segunda-feira, 19 de maio de 2008

Livro Rediscute Assassinato do Padre Henrique

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO RECIFE

Livro Rediscute Assassinato do Padre Henrique

Historiador analisa o confronto em torno do crime, envolvendo a Igreja Católica e as forças do regime militar que se instalou no País em 1964

Sergio Montenegro Filho


Uma análise minuciosa das relações entre a Igreja Católica e a ditadura militar, implantada no Brasil a partir de 1964.
Esse é o enfoque do livro “Estado de exceção,Igreja Católica e Repressão: o assassinato do padre Antônio Henrique Pereira da Silva”, do historiador pernambucano Diogo Cunha, lançado na
semana passada pela Editora Universitária da UFPE.


(...)

Embora tenha recebido autorização da própria família do
padre Henrique, o historiador Diogo Cunha não conseguiu
ter acesso direto ao processo do crime. Quase 40 anos depois, as documentações ainda estão sob segredo de Justiça. Como alternativa para as pesquisas que embasaram o livro “Estado de exceção,Igreja Católica e Repressão”, o autor utilizou três relatórios: o da Comissão
Judiciária de Inquérito, resultante nas investigações; o do juiz Nildo Nery dos Santos, de 1972, que denuncia os suspeitos; e o do desembargador Augusto Duque, de 1973,
que, atestando falta de provas, despronuncia os suspeitos.

Com o objetivo de detalhar os posicionamentos de cada setor envolvido em torno do crime, Cunha faz comparações entre discursos antagônicos divulgados pela imprensa, envolvendo militares, policiais, advogados,religiosos, juízes e acusados.

Há ainda um capítulo do livro dedicado à análise das fotografias do caso, algumas delas inéditas, bem como excertos de jornais da época, discursos de deputados feitos na Assembléia Legislativa e reproduções e análises de prontuários do Dops e de documentos da família do padre Henrique. Ele também entrevistou vários personagens da época, incluindo a irmã do sacerdote, Isaíras Pereira Padovan, e Tadeu Collaris, amigo do religioso. Entre os muitos documentos estão trechos de várias edições do Boletim Arquidiocesano, editado, na época, sob o comando de Dom Hélder Câmara.

No prefácio do livro, o historiador Antônio Montenegro,professor do Mestrado em História da UFPE, afirma que, menos do que avaliar ou julgar o trabalho do aparato policial ou da Justiça, a publicação contribui de forma mais significativa ao colocar no centro do debate "como os regimes de exceção praticamente permanecem impunes, impedindo ou cerceando outras instâncias de poder- no caso, o da Justiça, do exercício pleno de suas funções".

Não é a primeira vez que Diogo Cunha analisa a repressão e o regime militar em suas pesquisas. Atualmente, prepara sua tese de doutorado na Universidade de Paris Sorbonne-l, sobre a antiga Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que dava sustentação à ditadura. Durante o mestrado em História, na UFPE, iniciou os estudos sobre as relações entre a Igreja Católica e os militares,que resultou no livro lançado na semana passada. (S.M.F.)

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