Um projeto sobre a história da UnB

A Unb tem promovido um importante projeto que busca incentivar aos seus ex-alunos contem histórias sobre o seu tempo de Universidade. Abaixo um depoimento que trata do período pré e pós golpe de 64. (comentário postado por Otávio Luiz Machado)



FONTE: http://www.unb.br/unb45/

Reminiscências da UnB

O meu ingresso na Universidade de Brasília, em 1963, no Curso de Direito, constituiu-se numa oportunidade de realização do sonho de cursar o ensino superior. A UnB, em seus primórdios, nos idos de 63 e até muito depois da conclusão do meu curso em 1967, passou por momentos que calaram fundo na alma brasileira e, notadamente, no irrequieto espírito da juventude estudantil.Naquele tempo a UnB era um verdadeiro mosaico de idéias e ideologias políticas, razão pela qual ela foi um dos principais alvos da repressão militar que eclodiu com a chamada Revolução de março de 64, quando assistimos a uma série de eventos voltados para o enquadramento da universidade aos princípios esposados pelo movimento militar.A tomada do Campus pelas tropas, a demissão em massa de notáveis e queridos professores, a prisão de colegas e mestres, a intervenção governamental nos negócios internos da instituição, a infiltração de elementos estranhos aos quadros universitários, a delação como método para a entrega de professores e alunos aos inquisidores militares, o fechamento do Congresso Nacional, a cassação de mandatos, tudo isto foi o pano de fundo que perpassou por nossa experiência acadêmica. Sendo um dos dirigentes do Centro Acadêmico 21 de Abril – o CAVUA -, capitaneado por Saint-Clair Martins Souto, participei de inúmeras passeatas e manifestações contra o estado de coisas acima relatado, lutando contra forças poderosíssimas, em defesa da liberdade e da plena autonomia da Universidade de Brasília.Nossa turma de Direito, a segunda a se formar na UnB, além de participar de eventos marcantes para a história recente de nosso país, teve o privilégio de contar com professores do mais alto saber e dedicação, tais como: Aliomar Baleeiro, Víctor Nunes Leal, Antonio Luiz Machado Neto, Waldir Pires, Carlos Costa, Zaideé Machado Neto, Sepúlveda Pertence, Roberto Lira Filho, Afonso Arinos Filho, Luiz Navarro de Brito, Hélio Pontes, Jairo Simões, Eduardo Ribeiro, Vicente Cernicchiaro e tantos outros ilustres mestres.Em 1967 nossa turma colou grau, no plenário da Câmara dos Deputados, tendo como paraninfo o saudoso professor Machado Neto que, em calorosa oração, criticou as autoridades revolucionárias por suas investidas contra a nossa universidade e o enforcamento de nossas liberdades.Muito mais poderia ser dito, todavia impõe-se declarar que, como estudantes universitários, vivenciamos um especial momento de nossa história e que a Universidade de Brasília, heroicamente, soube honrar e dignificar, nesse contexto difícil, a sua iniciante trajetória.
Abdias Bispo de Oliveira