiam à questão da violência e da Democracia. Reivindicaram o fim do Departamento de Segurança Interna da UFU, que, entre outras coisas, decidia sobre os locais e as atividades estudantis realizadas no Campus Universitário.
Defendiam eleição direta para a escolha dos representantes discentes no Conselho Universitário. Decidiram que os estudantes de cada Centro, CEBIM, CETEC e CEHAR , escolheriam diretamente o seus representantes.
Consoante com o Movimento Estudantil a nível nacional, os alunos da UFU decidiram não sustentar o pagamento diferenciado de taxas, o pagamento de taxas hospitalares pelos estudantes de Medicina, sendo que os demais estudantes pagariam 50% do valor das taxas do INAMPS.
A discussão sobre a taxa de matrícula foi assunto permanente na pauta de reivindicação dos estudantes e, conseqüentemente, das reuniões do DCE.
Em 1981 os estudantes se mobilizaram, reivindicando, junto à pro-reitoria acadêmica, a participação na discussão sobre as novas propostas do sistema de avaliação. Manifestaram-se contra a homenagem prestada pela UFU a políticos do PDS local, políticos estes que tiveram influência decisiva na criação da Universidade, Dr. Homero Santos e Rondon Pacheco. Posicionaram-se contra a utilização da universidade para ganhos políticos de qualquer partido.
Organizaram-se, enquanto comissão, para a criação do Restaurante Universitário, defendendo um RU para todos. Definiram a necessidade de lutas conjuntas com a Associação dos Docentes no sentido de discutir e propor as diretrizes e políticas da UFU. Marcaram presença nos Congressos da UEE e UNE e realizaram a I Semana Cultural do DCE-UFU.
Em 1982, os estudantes redigiram carta aberta à população repudiando a administração da UFU por ter proibido debate do curso de Estudos Sociais nas dependências do campus. Os alunos do curso de Artes se mobilizaram para reivindicar cursos de verão de matérias além de EPB e Português, matérias estas que viessem atender às suas necessidades; mais educação e flexibilidade da chefia de Departamento nos assuntos a serem resolvidos com os alunos, contratação de professores qualificados para várias matérias; substituição de professores; melhor distribuição da carga horária e currículo; aumento do acervo da biblioteca e construção de um anfiteatro.
Em junho deste mesmo ano os alunos fizeram manifestação contra o aumento da passagem de ônibus e reivindicaram a revogação imediata deste aumento. Manifestaram-se, ao mesmo tempo, pelo passe operário - meia passagem - para o trabalhador; pela instalação de postos de vendas do passe no centro da cidade; pela criação de novas linhas de ônibus e pela municipalização do transporte coletivo de Uberlândia.
Em 1983, a Universidade demitiu oito professores do curso de Psicologia, havendo já demitido um professor da Clínica Médica, e assim confrontando-se diretamente com os estudantes que defendiam a permanência destes professores que se sentiram ideologicamente perseguidos. Os alunos se mobilizaram, realizaram passeatas, paralisaram as aulas a reivindicaram a anulação de tal ato. O DCE conclamou-os a se engajarem no movimento, em vista da necessidade de que todos participassem das ações:

"Só a nossa ampla participação sobre as necessidades de cada curso, sobre os assuntos administrativos poderá assegurar-nos de que não iremos ser permanentes vitimas inocentes de crises cíclicas. Queremos escolher nossos professores, queremos evitar as constantes manobras, queremos decidir sobre nós mesmos e queremos participar ativamente dos rumos da sociedade...
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Para a UFU se inserir como formadora dos homens do terceiro milênio será básico ter recursos físicos, técnicos e de pessoal. Caberá ao aluno, em que o Estado investe, caminhar junto, participando dentro de seu curso, nos órgãos representativos, usando a sua cidadania desde já."

Percebe-se uma preocupação com o clima de autoritarismo e arbitrariedade instalado na universidade e o direcionamento das ações do DCE no sentido de unir forças com o segmento docente. Os estudantes participaram a apoiaram a greve dos docentes e também definiram um movimento específico contra o ensino pago, por uma universidade pública, gratuita e democrática.
Com a ameaça no ar da implantação do ensino pago, o DCE realizou o Dia Nacional de luta em defesa da Universidade pública, democrática e gratuita, através do qual se visava sensibilizar a comunidade e pressionar o MEC. Os professores, pela primeira vez na história da UFU, paralisaram as aulas em sinal de protesto contra a ameaça de cortes nos seus salários e por mais verbas para a educação. No entendimento dos alunos, fazia-se necessário barrar o ensino pago nas universidades e o patrulhamento ideológico.

"Os regimes totalitários tentam impor a sua ideologia através da força, da repressão, de atos arbitrários, pois esta é a linguagem que conhecem e praticam, mostrando não interessar uma universidade voltada para uma reflexão política, onde se tenha espaço para os mais diversos posicionamentos, onde a opção do indivíduo se dê pelo convencimento das idéias no dia-a-dia, se dê pelo voltar-se para a busca de soluções que modificam a realidade da sociedade brasileira. Essas demissões não são fatos isolados do contexto social em que vivemos...
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quando a reitoria oportunamente deixa para demitir funcionários no período de férias, isto por não ter a menor dignidade, por não saber enfrentar as conseqüências de seus atos praticados, dá margem para questionamentos até onde vai o verdadeiro compromisso da UFU com a educação, com a formação de profissionais comprometidos com os interesses da população, com sua postura ética, que se prima por abrir caminhos para a construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária, onde se procura encontrar uma saída coletiva para a resolução de problemas da população. No entanto, o que vemos é uma universidade voltada para si mesma, centro de seu próprio fim...
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Precisamos todos nós, juntos nas nossas entidades lutarmos pela Liberdade de Expressão e pela mais ampla autonomia de ação."
As atividades do DCE, nesse período, foram no sentido de fortalecer o relacionamento entre as entidades estudantis, sua organização enquanto necessidade de participação nos órgãos colegiados, na definição de políticas da UFU e na implementação de atividades culturais.
Foi realizado o I Congresso do DCE em setembro/83, ocasião em que discutiram, entre outros temas, a questão do financiamento da educação, resolvendo que o Estado é quem deveria manter todas as escolas públicas e arcar com todos os gastos relativos à educação e que, portanto, não pagariam mais taxa de matrícula. Assim, decidiram organizar-se para aprofundar essa discussão em todos os cursos, em todos os órgãos colegiados da UFU, ampliar essa discussão com toda a comunidade universitária.
Em relação ao Restaurante Universitário, decidiram fazer uso imediato do refeitório da Medicina, enquanto se construía o RU. No que se refere à Moradia Estudantil, resolveram pelo levantamento de áreas disponíveis na Universidade, de custos da construção, do número de estudantes que necessitariam de moradia e apresentaram como proposta do local da moradia estudantil o prédio da antiga Faculdade de Odontologia, hoje sede da Reitoria. Ainda nesse congresso tomaram decisões sobre as cantinas da UFU, participação no Conselho Municipal de Transportes, Banco do Livro e Biblioteca, Convênio, Currículo e Pesquisa, Autonomia e Democracia na Universidade e organização do DCE.
Em termos de atividades e lutas gerais, participaram do Congresso da UEE em Belo Horizonte e organizaram o movimento de apoio ao povo da Nicarágua numa promoção do DCE-UFU, PMDB, PDT, PT, Pastoral Operária, UESU e outras entidades que sempre estiveram ao lado do povo. Ainda manifestaram solidariedade à comunidade universitária de São Carlos, repudiando veementemente a não tomada de posse do reitor eleito por aquela comunidade e a intervenção na Universidade.
Os estudantes estiveram presentes também nas reuniões da Prefeitura Municipal para discussão sobre tarifa dos transportes coletivos, política municipal de praças e jardins, representatividade da Entidade no Conselho Municipal de Trânsito e, ainda, na Câmara Municipal, manifestando-se contra o projeto do vereador Antônio Naves, do PMDB, que propunha a extinção do passe escolar.
Manifestaram-se também contra o aumento dos preços dos transportes coletivos, alegando dificuldades da classe trabalhadora, usuários mais freqüentes. Havia uma preocupação neste sentido e percebe-se em suas manifestações uma inserção nos problemas sócio-econômicos instalados no país:

"Nossa preocupação dá-se em virtude da grande defasagem que observamos na relação existente entre o aumento salarial e os seguidos aumentos do transporte coletivo em Uberlândia. Enquanto nos últimos seis meses o preço da passagem do ônibus urbanos subiu 100%, o aumento dos salários, neste período, deu-se na faixa de 37%, o que leva a crer que se torna injustificável uma nova elevação da referida tarifa."

Assim, ao mesmo tempo em que reivindicavam questões específicas, que os afetavam mais diretamente, como os preços das passagens do transporte coletivo e os preços praticados nas cantinas da UFU, promovendo manifestações em frente da Reitoria, também participavam das questões mais gerais da sociedade, engajando-se nos grandes movimentos contra a privatização do ensino, em defesa da universidade pública, participando do Conselho Municipal de Entidades Comunitárias e do movimento desencadeado em todo o país pelas Diretas-já.
Organizaram e participaram de comícios pelas eleições diretas e fizeram uma paralisação no dia 25/04/84 defendendo a emenda Dante de Oliveira, que restabelecia as eleições diretas para presidente da república, em votação no Congresso Nacional.
Frustrada a votação da emenda, os estudantes voltaram a realizar comícios pelas Diretas-já em setembro/84, juntamente com a União dos Trabalhadores do Ensino, o PT, as Associações de Bairros, Pastoral Universitária, alguns vereadores e a Associação dos Psicólogos. Foi realizado o grande comício: Uberlândia volta à praça pelas Diretas-já.

"O comício de Uberlândia aconteceu num momento em que ao povo, aos estudantes, enfim, aos brasileiros, está colocada na ordem do dia, mais uma vez, a sucessão presidencial. Sucessão esta que ocorre em meio a um tenso clima de efervecência social, inúmeras greves pipocando pelo país, invasões e depredações de instituições públicas, casas comerciais e ônibus. Conseqüência direta do agravamento da crise econômico-social em que se debate o país, e que para fazer frente a ela o governo Figueiredo vem adotando uma política de austeridade e recessão econômica."

Nesse mesmo período, o DCE encaminhou a articulação de um movimento conjunto com funcionários administrativos e docentes, visando unificar a luta em defesa da universidade pública e gratuita, por mais verbas, com a aplicação imediata da emenda João Calmon, contra taxas e sobretaxas, por uma universidade voltada aos interesses da população, uma universidade pública, gratuita e democrática. Democracia esta que vinha sendo usurpada na UFU, na medida em que, nesse mesmo momento, os estudantes de Medicina estavam em greve pela demissão do Professor Lineu Miziara da cadeira de Farmacologia.

"A greve ora em curso levanta-se contra outra tentativa arbitrária da Reitoria em ingerir sobre o curso de Medicina. De tentar impor os seus interesses, ignorando os anseios e as necessidades dos alunos. Neste momento é de fundamental importância que os estudantes da UFU se manifestem, que todos os DAs procurem se solidarizar com a Medicina na Luta contra o arbítrio da Administração superior. Uma luta que tem que se elevar necessariamente à luta mais ampla pela Democratização da UFU, com eleições diretas para Reitor e todos os cargos de chefia, fim dos órgãos de informação e delação, participação paritária nos órgãos colegiados e autonomia política dos departamentos."

Naquele período, passeatas foram realizadas e vários atos públicos e manifestações foram feitos em frente à Reitoria da UFU.
Por outro lado, a reitoria concedia aos estudantes um local para o espaço cultural do DCE, inaugurando o Galpão, para as várias formas de manifestações culturais, reivindicação antiga dos estudantes, e acenava com a possibilidade de criação do restaurante universitário através de uma Fundação de Assistência ao Estudante - FAESU, que inicialmente se manteria com as taxas de matrículas pagas pelos estudantes e a ela transferidas.
No final de 1984, frustrada a possibilidade das eleições diretas e com a proposta da Aliança Democrática no Colégio Eleitoral, entendendo esse momento como fruto dos avanços e limitações da campanha das diretas, os estudantes, reunidos no seu 35º Congresso, definiram seu apoio ao candidato de oposição Tancredo Neves. Somaram-se aos demais setores da sociedade que exigiam mudanças, ao formular um Plano de Emergência para salvar a universidade. As diretrizes emanadas do congresso deram mostras de que os estudantes compreenderam que nada mudaria sem que antes se mudasse o regime, orientando, assim, o seu engajamento na campanha oposicionista de Tancredo. Embora tivessem clareza do peso da direita na Aliança, entendendo que era uma frente heterogênea e precária, vislumbravam que ela interessava na medida em que inviabilizava o caminho que reforçava o regime vigente. Enxergaram uma possibilidade de maior abertura política e de novos canais de participação popular. Em vista disso, apoiaram o candidato da Aliança, definindo uma programação para negociação, na qual se encontravam o rompimento com o FMI, o fim da política recessiva e aplicação de medidas contra a fome e o desemprego, a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte livre e soberana, eleições diretas em todos os níveis, garantia de amplas liberdades democráticas, reforma educacional que possibilitasse uma universidade autônoma e democrática, com 12% do orçamento da União, política educacional voltada para os interesses populares e nacionais.
Inviabilizada a posse de Tancredo, em razão do seu imprevisto falecimento, as propostas se mantiveram para o governo Sarney.
Na Universidade Federal de Uberlândia, foi realizado, em 1985, o II Congresso do DCE com o "intuito principal de propiciar um amplo processo de mobilização e envolvimento dos estudantes em torno das discussões e temas que afligiam o ensino superior, a crise estrutural, a defasagem com a realidade, o mercado de trabalho, a falência financeira e ainda situar as discussões políticas que antecederam momentos de profundas reformas e mudanças na sociedade brasileira."
Basicamente, naquele período, além das reivindicações anteriores, os estudantes da UFU se concentraram no debate sobre a reforma universitária, na elaboração de um novo sistema de avaliação e na Assembléia Nacional Constituinte.
Em final de 1985, aceitaram a proposta da Pró-Reitoria Estudantil e de Extensão de se criar uma Fundação de Assistência ao Estudante Universitário - FAESU, com vistas à assistência estudantil, inclusive à construção do Restaurante Universitário, motivo de muitas lutas desde os anos 70.
Com a criação dessa fundação, seria também organizado um espaço de Esporte e Lazer no Campus da Educação Física.
Discutiram, ainda, a estrutura de poder na Universidade, o levantamento dos problemas vividos por cada curso, o horário de funcionamento das bibliotecas, prejudicado por falta de pessoal. Os funcionários tinham conquistado uma jornada de trabalho de 40 horas semanais e portanto não trabalhariam aos sábados pela manhã, dificultando o funcionamento das bibliotecas.
Participaram do Congresso da UEE em Belo Horizonte, debateram com os candidatos a deputados estaduais da região e fizeram manifestação de apoio ao movimento desencadeado pelos funcionários do Laboratório de Patologia e Necrópsia da Universidade Federal de Uberlândia que reivindicavam uma jornada de trabalho específica.
A Nova República acenou com manifestações de interesse no sentido de mudanças para a educação, ao nomear uma comissão nacional com a incumbência de propor uma nova política educacional para o país.
Nas universidades constituíram-se grupos de estudos para tal fim. Na UFU, os estudantes se fizeram representar nesse grupo, abrindo discussões no interior da instituição, nas entidades estudantis, entre estudantes da UFU e de outras faculdades da região. No entanto, ao final do trabalho, apesar de as comissões apresentarem conclusões sobre os debates e estudos realizados no Brasil inteiro, o governo não encaminhou as medidas propostas.
Esse período foi marcado também pelo movimento nacional dos servidores das Universidades federais, que lutavam por um plano de cargos e salários, pelo estabelecimento de uma carreira e por melhores condições de trabalho, de ensino, enfim, pela educação pública e de qualidade. Na UFU, pela primeira vez, os servidores técnicos-administrativos aderiram ao movimento grevista desencadeado a nível nacional. Por este motivo, sofreram repressão violenta por parte da administração da Universidade. Os estudantes fizeram várias manifestações de apoio aos servidores em greve, desencadeando, inclusive, um movimento pela exoneração do reitor em exercício naquela época, Dr. Geraldo de Carvalho.
Em 1987, a instituição viveu momentos de grandes discussões sobre o processo sucessório da reitoria. Com a aproximação do final do mandato do reitor, a comunidade universitária entendia que deveriam ser realizadas democraticamente eleições diretas para o reitor. O DCE, ADUFU e ASUFUb , "entendendo que a eleição direta para reitor é o primeiro passo para a democratização da universidade, e que, por esta razão mesma, entendem que a forma de encaminhá-la pressupõe amplas discussões das bases que expressam a vontade da maioria, advogam um período de tempo hábil para que se chegue a posicionamentos maduros sobre o processo sucessório."
Num trabalho conjunto com a ADUFU e ASUFUb sobre o processo sucessório, lutando pela democratização, os estudantes reivindicavam ainda a participação dos três segmentos de forma paritária, com homologação pelo Conselho Universitário e pelo Presidente da República do candidato eleito, garantia aos eleitores de oportunidades de debaterem com os candidatos, garantia do voto secreto , facultativo, num único candidato, eleições em dois turnos, comissão eleitoral paritária e escolhida pelas entidades representativas.
Não considerando grande parte das reivindicações da comunidade universitária, o Conselho Universitário definiu, para a sucessão do reitor, regras contrárias aos princípios definidos pelos três segmentos. Não concedeu alargamento dos prazos para as discussões e debates e definiu peso maior para o voto do professor.
Já se observa, naquele momento da vida universitária, uma certa afinidade entre o movimento estudantil e o movimento dos técnicos-administrativos:

"O movimento dos servidores não se limitou a lutas contra a situação de miséria material da categoria, buscou também a defesa de uma universidade pública, gratuita e democrática."

Percebia-se uma simpatia do movimento estudantil em relação ao movimento dos administrativos, movimento este que vinha emergindo na universidade, calcado nos princípios de democracia, liberdade de expressão e defesa do ensino público, gratuito e de qualidade.
Assim, quando o Conselho Universitário definiu as regras do processo eleitoral para a sucessão do reitor, os estudantes e servidores administrativos se posicionaram contra a proposta, que julgaram discriminatória e autoritária.

"O peso privilegiado dos docentes servirá apenas à perpetuação dos interesses dos grupos que compõem a cúpula da Reitoria, com seu notório descompromisso com a educação e exercício de práticas autoritárias. A minimização da nossa participação tornará a eleição do próximo reitor anti-democrática, discriminatória, elitista e sem representatividade."

Os alunos do curso de História, em assembléia, aprovaram por unanimidade o repúdio ao processo eleitoral imposto pelo Conselho Universitário, por conseguinte a não legitimação do reitor eleito.
Alheia às manifestações contrárias, a administração superior procedeu às eleições em dezembro de 1987, sem a participação oficial dos servidores técnicos-administrativos e dos alunos.
Em termos nacionais, a Nova República não se concretizou, em 1988 a UNE se mobilizou com o "FORA SARNEY e o FMI". As discussões e manifestações em todo o país se concentraram basicamente na Constituinte. Buscava-se garantir direitos sociais e conquistas para a classe trabalhadora. Almejava-se uma melhor qualidade de vida para a maioria da população, propiciando-lhe o acesso a bens e serviços.
Foi neste contexto que tomou posse o novo Reitor da UFU.
Descontentes também com os resultados da sucessão, os estudantes discutiram as bases para manutenção do acordo de permanência da representação estudantil junto à FAESU e fizeram manifestações sobre a sucessão nas pró-reitorias e na direção da FAESU. Participaram, ainda, do movimento de apoio às Fundações, paralisando suas atividades num movimento conjunto com os docentes em 1988. Mas, nesse ano, a ação mais importante, não só para o corpo discente, mas para toda a comunidade universitária, foi a proposta de organização do I Congresso Universitário da UFU a ser coordenado pela ADUFU, ASUFUb e DCE. Essas três entidades mobilizaram a comunidade universitária, defendendo uma proposta conjunta para a universidade:

"No âmbito geral da sociedade, a propalada transição democrática vem-se operando de maneira lenta e incerta. No caso específico da universidade, as mudanças têm sido ainda mais arrastadas, dificultadas por obstáculos de toda ordem, inclusive por determinações da política educacional do governo, que, via de regra, apontam o retrocesso.
Vivemos um momento em que a universidade é objeto de severas críticas por parte de todos os segmentos da sociedade. Critica-se seu papel, estrutura, direção e funcionamento; todos impregnados de um autoritarismo acentuado e baseados nas velhas estruturas de poder. Torna-se, portanto, imprescindível repensar uma nova organização.
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Assim, o Congresso Universitário representou a tentativa de superar a visão fragmentada a respeito das questões educacionais. Representou a busca da democratização na universidade e a possibilidade de encontrar alternativas conjuntas que dessem respostas aos anseios da comunidade universitária como um todo. Na verdade, foi um momento de união de forças contra uma história de autoritarismo instalado na instituição.
No final de 88 e início de 89, os alunos participaram ativamente de uma comissão junto à Pró-Reitoria Estudantil, com o objetivo de elaborar uma proposta de funcionamento para o restaurante universitário, política de preços das refeições e de bolsas para os estudantes carentes. Neste trabalho conjunto conseguiu-se chegar a uma proposta de ação que contemplou os seus anseios e as suas necessidades. Posteriormente, no início dos anos 90, insatisfeitos com a política de preços aplicada no restaurante universitário, os estudantes ocuparam o RU, serviram as refeições e realizaram todas as atividades desempenhadas pelos funcionários, demonstrando o descontentamento com a administração da política estudantil. Alegavam que o acordo proposto não estava sendo cumprido.
Ainda no final da década de 80 participaram da campanha das eleições presidenciais, na sua maioria apoiando o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
Eleito Fernando Collor, iniciou-se um processo de desvalorização do serviço público e deterioraram-se cada vez mais as condições de vida dos servidores públicos e as condições de ensino. Com freqüência, ocorria a falta de recursos para a pesquisa, para equipamentos de laboratório. Acentuou o descaso com as universidades públicas.
Em 1990 realizou-se o I Congresso Universitário da UFU, onde se discutiu a relação Universidade-Sociedade, Regime Jurídico da Universidade, política de Pessoal, política de Ensino, Pesquisa e Extensão, Avaliação, Estrutura e Poder, Gestão Universitária e o Estatuto da UFU. Decidiu-se pela criação de três comissões: Comissão de Preparação do Congresso Estatuinte, composta de três representantes de cada segmento; Comissão de Reestruturação do Vestibular, com uma composição paritária entre estudantes, professores e técnicos-administrativos e comunidade externa; Comissão para elaborar diagnóstico das fazendas e hospitais (veterinária, odontologia e de clínicas da UFU), também composta por uma representação paritária, sendo três representantes de cada segmento da UFU e mais a comunidade.
Os estudantes da UFU, nesse período, participaram também do Congresso da UNE e da campanha SOS Universidade, contra a privatização do ensino e valorização da escola pública. Escolheram representantes, apoiaram greves dos docentes e servidores técnicos-administrativos, realizaram o Festival Cultural e o Encontro de Entidades de Base.
Em maio de 1991, a UFU viveu uma greve geral contra a privatização do ensino, defendida por Collor. Os estudantes participaram e apoiaram o movimento, por entenderem que ele traria a possibilidade de ampliação de um trabalho conjunto dos três segmentos universitários junto aos outros setores da sociedade brasileira. Na verdade a luta era por melhores condições de vida para todos.
Naquele ano, os estudantes avaliaram ainda questões mais específicas em relação à representação estudantil em cada órgão deliberativo e consultivo da universidade. Engajaram-se também no movimento que surgia no seio da universidade com o objetivo de discutir o processo sucessório na UFU, em vista do final do mandato do reitor. Desse movimento, articulado por um grupo que se denominou Grupo pró-sucessão, surgiu a chapa Idéias e Ideais, que tinha como propostas a democratização da universidade, a superação da crise e a busca de autonomia universitária. O movimento Idéias e Ideais marcou uma nova era na Universidade, porque foi supra-partidário, com representação de todos os segmentos que buscavam um processo sucessório com a participação da comunidade universitária e com objetivos definidos no sentido de democratizar a instituição, torná-la solidária, criativa, culturalmente produtiva e posta a serviço da maioria da população.
Mais uma vez o Conselho Universitário definiu as regras eleitorais, conferindo valores diferenciados aos votos dos segmentos docente, administrativo e discente. Mas, considerando o movimento que vinha sendo desenvolvido no interior da instituição, a comunidade universitária decidiu participar ativamente das eleições. Foi eleito o candidato apoiado pelo grupo pró-sucessão, ou seja, o movimento Idéias e Ideais, eleito pelos estudantes que votaram em massa na sua candidatura e pelos técnicos-administrativos; os docentes dirigiram sua escolha a outro candidato, que representava o pensamento conservador.
Como o candidato eleito representava a possibilidade de mudança, um candidato apoiado pela oposição não só no interior da universidade, mas também em termos políticos da cidade e região, a homologação do seu nome não foi feita de imediato, sendo a lista sêxtupla que tinha sido enviada ao MEC pelo Conselho Universitário devolvida pelo Presidente da República com a justificativa de que continha "vícios insanáveis". O reitor eleito, Nestor Barbosa, declarou na época que a devolução da lista agrediu a autonomia universitária. Vencido o mandato do reitor e defendido por interesses políticos da oligarquia uberlandense, tomou posse o vice-reitor. Nesse momento iniciou-se no interior da instituição um intenso movimento de defesa da autonomia universitária e da democratização da Universidade.
Um mês depois da devolução da primeira lista o Conselho Universitário enviou nova lista ao MEC ratificando a lista devolvida anteriormente e novamente o nome do Prof. Nestor encabeçava a relação dos nomes indicados.
A não nomeação do reitor eleito pela comunidade universitária, justificada pelo MEC como questão legal, trazia no seu bojo toda uma questão política maior. A Universidade de Uberlândia, que desde a sua origem foi criada e defendida pelas elites da cidade e durante toda a sua história viveu uma relação submissa às forças políticas da região, não poderia naquele momento sonhar com a sua emancipação. A reação dos políticos locais, dos partidos conservadores se fez sentir nas articulações ferrenhas entre Minas e Brasília, onde todos os cacifes políticos foram utilizados e mais uma vez o Presidente, na época Fernando Collor, não nomeou o reitor, devolvendo a lista pela segunda vez.
Estudantes, docentes e administrativos entraram em greve reivindicando a nomeação do reitor eleito, a garantia da autonomia universitária e dos princípios democráticos.
Naquele momento, crescia em todo o Brasil o descontentamento com os atos de corrupção do Presidente Collor e seus assessores. Os estudantes tomaram de assalto as ruas, principalmente nas capitais, puxando o coro dos descontentes com o mar de lama revelado pela CPI do caso PC Farias.
De rostos pintados e roupas pretas, entoando palavras de ordem, também em Uberlândia eles mostraram a sua força na reivindicação da posse do reitor eleito. Assim, além do "FORA COLLOR", os estudantes da UFU tinham uma reivindicação específica e o movimento nacional fortaleceu o movimento vivido pela comunidade universitária de Uberlândia.
Nas comemorações da Semana da Pátria em 7 de setembro de 1992, em meio às manifestações pró-impeachment em todo o Brasil, em Uberlândia os protestos foram marcados pelo movimento dos estudantes da UFU contra a permanência do presidente e a favor da nomeação do reitor da UFU, Prof. Nestor Barbosa Andrade. Os estudantes saíram de roupas pretas na avenida Afonso Pena após o desfile militar do 7 de setembro e continuaram a fazer várias manifestações na cidade para serem atendidos na sua reivindicação. Um grupo de alunos de vários cursos, como Psicologia, Engenharia, Música, História, Biologia, acampou no pátio da vice-reitoria e prometeu não sair do local enquanto não se efetivasse a nomeação do reitor eleito. "Com faixas, cartazes, violão e outros recursos, os universitários demonstravam sua insatisfação com o reitor interino Luiz Mário Guimarães."
Cresceu na cidade e região o movimento popular pelo impeachment do presidente Collor e a posse do reitor eleito da UFU. Talvez a Universidade Federal de Uberlândia tenha vivido nesse momento o movimento mais intenso da sua história, quando os três segmentos, estudantes, técnicos-administrativos e docentes, apoiados pela sociedade civil organizada, lutaram pela garantia da autonomia universitária e pela defesa dos princípios democráticos, exigindo a posse do reitor eleito.
Nova batalha se travou quando, ao término do mandato do reitor interino, o vice-reitor Luiz Mário Guimarães, o MEC nomeou um interventor, um assessor do Ministério da Educação em Brasília, Prof. Hélio Leite, que assumiu a reitoria em 08 de outubro de 1992 com o objetivo de reunir o Conselho Universitário e elaborar uma lista tríplice da qual sairia o nome do reitor pro-tempore a ser nomeado pelo Presidente Itamar Franco, que havia assumido a Presidência da República após a queda de Collor. Nesse momento, alunos, professores e técnicos-administrativos ocuparam a reitoria da UFU com o objetivo de chamar a atenção para o descontentamento da comunidade universitária pela não nomeação do reitor eleito e sim de um interventor.
A polícia esteve no local, cercou o prédio, mas não houve nenhum incidente.
Novas passeatas foram feitas pela cidade, a vigília na vice-reitoria e a ocupação da reitoria permaneceram como atitudes de enfrentamento às pressões dos políticos locais e às decisões vindas de Brasília.
Foi nomeado um reitor pro-tempore, prof. José Carlos de Oliveira, com a incumbência de elaborar a lista sêxtupla e enviar a Brasília, o que foi feito, ratificando o nome do prof. Nestor em primeiro lugar. Em novembro de 1992 o Presidente Itamar Franco nomeou o reitor eleito, prof. Nestor Barbosa de Andrade. Os estudantes só desocuparam a reitoria após a sua posse.
Esperançosa com um futuro democrático para a universidade, a comunidade estudantil apoiou o novo reitor. Mas já em 1993 os estudantes fizeram um movimento pelo aumento das bolsas de alimentação e em 1994 ocuparam o anfiteatro do campus Santa Mônica exigindo moradia estudantil, promessa do reitor quando candidato à reitoria. A atual reitoria encaminhou a Brasília um projeto de construção de moradia estudantil e, enquanto aguarda decisão, acordou com os alunos um sistema de auxílio-moradia aos carentes procedentes de outras localidades.
Assim, dessa trajetória aqui traçada, percebe-se a presença do estudante em todos os momentos decisivos da história da UFU. A comunidade estudantil, embora regida por instrumentos legais que limitam a sua participação, tem buscado, de uma forma ou de outra, fazer-se ouvir no seio da instituição. E, com certeza, na UFU, os estudantes desempenharam papel decisivo no embate de forças, pois, como vimos, interferiram em várias questões vividas pela universidade e pela comunidade estudantil. Em todas as suas ações, procuraram fazer valer seu direito à liberdade, mostrando-se comprometidos com a construção de uma nova sociedade essencialmente democrática.
CAPÍTULO IV


CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DO ESTUDANTE DA UFU E ANÁLISE DE SUAS REPRESENTAÇÕES SOBRE A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL

A participação estudantil é influenciada por vários fatores, como os sociais, econômicos, profissionais, familiares a ainda pela própria estrutura universitária que atua e interfere nas relações dos alunos. Os objetivos desta dissertação visam conhecer e analisar, isto é, procuram penetrar no mundo do estudante da UFU, desvelando as suas idéias, sentimentos e opiniões sobre o processo de participação estudantil na universidade, bem como sobre os múltiplos e complexos aspectos desta instituição no seu modo de ser e de atuar para o cumprimento de suas finalidades e nas sua relações com a sociedade em geral.
Este estudo intenta contribuir para subsidiar o movimento estudantil da UFU em seu processo participativo, tanto quanto a própria UFU em uma avaliação posterior sobre questões presentes na vida universitária referentes ao próprio projeto pedagógico-político-social e técnico-científico da universidade, no qual a cidadania, a democracia e a participação são elementos fundantes.
O objeto desta investigação são as representações colhidas dos estudantes da UFU sobre aspectos de sua participação estudantil e suas percepções sobre esta universidade, como locus de formação, convivência e contribuição ao desenvolvimento da sociedade.
Tendo em vista este objeto e os objetivos propostos, concebeu-se a investigação como de caráter exploratório através de uma pesquisa qualitativa. Entende-se por pesquisa qualitativa

"a abordagem que parte do pressuposto de que as pessoas agem em função de suas crenças, percepções, sentimentos, valores e seu comportamento tem sempre um sentido, um significado que não se dá a conhecer de modo imediato, precisando ser desvelado. A compreensão do significado de um comportamento ou evento só é possível em função das inter-relações que emergem de um dado contexto. Daí decorre também a natureza predominante dos dados qualitativos: descrições detalhadas de situações, eventos, pessoas, interações e comportamentos observados, citações literais do que as pessoas falam sobre suas experiências, atitudes, crenças e pensamentos."

Para efetivação do presente estudo os procedimentos metodológicos foram divididos em duas fases:

FASE I

Nesta fase, fez-se uma caracterização do perfil sócio-econômico do estudante da UFU, bem como levantou-se alguns dados sobre sua percepção, enquanto aluno, a respeito da participação e de alguns aspectos referentes à universidade. Para tanto, definiu-se uma amostra aleatória de 5% do universo dos alunos matriculados nos vários cursos de graduação da UFU, o que resultou num total de 336 alunos pesquisados.
Nesse primeiro momento utilizou-se como instrumento o questionário, por permitir a auto-aplicação e assim atingir-se um maior número de pessoas ao mesmo tempo, bem como por ser também um processo menos dispendioso e assegurar certa uniformidade, já que as questões são fechadas. O instrumento abrangeu as seguintes variáveis:
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
- Nome (opcional);
- Curso;
- Sexo;
- Estado Civil;
- Idade;
- Moradia;
- Procedência.

DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS
- Situação de trabalho;
- Jornada;
- Remuneração;
- Manutenção;
- Grupo familiar;
- Ocupação dos pais;
- Renda familiar.

DADOS DA VIDA UNIVERSITÁRIA
- Satisfação em relação ao curso;
- Visão sobre a participação estudantil na UFU e nos vários cursos;
- Confiança nos órgãos de representação;
- Características da UFU.

Inicialmente, procedeu-se à realização do pré-teste, para avaliar o instrumento, aplicando-o em 15 alunos, sendo cinco do Centro de Ciências Humanas e Artes, Cinco do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas e cinco do Centro de Ciências Biomédicas. Introduziram-se, em seguida, as modificações que se fizeram necessárias para melhor compreensão das questões. Redefinido o instrumento (Anexo I), passou-se à sua aplicação numa amostra de 5% dos estudantes, com o cuidado de estratificá-la por curso e por turno, de forma a garantir o mesmo índice de representatividade em cada curso.
A escolha dos respondentes foi aleatória, tendo como critérios: que fossem alunos com pelo menos um semestre de UFU, matriculados em apenas um curso e que os dados fossem coletados em outros ambientes da universidade e não na sala de aula, a fim de não permitir sua identificação pelos pares e, desse modo, garantir-se maior confiabilidade dos dados coletados e maior representatividade.
Os questionários foram entregues aos estudantes que se encontravam nas cantinas, nas bibliotecas, ou mesmo circulando pelo Campus, de acordo com o número definido para cada curso. Os 336 alunos responderam ao questionário, ou seja, 100% dos questionários entregues foram devolvidos de imediato devidamente preenchidos. É importante ressaltar que esse nível de aceitação se deveu ao fato de que toda a fase de coleta de dados foi realizada por mim, explicando o objetivo da pesquisa, o interesse pelo tema e a importância da experiência vivida na instituição na área estudantil. Houve uma relação face a face com cada respondente, que atendeu solicitamente e até mesmo com muito interesse em contribuir e participar da pesquisa e posteriormente conhecer os resultados do estudo. Essa metodologia valorizou sobremaneira a importância dos sujeitos pesquisados e explicitou com muita clareza a proposta, conseguindo de todos a concordância em responder o instrumento. Outro aspecto que contribuiu para esse nível de adesão foi o meu grau de conhecimento e relação com os alunos da instituição.
A coleta de dados para a elaboração do perfil dos alunos foi realizada nos meses de maio e junho de 1992. O trabalho foi interrompido no segundo semestre de 1992, momento em que a universidade viveu um período de greve de alunos, servidores e professores devido à não nomeação do reitor eleito pela comunidade universitária, o que só veio acontecer em novembro de 1992. Devido à paralisação das aulas foi necessário alterar o calendário escolar. Viveu-se um período tumultuado de negociações e isso dificultou a continuidade da pesquisa, pois os estudantes tiveram uma participação ativa nesse processo e, no final, as entidades se apresentavam com um certo desgaste, recuperando-se no primeiro semestre de 1993. A partir daí, foi possível encaminhar o estudo em tela com a finalidade de buscar a expressão das representações (cognitivas e afetivas) dos estudantes da UFU sobre sua concepção de participação, cidadania e democracia, sua visão do movimento estudantil na UFU e da própria vida e dinâmica sócio-política desta universidade.
Os dados coletados através dos questionários receberam um tratamento estatístico expresso em vinte e três (23) tabelas que se seguem com suas respectivas explicações. A seqüência do estudo trata da análise das representações dos estudantes da UFU sobre o movimento estudantil e a universidade.

TABELA 01
DISTRIBUIÇÃO DOS ESTUDANTES POR CURSO
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)

A amostra corresponde a 5% dos alunos matriculados em cada um dos cursos da UFU, resultando num total de 336 alunos pesquisados.

TABELA 02
DISTRIBUIÇÃO DOS ESTUDANTES POR CURSO E SEXO
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)

Na amostra pesquisada constatou-se que, do universo de 336 alunos, 169 são do sexo feminino e 167 são do sexo masculino. Em termos percentuais, 50,30% são mulheres e 49,70% são homens. As mulheres predominam nos cursos de Psicologia (92,86%) e no curso de Pedagogia (91,67%). Por outro lado, o sexo masculino apresenta maior incidência nos cursos de Engenharia Mecânica (100%) e Engenharia Elétrica (87,50%). Há um certo equilíbrio entre os dois sexos na universidade. Os homens predominam nas ciências exatas e as mulheres nas ciências humanas.

TABELA 03
DISTRIBUIÇÃO DOS ESTUDANTES POR CURSO E FAIXA ETÁRIA
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)


Em relação à faixa etária dos alunos pesquisados, pode-se observar na Tabela 03 que 67,26% se encontram entre 21 e 26 anos. É significativo o índice de 21,13% de alunos com até 20 anos. É uma população de jovens adultos e sua maioria está na faixa etária de 21 a 26 anos.

TABELA 04
DISTRIBUIÇÃO DOS ESTUDANTES SEGUNDO O CURSO E O ESTADO CIVIL
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)

Dos alunos pesquisados, 89,58% são solteiros. Em se tratando de uma população jovem, como ficou demonstrado na tabela anterior, pode-se considerar natural esse índice. Isso pode ser explicado pela própria situação de dependência financeira do jovem em relação à família. Essa é, com certeza, uma condição limitante para se assumir uma família própria. Existem também as expectativas reinantes na sociedade e no meio familiar de que o casamento é uma seqüência da conclusão do curso superior, principalmente no que se refere ao sexo masculino. Quanto ao sexo feminino, pode-se observar que no curso de pedagogia, no qual predomina este sexo, situa-se o maior índice de alunos casados (33,33%).

TABELA 05
DISTRIBUIÇÃO DOS ESTUDANTES SEGUNDO O CURSO E PROCEDÊNCIA
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)
Buscando conhecer e caracterizar essa população, pode-se verificar na Tabela 05 que, em relação a procedência, 60,42% são da cidade de Uberlândia. Somente 39,58% dos alunos são oriundos de outras localidades. O curso que apresenta maior incidência de alunos de outras localidades é Engenharia Química, com 80,0%, seguido pelo curso de Agronomia, com 71,43%. A grande maioria de Uberlândia aparece nos cursos de Letras (95,45%), Ciências Contábeis (94,12%) seguidos pelo curso de Administração (83,33%).
Como são cursos noturnos, pode-se inferir que o aluno de Uberlândia busca cursos noturnos porque trabalha ou tem outra ocupação durante o dia. Pelo fato de ser morador da cidade, o acesso às atividades de trabalho é facilitado. Por outro lado, existem muitos alunos que já possuem uma situação estável de trabalho e vêem no curso superior uma forma de promoção e ascensão.

TABELA 06
DISTRIBUIÇÃO DOS ESTUDANTES SEGUNDO A CIDADE DE PROCEDÊNCIA
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)


Dos alunos procedentes de outras localidades, verifica-se que o maior índice (14,29%) é de Araguari, cidade vizinha de Uberlândia, a uma distância de 30 Km. Observa-se ainda que a maioria procede da região: Araguari, Tupaciguara, Ituiutaba, Uberaba, etc. Portanto, predominam os procedentes do próprio Estado de Minas Gerais, aparecendo em seguida os do Estado de São Paulo. Observa-se ainda que, embora com pequenos índices, há uma diversificação de procedência. A Universidade Federal de Uberlândia absorve de maneira significativa os alunos da região, mas recebe alunos de vários lugares do país e até mesmo do exterior (África do Sul).

TABELA 07
DISTRIBUIÇÃO DOS ESTUDANTES SEGUNDO O CURSO E A MORADIA
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A tabela acima demonstra que 51,19% dos alunos pesquisados residem com a família. Os maiores índices estão exatamente nos cursos cujos alunos são de Uberlândia: Letras (90,91%), Ciências Contábeis (88,24%) e Administração (83,33). O segundo tipo de moradia mais utilizado pelos alunos é a república. Isso pode ser explicado pelo fato de a Universidade não oferecer moradia estudantil e devido ao custo do imóvel em Uberlândia ser muito alto, equiparando-se, segundo dados do Centro de Pesquisa e Documentação Sócio-econômica da UFU, ao preço das grandes capitais do país. Então, a república é uma forma de amenizar os gastos com moradia, já que as despesas são divididas por um grupo de alunos.

TABELA 08
O LOCAL EM QUE FAZEM SUAS REFEIÇÕES
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)

Coerentemente com os dados apresentados anteriormente, que apontam serem 60,42% dos alunos de Uberlândia, é compreensível o índice de 55,06% de alunos que fazem suas refeições em sua própria casa. Ainda pode-se considerar outra variável, que é a pequena distância entre os campi e a cidade, o que possibilita ao aluno fazer as refeições em casa.
O segundo meio mais utilizado para alimentação é o restaurante universitário (14,88%), o que pode ser explicado pela vantagem do fornecimento de refeições com preços abaixo do usual do mercado e ainda por ele localizar-se dentro do campus universitário, evitando ao aluno uso de transporte e permitindo-lhe ganhar tempo para as atividades acadêmicas.

TABELA 09
RELATIVO À MANUTENÇÃO FINANCEIRA
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)

Em relação à manutenção econômica dos alunos pesquisados, 69,05% são totalmente mantidos pela família, 14,29% trabalham e se mantêm, 13, 69 se mantêm e ainda contribuem para a família e 2,98% são arrimo da família.
Em se tratando de uma população jovem e com uma expectativa de carreira profissional pela frente, é compreensível o fato de a grande maioria dos alunos ser mantida financeiramente pela família. A manutenção do jovem estudante durante a realização do seu curso superior é considerada um encargo e uma responsabilidade daquela. Esse comportamento é culturalmente presente no nosso meio social, até porque as famílias de classe média, de onde provém a maioria dos universitários , vislumbram no projeto de carreira dos filhos uma garantia da posição conquistada ou uma forma de ascensão.

TABELA 10
DISTRIBUIÇÃO DOS ESTUDANTES SEGUNDO CURSO E EXERCÍCIO DE ATIVIDADES REMUNERADAS

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A tabela acima demonstra que dos 336 alunos pesquisados, 149 exercem algum tipo de trabalho remunerado. Os maiores índices de alunos com atividades remuneradas se encontram nos cursos de Direito (10,07%) e Ciências Contábeis (9,40%), ambos cursos noturnos.
O trabalho tem dois sentidos para os estudantes. Primeiro, é uma possibilidade de lhes garantir continuar sendo estudantes; segundo, é uma oportunidade de conseguirem alguns recursos materiais para propiciar sua autonomia e emancipação da família. Mas, na realidade, é uma emancipação relativa e provisória , pois a renda é quase sempre insuficiente.


TABELA 11
TIPOS DE ATIVIDADES
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Os dados revelam que dos alunos pesquisados e que exercem atividades de trabalho, 22,30% são professores, 17,57% desempenham atividades de monitoria ou pesquisa e 15,54% são estagiários.
Observa-se que estas são atividades que lhes permitem fazer um horário próprio e flexível de trabalho. São também atividades que contribuem para o processo de aprendizagem acadêmica e profissional, uma vez que na maioria delas existe uma relação com o curso e, portanto, com sua formação.
TABELA 12
JORNADA DE TRABALHO
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)

Verifica-se nesta tabela que 37,58% dos alunos pesquisados que trabalham fazem uma jornada superior a 30 horas semanais. Isso pode significar uma redução do tempo dedicado às atividades acadêmicas, bem como limitar a própria participação estudantil nos vários eventos acadêmicos, culturais e políticos que ocorrem no cenário universitário.

TABELA 13
REMUNERAÇÃO
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)
Considerando a tabela acima, onde 52,35% dos alunos recebem até 02 (dois) salários mínimos, pode-se inferir que as atividades citadas na tabela anterior são de baixa remuneração, mas cobrem algumas de suas despesas e os ajudam na sua manutenção.


TABELA 14
COMPOSIÇÃO FAMILIAR
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)

Em relação à composição familiar, constata-se na tabela acima que a maioria dos estudantes (67,56%) pertencem a uma família de 4 a 6 pessoas.
Essa média está de acordo com o padrão da composição da família brasileira, que, segundo a PNAD , é de cinco pessoas.



TABELA 15
SITUAÇÃO PROFISSIONAL DO PAI
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)

Em termos de atividades ocupacionais dos pais dos alunos pesquisados, observa-se o índice de 16,07% de pais aposentados e comerciantes/empresários. Pode-se verificar ainda que aparecem em segundo lugar os proprietários rurais, com 13,69%.
Considerando que a maioria dos alunos pesquisados é de Uberlândia ou da região, são compreensíveis os índices da tabela anterior, uma vez que esta é uma região cujas atividades econômicas produtivas predominantes são o comércio e agropecuária.


TABELA 16
SITUAÇÃO PROFISSIONAL DA MÃE
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)

Esses dados podem ser explicados a partir do entendimento de que a participação da mão-de-obra feminina na estrutura ocupacional brasileira só se intensificou mais recentemente, a partir dos anos 70. Até então, principalmente no interior, cabia à mulher cuidar dos afazeres domésticos ou, quando muito, ser professora.


TABELA 17
RENDA FAMILIAR
(AS TABELAS FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabela-1-17.html)

Considerando que a renda familiar de 29,46% dos alunos pesquisados está acima de 10 (dez) salários mínimos, somando-se com 25,89% que têm uma renda de 07 (sete) a 10 (dez) salários e comparando-se com as atividades profissionais dos pais, descritas na tabela 15, pode-se inferir que os alunos pertencem a famílias de classe média à média alta.


(AS TABELAS 18 A 28 FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabelas-da-dissertao-sobre-ufu.html)


TABELA 18
CARACTERÍSTICAS DA UFU
(AS TABELAS 18 A 28 FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabelas-da-dissertao-sobre-ufu.html)

Analisando-se a tabela acima verifica-se que a representação que a maioria dos alunos, 41,96% dos pesquisados, faz da UFU é de que ela é uma instituição formadora de mão-de-obra. Pode-se inferir daí que ela prioriza a visão profissionalizante.
Em segundo lugar, com 33,33%, configura-se uma representação de que a UFU é autoritária e burocrática. Pode-se inferir que essa opinião traduz uma realidade de posturas centralizadoras da instituição que não favorecem a participação da comunidade estudantil, sendo as relações entre estudantes e instâncias hierárquicas da universidade, em geral, impessoais e distantes.
Para Tragtemberg, o sistema burocrático estrutura-se nas formas da empresa capitalista. Os usuários não controlam de modo algum a gestão dos recursos e as decisões não são coletivas.

"Na universidade burocrática, o exame, mais que o programa, define a pedagogia do docente. O objetivo da pedagogia burocrática impõe não o enriquecimento intelectual do aluno, mas seu êxito no sistema de exames. O ensino é baseado na memorização do conhecimento. A burocratização desenvolve a despersonalização de relações, concentra-se na impessoalidade. Sua conduta implica numa exagerada dependência dos regulamentos e padrões quantitativos."

Esse conjunto de representações que os alunos fazem da universidade de Uberlândia encontra eco nas palavras de Marilena Chauí quando afirma:

"a universidade do Brasil tem-se limitado a desempenhar um papel de criação de incompetentes sociais e políticos. Ela realiza com a cultura o que a empresa realiza com o trabalho, isto é, parcela, fragmenta, limita o conhecimento, impedindo o pensamento de modo a bloquear toda tentativa concreta de decisão, controle e participação, tanto no plano da produção material, quanto no da produção intelectual. A universidade está adestrando mão-de-obra dócil para o mercado interno."






TABELA 19
VISÃO DO ESTUDANTE SOBRE A UFU NO QUE SE REFERE À PARTICIPAÇÃO ESTUDANTIL

(AS TABELAS 18 A 28 FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabelas-da-dissertao-sobre-ufu.html)
Observa-se que 46,73% dos alunos pesquisados afirmam que a UFU não estimula a participação. E ainda 14,58% têm uma representação de que a UFU inibe a participação estudantil. Portanto, na visão de 61,31% dos pesquisados a UFU não valoriza a participação desse segmento. Isso se relaciona com o fato de a UFU ser considerada uma universidade autoritária e burocrática e predominantemente voltada para o mercado (cf. Tabela 18), não conferindo importância à participação como um dos seus elementos fundantes.


TABELA 20
MOVIMENTO ESTUDANTIL NA UFU
(AS TABELAS 18 A 28 FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabelas-da-dissertao-sobre-ufu.html)
Os dados obtidos apontam que 37,20% dos alunos opinam no sentido de que o movimento estudantil na UFU foi mais participante nos anos 80 e 22,02% declaram que esse movimento é mais participante no momento atual, o que perfaz um total de 59,22% de alunos para os quais tem existido participação estudantil na UFU. De outro lado, 35,71% dos alunos opinam no sentido de que na UFU o estudante não participou e não participa. Daí se pode inferir que esta porcentagem de 35,71% de alunos que consideram que a participação dos estudantes inexiste na UFU parece conter uma crítica velada a essa inexistência. A divergência de opiniões sobre a participação dos estudantes na UFU revela que esta é uma questão polêmica entre os próprios estudantes.


TABELA 21
MOVIMENTO ESTUDANTIL (ME) DESENVOLVIDO EM CADA CURSO
(AS TABELAS 18 A 28 FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabelas-da-dissertao-sobre-ufu.html)
Os dados acima mostram que os alunos mais participantes, na visão dos pesquisados, são do curso de História (31,55%) e de Engenharia (25,30%). Entre os menos participantes estão os cursos de Direito (18,45%) e Artes (9,82%). Pode-se atribuir a maior participação dos alunos no curso de História a sua orientação curricular voltada para a formação de uma consciência sócio-histórica e ainda a do curso de Engenharia a sua tradição de luta, por ter sido o primeiro curso federal na cidade e ter desempenhado um papel importante na criação da UFU.
É importante ressaltar que 14,58% dos alunos pesquisados não sabem qual o curso mais participante e 15,77% não sabem qual o curso menos participante. Isso reforça o fato da não participação dos alunos explicitada na Tabela 20.

TABELA 22
NÍVEL DE SATISFAÇÃO DOS ALUNOS EM RELAÇÃO AOS RESPECTIVOS CURSOS

(AS TABELAS 18 A 28 FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabelas-da-dissertao-sobre-ufu.html)

Dos alunos pesquisados, 57,74% estão satisfeitos com o curso, 21,73% estão pouco satisfeitos, 12,80% estão muito satisfeitos com o curso, enquanto 7,44% estão insatisfeitos.
O maior índice de alunos muito satisfeitos está no curso de Licenciatura em Química, com 60% dos pesquisados, seguido pelo curso de Odontologia, com 38,46% de alunos muito satisfeitos. Entretanto, observa-se um índice significativo de alunos insatisfeitos nos cursos de Matemática (40%) e Engenharia Civil (33,33%).
Analisando os dados apresentados na Tabela 22, verifica-se que os maiores índices de satisfação se encontram nos cursos de Odontologia e Veterinária (100%), seguidos pelos cursos de Engenharia Mecânica (94,12%), Engenharia Química (90%) e Medicina (90,91%).
Pode-se inferir desses dados que estes cursos, da forma como estão organizados, estruturados e sendo ministrados, devem estar atendendo às expectativas de formação dos alunos, apresentando qualidade aceitável não só nos conteúdos, mas também nas relações vividas no curso entre professores e alunos, proporcionando entrosamento e crescimento pessoal, além de serem de áreas onde há perspectivas reais de emprego.
No que se refere aos órgãos e entidades representativas na UFU, os alunos pesquisados apresentam em relação a eles diferentes graus de confiança, como demonstra a tabela a seguir:



TABELA 23
ÓRGÃOS NOS QUAIS OS ESTUDANTES CONFIAM PARA REPRESENTÁ-LOS
(AS TABELAS 18 A 28 FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabelas-da-dissertao-sobre-ufu.html)

Percebe-se que, dos alunos pesquisados, 33,63% confiam no diretório acadêmico para representá-los.
A confiabilidade está distribuída de forma mais intensa nos órgãos mais próximos do aluno. Isso pode ser explicado por serem órgãos que, pela proximidade, lhe permitem controlar mais, ter mais participação, realmente se fazer representar, acompanhando mais de perto a ação dos seus representantes.
Na representação dos alunos pesquisados, os órgãos de representação despertam maior confiança quando demonstram mais interesse pelo cotidiano estudantil universitário num nível mais imediato, e menor confiança quando tratam de questões mais gerais. Somente 6,55% dos alunos pesquisados confiam no DCE e, no Conselho Universitário, somente 3,27%.
Esse conjunto de dados permite caracterizar o perfil do estudante da UFU da seguinte maneira: a maioria dos alunos é de Uberlândia e região, reside com a família e é por esta mantida. A composição familiar em geral é de 4 a 6 pessoas e renda familiar é de dez salários mínimos. A maioria dos pais tem por ocupação atividades ligadas ao comércio, indústria e agropecuária, pertencendo à classe média. Para o interior, essa situação permite uma boa qualidade de vida, pois provavelmente possuem carro, casa e outros bens.
A maioria dos alunos está na faixa etária de 21 a 26 anos, há equilíbrio entre a presença do sexo feminino e masculino, sendo que a maioria das mulheres está nos cursos de Ciências Humanas e a maioria dos homens nos de Ciências Exatas. Predomina o estado civil de solteiro entre os alunos de ambos os sexos.
A maior parte do alunos que trabalham desempenham atividades ligadas ao ensino e cumprem uma jornada acima de 30 horas semanais, recebendo até dois (02) salários mínimos.
Vêem a universidade como formadora de mão-de-obra, autoritária e burocrática e não estimuladora da participação estudantil. Acreditam que esta participação na UFU foi maior nos anos 80 e decresceu no momento atual. Evidenciam que os cursos que possuem um movimento estudantil mais atuante são História e Engenharia e os menos atuantes são Direito e Artes. Medicina, Pedagogia e Odontologia apresentam uma situação intermediária. Apontam os Diretórios Acadêmicos como os órgãos em que mais confiam para representá-los.
Os cursos que apresentam maior nível de satisfação entre os alunos pesquisados são Odontologia e Veterinária, com 100% de alunos satisfeitos. Por outro lado, os maiores índices de insatisfação estão nos alunos do curso de Matemática e Engenharia Civil.


FASE II

Na seqüência do estudo fez-se uma análise das representações que os estudantes têm sobre a universidade e o movimento estudantil.
A escolha dos sujeitos significativos foi definida a partir dos resultados apresentados pelos questionários, que em sua maioria afirmam que os Diretórios Acadêmicos são os órgãos nos quais os alunos mais confiam para representá-los. Tendo em vista as afirmações dos alunos de que os cursos de História e Engenharia apresentam o movimento estudantil mais atuante, de Artes e Direito apresentam um movimento estudantil menos atuante e os de Medicina, Odontologia e Pedagogia apresentam um movimento estudantil médio, escolheu-se os presidentes dos Diretórios Acadêmicos destes cursos e o presidente do Diretório Central dos Estudantes como sujeitos significativos para a pesquisa. Além destes, escolheu-se três outros estudantes sem nenhum vínculo com as entidades estudantis. A escolha destes três foi aleatória, sendo entrevistados os três primeiros estudantes que procuravam a Divisão de Apoio ao Estudante no dia definido e se dispuseram a ser entrevistados. Assim, chegou-se ao número de onze sujeitos significativos. O instrumento utilizado nesta fase foi a entrevista semi-estruturada, com um roteiro que permitiu abordar os principais eixos de interesse para o estudo: a visão sobre a universidade, sobre o movimento estudantil, cidadania, democracia e participação. Escolheu-se a entrevista semi-estruturada par realizar a coleta de dados por ser um instrumento que possibilita certos questionamentos que interessam à pesquisa e oferece ao mesmo tempo amplo campo de respostas, permitindo aos sujeitos depoimentos espontâneos, seguindo livremente a linha de seu pensamento e de sua experiências dentro do foco principal da pesquisa. Os sujeitos escolhidos foram contatados previamente e agendados para a entrevista conforme as suas disponibilidades. Foi-lhes entregue o roteiro da entrevista (Anexo II), de modo que puderam tomar conhecimento das questões com antecedência. Algumas entrevistas foram marcadas no meu local de trabalho e outras nos próprios Diretórios Acadêmicos. Utilizou-se o gravador, objetivando o registro fidedigno dos depoimentos. Esse período de entrevistas ocorreu nos meses de novembro e dezembro de 1993. Em seguida foi realizada a transcrição fonética, sendo todas as fases do trabalho realizadas por mim. É importante ressaltar que as entrevistas aconteceram num clima aberto, espontâneo, amável, no qual os estudantes entrevistados manifestaram-se interessados no trabalho e se apresentaram dispostos a contribuir. Foi um momento rico em termos de informação e também em termos de relação empática pesquisador-pesquisados.
Após várias leituras dos depoimentos dos estudantes, os dados foram organizados a partir dos principais eixos evidenciados nas suas manifestações.
Segundo Antônio Chizzotti, em Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais, a análise da pesquisa qualitativa abrange tanto “os significados que os indivíduos dão às suas ações, no meio em que constroem suas vidas e suas relações, como à compreensão do sentido, dos atos e das decisões dos atores sociais, ou então, dos vínculos indissociáveis das ações particulares como o contexto social em que estas se dão”.
É ainda Chizzotti que afirma:

"a abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito.

Neste sentido enfatizou-se na pesquisa qualitativa a análise de conteúdo das representações dos estudantes.
A análise de conteúdo "visa compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto e latente, as significações explicitas ou ocultas." "Essa análise trabalha com as informações contidas em uma comunicação reduzindo-as a algumas características particulares ou categorias conceituais que permitam passar dos elementos descritivos à interpretação ou investigar a compreensão dos atores sociais no contexto cultural em que produzem a informação ou, enfim, verificar a influência deste contexto no estilo, na forma e no conteúdo da comunicação."
Antes de se passar à análise, serão apresentados alguns dados sobre os sujeitos da pesquisa, a fim de contribuir para uma melhor compreensão destes pelo leitor.



TABELA 24

(AS TABELAS 18 A 28 FORAM INSERIDAS EM OUTRA PARTE DO BLOG: VER EM: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/03/tabelas-da-dissertao-sobre-ufu.html)

Na coluna "Aluno" o "A" significa aluno pesquisado e o número ao lado, a ordem de realização das entrevistas.

TABELA 25

RELAÇÃO DOS ENTREVISTADOS SEGUNDO SEXO, FAIXA ETÁRIA E MORADIA:
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TABELA 26

DISTRIBUIÇÃO DOS ALUNOS SEGUNDO A SITUAÇÃO E JORNADA DE TRABALHO

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ESTADO CIVIL:
Os alunos pesquisados são todos solteiros.


TABELA 27

SITUAÇÃO DA FAMÍLIA

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OCUPAÇÃO DA MÃE:

Somente um dos alunos pesquisados possui mãe que trabalha fora como costureira. As demais são do lar.


TABELA 28

GRAU DE INSTRUÇÃO DOS PAIS

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1 - REPRESENTAÇÕES DOS ESTUDANTES DA UFU SOBRE O MOVIMENTO ESTUDANTIL:

Ao se discorrer sobre o sentimento dos alunos em relação ao movimento estudantil e à universidade, procurou-se evidenciar a globalidade das manifestações, descrevendo-as por grupos, de acordo com seus conteúdos, como se pode observar nas falas a seguir:

"É engraçado falar de movimento. Esses dias eu ainda estava questionando com o pessoal. A gente fica falando, ah! porque, o movimento estudantil, porque a participação isso e o movimento aquilo. Que movimento? Tá parado! É uma inércia total! Na História, antes, eu não sei se é porque o pessoal já tinha uma militância de sindicatos e do movimento secundarista, era realmente a vanguarda do movimento estudantil na UFU. Hoje é muito diferente, o pessoal sai direto do segundo grau, a maioria não teve contato nenhum com a entidade, chega, sim, esperando a continuação do segundo grau.
Eu acho que a gente fica muito no saudosismo também. Ah! porque 68, 70, eu acho que chega! Sabe, foi bom, foi ótimo que eles tiveram uma participação muito boa. Mas foi o momento deles. Agora é o nosso momento! É diferente! A gente tá com problemas diferentes. A gente herdou problemas daquela época, que não foram resolvidos, pelo contrário, se acentuaram! Não adianta a gente querer, ah! porque eles fizeram isso, então vamos fazer! Não adianta ficar se iludindo. Ah! porque derrubou o Collor! Derrubou coisa nenhuma! Se a burguesia não quisesse ele não teria caído. Aí fala, porque os estudantes e o povo derrubaram o Collor! Não tinha povo não! Estudante que tinha, quem tava?" (A1)

Também se manifestam nesse sentido:

"Existe um pequeno grupo que participa do movimento estudantil e está querendo retomar o idealismo dos anos 60 e 70. E de alguma forma ele tá conseguindo fazer isso no momento atual. O movimento estudantil nos anos 60 foi um grande agente de formação dos movimentos sociais no Brasil.
No final de 92 teve uma fase máxima que foi a participação do FORA COLLOR, quando a grande massa dos estudantes estava organizada e mobilizada". (A4)

Para alguns, é prejudicial esse saudosismo que o movimento estudantil está vivendo. Para outros isso é benéfico e se constitui em novas forças para lutar.
Para alguns, o estudante teve uma participação ativa no movimento da queda do presidente Collor, para outros não passou de massa de manobra, tendo o estudante sido usado para acalentar interesses da classe burguesa e dos políticos.
Outros estudantes afirmam ainda que pelo fato de a maioria vir direto dos cursinhos, acaba sendo despolitizada, porque os "cursinhos adestram pra passar no vestibular". (A3)
Em relação ao saudosismo, notam-se atitudes que demonstram, entre os alunos, esse apego ao passado e essa vontade de viver hoje momentos que faziam sentido naquela época. Isso foi evidenciado quando do movimento de garantir a posse do reitor eleito da UFU, no final de 1992. Os alunos ocuparam a reitoria e era comum ouvir deles e sentir neles a expectativa de que a polícia chegaria a qualquer momento. Houve estudantes que se frustraram porque não aconteceram práticas semelhantes às de 68 e 70. Há um sentimento entre os estudantes de maneira geral de que a geração de 68 foi a única que participou, hoje não existe mais atuação do estudante.
Muitos, inclusive, imputam à Rede Globo ter influenciado o movimento de rua dos estudantes no final de 1992, porque, sabiamente, jogou no ar a série "Os Anos Rebeldes", que fez reviver aquele momento histórico de intensa participação estudantil.

Outras manifestações:

“De vez em quando você vê um vulto ou outro passando por aqui e por ali, Mas nada cria alarde mesmo. Uma coisa que funcionou mais ou menos foi aquele movimento pró-Nestor . A movimentação não existe, ela tinha que ser tanto dentro quanto fora. O movimento estudantil hoje não existe. Ele é inexistente. Acho que pelo que tenho visto isso é geral. Não tem ninguém fazendo nada. Se tivesse alguém fazendo alguma coisa, aparecia. Está piorando mais. O pouco que tinha está se extinguido. Eleição para DCE não teve movimento. Tá virando política nacional. O pessoal quando entra, promete às vezes até faz uma administração aberta, legal, mas não chama pra discussão aberta, não passa pro pessoal o que tá pensando, não faz alarde na Universidade inteira. Essa forma de organização estudantil não é adequada. Tem que ter um direcionamento para operacionalizar as ações, mas não a necessidade de assumir cargos. A organização estudantil, se tivesse consciência disso, ela começaria a chamar assembléias, procurar os alunos e só parando quando todo mundo começasse a participar. Poderia ter uma organização de trabalho em função das propostas". (A3)

"Percebe-se períodos de mobilização e outros de aparente indiferença" (A11). Para esses alunos o movimento estudantil pode ser desencadeado e qualquer momento, dependendo de razões explícitas para o "estopim".

"O movimento estudantil só existe em determinados picos. Quando realmente cria-se uma situação aí existe aquele furor, mas depois disso se torna apático. Só existe razão de haver alguma movimentação quando existe uma diferença muito grande entre os dois pólos, ou seja, quando existe insatisfação muito grande em relação ao outro pólo.
Então, a participação estudantil, para mim, só existe quando há uma razão para que ela exista. Eu sonhava com aquele movimento contínuo, as pessoas sempre organizadas, sempre na luta de classes". (A11)

Nesse sentido também se manifesta outro aluno:

O movimento estudantil na UFU é como uma gangorra. Uma hora está em alta, outra hora tá em baixa. Tem época que o movimento estudantil tá em alta e você consegue muita participação, lotar assembléias, consegue fazer discussões com os estudantes acerca de alguns assuntos. E tem outra época que, por mais que você tente trabalhar e chamar os estudantes pra discutir, participar, mobilizar, você não consegue". (A4)

Ainda na mesma direção:

Ao longo do tempo, sempre que tem uma questão importante, uma coisa que realmente afeta o pessoal, realmente tem necessidade, o pessoal se mobiliza. Tem sido assim em todas as questões. Desde as diretas, sucessivas vezes, até a questão FORA COLLOR, o pessoal se mobilizou. Tá faltando continuidade. Tá sempre acontecendo alguma coisa. Na UFU o ritmo é o mesmo. Isso ficou claro na briga pela posse do reitor eleito. O movimento estudantil é um ciclo. Vem, vai, volta. Vem, depois pára um pouco, depois vem um pessoal mais agitado..." (A9)

O que se pode perceber nas representações dos alunos pesquisados é que, na verdade, não existe um movimento estudantil contínuo, forte e atuante. A participação do estudante na universidade, por vários fatores, está precária. Observa-se ainda que ela pode dar-se a nível geral dos estudantes, em movimento de massas e a nível das entidades estudantis, que levam à frente as reivindicações.
Por outro lado, a participação de ambas as formas pode-se dar através dos canais institucionais legais, conselhos, departamentos, colegiados, ou através de pressão pela mobilização dos estudantes.
De uma ou de outra forma, a participação está eivada de dificuldades e problemas que interferem na sua efetivação.
No que se refere aos alunos de maneira geral, na visão dos pesquisados, eles estão desinteressados, dependentes das lideranças e desmotivados, querendo apenas assistir aula e "no final do curso receber seu diploma e pendurar no escritório". (A4)

Alguns alunos revelam esse pensamento nas suas colocações:

"Teve um tempo que as coisas ficaram paradas. Às vezes eu chego a pensar que seja conseqüência que a gente tenha sido uma geração fruto da ditadura. A gente ficou reprimido". (A10)

"A maioria dos estudantes está na universidade para ter um diploma, se preocupa apenas com o término do curso, se tornar profissional e só se preocupa com os aspectos acadêmicos. Essa visão dificulta a participação do estudante em outros eventos que não a sala de aula. Ele dá importância ao conhecimento da disciplina que está cursando". (A4)

Esses fatores que influenciam a participação aparecem nas representações dos alunos pesquisados de várias formas:

"As pessoas que estão à frente das entidades são sempre as mesmas. É uma cópia do modelo político do país. É uma questão só política, buscam ascensão pessoal". (A7)

"Me desanima muito ver o movimento estudantil centralizado em fulano e beltrano, como ainda existe. Eu acredito em lideranças grupais e não personalistas". (A5)

De outro lado, há uma visão de que os alunos não participam porque as entidades que encaminham o movimento estão distantes:

"As entidades não buscam esclarecer e informar o restante da população estudantil de forma a conseguir participação e adesão. Há dificuldades de entrosamento. A entidade está na frente e o estudante não sabe o que está acontecendo". (A4)

"Há um descrédito no pessoal que está à frente do DCE e dos DAs. É um pessoal "vagão" que só quer aparecer. Também quem está à frente das entidades rejeita a forma de pensar do restante do pessoal. Eles não informam o pessoal, não mostram como acontecem as coisas. Há um distanciamento muito grande entre as lideranças e o meio estudantil de maneira geral". (A9)

Ainda no sentido de ressaltar fatores que dificultam a participação:

"Pra motivar, sensibilizar e envolver os estudantes realmente existem dificuldades. Não está existindo um instrumento adequado para isso, que os faça entender a importância das discussões e da sua participação. Uma situação que agrava a questão é de que muitas vezes o próprio professor que convive nessa relação cotidiana desestimula e trabalha contra a idéia de que aquilo é importante". (A11)

"Existe a autoridade do professor. Esse é um dos fatores que obstaculariza o desenvolvimento do movimento". (A6)

"No meu curso, a visão que é passada é de que quem atua no movimento estudantil está desempregado". (A5)

São fatores que estão internalizados no processo pedagógico da instituição e que acabam interferindo na participação do aluno no cotidiano da vida da universidade.
Analisando o conjunto das representações dos alunos pesquisados, percebem-se outros fatores determinantes da não participação.

"O que é mais crítico é que algumas pessoas que atuam diretamente nas entidades estudantis não estão raciocinando enquanto alunos. Elas estão muito ligadas a entidades políticas, a partidos políticos e estão raciocinando enquanto políticos". (A11)

"O movimento estudantil é muito incoerente. Ainda existem muitos estudantes profissionais. O que se vê no movimento estudantil é briga de grupos. A formação política é importante, desde que não seja parcial. O movimento estudantil perdeu a identidade". (A5)

"Eu tenho uma bronca muito grande do partidarismo dentro das entidades, porque eu acho que a culpa desse distanciamento entre entidades e os estudantes é o partidarismo. O que acaba com as entidades é a partidarização. É briga de tendências pra tomar o poder". (A1)

Esse conjunto de representações podem traduzir uma certa descrença e até mesmo uma aversão ao modelo político praticado hoje no país. Os partidos políticos na realidade não existem, porque seus componentes dançam de um partido a outro dependendo dos seus interesses eleitoreiros.
Assim, a partidarização dentro das entidades estudantis vem distanciando-as da base, das questões mais imediatas dos estudantes. Dessa forma, não há interesse e motivação dos alunos para a participação. Há um descrédito nas propostas das entidades, até porque a participação fica muito presa às pessoas. Acaba havendo um cunho paternalista, predominando os interesses pessoais de promoção individual em detrimento dos interesses e objetivos coletivos.
Isso transparece nas falas dos alunos:

"Os grupos são financiados por partidos políticos. Isso não é só em Uberlândia, é a nível nacional. Você vê grupos políticos sustentando grupos estudantis, visando algum interesse futuro. E muitas vezes a representação acadêmica é deixada de lado. A representação estudantil é importantíssima, mas jamais a representação acadêmica pode ser deixada de lado". (A5)

Assim, as entidades estudantis vão-se distanciando dos interesses mais imediatos dos estudantes.

"Existe uma aversão quando se fala em movimento. Principalmente porque acaba se referindo ao DCE. Não há identificação de interesses de quem está na direção dos movimentos e o restante dos estudantes. As entidades aparecem só em período de eleição. Toda campanha coloca a questão da moradia estudantil e até agora não se tem moradia. O movimento estudantil fica muito na brincadeira. Ele está fraco porque não tem abrangência. Fica restrito a algumas pessoas." (A8)

"O movimento universitário deixa a desejar. O grau de desinformação do aluno é muito grande. Há uma minoria que se interessa pelo movimento. Há um desinteresse do alunado em relação à política universitária. Apesar de não ter como se isolar dos aspectos externos, a política estudantil deveria estar voltada para as questões mais específicas. Eu acho que tem que ser mais objetivo, mais prático, eu acho que o movimento estudantil deveria estar voltado para as questões mais próximas do estudante: moradia gratuita, a vida do estudante aqui, a alimentação que no momento está precária, a interação estudantil, o estudante tem uma vida sofrida". (A9)

"O que falta pro DA é saber o que o aluno quer. Quais são suas necessidades. Existe uma defasagem entre os diretórios e os estudantes. E o DA só tem influência se tiver apoio dos estudantes. Quem participa do DA tem que participar de todas as outras atividades no curso para sentir na pele o que está acontecendo". (A8)

"A participação estudantil é fraca. Quando se necessita da intervenção do movimento estudantil para um problema e se recorre a ele, parece que não há preocupação enquanto entidade. Os alunos têm que trabalhar individualmente". (A7)

Para esses alunos, que não pertencem às entidades estudantis, suas representações são no sentido de que as entidades encaminham os seus trabalhos de forma a defender projetos não relacionados aos interesses da maioria dos alunos. As entidades estão desvinculadas da realidade cotidiana do estudante. Por outro lado, os representantes das entidades vêem a falta de participação também pela desmotivação e desinteresse do alunado de maneira geral, como se observa nas suas manifestações:

"A maioria dos estudantes está desatenta para o movimento estudantil e a participação nas instâncias da universidade. A maioria está preocupada em assistir aula". (A4)

"Os alunos tinham que ser políticos e não brigar pelo apartidário. Não é necessário ter partido, mas não se pode ser apolítico". (A3)

"Os estudantes ficam na dependência dos diretórios, deixam que as questões sejam resolvidas pelos diretórios. O presidente é quem tem que resolver. E o líder não pode fazer as coisas sozinho, ele tem que ouvir e ser respaldado pelos demais". (A2)

"Os alunos não participam, não aparecem, e o presidente do DA não pode tomar decisão por todo mundo. A desmotivação já vem de casa. A preocupação dos pais é com a formação de mão-de-obra dos filhos, não têm conscientização política." (A3)

Aparecem também outros fatores, nas representações dos alunos pesquisados, que dificultam a participação:

"Outro aspecto que dificulta a participação é o fato de existir um índice significativo de estudantes de outras cidades. Eles vêm à universidade para assistir aula e vão embora". (A11)

"No Centro de Ciências Exatas há uma predominância muito grande de pessoas que fazem o curso por status ou porque a família quer, ou porque quer fazer um curso superior". (A11)

Levantam ainda outros aspectos:

"O acúmulo de atividades acadêmicas limita a participação do estudante. Teve época que nós trabalhávamos muito com o DCE. Depois foi apertando, provas e mais provas, aí não dava". (A10)

"As exigências são tantas que se consegue sobrecarregar o aluno para que ele não faça mais nada. Está difícil participar". (A8)

Observando o conjunto dessas representações dos alunos, vem à tona também a questão da informação como um fator de influência na participação:

"Um grande elemento que contribui para a oscilação do movimento estudantil é a informação. A mídia que domina a informação faz veicular o conteúdo que lhes interessa e isso dificulta, porque ela transforma, deturpa e mostra da forma que quer. A visão que o estudante tem dos problemas políticos e sociais do país, a situação em que esses problemas influenciam a sua vida é bem diferenciada da forma em que a mídia os coloca". (A4)

"Outro aspecto que deve ser considerado é que as pessoas são muito pouco informadas". (A11)
"Se tiver informação, o estudante participa. Nós tivemos exemplo na época do impeachement, o aluno saiu pra rua fora da universidade, independente do DCE e de DA. Ele buscou". (A9)

Em outras falas a questão das divergências internas é apresentada:

"Em Uberlândia, o movimento estudantil tem dificuldades em superar divergências internas. A gente percebe até pela dificuldade do DCE e dos próprios Diretórios Acadêmicos. Nós, enquanto movimento estudantil, temos a necessidade de melhorar essas relações e sabemos que está difícil resolver esses conflitos. A sociedade é constituída de conflitos e sempre vai ser. No entanto, até o 2º grau, a visão que a gente tinha era de que a sociedade era assim, tranqüila, homogênea, sem conflitos. O movimento só cresce na medida em que há uma compreensão coletiva da sociedade. Então, as preocupações ainda estão muito individualizadas, ou seja, esse movimento estudantil tem uma tendência política e se fecha naquela tendência. Enquanto que o seu opositor também se fecha. Então não há democracia". (A2)

As manifestações dos alunos traduzem a dificuldade de conviver com as divergências dentro do movimento estudantil. Democracia supõe respeito às diferenças, supõe trabalhar com a pluralidade de pensamentos e isso não acontece em relação ao movimento estudantil. Não se conseguiu ainda trabalhar visando o coletivo, pois mesmo objetivos maiores não conseguem reunir grupos diversos.
Ainda em relação aos fatores que dificultam a participação do estudante, há um grupo de sujeitos que se refere às questões da própria estrutura de poder da universidade:

"Nos conselhos superiores há uma divisão: existem aqueles que vêm da época da fundação da universidade, são os mais antigos e têm uma resistência realmente muito grande à participação dos alunos e até dos técnicos administrativos. Eles têm uma resistência pura e simples. Eles não querem, pronto e acabou, eles pensam que essa participação é prejudicial". (A11)
Os alunos, através de suas manifestações, expõem a idéia de que a participação estudantil, por vários dos fatores mencionados, é reduzida, sendo que têm enfrentado dificuldades e obstáculos para participar no cotidiano da UFU. Mas, por outro lado, vislumbram alternativas e possibilidades de alterar essa realidade:

"Apesar de fraco, o movimento estudantil está caminhando mais do que nos anos anteriores. Está começando a se movimentar de novo. A função das entidades estudantis seria a de mobilizar os estudantes, esclarecer a importância de participação. Devido à atual gestão da UFU ser menos de direita, o movimento estudantil tem aparecido mais".(A7)

"Apesar do pessimismo, das dificuldades, os estudantes acreditam na possibilidade de brigar, de lutar por coisa melhor. Há esperança em mudar as coisas". (A8)

"As pessoas estão voltando a participar, o pessoal está voltando pra os DAs. Estes ficaram um tempo apáticos nas mãos de alguns dirigentes que não tinham nenhum compromisso com o movimento estudantil. Dirigentes que estão ali por status". (A4)

"Têm aparecido vários grupos independentes que não estão nas entidades, mas estão participando de uma forma ou de outra. O movimento tende a crescer". (A4)

"Há esperanças nessas turmas que estão entrando agora, estão cheios de vontade. Mas há uma preocupação: quando entram no sistema, acomodam". (A5)

Nesse conjunto de representações existe uma perspectiva de retorno da participação estudantil. Isso pode ser explicado a partir do fato de que a reitoria, hoje, é uma reitoria que foi eleita pela comunidade universitária e tem um projeto de democratização para a universidade.
Na visão dos alunos de hoje há dificuldades de participação em decorrência do próprio momento atual:

"Os estudantes estão perdidos no contexto, se questionando muito, estão em busca de respostas para uma série de questões". (A1)

"O estudante hoje é incoerente. Ele vai às ruas, sai, pede o impeachment do presidente em outubro e em novembro ele vota no candidato que apoiou aquele presidente e acha que tá certo. Não é um aluno politizado, não tem interesse". (A5)

"Com essa ressaca da ditadura, eu considero a minha geração de 70 pra cá uma geração meio perdida. Foram tantas brigas, tantas coisas, parece que, quando houve abertura, ficou meio perdida". (A9)

"O estudante delega poderes para pessoas que estão no comando atualmente. Ele delega poderes para as pessoas que estão nos conselhos, nas câmaras, para elas pensarem". (A11)

Os estudantes dos anos noventa constituem uma geração que está retomando o fio da história, com um certo saudosismo, e não tem aproveitado muito a abertura encontrada. Por outro lado, delegam aos seus representantes, em todos os níveis, o poder de decidir e de agir. Na realidade só praticam a democracia em parte, apenas no momento da escolha.
Apresentam, ainda, algumas alternativas para a questão da participação:

"As entidades têm que trabalhar com suas bases. Estas têm que participar das decisões. Os estudantes podem participar de várias maneiras, elegendo, se candidatando, participando espontaneamente dos conselhos de representantes, das assembléias. As entidades têm que se voltar para os problemas dos estudantes e não defenderem posições individualizadas". (A4)

É necessário criar novas comissões, para ajudar e dividir as tarefas. Só a diretoria da entidade não consegue desenvolver todas as atividades. Tem que envolver a massa. As pessoas que estão à frente devem ter consciência, elas não podem decidir sozinhas.

"A forma colegiada que foi implantada no DCE facilita a participação estudantil, porque tem muitas pessoas que formam a diretoria, não é aquele sistema tradicional. As reuniões são abertas e as pessoas podem espontaneamente se integrar ao DCE". (A4)

Todas essas preocupações demonstram que o sistema atual das organizações estudantis não tem atendido às expectativas dos estudantes e na realidade há um distanciamento entre a vontade da maioria e as lideranças estudantis. Não há um trabalho integrado. A própria universidade também se estrutura de forma a dificultar a participação.
É importante lembrar que são estruturas impostas no período autoritário e se baseiam em características da época. Portanto, não são organizações que possibilitam maior democratização, tanto no que se refere à UFU como um todo, quanto aos canais de participação do estudante. Há que se repensar as estruturas das entidades estudantis e da UFU e adequá-las ao novo momento e às novas exigências da sociedade brasileira.


2 - REPRESENTAÇÃO DOS ESTUDANTES SOBRE A UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

2.1. A FORMAÇÃO

A maioria dos alunos pesquisados apresentam na sua concepção de universidade uma preocupação com o ensino e com a formação. Nesses aspectos as manifestações se tornam contundentes em relação à UFU:

"A universidade não pode ser estática, não pode existir um ensino estático. E é o que a gente mais vê, principalmente na área de exatas, é um ensino estático, que já tá determinado há anos nos livros e você entra lá, aprende aquilo e vai embora. A universidade não tem ensinado a pensar, a racionar. É um receituário de bolo. Eu pelo menos sinto isso. A gente aprende a fazer receita de bolo. Só que nem sempre tem receita pra tudo, aí você tem que comprar receitas de quem desenvolve lá fora. No curso de Engenharia, 95%, 98% das aulas são do estilo Colégio. São aulas expositivas, professor no quadro. Dá pra você ser aprovado em várias disciplinas sem ler um livro daquela disciplina, sem ter consultado uma bibliografia texto. As pessoas passam quatro, cinco anos na universidade como cordeiros, só recebendo aquela carga de informação, nunca pensam. A universidade tá muito mais informando do que formando." (A11)

Fundamentado na educação tradicional , o ensino adquire um sentido de transmissão de idéias externas, que são assimiladas pelo aluno, acrescentando-lhes condições para o seu desenvolvimento. As grandes questões dizem respeito a algo exterior ao aluno, portanto ele não vai exercitar o pensar e o raciocinar, ele vai memorizar. Cabe-lhe o cumprimento das determinações fixadas pela autoridade. É uma abordagem que acrescenta algo ao indivíduo, com o objetivo de moldar comportamentos, incutindo-lhe valores a partir de modelos pré-definidos.

"O curso de Engenharia não tem uma visão filosófica das coisas, o que interessa é a prática."(A9)

"A universidade necessita, com urgência, pelo menos na área de exatas, uma reestruturação curricular. Esse semestre nós fizemos cinco provas por semana. Isso é uma política anti-estudantil."(A)

Ainda buscando explicações na educação tradicional, pode-se observar que nessa concepção se valoriza o aspecto quantitativo, os programas e a disciplina. Inculca-se no aluno a ideologia da competência e do mérito, transferindo-lhe a responsabilidade pelo fracasso que venha a ter em algum momento da sua trajetória. A transmissão do conhecimento é feita num clima de ordem, de disciplina e obediência. O conteúdo é transmitido aos alunos como forma acabada e inquestionável. Nessa mentalidade estabelecida, o número de provas é indicador do bom desenvolvimento do curso.
Em relação a esse tema, somente um aluno se manifestou no sentido de que a universidade se preocupa com a formação ampla.

"A universidade não é só questão técnica. Não é só concluir o curso. São necessárias várias coisas. Da mesma forma que se aprende a fazer uma restauração, você aprende a se relacionar, a conviver. Isso faz parte da vida. A nossa universidade dá uma formação integral, ela dá essa visão abrangente, não é só formadora de recursos humanos ou de técnicos. Ela dá uma formação ampla.
Por isso que eu acho que só sabe o que é universidade quem passa por ela. Eu acho que muitas pessoas deveriam ter essa oportunidade. Às vezes as pessoas se apegam em coisas muito miúdas, ou seja, muito práticas, mecânicas, ou também por questão de dinheiro, elas se voltam pro mundinho delas e se isolam."(A10)

Essa não é uma visão predominante no seio da universidade. É uma representação mais ou menos isolada. Pode-se explicar a partir do curso de Odontologia, que foi apresentado como satisfatório, ou então pelas próprias características individuais do aluno.

"A universidade está piorando muito, devido talvez aos problemas políticos, econômicos pelos quais o país está atravessando."(A8)
Os alunos que se manifestam preocupados com a qualidade do ensino apontam a crise geral do país interferindo na universidade e em todas as demais instituições.
Contudo, há um sentimento de que algumas questões poderiam ser solucionadas internamente, como, por exemplo, a condução dos cursos.

"O próprio curso impõe um ritmo, um esquema individualista estressante. Chega-se ao final do semestre estafado. A universidade às vezes é má, é madrasta."(A8)

Ou ainda:

"A universidade deixa continuar a mentalidade de colegial. Os professores deixam isso continuar. A idéia de que só se aprende ou só se ensina na sala de aula. O professor não está ensinando, ele está doutrinando, pois só demonstra o ponto de vista dele. É uma didática de aula repressora."(A3)

Pode-se ainda observar outro conjunto de representações, nas quais os alunos pesquisados se referem à universidade em geral de uma forma direta ou abstrata, preocupando-se em conceituá-la, mas não introduzem uma visão específica da UFU:

"É o melhor espaço que o cidadão tem hoje para desenvolver a sua visão de cidadania, sua compreensão de mundo. É não ficar limitado ao conhecimento específico do curso, busca compreensão da sociedade." (A2)

"É um lugar não só de formação, mas de afirmação como cidadão. Rever opiniões e aumentar a visão de mundo." (A1)

"A universidade é um centro de cultura, onde se prepara, adquirindo conhecimento. Conhecimento que é direito. É um lugar de formação profissional, onde se convive com pessoas que podem passar algo que se está procurando. O objetivo principal, pra mim, seria que você tivesse uma formação profissional não só ouvindo, mas participando, aprendendo com pessoas que têm um conhecimento na área que você escolheu." (A5)

Na fala dos alunos existe uma discrepância em relação ao ideal e ao real da universidade. Isso é evidenciado em alguns trechos das entrevistas, quando dizem:

"Dentro do meu curso, eu acho que essa formação profissional tem que se dar acima de tudo pelo lado humanístico. Se todo estudante de Direito entrasse na universidade e saísse com o mesmo conceito de justiça, que maravilha que seria! Infelizmente isso não acontece. As pessoas vão entrando no sistema. De certa forma a universidade consegue desvirtuar." (A5)

Em outras representações, os alunos distinguem sua visão de universidade da visão dos demais colegas:

"A universidade pra mim não é só uma fonte de um diploma. Muitas pessoas, muitos estudantes que a gente tem convivido com eles, vêem a universidade dessa forma. Pra mim, não. Ela é um espaço de formação em todos os níveis, não é só você estar na sala de aula, fazer um curso e pegar um diploma. Ela é um espaço de formação. De formação política, de formação social e de formação do caráter mesmo. A nossa universidade é um caso atípico. No meu curso a maioria tá lá pra fazer um curso, pra ter diploma mesmo. Eu vejo de uma forma, mas eu sinto que a maioria dos estudantes da UFU sente a universidade de outra forma". (A4)

Percebe-se nesse posicionamento uma visão de conjunto da universidade. Isso pode ser explicado na medida em que se trata de uma fala do representante máximo dos estudantes da UFU. Ele tem uma visão que acredita ser diferenciada da grande maioria, que parece valorizar uma educação baseada apenas na transmissão do conhecimento instituído e com isso se satisfaz.
A universidade e todas as relações existentes internamente chegam a pesar no sentido de deixarem os alunos preocupados com os seus rumos, demonstrando inclusive um certo desalento.

"Não adianta mais verbas pra universidade. É necessário dar uma repensada na universidade, no todo. Reformular currículos, a maioria dos cursos está com currículos ultrapassados. A universidade não está preparada para receber o estudante-trabalhador. Eu não acho que tem que ter uma carga horária menor. Mas o aluno que trabalha o dia inteiro, estuda à noite é diferente de uma pessoa que pode ficar o dia inteiro estudando. Tem que se repensar os cursos noturnos, mantendo a qualidade.
Eu tô saindo da universidade e lamentavelmente está ficando pior do que quando eu entrei. A gente está perdendo muita coisa. E o problema maior é que isso é uma coisa nacional. Não é só um problema nosso aqui. A educação é que está capengando há anos". (A1)

Nessas falas aparece ainda a preocupação com os cursos noturnos, com o estudante trabalhador. Somente um dos alunos pesquisados levanta esta polêmica. Embora outros pesquisados façam cursos noturnos, não foram sensíveis a esta questão. Mas é notória a necessidade de ampliar na universidade o debate sobre esta situação. É necessário, sim, pensar nas oportunidades da participação das classes trabalhadoras no processo educativo universitário.

"A questão da educação do trabalhador vai deixando de ser encargo financeiro do Estado e passa a ser responsabilidade do próprio trabalhador."

Isso fica evidenciado na medida em que as universidades públicas organizam seus cursos de forma a exigir do aluno disponibilidade de tempo integral para as atividades acadêmicas.
2.2. A ESTRUTURA

Examinando as idéias vinculadas nas falas e nas representações dos alunos, obtém-se uma visão de estrutura fragmentada e dividida, não só no aspecto físico da instituição, mas também no que se refere ao processo pedagógico e ao sistema de poder.

"A nossa universidade, um diagnóstico que eu tenho dela desde que eu entrei aqui, é que é uma universidade repressora. Começa pela estrutura. Nós temos campi separados. Os estudantes não têm muito contato. A nossa universidade não tem um espaço de convivência pros estudantes fora da sala de aula. A gente vai pra aula, assiste a nossa aula e vai pra casa". (A4)

"Na UFU, especificamente, o fato dos cursos terem carga horária excessiva e os três campi separados e distantes desmobiliza e desintegra os estudantes". (A11)

"Muitas decisões ainda são tomadas muito arbitrariamente, pode não ser nas grandes decisões, nos conselhos, mas, quando o professor entra na sala de aula, no primeiro dia e diz que a avaliação consiste em três provas e quatro trabalhos, a democracia foi totalmente violada. Não há o mínimo de espaço pra discussão. Por que esse professor não abre discussão? Será que ele tem medo de ser atingido? Ou ele julga que na frente dele tem 30 pessoas totalmente incapazes para discutir esse sistema de avaliação?" (A11)

"Não há uma integração entre os cursos". (A8)

"A universidade não abre espaço. A gente tenta. Há uma representação de aluno dentro do departamento que é, porém, insignificante. É completamente insignificante. Porque são 500 alunos dentro do curso e 50 professores. Porque os 50 professores têm mais peso que os 500 alunos? É uma coisa irracional. Porque essa proporcionalidade? Você discute, traz a decisão dos alunos e, na hora de votar, seu voto não vale nada se os professores votam contra". (A3)

"Se você vai votar uma coisa que vai influenciar a sua vida acadêmica até você se formar, até você terminar o curso, então você é uma das principais pessoas que tem que participar daquele processo decisório, do pleito eleitoral. E isso não acontece aqui. Geralmente um voto do professor vale por cinco alunos. Inclusive pra coordenação de curso, teve votação e o professor que os alunos votaram teve imensa maioria. Mas os professores não queriam porque o homem não era médico. O que fizeram? Os professores têm uma maioria e expressaram no voto e conseguiram colocar o que eles queriam”. (A8)

A fragmentação da universidade não é casual ou irracional, mas deliberada, pois obedece ao princípio da empresa capitalista: "Separar para controlar" . Então, campi separados, cursos fragmentados e disciplinas oferecidas por vários departamentos submetem o aluno a uma verdadeira maratona em busca de aulas, ora num campus, ora em outro, ora num bloco, ora em outro, de forma que se perde a visão de conjunto e a oportunidade de se relacionar e de conviver.
Juntando-se a isso, a estrutura de poder também se fundamenta na fragmentação da cultura, na separação entre decisão e execução, deixando a decisão para determinados grupos. Daí a valorização do professor enquanto representante ou dono do saber.


2.3. RELAÇÕES INTERNAS E EXTERNAS

Nas manifestações dos alunos aparecem com freqüência preocupações em termos das relações vividas dentro da universidade e das relações desta com a sociedade.



2.3.1. Relações Internas na UFU

Em relação à universidade e às relações vividas no seu interior, assim se manifestam:

"A gente entra na universidade, entra com aquela idéia utópica de que é uma coisa maravilhosa. Aí você entra e vê que o povo é mais bitolado do que dentro do cursinho. Alguns professores mais retrógrados do que o professor do colégio de freira. O professor não dá liberdade pro aluno. O aluno abaixa a cabeça e fica quieto no canto dele. Então ele fica estático dentro do curso. Ele entra com aquela mentalidade de colegial, de que o professor manda e desmanda dentro da sala de aula". (A3)

Percebe-se algum desencanto com a universidade, na medida em que aparece nas representações dos alunos pesquisados uma visão entusiasta antes de entrar na universidade e, após conhecer e viver no contexto universitário, um certo desalento.
Pode-se observar ainda a presença da autoridade do professor. As relações de poder na universidade são perpassadas pelo conteúdo autoritário presente na relação Estado e Sociedade. Evidencia-se uma educação para a submissão, pois o professor possui instrumentos de controle sobre o aluno, ou seja, o aluno que se rebelar corre o risco de não ser avaliado ou ser avaliado negativamente. O sistema de avaliação pode sofrer interferências das relações vividas entre ambos.
O professor se apresenta, na visão dos alunos pesquisados, numa situação de superioridade, uma vez que para eles os alunos têm pouca ou nenhuma significância, como se pode observar na representação que faz esse aluno:

"Pra professor, aluno é aluno e tá em estado de igualdade com o lixo reciclado. Então não adianta aluno abrir a boca com professor. Ele bate na mesa e diz: quem manda nessa sala sou eu, eu que imponho as normas e as regras". (A3)

Então, pode-se notar a subordinação do aluno em relação ao professor. Essa subordinação pode dificultar o aparecimento de uma visão crítica e do pensamento criador, uma vez que a liberdade é fator fundamental para a criação.
Sob o ponto de vista do sistema, esse tipo de relacionamento é explicado pela tentativa de preservar a distância entre jovens e adultos, reforçando-a em termos de autoridade.
Ainda demonstrando um nível de insatisfação com as relações vividas na universidade, os alunos fazem suas contestações explicitando seus pensamentos dessa forma:

"Os alunos se dividem entre si, os professores também têm aquela divisão. Aí fica aquela coisa separada, ninguém tem a intenção de unificar para trabalhar em conjunto". (A3)

Ou ainda na fala desse aluno:

"Eu acho que a produção do conhecimento envolve inclusive interação pessoal entre professor e aluno, aluno-aluno e professor-professor. Isso eu acho que gera conhecimentos". (A6)

A partir desse conjunto de representações é possível inferir que, além do autoritarismo próprio dos regulamentos que vigoram nas universidades, identifica-se também o uso do saber para submissão dos alunos. Estes, via de regra, não são considerados como sujeitos de seu próprio processo educativo, mas como objetos, o que lhes impede uma educação emancipadora. Há que se pensar numa democracia universitária a partir do ato de ensino e aprendizagem. Esse ato é que deveria mediar as relações professor-aluno.
Entre os alunos e funcionários as relações aparecem também perpassadas por incompreensão do papel que cada um cumpre na universidade.

"A partir do momento em que você entra na universidade, você fica um pouco assustado. Muito individualismo, há uma desunião que eu noto em termos de relação alunos com funcionários. Às vezes os funcionários não gostam muito dos alunos. Têm uma certa aversão, principalmente aqui no hospital, que têm que cuidar dos pacientes e o aluno tem que aprender. Geralmente o pessoal esquece desse lado de universidade, de escola, e consideram só hospital". (A8)

Esse sentimento em relação aos funcionários do hospital é comum entre os alunos e pode ser explicado pelo fato de o hospital de clínicas atender a demanda da cidade e da região. O hospital tem buscado cumprir a sua finalidade de ensino, mas, por outro lado, é o único hospital público da cidade, portanto acaba vendo-se na obrigação de atender as necessidades existentes. Ele está trabalhando com sua capacidade máxima e, mesmo assim, não tem atendido plenamente a demanda. Há que se repensar o papel do hospital universitário e avaliar a formação que vem sendo desenvolvida nessa área.
Dos alunos que enfocaram esse aspecto das relações internas da universidade, somente um deles se manifestou no sentido de que não se decepcionou com a universidade:

"Eu não sei definir, mas a universidade pra mim foi uma experiência ímpar, sem dúvida. É uma coisa que vou carregar pra sempre. Sem dúvida diferencia a vida das pessoas. A formação técnica é apenas uma parte, a questão profissional é apenas uma parte, mas a universidade é muito mais que isso. Eu passaria por tudo novamente, valeria a pena.
Começaria tudo de novo. Em momento algum eu fiquei decepcionado com a universidade." (A10)
2.3.2. Relações da Universidade com a Comunidade

Há alunos que, ao falarem da universidade na qual estudam, demonstram uma preocupação no sentido do seu isolamento e desvinculamento da comunidade e da sociedade em geral.
Isso fica evidenciado nas manifestações a respeito das finalidades e funções da universidade.
Nesse sentido, entendem que a universidade não vem cumprindo seu papel em relação à comunidade que a cerca e à sociedade que a mantém.
No conjunto das representações dos alunos pesquisados, essas referências se apresentam de formas diversas:

"Quando você entra na universidade, você fica isolado, é como se você estivesse encastelado ali. É muito desvinculado. Acho que não há uma ligação entre universidade e comunidade. Não tem um projeto ligado diretamente à comunidade. Eu não consigo entender como se produz conhecimento desvinculado do social, da realidade da comunidade. A universidade não dá muito retorno para a comunidade". (A1)

"Na prática o que eu tenho visto, a minha experiência no curso de Medicina é que a visão de universidade, para a maioria, vai até o limite da sala de aula". (A6)

"A universidade está faltosa em relação ao povo, não cumpre com uma das suas funções, que é a integração com a comunidade. A visão que eu tenho de universidade é que seria alguma coisa para integrar, além de promover o aprendizado e a formação. Seria também integrar o universo da ciência com o universo da sociedade. Mas eu não noto isso, a coisa não caminha junto, tá separado, tem um corte". (A8)

"Eu vinha de ônibus esses dias e tinha uma senhora com uma criança. A menininha perguntou: O que é aquilo? A mãe respondeu: É a universidade. Mas ela falou assim, uma coisa tão longe, tão distante, parece que nunca poderia alcançar. A universidade é fechada". (A9)

Pode-se observar que são manifestações que se referem às relações da universidade com a comunidade. Para esses alunos, a universidade é muito fechada, isolada da comunidade, não interfere no meio social em que está inserida, portanto não contribui com projetos voltados para o interesse da população e não se preocupa em produzir conhecimentos voltados para a solução dos problemas da sociedade. Evidenciam, ainda, que também por parte da comunidade há um distanciamento e um desconhecimento em relação ao que faz a universidade.
Esses alunos têm uma posição que defende o papel social da universidade:

"A universidade deve buscar a comunidade para devolver o que produziu. Mas deve ser uma devolução ativa e não uma coisa passiva, não só a nível de extensão, pura e simples pra comunidade". (A8)

"Eu acho que não dá prá existir a universidade sem que coexistam as ações de desenvolvimento de tecnologias e de pensamentos que procurem aperfeiçoar e melhorar o mundo. Ela é um lugar de se desenvolver coisas importantes e coisas que procuram a melhoria da vida, ela tem que atender a população". (A11)

Ainda se percebem colocações em termos de propostas para que exista uma relação com a comunidade:

"Eu acho que tinha que ser uma coisa próxima, mais vinculada, mais voltada para a comunidade, porque problema é o que mais tem.
O mínimo de retorno você tem que dar pra ela. Na área de humanas, você não tem pesquisas voltadas pra o social e tem muita coisa que se pode fazer voltado para a comunidade, vários trabalhos que podem ser desenvolvidos diretamente com a comunidade". (A1)

"Eu acho que tem que repensar o papel da universidade. Ver como ela vai se inserir na comunidade". (A1)

Num primeiro momento, fazem uma reflexão sobre o isolamento da universidade e do distanciamento existente entre a universidade e a comunidade.
Esse grupo de alunos imputa à universidade uma responsabilidade com a população que a mantém. Julga ainda que a relação que deve existir entre ambas não deve ser uma relação passiva ou paternalista, mas uma relação de troca, uma relação em que a população seja ouvida, em que suas experiências sejam observadas, prevalecendo o respeito ao seu conteúdo cultural, em que os investimentos sejam voltados para o desenvolvimento de ações e de projetos que respondam às necessidades imediatas da maioria da população.


3. REPRESENTAÇÕES DOS ESTUDANTES SOBRE A CIDADANIA, DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO

Nesse terceiro eixo, as representações dos alunos referem-se às suas concepções sobre cidadania, democracia e participação em geral, na UFU e nas entidades estudantis.
Em se tratando das concepções de cidadania, as manifestações dos estudantes, na sua maioria, referem-se à questão dos direitos dos indivíduos e dos direitos sociais.

"Cidadania, pra mim, é um conjunto de ações que visam manter ou resgatar o direito de se viver dignamente. Eu acho que grande parte da população não tem uma vida digna. E o que eu chamo por digna é o mínimo mesmo. É o direito à moradia, à saúde, é a declaração dos direitos do homem". (A11)

"Cidadania é o direito do cidadão, é você estar em dia com a sua responsabilidade e com seus direitos". (A5)

"Cidadania é seu direito e dever de estar opinando, participando, na comunidade em que você vive, de todo o processo decisório, não só o que influi diretamente na sua vida, em todas as instâncias, seja social, política e econômica, mas a nível indireto também. (A6)

"Pra existir cidadania tem que ser garantido o princípio dos direitos sociais". (A2)

Para outro grupo de alunos, a sua concepção de cidadania está vinculada ao fato de decidir sobre questões, participando e intervindo:

"Para ser cidadão você precisa participar, precisa saber o que está acontecendo. Tem que interferir no processo. À partir do momento em que você participa de uma mudança, você está exercendo a sua cidadania". (A4)

Para alguns, a cidadania é uma forma de melhorar, de conseguir realização não só individual, mas também melhoria da própria sociedade:

"Cidadania é uma forma de defender, de buscar, de melhorar, é uma forma de solidariedade". (A9)

"Cidadania envolve, principalmente, educação. Eu acho que a universidade forma o cidadão, porque você se depara com o problema mesmo. Não tem como você fazer Medicina, Odontologia ou Letras sem conhecer a realidade específica de cada segmento que você vai trabalhar. Eu acho que o principal pra cidadania é a educação e a cultura". (A7)

Nesta fala, a aluna imputa à educação uma responsabilidade com a formação da cidadania.
Algumas representações apontam uma relação entre cidadania, democracia e participação:

"Cidadania, democracia e participação não são separadas, acho que elas devem ser discutidas em movimentos, partidos, organizações. Qualquer coisa que envolva o ser humano tem que ter esses três elementos únicos e fundamentais. Se isso não existir, não existe universidade, não existe movimento estudantil". (A7)

Apesar do nível de importância dado à questão da cidadania, ainda se manifestam no sentido de que existe uma distância entre a teoria e a realidade objetiva:

"A gente não pode continuar convivendo com essa desigualdade social. A maioria da população está marginalizada. Cidadania requer o cumprimento dos direitos e deveres. O que adianta ter direitos se eles não são respeitados?" (A11)

"Há uma discrepância muito grande entre a teoria e a prática. Você fala em ação da cidadania contra a fome e a miséria. Mas não é só isso. Isso é só uma face. E, o pior, as pessoas não têm sido tratadas como gente. Eu acho que, enquanto existirem pessoas nas ruas que passam dois, três dias sem comer e buscam um pedaço de pão na lata de lixo, não há cidadania. Essas pessoas estão sendo violadas nos seus direitos e a culpa é de todos nós". (A11)

Ainda nesse sentido:

"Falar em cidadania. Que cidadão é esse? Neguinho que não tem onde morar, não tem o que comer! Aí você vai fazer uma campanha para lhe dar comida e pra lhe dizer: olha, hoje você é cidadão, porque hoje você tem direito a ganhar comida. Cidadania não é isso. Não é ninguém chegar e lhe dar alguma coisa. É você ter liberdade de fazer, de escolher e de ter suas coisas". (A1)

Em relação à concepção de democracia, os alunos se manifestam no sentido de que há alguns elementos essenciais que compõem a democracia:

"Democracia supõe igualdade e justiça". (A11)

"Pra falar que tem democracia, tem que ter consciência do que está fazendo. Tem que ter consciência, poder de decisão e liberdade". (A8)

"Democracia tem que ter escolha, liberdade e fiscalização. O povo tem que aprender a cobrar mais de perto". (10)

"Pra existir democracia tem que existir liberdade de expressão e igualdade de condições. Tem que ter livre arbítrio". (7)

Nesse conjunto de representações, os alunos colocam aspectos essenciais que compõem a democracia, a saber: igualdade, justiça, consciência, poder de decisão, liberdade de expressão e de escolha e fiscalização, pelo povo, das ações dos governantes.
Por outro lado, evidencia-se um questionamento presente nas suas falas no sentido de que a democracia inexiste:

"Democracia é muito bonita. Mas será que existe democracia plena? Não. Participação do povo em tudo não existe. Infelizmente é inviável. Mas existem formas de participar das decisões políticas, administrativas. O que eu tenho certeza que existe é o direito a voz, o direito de você participar. Talvez não seja a forma mais democrática. Mas você tem o direito de escolher alguém para falar por você. Outro elemento da democracia é a consciência. Você tem que saber por que está participando". (A5)

“Apesar da nossa democracia não ser a democracia sonhada, mas é só através dela, da busca da participação que a gente busca um mundo melhor”. (A9)

"Se houvesse democracia não teríamos tantos problemas, porque democracia pressupõe participação. É igual à cidadania. Isso não acontece. Você vai até onde 'eles' querem que você vá". (A1)

Ainda podem ser observadas outras manifestações no sentido de reconhecer as divergências:
"Democracia é a maneira de você ter pensamentos diferentes pra um problema comum e resolução para esses problemas de forma consensual. Então você tem possibilidade de estar resolvendo com todo mundo opinando, todo mundo participando e chegando numa posição que teoricamente satisfaz a maioria". (A6)

"Democracia é você ter o direito de participar e usar desse direito, sendo que esse direito corresponde a um dever seu". (A4)

Em geral, em todas as falas dos alunos percebe-se uma menção ao envolvimento entre os três conceitos, cidadania, democracia e participação:

"Participação é o direito que constitui o pilar central da democracia". (A11)

"Participação está embutida na cidadania. Um conceito está implícito no outro". (A5)

"Participação pressupõe o direito à cidadania. Sem participação não há cidadania, ou seja, os direitos e os deveres sociais. Nessa participação vai ocorrer a democracia". (A2)

Outro grupo de alunos apresenta manifestações que dão um sentido de ação à participação:

"Participar é você fazer e deixar os outros fazerem. É você estar trabalhando e deixar os outros trabalharem também. É você mostrar o que pensa e também agir". (A8)

"Participação é necessária em tudo na vida. A gente tem aquela utopia de uma sociedade igualitária, onde o coletivo realmente seja participante e não essa massa inerte que a gente é hoje, isto é, a que o povo está reduzido". (A1)

"Participar é ser uma pessoa ativa. Não deixar pensarem por você. Participar tem a ver com o conceito de cidadania porque você tem consciência de que precisa mudar. Participação na universidade é você se empenhar em outras áreas de conhecimento e não ficar apenas na sua". (A7)

"Participação é um veículo de comunicação, porque é participando que a gente vai se informar e a informação é a arma para melhorar". (A6)

No que diz respeito às concepções de cidadania, democracia e participação na UFU, a visão dos alunos é assim expressa:

"Democracia ainda está longe de acontecer. As decisões ainda são tomadas muito arbitrariamente. A democracia dentro da UFU é muito incipiente. Pela primeira vez, a proposta de um candidato a reitor foi discutida com a base. Então, a universidade tem um mínimo de chance de se aproximar de uma democracia. No momento a gente vive um período de transição, e, o que é pior, as forças retrógradas dentro da universidade não estão paradas". (A11)

"A questão da democracia é falha. Se o voto do professor vale mais, não tem democracia. A gente não decide. O pessoal decide pela gente. Só que a decisão vai influenciar na nossa vida e não na deles. Porque eles vão continuar dando suas aulinhas, cuidando de seus interesses particulares e nós vamos aprender menos. Claro que há boas decisões, mas a gente também quer participar de forma plena e não parcial". (A8)

"No momento atual a universidade não busca nenhum desses três pontos. Participação nesse momento não existe e nem democracia. O funcionário tem preconceito contra o aluno, o aluno tem preconceito em relação aos demais segmentos. Na sociedade também não existe nenhum desses três aspectos". (A3)

Nas falas desse grupo de alunos fica evidenciado o distanciamento da UFU em termos de ser uma espaço democrático, apresentando ainda práticas que não valorizam a participação.
Igualmente os estudantes apontam ser a UFU uma universidade burocratizada:

"Quanto aos conselhos, não sei se são democráticos. Não tenho conhecimento deles. É muita burocracia, muita perda de tempo. Até as reivindicações chegarem nos colegiados, já passou por tanta gente que acabamos desistindo. Apesar de tudo, eu gosto da UFU, principalmente essa reitoria nova, a gente só tende a ganhar!" (A7)

Existe também a visão de que os problemas enfrentados pela UFU refletem a realidade da sociedade:

"A UFU ainda encontra dificuldade em superar os problemas referentes à democracia, à cidadania e à participação. Não poderia ser diferente mesmo. A UFU também está dentro desse processo, é fruto histórico do desenvolvimento da sociedade. A minha expectativa é que a UFU passe por uma fase de crescimento". (A2)

"Em relação ao espaço democrático no cotidiano da UFU, se você fizer parte do grupo no poder, há democracia, mas se você quiser manter uma linha de trabalho independente, isso fica mais difícil. Tratamento democrático em termos de igualdade não existe". (A5)

"Na UFU a postura existente é de comodismo. a cidadania não está sendo exercida de maneira adequada. A participação é deficiente e a democracia está incipiente". (A5)

Ainda em relação à cidadania:

"A cidadania independe da universidade. Mas a universidade não ajuda a concretizar a cidadania. Você quer fazer alguma coisa, você tem vontade de fazer, não tem jeito. A própria questão de você estar sobrecarregado já tem que deixar algumas coisas de lado. Eu acho que viver a cidadania é também você ser informado, é você ter direito de acompanhar os acontecimentos. Eu não estou criticando, porque também não é só criticar, eu não tenho solução para isso. Apesar de tudo, eu quero ser um médico e um bom médico... Às vezes fico pensando, eu vim aqui pra estudar". (A8)

Outras falas são no sentido de visualizar perspectivas:

"A curto prazo eu tenho consciência de que não acontecerá a democracia, em vista das ações que estão arraigadas na cultura que predomina dentro da universidade.
A universidade pode crescer enquanto instituição de ensino e de pesquisa e a democracia pode não acontecer. Você pode ter uma fundação universitária que cresça em termos acadêmicos, mas as relações entre as pessoas podem ficar emperradas". (A11)

"Eu acho que nós podíamos viver relações melhores, podíamos participar mais. Um pouco é culpa da gente. Sei lá, esse povo (alunos) é tão desligado! Estão preocupados com outras coisas e deixam muitas importantes de lado. Antes a gente tinha ditadura e depois, aos poucos, se teve a liberdade gradual. Hoje, com o Nestor na reitoria, eu sinto que pelo menos ele tem tentado mudar". (A10)

"Quando as pessoas que compõem a universidade começarem a pensá-la como um todo, aí eu acho que a democracia tem chance de crescer. Mas enquanto a gente estiver pensando só egocentricamente, vai haver conflitos, choques de interesses e alguém vai tomar a decisão. As pessoas precisam canalizar as decisões e daí saírem as decisões coletivas". (A11)

Ainda se manifestam relacionando a visão negativa que têm da cidade com a universidade:

"Na UFU, eu vejo estas questões com muitas restrições. Não sei, mas tenho de Uberlândia uma visão negativa. É uma cidade elitizada, uma cidade muito bairrista. A universidade é meio curraleira, fechada, sem uma filosofia maior. Mas na convivência, hoje, está mais fácil. Essa convivência depende primeiro da gente e eu estou buscando a cada dia melhorar, porque, se a gente se acomodar, não vai melhorar nunca". (A9)

"A mentalidade da cidade é muito limitada, você vê, tem vereador na Câmara Municipal propondo que se reserve um certo número de vagas no vestibular para o pessoal de Uberlândia. Aí você fere totalmente o conceito de universidade. Eu acho que a renovação de quadros de docentes, técnicos e alunos é fantástica! E a UFU só tem chance de crescer em cima disso, dessas pessoas que vieram de fora pra cá, começando a trazer experiências de outros locais". (A11)

No que tange às concepções de cidadania, democracia e participação nas Entidades Estudantis (DCE e DAs), encontram-se as seguintes manifestações:
"Os conselhos ainda são pouco democráticos. Na universidade, o lugar onde ainda se pratica a democracia é nas entidades, embora isso ainda deixe a desejar". (A11)

Para um grupo de alunos as entidades são espaços de desenvolvimento de cidadania, democracia e participação. Nas suas falas, eles ainda diferenciam os estudantes em dois tipos:

"Existe uma parcela de estudantes que acompanha e entende o que está acontecendo. Mas existe uma outra que é totalmente alienada. Eu tenho colegas que vão à universidade assistir aulas, eles não entram na biblioteca". (A11)

"Eu acho que as entidades estudantis são espaços para o desenvolvimento da cidadania, da democracia e da participação. No nosso DA, temos tentado dividir em comissões representativas de sala de aula. Como não dá pra todo mundo participar ao mesmo tempo, é necessário escolher representações para dividir responsabilidades e atividades. Sempre que se trabalha em grupo não fica tão pesado e se produz mais". (A10)

"A democracia, a cidadania e a participação existem no movimento estudantil em um certo momento, numa certa época. O pessoal se respeita, discute e acaba chegando em decisões tiradas do consenso. Aquele movimento pró-reitor foi um momento de participação e democracia". (A3)

"O DA procura garantir ao estudante a liberdade de expressão, que é a base para o crescimento da pessoa. Todos nós necessitamos dessa liberdade". (A2)

"As entidades estudantis sempre trabalham, ou deveriam trabalhar com suas bases, com os estudantes. Nós não estamos aqui para defender a nossa posição, a gente está aqui para ver o que o estudante quer e fazer discussão dos problemas". (A4)

"A idéia básica é ser o mais democrático possível e sempre poder brigar por isso. É bonita a participação e também a convivência, e a gente briga por elas". (A9)

"A forma de escolha dos DAs e DCE já é um início de democracia. São eleições diretas, qualquer estudante pode se candidatar, pode votar e ser votado.
É um dos primeiros espaços de aprendizagem de democracia". (A4)

Outro grupo de alunos visualiza dificuldades em relação às entidades estudantis, como, por exemplo, a distância entre o discurso e a prática, embora veja nelas um espaço para o exercício da cidadania e da democracia:

"As ações dos DAs não estão atentas para a questão da cidadania, da democracia, porque não basta promover eventos para os alunos. Isso pra mim é um postura paternalista. E paternalismo e democracia não se coadunam". (A6)

"O estudante não tem participado. O movimento estudantil vem perdendo a credibilidade há anos. Os diretórios e as entidades estudantis devem assumir essas responsabilidades. Eles têm culpa dos estudantes estarem apáticos". (A5)

"Falta muito para os DAs. Falta saber o que o aluno quer, o que ele está precisando. Não é ficar seis ou sete decidindo por todos. Isso não reflete a realidade". (A8)

"Eu acho que fica muito blá-blá-blá..., no discurso. A partidarização nas entidades define o direcionamento do movimento e da entidade. O diretório tem espaço para ser promotor de participação, de democracia e de cidadania porque é o espaço mais próximo dos alunos. É a representação mais imediata que eles têm. Então, espaço tem, mas não se consegue. Chegou um momento que o diretório era eu. Todo mundo debandou e eu fiquei sozinha". (A1)

"As pessoas assumem as entidades e no decorrer desistem. Não sei se é falta de compromisso ou se o pessoal vai desiludindo-se com o DA". (A1)









CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando me propus estudar este tema, buscava entender o processo da participação estudantil na Universidade Federal de Uberlândia a partir da visão dos próprios estudantes. Tinha em mente que o movimento estudantil na UFU, embora inexpressivo em vários momentos, apresentava-se muito atuante em outros.
Intrigava-me o fato de que em algumas situações os estudantes se mobilizavam, enquanto em outras, que também os afetavam diretamente, não o faziam. Comecei este trabalho me perguntando como se caracteriza a participação estudantil na UFU, como o estudante participa e qual sua representação sobre a universidade e o movimento. Qual a importância, para a compreensão da realidade universitária atual, desta representação que fazem os estudantes? Embora esse não seja um ângulo muito abordado nas análises sobre a universidade, o estudante universitário tem sido alvo de críticas no sentido de que não vem participando na vida da instituição. Conhecendo a diversidade de motivos, interesses e ações que levam os estudantes a participarem, deparei-me com a possibilidade de identificar fatores, que do ponto de vista deles, interferem no sentido de facilitar ou dificultar seu processo participativo na universidade.
Refletir sobre o tema proposto e desenvolver o estudo pelo caminho escolhido significou um desafio frente à complexidade da questão e pela necessidade de lançar mão de grande sensibilidade para compreender a trajetória de um movimento considerado polêmico, imaturo e ao mesmo tempo encantador.
Utilizou-se uma metodologia que permitiu penetrar no cotidiano do estudante, entender as suas relações com a universidade e com as entidades estudantis, conhecer seus sentimentos, suas opiniões e idéias sobre a universidade, sobre a participação e o movimento estudantil, tendo a heterogeneidade dos discursos mostrado diversas facetas da realidade universitária e do movimento estudantil.
Os resultados deste estudo apontam para um conjunto de fatores que interferem no contexto universitário.
Tomando-se como referência os conjuntos das representações que os alunos evidenciaram nas suas entrevistas, buscou-se compreender a participação estudantil no contexto da Universidade Federal de Uberlândia a partir da reflexão da história do movimento estudantil em geral e na UFU, em particular, e a partir das relações estabelecidas no cotidiano universitário. Relações estas perpassadas pelos aspectos objetivos e subjetivos que influenciam o aluno enquanto indivíduo e enquanto ser social. Diretamente decorrente deste estudo, apareceu a oportunidade de repensar a universidade e, ainda, caracterizar alguns dos fatores que interferem na participação estudantil e a determinam.
As categorias teóricas iniciais, sobre as quais procurou-se discutir e entender as concepções dos estudantes, eram a democracia, a cidadania e a participação. A partir dos resultados da pesquisa, novas categorias emergiram, apontando para alguns eixos principais.
A participação estudantil, embora sempre presente na sociedade brasileira, não apresenta uma ação continuada. Aparece de forma alternada, às vezes muito intensa e em outros momentos quase inexistente.
O estudo demonstra o estrago, para o movimento estudantil, feito pelas ações desenvolvidas nas universidades no período autoritário. Muitos pagaram com a vida, preço muito alto até mesmo para um sonho que buscava uma sociedade mais justa e democrática. Mas é incontestável a importância do papel que o estudante universitário sempre desempenhou na nossa sociedade. Os movimentos estudantis, sem dúvida, foram e são mobilizadores da opinião pública para os problemas da universidade e da sociedade. Nas lutas estudantis verifica-se uma preocupação constante com os problemas da comunidade, com as questões políticas mais gerais, com a democratização e a justiça da sociedade. Os estudantes viveram permanentemente um processo de busca da participação, da democracia e da cidadania. Nota-se que essa busca não é individual, mas é uma busca também para a sociedade em geral.
O movimento estudantil cumpriu um papel de grande questionador da estrutura autoritária da universidade brasileira.
A população aqui estudada, face ao contexto da realidade brasileira, pode ser considerada privilegiada, pois conseguiu chegar ao curso superior e ainda freqüentar uma universidade pública. Mas em todas as suas manifestações e reivindicações está presente o desejo de todos terem acesso ao ensino superior e que cursar o terceiro grau não seja privilégio de poucos, mas uma possibilidade da maioria da população.
A politização estudantil, com seus movimentos, cumpre uma função não assumida por outras instituições da sociedade, ou seja, a de iniciação política da nova geração. Preenche a necessidade dos jovens, atuando como fator de maturação política. Cabe às instituições educacionais contribuir para que esse processo ocorra de forma democrática, dentro de uma visão pluralista.
A criação da UNE, em 1937, através da Portaria Ministerial assinada pelo então Ministro da Educação Gustavo Capanema, é o marco histórico da organização do movimento estudantil no Brasil.
Idealizada pelo Estado Novo como instrumento catalizador das lideranças estudantis, a UNE foi aos poucos dominada por estudantes ativistas, passando então a participar de movimentos de contestação no país, assumindo muitas vezes a liderança dos mesmos.
Percebe-se no decorrer do estudo que os estudantes da UFU viveram movimentos em consonância com o movimento estudantil nacional. Influenciados por fatores internos da Instituição ou por fatores externos, eles se engajaram em várias lutas por melhores condições de ensino, de educação, de acesso ao ensino público e pela democratização e autonomia da universidade. Da mesma forma que os demais estudantes do país, guardadas as devidas proporções, também os da UFU sofreram punições e repressões e muitas vezes foram impedidos de se manifestarem. Mas, a exemplo dos demais, souberam conquistar espaços e marcaram de forma inconteste a sua presença no cenário universitário e da sociedade em geral.
O estudo demonstra ainda que os universitários desencadearam o seu movimento no sentido da criação de uma contra-cultura vinculada às questões da universidade e da sociedade, mas, principalmente, refletindo sobre a própria violentação sofrida pelas instituições de ensino no que se refere à sua autonomia, as pressões que o sistema exerce sobre elas para a sua própria sobrevivência. O Movimento Estudantil, em toda a sua trajetória, constituiu um canal de criticas ao sistema e ao modelo implantado nas instituições universitárias e ultrapassou o quadro universitário, vislumbrando o conjunto da sociedade e da cultura. É sua característica a vontade de estabelecer uma ligação com os movimentos da sociedade em geral, o que é demostrado em suas freqüentes alianças.
O movimento estudantil se pautou num projeto anti-capitalista, embasando-se na esperança de uma sociedade mais justa, opondo-se à ordem social dominante. Se não conseguiu as mudanças almejadas, esse relativo fracasso político na verdade não lhe diminui a importância histórica.

"O Movimento Estudantil é de fato um movimento social, quer dizer, uma ação conduzida por grupos sociais particulares, para tomarem o controle da mudança social. Os seus objetivos e o seu sentido são políticos e devem compreender-se, não a partir da crise da organização universitária, mas a partir dos conflitos e contradições da sociedade, o seu sistema social e político."

Assim é um movimento cuja dinâmica se fundamenta nas relações internas das universidades e nos reflexos das situações externas nas instituições de ensino. Ele se fortaleceu na medida em que as condições, tanto internas, quanto externas, se agravaram e interferiram diretamente no impedimento de realização dos desejos de liberdade, de democracia e de participação, sendo o próprio autoritarismo instalado motivo para o revigoramento do movimento estudantil em vários momentos. É notória a sua importância, seja no ataque aos franceses em 1710, na invasão do Rio de Janeiro, seja nas manifestações e incidentes de 64 e 68 durante o regime militar, ou ainda no movimento das DIRETAS JÁ em 1984 e no impeachment do presidente Collor em 1992. A verdade é que se tornou um movimento social e político, interferindo, ao longo da história, no conjunto da sociedade brasileira. É um movimento que se caracterizou pela luta contra as formas autoritárias de tomada de decisões nas universidades, mas não se encerrou nelas.
Ao lado dos estudantes, a sociedade civil vislumbrou, em muitos momentos, possibilidades concretas de rupturas e com eles teve forças para se reorganizar e prosseguir em busca de mudanças. O movimento estudantil não é isolado da sociedade, mas, pelo contrário, ele tem encontrado eco nos demais movimentos sociais. Nesse sentido, a sociedade tem demonstrado esperanças de mudanças a partir da expectativa gerada pelos movimentos estudantis. Recentemente, após a queda do presidente Collor, era comum ouvir manifestações da população cobrando dos estudantes caras pintadas posicionamentos frente às questões políticas emergentes na sociedade brasileira e na universidade em particular.
Este estudo aponta também para a importância do papel do estudante no interior das instituições de ensino e na própria discussão de questões fundamentais, como os rumos da universidade do terceiro milênio e a função social desta instituição, ou seja, a formação do homem-cidadão. Não só o estudante, mas a própria sociedade está a exigir a reconstrução da universidade de maneira que ela seja realmente formadora de homens, além de geradora de tecnologia. Para tanto, faz-se necessário redesenhar a universidade atual. Há que se repensar novas posturas para o ensino, para a pesquisa e a extensão, de forma a perseguir uma visão de conjunto, eliminando essa visão fragmentada e compartimentalizada. É necessário atuar de forma interdisciplinar, oportunizando ao estudante condições de entender a interdependência e a complementariedade existentes em todas as questões. Dessa forma, há que se pensar a universidade como geradora de conhecimento e promotora de cidadania, duas funções indissociáveis das questões da participação e da democracia. A necessidade de uma postura de respeito às divergências nos seio das instituições fica evidenciada neste estudo, pois somente desta forma se realiza a transmissão do saber e da cultura, configurando-se a possibilidade de discuti-los com a comunidade universitária a partir de várias vertentes filosóficas e ideológicas.
A universidade contribuirá para a aprendizagem com o exercício da democracia, da participação e da cidadania na medida em que tratar estes elementos como fundantes e inerentes à prática pedagógica e política da instituição. Estes são aspectos que devem estar presentes na vida universitária e são temas de permanente relevância entre os estudantes.
Nesse ângulo, cabe à universidade iniciar o processo de construção da democracia, uma vez que é o espaço dedicado ao debate de idéias, à criação do saber e à luta pela mais ampla liberdade de pensamento de professores, estudantes e técnico-administrativos.

"Em vez de sintonias de idéias preconcebidas, é preciso incentivar ao máximo o respeitoso confronto de idéias. Isso exige comportamento inteiramente diferente dos que atualmente vigoram na universidade. É preciso que alunos e professores percam a preferência pelo monólogo e assumam a procura do enfrentamento teórico, através do diálogo firme, mas respeitoso, entre posições divergentes. A universidade só se transformará se estiver aberta a um intenso debate. A democracia não pode ser vista como um fim em si mesma na universidade, mas uma busca permanente de satisfação e democratização do conjunto da sociedade e conseqüentemente da cidadania."

A Universidade Federal de Uberlândia, criada a partir da junção de faculdades isoladas de cunho particular, representava na época, 1969, o projeto do governo militar de facilitar ao máximo o surgimento de escolas pagas, sem critérios mais rígidos senão o de atender à demanda por mais vagas no ensino superior. Dessa forma, desde a sua origem, a UFU apresenta uma subordinação à vontade da classe política local, que na verdade foi decisiva na sua criação. A Instituição surgiu dessa vontade política e, em vista disto, predominou nela a influência do poder da política local. Criada num contexto autoritário, modelou-se, em termos de estrutura e de ação, em princípios aceitos por este contexto. Assim, o movimento estudantil na UFU, a exemplo do movimento nacional, enfrentou dificuldades, repressão e, em consonância também com este, influenciou decisivamente na vida da Instituição, adquirindo progressivamente emancipação da administração superior da UFU e centralizando as lutas estudantis nas entidades estudantis. Embora o sistema adotado para a representação estudantil tenha surgido no período autoritário, fundamentando-se em legislação que dificultava iniciativas independentes, os estudantes conseguiram registrar sua participação política na vida da universidade desde a sua origem até o momento atual. Fizeram-se representar e intervieram no cenário político da UFU e nas grandes questões nacionais.
A participação estudantil na UFU foi sendo construída nas bordas de uma universidade controladora e autoritária.
Apesar da presença constante dos estudantes e da influência do movimento estudantil nacional, sua ação se caracterizou por uma certa descontinuidade e alternância, em momentos de efervescência e de calmaria. O que se observa nesses movimentos é que não há um envolvimento do conjunto dos estudantes. Na realidade a participação estudantil fica muito mais concentrada nas entidades representativas. Isso gera, de um lado, a insatisfação das lideranças, que alegam não ter condições de caminhar sozinhas, e, de outro, a dos estudantes, que afirmam que as entidades estão distantes dos seus objetivos, que não atendem às questões que os afetam diretamente, por isso não participam. Percebe-se um hiato entre a comunidade estudantil e os seus órgãos de representação.
Isso pode ser explicado pelo modelo adotado, no qual os canais de participação existentes são estabelecidos através dos Diretórios Acadêmicos, Diretório Central dos Estudantes, conselhos, ou seja, a democracia representativa. Esta fórmula tem sido tradicionalmente uma das alternativas mais estimuladas de participação. Do conjunto dos estudantes destacam-se certos representantes que vão dialogar, debater e encontrar soluções para as dificuldades, em nome de sua base. Assim, o que tem ocorrido é que a base social só é incluída no início do processo, na eleição dos representantes, às vezes até de forma indireta, sem mobilização. E nessa fase inicial atuam os mecanismos de propaganda e manipulação, limitando a possibilidade de liberdade para escolher. Decorrente desse processo, verificam-se minorias participantes e uma massa passiva e inoperante, gerando insatisfação de ambos os grupos. Dessa forma, há que se criar um sistema representativo no qual os líderes seriam não só escolhidos pelos estudantes, mas ajudados por estes a realizar sua gestão. A governabilidade depende da participação dos governados. A comunidade estudantil deve, assim, manter um sistema de apoio às entidades estudantis de forma a propiciar uma relação direta entre os interesses das bases e as ações dos seus representantes.
Na medida em que os estudantes elegem seus representantes e transferem-lhes a responsabilidade por ações que caberiam ao conjunto da comunidade estudantil, essa delegação de poder muitas vezes escamoteia a omissão da maioria dos estudantes numa atitude própria do sistema autoritário.
Outro fator apontado pelo estudo como interferente na participação estudantil é a cultura estabelecida no meio universitário. Apesar de se acreditar que a universidade seja um espaço de aprendizagem política, observa-se que ela não facilita essa aprendizagem. Os próprios professores apresentam atitudes preconceituosas em relação aos alunos que participam do movimento estudantil. Nos currículos e programas dos cursos não existem espaços para essa aprendizagem. Pelo contrário, o aluno é assoberbado com trabalhos, número excessivo de provas e uma carga horária que não lhe permite qualquer outra atividade diferente desse esquema. A questão do poder na sala-de-aula, na relação professor-aluno, marcada pelo controle, pelo autoritarismo no cumprimento das imposições didático-pedagógicas e fazendo do professor um controlador do saber é um elemento que indica dificuldades e limites para a participação estudantil na UFU, além das normas e regulamentos existentes que devem ser observados pelos estudantes. Isso permite, em termos de democracia representativa adotada nos órgãos estudantis, a criação da figura do estudante profissional, tendo como conseqüência a despolitização dos demais, que vivem uma participação secundária, sendo muitas vezes espectadores dos debates travados entre as suas entidades e a universidade.
Os estudantes, em sua maioria, esperam das lideranças à frente das entidades que tragam as soluções de forma paternalista.
A própria divergência interna do movimento estudantil dificulta a participação, pois as entidades não conseguem elaborar uma ação de consenso. Nem sempre visualizam os interesses do coletivo e acabam atuando apenas nas questões mais gerais da sociedade, em detrimento das questões específicas. Decorrente diretamente disso são as posturas de desinteresse e desmotivação da maioria dos estudantes que estão primeiramente preocupados com as questões que os afetam mais diretamente. A maioria das pessoas só se mobiliza num primeiro momento para participar de algo vivo, concreto e real, que faz parte do seu cotidiano.
Assim as entidades estudantis encontram possíveis alternativas na implantação de uma democracia participativa que é fundamentada no exercício da micro-participação, canalizando suas ações, em princípio, para reivindicações específicas e próximas dos estudantes.
O estudo revela ainda um certo descrédito dos estudantes em relação ao sistema de representação vigente no país. Aparece uma crítica velada aos políticos e parlamentares que mudam de partidos de acordo com os interesses eleitoreiros e na realidade não se comprometem com os interesses da população. Isso é manifesto no fato de os estudantes recearem que as entidades estudantis se partidarizem. Os partidos políticos estão interferindo nas suas entidades e este é um dado que julgam dificultar a participação dos demais estudantes. Na visão dos alunos, as entidades devem fazer política, mas não partidarizar, não deixar que os partidos políticos determinem os rumos do movimento estudantil.
Do discurso dos estudantes, traduzindo a sua visão, também emergem questões sobre a universidade em geral e sobre a Universidade Federal de Uberlândia em particular. O estudo demonstra que, ao contrário do que muitos pensam, os estudantes apresentam preocupações sérias, fundamentadas, construídas a partir da sua vivência no contexto universitário e no meio social em geral. Uma questão que preocupa os estudantes e que aparece no estudo de forma significativa é a formação universitária. Possuem uma visão sobre universidade em geral, entendendo-a como um espaço de formação em todos os níveis, político, técnico e social, sendo um centro de produção de cultura e conhecimento. Ao lado dessa visão, aparece uma outra específica sobre a UFU. No conjunto das representações estudantis, estes a vêem como uma instituição autoritária, burocrática, preocupada com uma formação de mão-de-obra para o mercado de trabalho, sem uma proposta de formação interdisciplinar, ou seja, os currículos, além de extensos, não demonstram complementariedade entre as disciplinas, resultando numa formação individualista, isolada e estática. Transmitem-se idéias e os alunos as assimilam sem possibilidade de entendê-las, já que ignoram a filosofia que as fundamenta. O estudo demonstra que esta é uma preocupação entre os estudantes e é mais acentuada em relação aos cursos de ciências exatas.
Existe uma preocupação com a qualidade do ensino, com a sua adequação à realidade atual. A metodologia de ensino não oferece, em geral, oportunidade de raciocinar, de pensar, de criar, ou seja, trata-se de um ensino repetitivo, estático, que vem sendo transmitido anos a fio de uma mesma forma, gerando nos alunos uma visão de que as coisas são imutáveis, que a história é linear, composta de atos estanques e não integrantes de um processo.
Os resultados desta investigação evidenciam que os alunos entendem a formação acadêmica como um conjunto de ações capazes de formar não apenas um profissional, mas também o cidadão. É necessária uma formação competente para o exercício profissional e para a aprendizagem do exercício de seus direitos políticos, civis e sociais. À universidade cabe formar o homem capaz de conhecer, prever e mudar o mundo e não simplesmente copiar e repetir modelos estabelecidos. Para tanto, é fundamental uma formação crítica, responsável, criativa, que relacione a teoria à prática, gerando novos conhecimentos.
O presente estudo ressalta ainda a estrutura da universidade como facilitadora dessa formação unilateral e individualista. São campi separados e distantes, currículos fragmentados e cursos com carga horária excessiva, que deixam muitas vezes os alunos estressados e sem condições de criação e de iniciativas, já que têm de correr, às vezes, de um campus ao outro, ou de um bloco ao outro em busca de suas disciplinas. Não há uma visão global do curso, do profissional, pois as disciplinas são cursadas nos diferentes departamentos e o aluno busca a aprovação do conjunto destas, sem aprofundar a formação profissional.
A estrutura existente na UFU contribui para que as decisões sejam tomadas arbitrariamente e a partir de alguns centros de poder. Não são decisões compartilhadas ou fundamentadas em discussões amplas. Dessa forma, toma-se conhecimento delas a partir da expedição das normas, dos regulamentos que consolidam decisões de uma pequena parte da comunidade universitária. Se o aluno é tratado como um elemento secundário na instituição, um elemento transitório e, portanto, incapaz de assumir e participar de grandes decisões, ele acaba internalizando essa transitoriedade e não cria vínculos maiores com a instituição. Ele se forma e nunca mais retorna à Instituição para trazer sua contribuição num processo de retroalimentação para a formação de novas gerações. Assim, a universidade não tem respostas, não tem retorno do seu papel enquanto formadora de profissionais cidadãos. Daí a visão percebida na pesquisa de que a universidade vive no seu interior relações individualizadas, discriminadoras, autoritárias, centralizadas em grupos e não em projetos. Não há objetivos gerais a alcançar em termos de formação. Existem grupos que se beneficiam dessa ou daquela ação. Há uma divisão entre alunos, professores, técnicos-administrativos e administração superior que compõem a Universidade, não constituindo uma comunidade universitária que busca as melhores alternativas para todos os grupos e para a sociedade em geral. Como reflexo dessa situação, há um fechamento, um enclausuramento da universidade diante da comunidade externa. No estudo ficou patente a preocupação que os alunos têm nesse sentido. Eles vêem a UFU como muito isolada da sociedade, sem interação com o meio social em que está inserida, sem nenhum vínculo com a problemática social da região. E apontam mais, que a comunidade externa também desconhece a universidade, não reconhece a importância do seu papel e, diretamente decorrente disso, a universidade não cumpre o papel social que deveria cumprir, não apresenta respostas para os problemas locais e regionais, o que poderia ser feito através dos projetos de ensino, pesquisa e extensão.
Essa preocupação também está emergindo dos estudiosos sobre universidade, como evidenciou Cristovam Buarque:

"Os problemas sociais exigem que também a universidade os enfrente diretamente. É preciso que a estrutura universitária crie mecanismos de enfrentamento destes problemas reais, que não cabem dentro das preocupações específicas de cada departamento. A universidade deve especializar-se não apenas por categorias do conhecimento, mas também pelos problemas reais da sociedade: energia, fome, analfabetismo. Torna-se necessária a implantação de estruturas que complementem a formação dos alunos, dos professores e funcionários, no sentido de ampliar-lhes o horizonte de preocupações, incorporando valores éticos de interesse para com a humanidade em todas as áreas."

Assim, percebe-se uma consonância entre a visão do estudante da UFU e as preocupações mais gerais de um intelectual , ex-reitor da Universidade de Brasília, ao refletir sobre a universidade.
Nos discursos dos alunos são claras as manifestações no sentido de valorizar a importância da formação do cidadão. E, para isso, há que se exercitar a liberdade de expressão, a participação e, cada vez mais, as ações democráticas na universidade e na sociedade. Existe por parte dos alunos um sentimento de que enquanto houver tantas injustiças, tantas desigualdades, tanto desrespeito aos direitos individuais civis e sociais, a cidadania não se realiza. Há um entendimento entre eles de que cidadania, democracia e participação são aspectos indissociáveis e inerentes ao ser humano e que a universidade poderá ser um espaço para sua aprendizagem e realização, não apenas no seu interior, mas nas suas relações com a comunidade.
Apesar de indentificarem a dificuldade dessa prática no cotidiano da universidade, acreditam que a UFU está caminhando nessa direção. Têm consciência de que os problemas que aparecem na UFU reproduzem, em grande parte, as situações mais gerais da sociedade, mas também são reflexos das estruturas e da cultura internalizada no seio desta instituição.
Acreditam que a universidade tem a chance de viver uma proposta democrática, com o objetivo de formar o homem-cidadão, na medida em que se repensar como um todo e não como pequenos grupos com objetivos diferenciados e desvinculados de uma definição do seu papel e do seu compromisso com a comunidade universitária e com o conjunto da sociedade.
O que se observa na análise das representações dos alunos é que a participação estudantil pode ser fruto de um tipo de comportamento decorrente de um tipo de poder. A participação pode não estar ocorrendo devido à centralização de decisões, ao caráter coercitivo das organizações estudantis, ao isolamento entre as várias áreas, ao distanciamento dos problemas cotidianos dos alunos e por outras influências.
Se a universidade considera as questões estudantis complementares e nem sempre as valoriza no seio da instituição, a tendência da comunidade estudantil é de se afastar dos centros de decisão, porque não vê possibilidade de mudar uma cultura já estabelecida. A participação dos estudantes está entre as atividades menores do ponto de vista da instituição; assim, eles recebem um tratamento diferenciado e discriminatório.
Isso pode ser decorrente da influência do pensamento tradicional, pelo qual as instituições de ensino valorizam predominantemente o cumprimento dos programas, o número de dias letivos, as normas e os regulamentos. As grandes questões passam a ser algo exterior ao estudante. A este cabe cumprir determinações fixadas pela autoridade, professor, conselhos, departamentos. O ensino é uma transmissão de conhecimento e a responsabilidade pelo fracasso ou sucesso é exclusiva do aluno. Valorizam-se os aspectos quantitativos mais que os qualitativos e considera-se o estudante um ser imaturo, ao qual é transmitido um conhecimento acabado.
Dessa forma, se a comunidade estudantil, em muitos momentos, se encontra desmotivada, apática, sem visualizar alternativas, pode-se supor que nela transpareça a falência do modelo institucional e do modelo das organizações estudantis. Igualmente é possível que esteja aflorando a necessidade de novas perspectivas, de mudanças na condução do próprio movimento estudantil e do sistema universitário. Pois, na verdade, este segmento se caracterizou, ao longo dos anos, pela busca do novo, pela não acomodação, pela defesa não só dos seus direitos, mas também por justiça social, ou seja, sempre se preocupou com as condições de vida do povo e da sociedade em geral. Influenciou em diferentes conjunturas históricas a opinião pública, conseguindo produzir alterações na realidade social e cultural do país.
No intuito de contribuir para o debate, este estudo sugere a necessidade de aprofundar a reflexão sobre o assunto. O estudante não pode ser tratado como um eterno desconhecido na instituição. Há que se desenvolver pesquisas sistemáticas sobre ele. Quem é o estudante dos anos 90? De que forma gostaria de estar participando na universidade? Como as entidades estudantis poderiam organizar-se de modo a trabalhar com a participação efetiva da maioria dos estudantes? Que tipo de entidade estudantil envolveria os estudantes? Será que ocorrem mudanças ideológicas com o estudante após sua entrada na universidade? Qual a visão do professor e da administração superior sobre o estudante? Estes são apenas alguns questionamentos entre tantos outros a exigirem respostas que esclareçam mais e melhor sobre este protagonista, razão de ser da universidade.
O trabalho fornece algumas indicações de que a participação do estudante apresenta oscilações de maior ou menor envolvimento, considerando a transitoriedade da sua permanência na universidade, o caráter instável e mutável dos seus interesses, o papel desempenhado pelas suas lideranças e as situações de confronto postas pela instituição. Mas, na realidade, falta um estímulo maior por parte da universidade, no sentido de desencadear ações sócio-político-culturais, gerando no seio da comunidade universitária e, principalmente, no estudante a vontade de participar, de criar, de se envolver em projetos internos e projetos voltados para a comunidade externa.
Percebe-se uma ausência de projetos que, de fato, despertem interesse de maior participação. Existe uma carência de canais de participação real, que poderiam conduzir o aprendizado para uma motivação participativa.
A universidade precisa entender que o estudante sempre esteve à frente dos movimentos progressistas e, de uma forma ou de outra, sua participação tem contribuído para mudanças significativas da sociedade. Com certeza o estudante esteve e está sempre presente nos grandes eventos e momentos decisivos da nossa história, não só participando, mas principalmente construindo um novo saber, uma nova realidade e defendendo temas importantes para a universidade e para a sociedade em geral. Está sempre sinalizando e direcionando possibilidades de novos caminhos, de lutas, acreditando em grandes transformações e utopias.
Ao movimento estudantil cabe repensar as práticas que vêm sendo desenvolvidas, superar as divergências internas e propor uma nova forma de abordagem da representação estudantil. Esta dissertação aponta algumas pistas que podem contribuir para o fortalecimento de suas ações e para a reconstrução desse movimento que se empenha em descobrir respostas aos desafios dos tempos atuais.
Pode-se extrair, ainda, das representações dos estudantes, a evidência de que suas idéias trazem no seu bojo, de maneira geral, um conteúdo de democratização da universidade e da sociedade. E que o aluno participante é aquele que está presente nesse movimento de transformação, seja no nível mais próximo, como uma reforma curricular, seja a nível mais abrangente, como nas mudanças do contexto local, regional ou nacional.


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ANEXO I

QUESTIONÁRIO Nº

NOME: ________________________________________________________

01. CURSO: ._____________________________________

02. SEXO:
01 Masc.

02 Fem.

03. ESTADO CIVIL:
01 Solteiro (a)
02 Casado (a) Companheiro (a)
03 Descasado (a)


04. IDADE
01 Até 20 anos
02 De 21 a 26
03 De 27 a 32
04 Acima de 32

05. MORADIA
01 Residência fixa em Uberlândia
02 Residência fixa fora de Uberlândia
03 Reside fora e viaja todos os dias para estudar.
OBSERVAÇÃO: Se você assinalou as alternativas 2 e 3, responder a questão nº 6

06. VOCÊ É PROCEDENTE DE QUAL CIDADE?

_____________________ Estado de: ____________________
cidade
07. VOCÊ EXERCE ALGUMA ATIVIDADE REMUNERADA? (Inclusive projetos de pesquisa, extensão, estágio, etc)
sim
não
OBSERVAÇÃO: - se você respondeu não à questão anterior, passe para a questão 13.
- se você respondeu sim, responda às seguintes:

08. FUNÇÃO: ____________________________________________

09. REMUNERAÇÃO (considerar o salário mínimo de 230.000,00):
01 Até 2 salários mínimos
02 De 2,5 a 4 salários mínimos
03 Acima de 4 salários mínimos


10. SUA JORNADA DE TRABALHO É:
01 Até 10 horas semanais
02 De 11 a 20 horas semanais
03 De 21 a 30 horas semanais
04 Acima de 30 horas semanais
05 Outra. Qual? ___________________

11. EM RELAÇÃO À MANUTENÇÃO FINANCEIRA VOCÊ:
01 Sustenta a família
02 Contribui para a família
03 Mantém-se mas não contribui para a família
04 Depende da renda da família




12. O NÚMERO DE PESSOAS NA FAMÍLIA É DE:
01 Até 3 pessoas
02 De 4 a 6 pessoas
03 Acima de 6 pessoas

13. OCUPAÇÃO FAMILIAR:
Ocupação do pai: _________________________________
Ocupação da mãe: ________________________________

Ocupação do esposo(a) _______________________________

14. 01 Pai aposentado
02 Mãe aposentada



15 RENDA FAMILIAR (considerar o valor do salário mínimo de 230.000,00)
01 Até 3 salários mínimos
02 De 3 a 6 salários mínimos
03 De 7 a 10 salários mínimos
04 Acima de 10 salários mínimos

16. VOCÊ FAZ SUAS REFEIÇÕES COM MAIOR FREQÜÊNCIA EM:
01 Sua Casa
02 República
03 Pensionato
04 Self-service
05 Restaurante Universitário
06 Cantina Universitária
07 Outro. Qual? _______________


17. EM RELAÇÃO AO SEU CURSO VOCÊ ESTÁ:
01 Muito satisfeito(a)
02 Satisfeito(a)
03 Pouco satisfeito(a)
04 Insatisfeito(a)

18. NA SUA OPINIÃO, QUAL CURSO DA UFU TEM UM MOVIMENTO ESTUDANTIL MAIS ATUANTE? ___________________________

19. E O MENOS ATUANTE, EM TERMOS DE MOVIMENTO ESTUDANTIL?
________________________________________________

20. VOCÊ CONSIDERA QUE O ESTUDANTE DA UFU:
01 Participou mais nos anos 80
02 Participou mais nos anos 90
03 Não participou e não participa
21. EM QUEM VOCÊ MAIS CONFIA PARA O(A) REPRESENTAR?
01 DCE
02 Diretório do Curso
03 Grêmios
04 Representante de sala
05 Membros do Conselho Deptº ou Colegiado de Curso
06 Membros do Conselho de Centro
07 Membros do Conselho Universitário

22. NA SUA OPINIÃO A UFU SE CARACTERIZA POR SER: (Escolha somente uma alternativa).
01 Democrática
02 Autoritária
03 Construtora de cidadania
04 Formadora de mão-de-obra
05 Outra característica. Qual? _________
23. VOCÊ CONSIDERA QUE A UFU:
01 Estimula a participação dos estudantes
02 Estimula a participação em alguns aspectos
03 Não estimula a participação
04 Inibe a participação
ANEXO II

ROTEIRO ENTREVISTA
1. Qual a sua visão de Universidade?
2. O que você entende por movimento estudantil universitário?
3. O que você entende por cidadania, participação e democracia?
4. Como você vê as questões da cidadania, participação e democracia no movimento estudantil em geral e no cotidiano da UFU em particular?
5. Como você vê o movimento estudantil hoje na UFU, e quais as perspectivas para seu desenvolvimento e possíveis avanços?
6. De que maneira você vê o Diretório Acadêmico como um espaço, uma instância de cidadania, participação e democracia na UFU?
7. Na sua opinião, o movimento estudantil interfere de alguma forma na tomada de decisões da Universidade? Em caso positivo, como se dá esta interferência?

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