quinta-feira, 22 de maio de 2008

Memória: O movimento estudantil na USP (Por Beatriz Tibiriçá)

FONTE: http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=2944

Memória: O movimento estudantil na USP

em 30/09/1997

por Beatriz Tibiriçá*1971
Surge o Conselho de Centros Acadêmicos da USP (CCA), que visava preencher a lacuna deixada pela autodissolução do Diretório Central dos Estudantes, entidade que se tinha tornado clandestina - e praticamente desconhecida do conjunto dos estudantes - desde 1969. No final do ano, diante da prisão de estudantes, é lançado um documento denunciando a arbitrariedade, assinado por alguns centros acadêmicos.
1972
Realização no final do ano de um plebiscito, coordenado pelo CCA, em que 95% de 10 mil alunos votantes se manifestaram contra o ensino pago.1973

17 de março: morte do estudante de geologia Alexandre Vannuchi Leme, que havia sido preso pelos órgãos de repressão dentro da Cidade Universitária.
22 de março: os órgãos de segurança divulgam nota comunicando a morte de Alexandre por "atropelamento". Ninguém acreditou nessa versão.
23 de março: assembléia no Instituto de Geologia aprovou a realização de uma missa de sétimo dia; a formação de uma comissão jurídica com a finalidade de apurar as circunstâncias da morte bem como das constantes prisões de estudantes; decretar luto e propor às outras escolas da USP a parada simbólica em protesto.
30 de março: missa celebrada na catedral da Sé pelo Bispo de Sorocaba (Dom Malhado) e pelo Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. Apesar da repressão, cerca de 5 mil pessoas acompanham a celebração.

1974março: prisões de estudantes, operários e intelectuais provocam o reinicio das mobilizações na universidade. Em assembléia geral universitária é criado o Comitê de Defesa dos Presos Políticos - CDPP.
Ao lado dos momentos de mobilização, a própria universidade é mais e mais questionada. Por salas de aula ou por escolas, critica-se o conteúdo das matérias, arbitrariedades de professores, organização e objetivos de cursos, pagamento de apostilas, reprovações em massa etc. Multiplicam-se os jornais estudantis, grupos de teatro, de música, associações atléticas, cineclubes etc.
1975
janeiro: tentativa de aplicação do decreto 477 em três estudantes. O movimento reage e a reitoria volta atrás.
março a julho: crise na Escola de Comunicações e Artes. Estoura greve pela queda do autoritário diretor Manuel Nunes Dias. Há duas paralisações gerais na USP, com passeatas até a Reitoria em apoio às reivindicações dos colegas da ECA. É criada a Comissão Universitária para coordenar o movimento.
26 de outubro: Morre Wladimir Herzog, jornalista e professor da ECA, nas dependências do DOI - Destacamento de Operações Internas.
27 de outubro: enterro de Wlado, ao qual comparecem cerca de 500 pessoas.
28 de outubro: assembléia geral universitária. Aprovada a proposta de paralisação de aulas até o dia 31.
31 de outubro: culto ecumênico na Praça da Sé, celebrado por D. Paulo Evaristo Arns, rabino Henri Sobel e reverendo James Wright, com a participação de cerca de 8 mil pessoas, que se transformou em ato público de protesto pela morte de Wladimir Herzog.
1976
janeiro: Reunião nacional de estudantes em Campinas propõe a Campanha Nacional de Luta por Liberdades Democráticas.
maio: em assembléia geral universitária é criado o DCE Livre da USP.
14 de maio: primeiras eleições para o DCE Livre da USP. Votam 9 mil estudantes.
15 de maio: misterioso roubo das urnas que estavam guardadas no centro acadêmico da Faculdade de Economia. Decide-se pela realização de novas eleições e de uma noite de vigília para guardar as urnas até o início das apurações.
18 de maio: Segundas eleições para o DCE Livre da USP em que votam 14 mil estudantes. A vigília das urnas no prédio da História e Geografia se transforma numa noite de debates, festa, atividades culturais e comemoração. Foi eleita, por ampla maioria, a chapa Refazendo.
julho: corte drástico nas verbas oficiais destinadas ao Congresso da SBPC inviabilizaria sua realização. Estudantes, professores, intelectuais e artistas se juntam e promovem campanha de fundos nas universidades, nas ruas, teatros e cinemas. O congresso se realiza na PUC, à revelia das autoridades. Durante o mesmo, a PUC se torna palco de vários encontros nacionais por área de estudantes e atividades culturais intensas.
agosto: realização na cidade de São Carlos do I Encontro Nacional de Estudantes (ENE).
agosto: Ocupação do restaurante do CRUSP devido ao aumento do preço das refeições. É montada uma comissão aberta de estudantes para administrar, fazer funcionar e servir as refeições ao preço anterior. O CRUSP virou um grande centro de vivência político-cultural.
16 de outubro: realiza-se na USP o II Encontro Nacional de Estudantes.
1977
30 de março: primeiro ensaio do movimento fora da Cidade Universitária. Uma passeata com mais de 5 mil estudantes seguiu do campus até o Largo de Pinheiros, sob vigilância de forte aparato policial.
1º de maio: prisão, durante manifestação no ABC, de quatro operários e quatro estudantes que distribuíam panfletos.
3 de maio: uma assembléia geral na PUC, com cerca de 5 mil estudantes, decide marcar uma manifestação de protesto para o Largo São Francisco. Também nesta assembléia foi criado o Comitê de Anistia Primeiro de Maio.
5 de maio: concentração no Largo São Francisco de 10 mil pessoas, seguida de passeata até o Viaduto do Chá, onde quase se inicia uma batalha com o forte aparato montado pelos órgãos de repressão.
8 de maio: primeira assembléia estadual em São Paulo.
19 de maio: Concentração de cerca de 8 mil pessoas nos jardins da Faculdade de Medicina e outras duas mil no Largo São Francisco. Passeata da Praça do Correio até a Avenida Consolação e manifestações-relâmpago dão início à Jornada Nacional de Luta pela Anistia. A concentração foi duramente reprimida. As emissoras de rádio e TV foram proibidas de noticiar as manifestações estudantis.
2 de junho: mais de 16 mil estudantes votam nas eleições para renovação da diretoria do DCE Livre da USP, vencendo novamente a chapa Refazendo.
4 de junho: tentativa de realização do III ENE em Belo Horizonte. A Faculdade de Medicina foi cercada e foram presos mais de 400 estudantes, delegados eleitos em todo país.
15 de junho: Dia Nacional de Luta, marcado em São Paulo para a Praça Fernando Costa, transforma-se em manifestações e passeatas-relâmpago por toda a cidade. Foram presas 65 pessoas. As rádios noticiaram o desenrolar dos acontecimentos até as 18:30 horas, quando uma ordem da Polícia Federal proibiu as transmissões.
4 de agosto: em greve desde o dia anterior em protesto contra a invasão do campus da UnB por tropas da Polícia Militar, as prisões de estudantes em Brasília e no Rio de Janeiro e a tentativa de introduzir novos dispositivos autoritários nos Estatutos da USP, os estudantes realizam uma marcha fúnebre e o enterro simbólico do reitor da UnB e dos estatutos da USP.
11 de agosto: Ato público com mais de 7 mil pessoas - estudantes, professores e representantes de diversos setores da sociedade - no Largo São Francisco, seguido de passeata. Neste dia é lida à nação, sob as arcadas da Faculdade de Direito, a Carta aos Brasileiros elaborada pelo professor Gofredo da Silva Telles.
23 de agosto: Dia Nacional de Luta. Em São Paulo, realizam-se dezenas de passeatas-relâmpago. A mais numerosa ocorreu na rua General Carneiro, onde uma concentração de cerca de 5 mil estudantes chegou, por um momento, a cercar as tropas do aparato repressivo.
27 de agosto: realiza-se na Escola Politécnica da USP o Congresso de Reconstrução da União Estadual dos Estudantes - UEE.
18 de setembro: missa e ato público na Igreja da Penha, promovidos pelo Movimento pela Justiça e Libertação, formado por várias organismos ligados à Igreja e entidades da sociedade civil. Várias prisões.
20 de setembro: ato público na Faculdade de Medicina. O forte aparato repressivo tenta invadir a faculdade e faz várias prisões.
22 de setembro: pela manhã, realiza-se o III Encontro Nacional dos Estudantes e é criada a Comissão Pró-UNE, enquanto na PUC ocorre uma assembléia universitária programada para encobrir o Encontro proibido. Esta assembléia, ao final da qual é comunicada a realização do Encontro Nacional, marca um ato público para a noite na PUC em comemoração. Durante o ato ocorre a invasão da universidade. Bombas jogadas pela polícia do coronel Erasmo Dias ferem 16 estudantes. São hospitalizadas com graves queimaduras as estudantes: Graziela Eugênio Augusto, Iria Visona, Maria Cristina Raduan e Maria Virgínia Finzetto. Centenas de estudantes são presos e sete enquadrados na Lei de Segurança Nacional.



* Beatriz Tibiriçá é assessora da bancada do PT na Assembléia Legislativa de SP

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