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A sociologia e a filosofia no ensino médio
A sociologia e a filosofia estão no Ensino Médio. Agora é lei. Boa lei. Todavia, em vez de encerrar um debate de mais de vinte anos, parece que a lei serviu para reabrir o debate.
A direita política está gritando contra. Ela imagina que no mundo atual, mesmo com o descrédito completo do comunismo, existem milhares de professores marxistas que irão dedicar suas vidas para colocar na cabeça dos jovens que o futuro pertence a Lênin, Stalin, Mao e Fidel. A direita insiste que os jovens irão querer escutar isso! Não há razão para levar a sério a crítica da direita.
A esquerda política, por sua vez, diz que vai comemorar. Inventou uma mentira para tal: o Regime Militar (1964-1985) teria tirado a filosofia e a sociologia do Ensino Médio, e agora, graças ao Lula, essas duas disciplinas estarão de volta para fazer os jovens readquirirem "consciência crítica". Há um erro histórico nisso: o Regime Militar não fez o que fez com o ensino, por meio da 5.692/71, para "retirar a filosofia e a sociologia" do "colegial". Ela não existia em todos os tipos de "formação colegial", só em parte. Além disso, mesmo depois da LDBN de 1971, havia a chance de montar a "classe de ciências humanas" e, então, reproduzir, ao menos no terceiro e último ano do "colegial", o velho esquema do curso Clássico, no qual estiveram alojadas a filosofia e a sociologia nos anos cinqüenta e sessenta. Há também um erro de avaliação nessa posição da esquerda: não há nenhuma razão para dizer que as disciplinas de filosofia e sociologia podem tornar o jovem "mais crítico".
Além dessas posições da direita e da esquerda políticas, há os que adotam frases com critérios técnicos para se envolver na conversa. O professor de filosofia do CEBRAP, José Arthur Giannotti, em entrevista ao Portal Terra, enfatizou que aulas de filosofia no Ensino Médio iriam se transformar em "decorebas", e complementou dizendo que o governo não estaria cuidando do fundamental. O jornalista Helio Schwartsman também fez artigo nesse sentido, ainda que não tenha, ao contrário de Giannotti, desqualificado a nova legislação.
Não há como não concordar com o professor e com o jornalista: o governo Lula e o ministro Fernando Haddad não cuidam do que é necessário em relação à escola fundamental. Não há uma política clara para essa escola, e muito menos para o Ensino Médio. Todavia, o que é que a filosofia e a sociologia têm a ver com isso? Qual a razão de usar da lei da filosofia e da sociologia para falar contra o governo?
Não é necessário ser a favor do governo sempre e nem contra sempre. Aliás, a filosofia e a sociologia seriam boas aqui, nesta hora, uma vez que são disciplinas cuja função, em tese, seria a de criar e melhorar o discernimento. Então, vamos usar de discernimento: a lei é boa, e deve ser vista nos seus ganhos. Ela apareceu na mesa do Lula, e foi assinada pelo Vice-Presidente, José de Alencar, não como "política de esquerda" e nem mesmo como "política educacional". Muito menos ela apareceu ali por razões sindicais, como Giannotti quis fazer valer, para então desqualificar a lei. A lei foi assinada por uma razão simples: a luta pela lei, que era uma luta de várias pessoas, inclusive do senador Fernando Henrique Cardoso, chegou ao seu máximo. A idéia de que a filosofia e a sociologia deveriam, como no passado, estar no Ensino Médio, foi amadurecendo e, num prazo de vinte e cinco anos mais ou menos, chegou no que chegou. Virou lei. Pronto, sem drama!
Agora, o que isso traz de novidade? Há várias novidades boas. Primeiro: aquece o mercado editorial de manuais, dicionários e traduções. Esse movimento já estava em curso, e agora se acentua. Para um país como o Brasil, que sofre por não ter ainda uma industrial cultural funcionando como deveria funcionar, isso não é pouca coisa. Segundo: amplia a chance dos estudantes de perceber que lêem mal e escrevem mal, e que se quiserem trabalhar com tais áreas precisam melhorar nas outras disciplinas, principalmente em português, história e geografia. Terceiro: torna o ensino superior de filosofia e sociologia um local menos estigmatizado; havendo a profissão do professor de filosofia e sociologia do Ensino Médio, a filosofia e a sociologia irão, paulatinamente, sendo tomadas como algo normal na vida das pessoas. A democratização ajuda no fim das idiossincrasias. Quarto: amplia a possibilidade do estudante jovem ter interesse por elementos da cultura que possibilitam uma ampliação de sua profissionalização; hoje em dia há inúmeros empregos que necessitam de jovens que possam ter algum conhecimento humanístico que está fora do campo restrito das disciplinas tradicionais.
Ora, Giannotti e Schwartsman podem voltar e dizer: tudo isso não é nada, pois não vai ocorrer ensino nenhum na escola média, como ela está hoje. Ora, mas aí eu retruco: isso não tem a ver com a filosofia e sociologia como disciplinas, elas não devem ser culpadas pelo que não fizeram. Quem deve ser culpado pela situação ruim em que a escola está são os que estavam na escola até o momento. Nesse caso, por um lado, os professores que não são os professores de filosofia e sociologia. Por outro lado, os governos que não dão as melhores condições para os professores fornecerem um melhor ensino público.
Temos de ter discernimento. Agora, que a lei da filosofia e sociologia foi aprovada, então nós podemos e devemos voltar a olhar o todo. O todo indica: não há política para o Ensino Médio – nenhuma! Ora, se vamos atacar esse problema, vamos atacar os filósofos, sociólogos e suas crias. Estes sim é que passaram por governos ou estão neles.
Paulo Ghiraldelli Jr, filósofo. Site WWW.ghiraldelli.pro.br
terça-feira, 17 de junho de 2008
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