terça-feira, 10 de julho de 2007

Invasão põe movimento estudantil na berlinda

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Publicada em 1/7/2007
Cidades

Invasão põe movimento estudantil na berlinda
Atos refletem mudança no perfil de alunos e novo momento político do Brasil
Nice BulhõesDA AGÊNCIA ANHANGÜERAnice@rac.com.br As ocupações da reitoria da Universidade de São Paulo (USP), que durou 50 dias e só terminou no último dia 22, e de dez dias da diretoria acadêmcia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), encerrada na quinta-feira, marcam um novo momento no movimento estudantil (ME) no Brasil. Mas, diferentemente dos anos 60 a 80, quando o País vivia sob a ditadura e havia enfrentamento ideológico, e da década de 90, quando a campanha “Fora Collor” ganhou as ruas para pedir o impeachment do ex-presidente Fernando Collor (na época PRN e hoje PTB), as reivindicações deste ME não produziram o mesmo eco na sociedade, que ficou dividida, bem como os próprios estudantes, analisam especialistas.Participante do ME entre 1963 e 1972, o ex-juiz de direito Luís Arlindo Feriani, diretor da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), considera a ocupação da reitoria da USP um “ato extremado, onde os estudantes perderam a oportunidade, o momento exato da negociação, caindo no descrédito da população”. Para ele, hoje, o inimigo da causa dos estudantes é exatamente a falta de amadurecimento. “Eles estão acostumados e criados em um mundo de consumo sem medida, com uma visão de que tudo podem, e podem sempre da forma e no exato momento em que querem.”Para o especialista Jorge Augusto Carreta, de 37 anos, o ME está longe do que foi nos anos 60, quando tinha uma influência muito maior, embora avalie que “ganhou força nos últimos dias”. Entretanto, lembra que os tempos são outros e que o perfil dos estudantes mudou. “Hoje, temos mais de 70% dos alunos em escolas privadas e as preocupações estão de acordo com essa nova realidade: preço das mensalidades, qualidade dos cursos, crédito estudantil, dentre outros.” Isso explicaria a baixa adesão aos MEs e também as demandas mais pontuais das atuais pautas de reivindicações.Mas, apesar dos excessos, segundo Carreta, formado em ciências sociais, com mestrado em sociologia e doutorado em política científica e tecnológica pela Unicamp, a ocupação na USP foi um movimento importante contra o que poderia representar uma restrição à autonomia das universidades estaduais paulistas. “Os decretos do governador José Serra (PSDB) abriam uma brecha para que assuntos que são de competência exclusiva da comunidade universitária fossem influenciados por agentes externos.” Mas, para o governo recuar, os estudantes, na opinião de Carreta, deveriam ser mais “prudentes”, retirando-se e negociando de outra forma.Uma enquete feita pelo portal Cosmo On Line (www.cosmo.com.br), da Rede Anhangüera de Comunicação (RAC), em 24 de maio, mostrou que 47,1% de 526 internautas eram a favor de que a polícia retirasse os estudantes da reitoria da USP. Já 52,9% pessoas clicaram para que não houvesse a interferência da polícia. No último dia 25, o Cosmo perguntou: “Você acha que a Unicamp deve punir os invasores da diretoria acadêmica?”. A resposta foi: 81,6% clicaram no sim e 18,4%, no não. Os dois movimentos lutam pelas mesmas causas.Ocupação na Unicamp levou à pauta decretos de SerraA ocupação da reitoria da Unicamp no início deste ano serviu de estopim para alunos das universidades estaduais colocarem na pauta os decretos do governador José Serra (PSDB). Mas, foi a invasão da reitoria da USP que deu maior visibilidade ao movimento. “A nossa ocupação serviu também para impulsionar, de certa maneira, a ocupação da reitoria da USP. Evidentemente, as dimensões atingidas na ocupação da USP são maiores”, diz Mariana Martis, do DCE da Unicamp. Desde o último dia 18 até a última quinta-feira, alunos da Unicamp ocupam outro órgão da instituição, a diretoria acadêmica.Também foi em Campinas que surgiu o movimento flash mob, que consistiu no fechamento de cinco principais avenidas das cidades-sede de campi da USP, Unesp (Universidade Estadual Paulista) e Unicamp por cinco minutos, com cartazes explicativos e panfletagem sobre a insatisfação dos estudantes com os decretos editados por Serra. Duas representantes do DCE da USP, Roberta Soeiro Souza e Leide Maia, foram procuradas por mais de três dias consecutivos pela reportagem, mas não retornaram as ligações telefônicas e aos e-mails. (NB/AAN)Mobilização não deve ser desprezada, diz especialistaHistoriador fala em injeção de ânimo, mas também em autopromoçãoPara o doutor em ciências sociais pela Unicamp Luís Antonio Groppo, de 36 anos, os movimentos estudantis (MEs) não se constituem em movimentos de envergadura e organicidade como os da década de 60, mas ainda assim não devem ser desprezados. “Eles demonstram que, apesar de tantas dificuldades socioeconômicas, educacionais e de perspectiva de futuro, os jovens, de algum modo, estão se mobilizando.”Groppo critica a atuação da União Nacional dos Estudantes (UNE) no episódio. “No caso de São Paulo, a UNE não esteve à frente dos acontecimentos, que foi fruto muito mais da ação autônoma de estudante.” A UNE afirma que deu apoio à ocupação.O historiador Otávio Luiz Machado, de 34 anos, formado pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e idealizador do livro A Engenharia Nacional, os Estudantes e a Educação Superior: a Memória Reabilitada (1930-1985), diz que a ocupação levou ao “entendimento de diversas questões da pauta estudantil pela reitoria, bem como pelo recuo do governador José Serra em relação a determinados pontos dos decretos”. Para ele, a mobilização na USP deu uma injeção de ânimo nos estudantes. “E também novas orientações para aqueles que estão entrando hoje na universidade”, acrescentou. “Infelizmente, a equipe da UNE e de algumas uniões estaduais aproveitam da situação para se promoverem”, criticou.O presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE) de São Paulo, Augusto Chagas, reeleito recentemente durante congresso em Serra Negra, foi procurado, mas não retornou as ligações telefônicas e nem os e-mails. Já a UNE informou que apoiou o movimento dos estudantes da USP. “Muitas das ocupações não teriam e não estão sendo feitas se não fosse a ocupação da USP, onde os acadêmicos construíram uma pauta para o ME a partir das bases. Todos têm voz: tanto o presidente de uma entidade organizada como um estudante novato”, afirma Machado. (NB/AAN)PONTO DE VISTA José Dirceu - Ex-ministro da Casa Civil e ex-presidente da UEE-SPEm cada etapa, um papelO movimento estudantil mudou. Hoje, não existe uma ditadura e os centros acadêmicos são instituições reconhecidas, as uniões estaduais, a UNE e outras. Hoje, não se tem só a opção de lutar no movimento estudantil. Você pode estar num sindicato, numa ONG, numa associação, num movimento, num partido político, numa entidade empresarial e numa entidade de classe. Quando eu cheguei na universidade, 2/3 eram públicas e 1/3 era privada. Hoje é o contrário, mais de 2/3 das universidades são pagas e 1/3 pública. Em cada etapa da história brasileira, o movimento estudantil tem um papel e uma forma de se manifestar. Não podemos dizer “esse é menos autêntico”, “esse luta menos”, “esse é menos radical”. Hoje, existem outras bandeiras importantes, como a questão do aquecimento global e o meio ambiental.PONTO DE VISTA Marcela Moreira - Vereadora do PSOL de Campinas e ex-coordenadora do DCE UnicampAumentam descontentesA partir dos meados dos anos 90, com o caminhar da pensamento neoliberal e com a cooptação dos instrumentos de esquerda, o movimento estudantil se esfacelou e passou alguns anos em descenso. Junto com a cooptação do PT e do PCdoB, aconteceu a burocratização e a transformação em correia de transmissão partidária dos principais órgãos de representação nacional: a UNE e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). Essas entidades se tornaram apenas produtoras de carteirinhas para o pagamento da meia-entrada. Porém, começa a aumentar nas universidades o número de descontentes com a atual situação.PONTO DE VISTA Aldo Rebelo - Deputado federal pelo PCdoB e ex-presidente da UNENovos desafiosDepois das lutas históricas que marcaram a atuação do movimento estudantil no regime militar, sobretudo a luta pela redemocratização do País, houve uma mudança na atuação do movimento. A democracia nos coloca outros desafios e outras formas de atuação. E creio que os estudantes continuam lutando pelos interesses nacionais, com uma participação mais cívica. Nos dias de hoje, o movimento atua contra projetos de privatização das universidades, em favor da reforma universitária e em favor de uma política mais voltada ao desenvolvimento, à geração de renda e de emprego. A pressão dos estudantes, por exemplo, foi muito importante para a aprovação, pelo Congresso Nacional, do Fundo da Educação Básica (Fundeb), que ocorreu no fim de 2006.
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