Lindbergh Farias
A força dos Estudantes volta a defender o país
O julgamento do ex-presidente Fernando Collor pelo STF culmina um processo iniciado no Brasil, mais uma vez, pela força de seus estudantes na defesa de um país melhor. Foi a partir daquele movimento dos caras-pintadas, daquelas passeatas em defesa do impeachment,que a UNE voltou a assumir um papel de importância no cenário político nacional. Porque a UNE sempre teve este papel na história do Brasil. Um papel decisivo em nossa vida política. Não só na época da ditadura militar. Mas antes mesmo, nas grandes lutas como a do Petróleo é nosso, a pressão dos estudantes para que o Brasil entrasse na Segunda Guerra Mundial contra o eixo nazi-fascista, a luta pelas reformas de base, todas elas falam de um passado glorioso, que culminou com a grande luta, que foi a luta contra a ditadura militar. Depois daquele período houve a reorganização do movimento estudantil como um todo. E os acontecimentos que antecederam o afastamento de Fernando Collor, os estudantes voltaram às ruas com toda sua carga de idealismo e de emoção. De lá para cá o movimento estudantil cresceu muito. E, falando de um grande segmento da UNE, que é o movimento estudantil secundarista, verificamos que ele cresce pelo menos dez vezes. Nas universidades, principalmente as particulares, o movimento também cresceu e se reestruturou. E hoje a UNE está mais sólida. O movimento estudantil, realmente, precisa aprofundar suas discussões. Mas sua base também é a rua. Também são pressões políticas importantes. Nós não podemos esquecer ou ignorar o que significa os estudantes na rua. As passeatas que antecederam o impeachment serviram, entre outras coisas, para elevar o nível de conscientização da juventude atual. Serviu para a formação de novos cidadãos, mais conscientes, mais participantes na vida política nacional. Ao contrário dos que nos criticam, a gente não pode ficar nesta dicotomia: parar para aprofundar o debate ou atuar nas ruas. Acho que podemos fazer as duas coisas. O movimento estudantil cresceu muito, com um bom nível de discussão dentro das universidades, como, por exemplo, qual o papel da ciência e da tecnologia, qual a verdadeira função das universidades brasileiras, num processo real de aprofundamento. E o resultado concreto das passeatas é que hoje a UNE tem no Congresso Nacional seus dois primeiros deputados. Um dirigente saído das escolas particulares do Paraná e eu. Pela primeira vez a voz dos estudantes se fará ouvir de forma mais forte no cenário político. A UNE está voltando ao lugar que sempre mereceu nesse cenário.
(Lindbergh Farias presidiu a UNE em 1992. Em 1994 foi eleito deputado federal pelo PC do B/RJ).
O Depoimento aqui foi publicado em:
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Une: reencontro do Brasil com a sua juventude. Brasília, 1994.
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