UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
LABORATÓRIO DE PESQUISA HISTÓRICA
DEPOIMENTO DE SÔNIA MARIA FERREIRA DE LIMA A OTÁVIO LUIZ MACHADO
Depoimento realizado pelo projeto “A Corrente Revolucionária de Minas Gerais”.
ENTREVISTADOR: OTÁVIO LUIZ MACHADO
DEPOENTE: SÔNIA MARIA FERREIRA DE LIMA
LOCAL: OURO PRETO-MG
DATA: 10/01/2003
OTÁVIO LUIZ MACHADO*: 10 de janeiro de 2003, e estou com a Sônia Lima aqui em OP para uma entrevista. E primeiramente gostaria de pegar os seus dados pessoais para o registro histórico. Seu nome completo?
SÔNIA LIMA: meu nome completo é Sônia Maria Ferreira de Lima
Qual sua data de nascimento
Eu nasci no dia 10 de fevereiro de 1944.
E sua cidade natal?
Ouro Preto.
E você foi estudante em Belo Horizonte?
Eu estudei e fui professora primária aqui na Escola Estadual de Ouro Preto desde o primário ao colegial. E em 1965 fui estudar Letras na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. Eu estudei em Letras inglês e português.
Quando você começou mesmo a participar da política tanto aqui em Ouro Preto como lá em Belo Horizonte?
Eu comecei em 64. E o que despertou meu interesse pela política foi os nossos encontros da família inteira, meu e de meus irmãos com o Hélcio Pereira Fortes.
A base do PCB (Partido Comunista Brasileiro) de Ouro Preto fazia um trabalho num morro do bairro Veloso?
Era um trabalho que a gente fazia domingo de manhã, e ia lá conversar com as famílias. Não era uma conversa política. Quando a gente chegava lá naturalmente as pessoas começavam a falar sobre os seus problemas.
Do PCB você foi para a Corrente (Corrente Revolucionária de Minas Gerais)?
A estratégia do Partido Comunista Brasileiro era essa: através de reformas dentro do próprio Estado conseguir mudar as condições de vida. A Corrente tinha um conceito de que através de reformas a gente demoraria muito tempo. Então a única solução para fazer reformas revolucionárias seria a luta armada. Essa é a diferença que nós tínhamos. Eu penso que a meta seria a mesma: melhorar as condições de vida do cidadão brasileiro. Mas através de reformas. Um grupo queria fazer pacificamente e o outro grupo queria fazer através da luta armada. A idéia era que a luta não era somente dentro do Brasil. Era dentro do Brasil, mas também ela tinha um alcance mais internacional. A gente era contra toda a exploração do ser humano. E a gente achava que o imperialismo norte-americano era um dos pontos de exploração do indivíduo. Sempre que a gente escrevia “abaixo à ditadura” a gente escrevia junto também “abaixo o imperialismo norte-americano”.
Você ainda teve uma atuação na UEE/MG (União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais)?
Na UEE eu era uma dos cinco vice-presidentes. E cada um constituía um partido político. Eu acho que o (João Batista dos) Mares Guia também era, e representava a COLINA (Comandos de Libertação Nacional). Eu não estou muito segura. Depois tinha uma menina que se chamava Doralina (Rodrigues), que era da Ação Popular (AP). O Cesar Maia representava a Corrente. Depois se eu não me engano que tinha uma POLOP (Organização Política Marxista – “Política Operária”). Eu acho que eram esses. No movimento estudantil a gente não falava da luta armada. A gente tinha bem separado. Só quando eram reuniões a nível dos Diretório que a gente falava para os que estavam fora do movimento estudantil. A gente que criava os congressos da UNE (União Nacional dos Estudantes), a gente que marcava os programas.
E tinha as normas de segurança como cobrir “pontos”?
A gente tinha um acordo: se a pessoa não fosse cobrir o ponto a gente não ia. O ponto era sagrado. Tinha que cobrir mesmo. Senão aí era sinal de que a pessoa tinha caído, que tinha descoberto que estava sendo seguida ou tinha algum problema.
No exílio você teve contato com um antigo militante de Ouro Preto? Fale um pouco do exílio.
No Chile eu estava na clandestinidade. Estava lá porque tinha uma úlcera que tinha suturado e depois eu ia voltar ao Brasil. O único contato que eu tive no Chile com brasileiro foi com o César (Maia). Eu tive muito contato com o Cesar no Chile. E era um contato semanal. O César era a única pessoa que sabia que eu ia voltar ao Brasil e qual o dia que eu ia voltar ao Brasil. Depois quando eu vim embora a gente se encontrou um dia antes e ele me deu um livro “A Ilha do Tesouro”. E ele disse assim: “é o único livro que você vai pode entrar no Brasil com ele”. É um livro de aventura.
E teve a luta também no exílio?
Quando a gente chegou a gente continuou a luta na Europa. A gente fundou o Comitê pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita.
E sobre o “morrer por uma causa”? Já ouvi que era muito utilizada por vários militantes a frase “ou deixar a pátria livre ou morrer pelo Brasil”.
Sobre esse negócio de morrer por uma causa eu acho que “é melhor viver por uma causa”.
* Parte do depoimento integral ao historiador Otávio Luiz Machado.
E-Mail de contato: otaviosemprebrasil@yahoo.com.br
segunda-feira, 16 de julho de 2007
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