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01/05/2008 - 08h36
Análise: Maio de 1968. Viva a Revolução
LUCAS MENDESColunista da BBC
Quando se fala em maio de 68 a primeira conexão é Paris, onde os protestos, os confrontos com a polícia e as greves assumiram ares revolucionários e ninguém sabia de onde vinham nem para onde iam.
Tudo começou quando um estudante franco-alemão --Daniel Cohn-Bendit-- organizou um protesto na universidade em Nanterre, perto de Paris, contra a proibição de estudantes de ambos os sexos freqüentarem o mesmo dormitório (a pílula anticoncepcional, esta sim, revolucionária, tinha sido liberada na França no ano anterior).
Cohn-Bendit e a turma dele queriam namorar e quase derrubaram o governo. Pensando bem, era uma boa causa. Hoje Cohn-Bendit é membro do Partido Verde no Parlamento Europeu e os franceses não chegam a uma conclusão se maio de 68 foi bom ou ruim para a França.
Nos Estados Unidos, 1968 foi um ano com acontecimentos mais dramáticos, não exatamente em maio.Foi o ano dos assassinatos de Bobby Kennedy e Martin Luther King, de motins em dezenas de cidades, dos protestos contra a guerra do Vietnã na Columbia e outras universidades. Foi o ano da marcha ao Pentágono.
Foi também o ano do desbunde de Hair, do Bebê de Rosemary, de Polansky, do primeiro minuto dos Sessenta Minutos, um dos melhores programas de jornalismo na história da TV americana e que continua em pleno vigor.
Entre os protestos na França e nos Estados Unidos, a maior semelhança está nos movimentos estudantis, mas na Columbia, o mais famoso deles naquele ano, começou em abril, quando um estudante da SDS (Student for a Democratic Society) descobriu na biblioteca da escola de leis internacionais as conexões entre a universidade e o IDA (Institute for Defense Analyses), um think tank que fazia análises para o Pentágono.
O primeiro protesto, em março, foi pacífico, mas a direção da universidade puniu seis estudantes por promover protestos dentro de um dos prédios da Columbia.
Na mesma época começou a ser construído um ginásio para os estudantes, que serviria também para os moradores do Harlem, considerado um grande benefício para o bairro.
Um grupo de estudantes negros, membros da SAS (Student Afro Society), achou que o desenho discriminava os moradores e houve uma fusão dos dois protestos, até que os negros decidiram que o protesto era deles e expulsaram os brancos, porque misturavam e confundiam as causas.
Dentro da faculdade, diferentes facções entraram em conflitos sobre quem ocupava o que e porque. Na madrugada de 30 de abril a polícia expulsou a cassetete os estudantes brancos. Os negros fizeram um acordo e saíram sem apanhar. Cento e cinqüenta estudantes saíram feridos, 700 foram presos.
Em maio, outra vez, coincidindo com os protestos em Paris mas sem nenhuma conexão direta, a universidade foi reocupada, os estudantes foram expulsos e 113 presos.
Os protestos terminaram quando Columbia rompeu suas relações com o IDA e construiu o ginásio noutro espaço. A única vítima que sofreu um ferimento maior foi o policial Frank Gucciardi. Numa confrontação com estudantes o capacete dele caiu. Quando se abaixou para apanhá-lo, um estudante pulou do segundo andar em cima das costas dele e saiu correndo.
O policial passou por três cirurgias na espinha e foi obrigado a se aposentar. Mora na Flórida, nunca se recuperou por completo, mas perdoou seu atacante.
Gucciardi, pai de três filhos, nada tinha contra os estudantes, não entendia a motivação nem a agressividade deles. Mas, como a maioria dos americanos, quando chegou em novembro votou em Richard Nixon, continuou a guerra do Vietnã por mais sete anos.
Eu peguei pedaços revolucionários de 68 cobrindo as marchas no Brasil que deram no quinto ato e, depois, em agosto nos Estados Unidos na convenção democrata de Chicago, que nos deu gás, cassetetes, ácido, maconha, rock'n'roll, sexo e o candidato Hubert Humphrey, um homem decente que caiu no esquecimento depois da derrota para Nixon em novembro.
Quem ganhou a revolução de 68
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