quinta-feira, 22 de maio de 2008

Artigo "O PCdoB e a breve história de uma sede" (Por Haroldo Lima)

COMENTÁRIO DE OTÁVIO: perdão ao Doutor Haroldo Lima, mas o PC do B ao aceitar a doação de capitalistas sangrentos como Olavo Calheiros, ou mesmo, ter sua juventude aliada à famigerada Rede Globo, também está cometendo erros primários que devem entrar na conta do partido, pois nem só de lutas está conseguindo alcançar seus êxitos. Tais erros precisam ser evidenciados, também. Meu primeiro voto para deputada estadual foi em Jô Moraes, que continua a ter o meu voto. Não podemos admitir que a juventude do PC do B continue com os absurdos na condução da UNE.

FONTE: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=37560
22 DE MAIO DE 2008 - 03h55
O PCdoB e a breve história de uma sede

Um edifício será, a partir desse 22 de maio de 2008, a Sede Nacional do Partido Comunista do Brasil. Depois de 86 anos de lutas valorosas, arrostando ameaças de extermínio físico, de destruição ideológica e de desorientação política, essa será a primeira sede nacional própria do partido. Grande êxito. De muito significado. Que tem sua história.


Por Haroldo Lima*


A nova casa, em São Paulo

Começa pelo registro de que só chega a 86 anos algo que tem razão de existir. Se não interpreta anseios reais e sentidos, nada consegue ficar tanto tempo de pé. Se não está sintonizado com o futuro, não cresce em meio a tantas intempéries. Por isso, a sede nacional própria ora inaugurada do PC do Brasil retrata o fascínio pela existência, a mística do papel a cumprir e a vocação por crescer desse partido.



Sua história é a mesma da vida desse partido, longa, penosa mas fulgurante, através da qual vem conduzindo, pelas décadas afora, a rubra bandeira de um Brasil socialista, passada de geração a geração, tal qual uma tocha olímpica em arrancada triunfal, e que agora chega para reluzir ao alto do edifício que lhe dará guarida.



No começo, tudo foi rigorosamente pequeno, sob o aspecto das quantificações materiais. Naquele 25 de março de 1922, foram apenas nove delegados, representando 73 militantes espalhados pelo Brasil, que se reuniram em Congresso, em Niterói, e fundaram o Partido Comunista do Brasil. Salvo Astrojildo Pereira, que era jornalista do Rio de Janeiro, e Cristiano Cordeiro, que era funcionário público do Recife, todos os demais sete congressistas eram operários, de categorias que tinham expressão na época: dois alfaiates, um eletricista e ferroviário, um gráfico, um sapateiro, um barbeiro e um vassoureiro.
A reunião demorou três dias e realizou-se na casa de uma irmã de Astrojildo, vizinha ao Canto do Rio Futebol Clube. Elegeu uma Comissão Central Executiva (CCE) e indicou para secretário-geral um operário, Abílio de Nequete, de Porto Alegre, que fora dos principais líderes da grande greve geral de 1917. Astrojildo, que ficou como secretário de Imprensa e Propaganda, assumiria a secretaria-geral ainda naquele ano de 1922, em julho, após prisão de Nequete e seu retorno ao Rio Grande do Sul.
Espantosa é a contradição que certos fatos encerra. Aquele evento, de tão alto significado, que fundava no Brasil o Partido Comunista, “talhado para as grandezas, para crescer, criar, subir”, foi tão simples, tão diminuto, e o ambiente político, ideológico e cultural lhe era tão adverso que, segundo Astrojildo Pereira, “passou completamente despercebido da opinião pública. A grande imprensa ignorou o fato e, se acaso houvesse tomado conhecimento dele, certamente não o teria levado a sério". Mas, os membros daquele ínfimo Congresso, que entretanto estavam com a história na mão, nem ligaram para o silêncio da ignorância, e logo registraram, como sociedade civil, o Partido Comunista do Brasil, cujos Estatutos foram publicados no Diário Oficial da União, de 7 de abril de 1922. O fato histórico estava criado.
De lá para cá, o partido foi crescendo no enfrentamento dos embates variados que a luta nacional e a luta de classes impunham. Alguns desses confrontos foram decisivos, e a disjuntiva que apresentavam era vencer ou desaparecer, podendo o partido desaparecer sob a forma de deixar de existir, ou pela forma mais sagaz de ser absorvido como mais uma peça do sistema contra o qual lutava.
Fecundado pelas idéias do futuro socialista e pelos ideais do comunismo, o partido ia deixando em sua passagem um testemunho de dedicação e lealdade à causa, ao Brasil, aos companheiros. Aprendia com erros, por isso acertava mais.
Em 1930, deixou escapar excepcional oportunidade de impulsionar mais ainda uma revolução anti-oligárquica no Brasil, por não perceber a importância de um processo social modernizador, ainda que sem a hegemonia proletária. Mais adiante, desbaratado, reorganizou-se na Mantiqueira, sob a ditadura de Vargas, quando mesmo internamente campeavam idéias liquidacionistas.
Em 1962, quando muitos marcharam para alterar o caráter revolucionário da agremiação, rejeitar princípios e adequar-se às regras dominantes, um núcleo revolucionário se rebelou, resistiu e reorganizou o partido, salvando-o e revigorando-o.
No longo período da ditadura implantada em 1964, mesmo na mais profunda clandestinidade foi à luta, decidiu-se pelo Araguaia e pelo movimento em prol da anistia, da liberdade política e da Constituinte. Seu exemplo, ao resistir no Araguaia, realçou seu prestígio e suas posições a tal ponto que muito contribuiu para atrair para suas fileiras a parte fundamental do maior grupo revolucionário de origem pequeno-burguesa da época, a Ação Popular.
Tendo participado decisivamente no desfecho final da ditadura de 64, o partido logo percebeu que, com o fim do regime de exceção, o caminho da atividade política – que lhe levara ao Araguaia – agora lhe conduzia ao movimento social amplo e à legalidade institucional, através da qual foi ao Parlamento. E aí ganhou experiência, ajudou a elaborar uma Constituição democrática para o país e, mais à frente, até presidiu a Câmara dos Deputados do Brasil.
Nas disputas por ocupar espaços de governo, foi dos primeiros a vislumbrar a oportunidade de aglutinar setores diversos em torno de um líder operário carismático e disputar a Presidência da República, o que, após algumas tentativas, deu certo.

E o que parecia impossível aconteceu: o partido dos comunistas, furiosamente perseguido por décadas, estigmatizado como a essência do perigo, começou a participar, com êxito, de espaços do Executivo federal, dos Executivos de alguns estados e até a chefiar executivos em alguns municípios. Sua influência cresceu e 2008 o encontra com planos audazes. O que se contava por dezenas passou a ser centenas, o que chegava a milhares alcançou dezenas de milhares e o contingente global, que começou com 73 em 1922, já vai a mais de duas centenas de milhares.
Essa é a história que fez surgir na Rua Rego Freitas, 192, um bonito e grande prédio ostentando a referência de Sede Nacional do Partido Comunista do Brasil.


*Haroldo Lima é membro do Comitê Central do PCdoB e presidente da Agência Nacional de Petróleo

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