quarta-feira, 25 de junho de 2008

Depoimento de Paulo Egydio ao CPDOC Parte 1(UNE e Movimento estudantil nos anos 1950)

COMENTÁRIO DE OTÁVIO LUIZ MACHADO: inseri alguns trechos, lembrando que o livro pode ser baixado no "site"www.cpdoc.fgv.br.

Estante virtual: Paulo Egydio conta: depoimento ao CPDOC/FGV
Mais um livro encontra-se disponível para download na estante virtual.
Lançado recentemente, em 2007, com apoio do Banco Itaú, Paulo Egydio conta traz a trajetória pessoal e política de Paulo Egydio Martins, governador do Estado de São Paulo de 1975 a 1979.
O início de seu mandato - marcado por forte turbulência, o que fez com que em âmbito nacional a sociedade civil pressionasse cada vez mais sistematicamente pela abertura política - é evidenciado pelo nítido e firme posicionamento de diversas instituições contra a tortura, pela campanha para a revogação do AI-5, bem como pelo surgimento e organização do novo sindicalismo. Logo nos primeiros dias do governo Paulo Egydio, ocorreu o assassinato de Vladimir Herzog, em outubro de 1975 e, meses depois, em janeiro de 1976, de Manuel Fiel Filho nas dependências do DOI-CODI, que causaram grande indignação e comoção no País.
Paulo Egydio Martins conta neste livro sua participação ou visão dos acontecimentos que lhe foram dados viver ou testemunhar. Expõe valores que o nortearam na vida pública e privada. Descreve as realizações de seu governo, como as ações na área da Saúde, a criação do Instituto do Coração, a criação da Unesp - Universidade Estadual Paulista, a construção da rodovia dos Bandeirantes e a criação do Seade - Sistema Estadual de Análise de Dados. Narra sua origem e extensa ramificação familiar, dramas e sonhos, viagens, missões diplomáticas e comerciais, apresenta amigos, personalidades políticas e empresariais. Conta a sua versão da polêmica invasão da PUC, interpreta a história a partir de documentos que guardou ciosamente e com os instrumentos que a memória lhe permite. No tempo presente, acerta suas contas com o passado.
(Trecho extraído da Apresentação). Acesse: www.cpdoc.fgv.br/producao_intelectual



Depoimento de Paulo Egydio
Sobre o movimento estudantil nos anos 1950 – A “direita” na UNE
In:
Paulo
Egydio
conta depoimento ao cpdoc – fgv
Organizadoras
Verena alberti
Ignez cordeiro de farias
Dora rocha




2 O líder estudantil

do remo ao movimento estudantil


O senhor mencionou que seu interesse por política começou
quando entrou para a universidade. Como foi isso?


Começou quando entrei para a ume. E minha participação
nesse movimento se deveu a um único fato: eu era um esportista.
Fui ser esportista porque, quando eu tinha 16 anos, um
amigo me convidou para remar no Flamengo. Remamos no
Flamengo, na lagoa Rodrigo de Freitas, e depois no Botafogo.


E o que isso tem a ver com a ume?


Vocês vão ver. Como já contei, no primeiro ano da Escola de
Engenharia estudei muito cálculo. Já no segundo ano, fui
convidado a participar da Federação Esportiva Acadêmica,
fea, que abrangia toda a Universidade do Brasil. Eles sabiam
que eu remava, porque eu tinha ganhado alguns campeonatos,
e resolveram me convidar. Passei então a ser diretor de
remo da Escola. Já que a Escola não tinha uma representação
nos campeonatos universitários de remo, que fiz eu? Reuni
vários companheiros que se interessaram e levei para o Flamengo.
No Flamengo, nós tínhamos um técnico sensacional,
Rudolf Keller, que tinha sido o técnico de remo da equipe
alemã na Olimpíada de 1936, na Alemanha. Era um homem
fantástico, porque, além de ser uma sumidade no esporte,
era também um formador de caráter. Era um coach amigo.
Nós nos relacionávamos com ele fora do Flamengo também.
Por exemplo, no fim de semana, um chope com o Keller era
absolutamente necessário, rotina. No bate-papo, ele nos transmitia
a formação do espírito esportivo, a visão ética do esporte,
que é muito importante. Keller me marcou muito,
pois era um homem extraordinário.
Nessa época, nós almoçávamos em leiterias, porque a
nossa mania era beber um ou dois litros de leite por refeição
e comer três ou quatro pãezinhos cortados ao meio com
manteiga, ligeiramente esquentados na chapa – chamava-se
canoinha. Um dia, estávamos eu, Alberto Caruso e mais uns
dois ou três num bar chamado Gibi, no largo de São Francisco,
ao lado da Escola, tomando leite e comendo canoa, quando
entrou um colega com uma lista perguntando se queríamos
assinar.Vi que era um manifesto: “Nós, estudantes da
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Escola Nacional de Engenharia, protestamos contra...”Tinha
a ver com a Lei Malaia, do Agamenon Magalhães.17 Eu disse:
“Espera um pouquinho, por que ‘nós’? Eu não li.Você não
pode usar o meu nome”. Ele: “Vai haver uma assembléia
amanhã para decidir sobre isso, então você compareça à assembléia”.
Eu nunca tinha ouvido falar em assembléia, não
sabia o que era. Sabia o que era Diretório Acadêmico, só por
causa de uma coisa: apostila. Era lá que se comprava. Diretório
Acadêmico era símbolo de apostila, e não só para mim
como para a grande maioria.
Fui então com o meu grupo à tal assembléia. No meio
da discussão, eu disse: “Presidente...” Perguntaram: “O senhor
está inscrito para falar? Não? Então, se inscreva.Vá ali
com o secretário”. Fui me inscrever e vi que a lista tinha 100
inscritos. Pensei: poxa, como é que eu vou falar? Cada um
tinha direito a dez minutos, mas percebi que quando terminava
o tempo do orador que estava falando, o seguinte dizia
assim: “Sr. Presidente, quero comunicar que cedo o meu
tempo ao colega”. E o sujeito continuava a falar. E assim sucessivamente.
Aí eu disse: “Espera aí, Presidente! Isso não
pode! Desse jeito só esse cara vai ficar falando! Nós não estamos
de acordo com isso!” Ele: “Ah, mas o regimento é assim”.
Eu disse: “Ah, é!?” Fechamos a assembléia. Éramos esportistas,
fortes...Viramos a mesa, viramos aquilo de pernas
para o ar. Quem eram os que estavam falando, o que estavam
dizendo, nós não sabíamos.


Quando o senhor se inscreveu para falar, queria expressar alguma
opinião?


Eu queria entender melhor o que era a tal da Lei Malaia, que
eu ignorava o que fosse. Minha reação foi a do esportista,
primeiro, contra o sujeito que estava querendo usar o meu
nome indevidamente, e depois, contra o fato de não me deixarem
falar. Foi uma reação contra a intimidação, que acabou
provocando uma verdadeira comoção na Escola. Havia
uns 100 que tomavam parte nas assembléias, e o resto não
dava a menor bola para aquilo. Mas, com aquele episódio, a
Escola pegou fogo. “O que houve?” “Ah, houve isso, não me
deixaram falar!” “Quem quer falar tem o direito de falar!” Ia
haver uma eleição para o Diretório Acadêmico, e nós dissemos: “Não podemos ficar assim, vamos fazer alguma coisa!” Tudo por causa do jeito totalitário como nos trataram na assembléia. Criamos um partido chamado up, União Politécnica,
e fomos disputar o Diretório. Ganhamos! Melhoramos
o serviço de apostila, e aí começamos a tomar conhecimento
de que existia uma outra coisa, chamada União Metropolitana
dos Estudantes, a ume.


Quem era esse “nós” a que o senhor se refere?


Eu diria, para não errar, que eram 80% dos estudantes da
Escola. Arrisco até a dizer 90%. Até então era uma minoria
que atuava. O presidente da ume na ocasião era um aluno da
Escola chamado Bento Ribeiro. Bento veio nos dizer que ia
haver o Congresso Metropolitano dos Estudantes, e que a
Escola teria que mandar cinco representantes. Escolhemos
os cinco representantes e fomos para o congresso, no prédio
da une, na Praia do Flamengo, onde ficava também a sala da
ume. Foi a primeira vez que botei o pé no prédio da une. O
que era a União Nacional dos Estudantes, eu não sabia muito
bem. Sabia que era uma entidade acima da ume.
Nesse congresso, encontramos com os representantes
das faculdades da Universidade Católica. Havia dois rapazes
de direito que eram brilhantes: Álvaro Americano e José Bonifácio.
Ambos tiveram depois atividade política no Rio de
Janeiro.18 Eram dois oradores primorosos, e para nós, naquela
época, pareceram figuras fulgurantes. Álvaro, udenista,
e José Bonifácio, pessedista, começaram a nos esclarecer
qual era a política da une e da ume. Foi aí que nós tomamos
conhecimento de que aquele movimento esquerdista dos estudantes
derivava do fato de que o presidente Dutra – nós
desconhecíamos isso completamente – tinha posto o Partido
Comunista na ilegalidade e em seguida tinha rompido relações
diplomáticas com a União Soviética.19 A cúpula do pc
entrou então para a Faculdade Nacional de Filosofia, e da Filosofia
eles tomaram a une, para torná-la a porta-voz do
partido, que estava ilegal. Eu não tinha a menor noção disso.
No desenrolar do congresso da ume, o mesmo sistema
de repressão que tínhamos conhecido na assembléia na Escola
continuou. Lá pelas tantas, José Bonifácio e Álvaro Americano
chegaram para mim e disseram: “Olha, nós vamos embora, porque não adianta, estamos perdendo tempo, eles já
têm uma posição fechada e não há o que fazer”. Eu me virei
para os dois e disse: “Se vocês querem sair, saiam. Nós não
vamos sair. Quero saber como é isso, e como vai acabar.Vamos
ficar até o fim”. E ficamos sozinhos até o fim, sem poder
nos manifestar. Quando acabou, voltamos para a Escola bravos,
porque estávamos sentindo na pele que havia uma atuação
realmente totalitária e discriminatória. O conceito de
democracia de que ouvíamos falar, também de uma maneira
muito ampla, era o de que todo mundo tinha direito de falar,
a maioria decidia, esse tipo de coisa.
Logo em seguida a esse congresso, houve a eleição para a
diretoria da ume, que, no Distrito Federal, era a única eleição
direta – não era feita em congresso, era cada estudante de
cada escola que votava. O pessoal veio me procurar: “Sabe de
uma coisa? Já que nós estamos nesse rolo, vamos criar uma
uu, União Universitária, e você vai ser o nosso candidato”.O
que foi que eu fiz, já que ia ser candidato? Fiz um programa e
passei a ir a todas as escolas, a todas as salas de aula, de manhã,
de tarde e de noite. Pedia ao professor três minutos para fazer
uma exposição, chegava para o pessoal e dizia: “Olha, vai haver
eleição para a ume, e o que acontece é que eles não estão
nos dando liberdade de expressão”. Não usava a palavra “comunistas”,
por um motivo que vocês já vão ver. Sei que com
isso houve um comparecimento recorde à votação. Não tenho
certo de cabeça, mas acho que votaram oito mil estudantes, e
eu ganhei por uns 20 votos apenas.
Foi então que tomei conhecimento de que existia uma
coisa chamada teme,Tribunal Eleitoral Metropolitano de Estudantes,
cujo presidente era Celso Passos, uma grande figura,
um indivíduo fora de série, cujo pai, Gabriel Passos, tinha
sido procurador-geral da República no tempo do Getúlio.20
Vieram me dizer: “O teme vai se reunir para discutir o que
vai fazer”. A tese que o outro lado apresentava ao teme era a
de que, ao contrário do que determinava a constituição da
une, tinha sido politizada uma disputa estudantil. O problema
era que na Universidade Católica tinham posto um cartaz
que dizia o seguinte: “Não votem nos amigos urssos.Votem
na uu”. Diziam eles: “Todo mundo sabe que urss é uma
referência à União Soviética, portanto, ao comunismo! Então, houve interferência política no movimento estudantil! A eleição tem que ser anulada!” A cena da reunião do teme está viva na minha memória.
A reunião foi feita na une, numa sala grande, que ficou apinhada.
Havia três janelões enormes que davam para a Praia
do Flamengo, e havia gente no peitoril das janelas. Não dava
para uma pulga entrar. O orador do outro lado, Odilair Ambrósio,
estudante de medicina, brilhante, começou a defender
a tese da anulação. Atrás dele ficou um companheiro
nosso, um mineirinho, desses vivíssimos, safos. Odilair falava
com um vozeirão que deixava todo mundo extasiado:
“Houve interferência política! A eleição tem que ser anulada!
Imagine, uma Faculdade de Direito de uma Universidade
Católica não saber que urso não se escreve com dois esses!”
Aí esse companheiro que estava atrás dele soprou: “Se escreve
com cê-cedilha!” Ele: “Urso se escreve com cê-cedilha!”
Quando ele soltou essa, a sala se esvaziou! Foi gente pulando
para todo lado. Ele ficou passado, sem jeito, mas o impacto
do discurso foi-se embora. Celso Passos, que era uma pessoa
de muita personalidade, restabeleceu a ordem, pôs a
questão em votação, e a eleição foi mesmo anulada. Foi feita
uma segunda eleição, e ganhei por uns 300 votos de diferença.
Aí foi consagrador, e eu me tornei presidente da ume.
Quem veio me dar a notícia foi o Célio Borja.21 Nós estávamos
reunidos num bar na Praia do Flamengo, bem próximo
à une, esperando a conclusão da apuração – a última faculdade
que faltava era a do Catete –, Célio Borja veio nos encontrar
e disse: “Paulo, demos uma lavada!” Estavam comigo
nessa época o Célio, o Hélio Bais Martins, o José Augusto
Mac Dowell Leite de Castro... Havia outros companheiros
de cujos nomes não me lembro.


presidente da ume


Quando ganhei a eleição para presidente da ume, Rogê Ferreira
era o presidente da une, e José Frejat era o vice-presidente.
Rogê vinha de São Paulo, onde havia sido presidente do
Diretório Acadêmico xi de Agosto, da Faculdade de Direito
do largo de São Francisco, que desde o Brasil Império tinha
uma importância enorme. Eu já trabalhava nessa época, e às
seis e meia, sete horas, saía do trabalho e ia para a ume. Um
dia eu estava entrando – tinha combinado um encontro com
um pessoal de remo –, e estava o Rogê com um grupo razoavelmente
grande, de umas dez pessoas, no pé da escadaria.
Vira-se ele para mim e diz: “Paulo, estou aqui para lhe dizer
que este prédio é da une, e que de hoje em diante você está
proibido de entrar nele”. Eu disse: “Rogê, sou presidente da
ume, e você não pode me proibir de entrar, porque a minha
sala é aqui”. Ele respondeu: “Você não insista, porque, se tentar
entrar, eu vou pôr você para fora. Eu ou os meus companheiros”.
Nesse instante preciso, os companheiros de remo
que iam se reunir comigo entraram e ouviram esse fim de diálogo.
Um deles, de cujo nome me esqueço agora, virou-se e
disse: “Se isso é um problema entre o Rogê e o Paulo, vocês
deixem os dois se entenderem no meio do salão, mas não interfiram!
Se interferirem, nós também vamos interferir”. Isso
foi improvisado na hora. Quando o Rogê viu aquele impacto,
subiu a escadaria da une, entrou na sala dele e renunciou. Aí
assumiu o José Frejat. Parte do meu período na ume foi com
o José Frejat na presidência da une.22
O curioso é que muito tempo depois, há cerca de uns
cinco anos, uma secretária do sindicato de jornalistas do
Rio fez uma entrevista longa sobre a une, comigo e com o
José Frejat, e publicou uma ao lado da outra. Não fiquei
com esse jornal, mas precisava encontrá-lo, porque é impressionante
como, com o passar dos anos, a minha visão e
a do José Frejat eram a mesma. Nós dois reconhecíamos a
lisura da luta, cada um pelo seu ideal, mas sem baixarias,
sem apelos. Até liguei depois para o José Frejat, falamos
um tempo ao telefone, e perguntei se ele tinha guardado
cópia da entrevista. Como eu, ele tinha perdido, e não se
lembrava do nome da jornalista. Na minha casa, em São
Paulo, existe um tal de Triângulo das Bermudas onde de
vez em quando as coisas somem...


Houve invasões do prédio da une na sua época?


Não. Nós é que uma vez fizemos um bloqueio em frente à
une por causa do aumento do preço do bonde. E depois bloqueamos
a Praia do Flamengo uma segunda vez, por causa de atropelamentos. Não havia um sinal ali, e dois estudantes que
estavam indo para a une almoçar foram atropelados. Antigamente
o restaurante dos estudantes era na une, e havia gente
que dependia daquela refeição.Vários colegas, meus amigos,
para poderem estudar e comer, iam trabalhar no Cais do Porto
como “bagrinhos”, ou seja, como estivadores, carregando
saco de café nas costas. Era um grupo grande, não era meia
dúzia de estudantes. Quando eu resolvi construir o restaurante
do Calabouço, foi por causa dessa situação calamitosa.


Como foi essa iniciativa de construir o restaurante do Calabouço?


O prédio da une, como contei, tinha as salas da ume, no primeiro
andar, e da une, no segundo; tinha o Teatro do Estudante,
do Paschoal Carlos Magno, e tinha um restaurante para
estudantes, com refeição subsidiada, mas muito pequeno. O
prédio tinha sido sede do antigo Clube Germânia, e durante a
guerra Getúlio o desapropriou e o entregou aos estudantes.
Era um prédio muito bom, mas a minha sala, por exemplo,
não tinha nada. Apenas uma cadeira com pé quebrado. Eu era
estagiário numa firma que possuía uma fábrica de móveis de
aço, a peb, Produtos Elétricos Brasileiros, e consegui com o
dono – que depois viria a ser meu sogro – que me doasse
umas mesas e umas cadeiras que ele fabricava. Ele se entusiasmou
com o fato de eu ser um rapaz que estava entrando no
movimento estudantil e por isso me doou os móveis.A sala ficou
caprichada, com mesa de reunião, dava até um certo destaque
ao prédio da une. Mas o restaurante era uma coisa terrível,
porque, além atender a um terço das pessoas que
queriam comer lá, era muito mal instalado.
Ao assumir a presidência da ume, comecei a tomar conhecimento
de algo de que eu realmente não tinha me dado
conta na Escola de Engenharia: de que havia estudantes de
várias outras escolas que tinham uma situação social extremamente
precária.Vendo aquele contraste social intenso, eu
disse: “Temos que criar um restaurante muito maior”. Era a
época do ministro Clemente Mariani,23 cujo chefe de gabinete,
não hei de esquecer nunca, chamava-se Prisco Paraíso.
Tive um entendimento muito bom com o ministro e com
Prisco Paraíso, e consegui uma verba. Havia também outra
coisa: é que um dos meus companheiros de chapa, Hélio Bais
Martins, do Mato Grosso, era filho do senador Vespasiano
Martins, e o senador também aprovava verbas para a ume
no Senado. Clemente Mariani – ou não me lembro agora se
o Senado, ou alguém mais – nos fez uma doação para a construção
do restaurante do Calabouço e deixou a administração
inteiramente entregue a nós. Pudemos fazer um restaurante
amplo, grande, que atendia a praticamente todo
mundo, e mantivemos o mesmo preço, que era bastante
acessível. E a refeição também era feita por um pessoal que
sabia balancear, nutricionistas mesmo.


Como foi feita a escolha do local do restaurante?


O terreno da ponta do Calabouço era o que havia de disponível
na época, o que podia ser cedido a nós. Não me lembro
de qual foi a repartição pública que nos cedeu, mas sei
que ali foi possível realizar o sonho do restaurante dos estudantes.
Era um terreno grande, com um barracão enorme.
O barracão foi aproveitado, reformado, adaptado, mobiliado,
e entregue a nós. O restaurante funcionava perfeitamente
bem e atendia a todos os estudantes, de qualquer faculdade,
mesmo particulares.


A ume comandou alguma greve na sua época?


Sim. Havia uma famosa faculdade particular de Ciências Médicas,
num subúrbio do Rio, e eu me lembro de que, ainda
comigo na presidência da ume, nós fizemos uma greve contra
o dono – se não me falha a memória, chamava-se Rolando
Monteiro.Acabou virando uma greve nacional. O pessoal
veio me procurar dizendo que tinha havido, nessa faculdade,
um aumento de mensalidade escorchante, que eles não estavam
conseguindo pagar, e que o tal Rolando Monteiro não
dava matrícula sem o pagamento. Muitos estavam no meio
do curso, ameaçados de ficar com a carreira interrompida.
Olhei, verifiquei, medi, remedi e resolvi fazer uma greve local.
Foi feita então uma greve na área do Distrito Federal.
Mas aí verificamos que aquilo não estava tendo suficiente repercussão.
Atuando na une através do José Frejat, estendemos
a greve para o Brasil inteiro.


Em que consistia a greve? Os estudantes não iam assistir às
aulas? Faziam manifestações?


Não íamos à aula, fazíamos passeatas, colocávamos faixas nas
principais avenidas, principalmente na Praia do Flamengo.
Esse era o protesto no Rio. Aos outros estados chegamos
através da une, que, ao tomar conhecimento da razão do
movimento no Distrito Federal, se solidarizou com a ume.A
partir daí, as uniões estaduais, as uees, decretaram greves
por todo o país em solidariedade à “greve da Ciências Médicas”.
Foi como ela ficou conhecida. Foi, na época, uma das
maiores greves estudantis do Brasil.
Naquela ocasião, o ministro da Educação já não era mais
Clemente Mariani, era Simões Filho,25 dono do jornal A Tarde,
em Salvador, um senhor baixinho que tinha um cavanhaque
pontudo e andava sempre com uma bengala. Primeiro
ele me chamou ao ministério, dando ordens para suspender
a greve. Eu disse a ele que aquilo era a decisão de uma assembléia,
e que não cabia a mim suspender. Expliquei que a
greve não era da esfera federal, era contra o diretor de uma
escola particular local. Repercutiu porque houve a solidariedade,
primeiro, do Distrito Federal, e depois, de outros estados.
Simões Filho virou-se para mim e disse: “Menino, fique
sabendo que, lá na minha terra, pessoas que não
atendem ao que eu peço, que são mal-criadas como você
está sendo, eu trato a bengaladas” – e levantou um pouco a
bengala. Respondi: “O senhor me permita, respeito a sua
idade, mas se essa bengala resvalar em mim, garanto que ela
será quebrada. Depois, o que vai acontecer eu não sei”.Algo
nesse gênero. Ele ficou profundamente irritado comigo, e
houve um rompimento, ao contrário do Clemente Mariani,
que sempre nos tratou muito bem, com respeito, e, através
do seu chefe de gabinete Prisco Paraíso, sempre nos atendeu
em praticamente tudo o que pedimos. E o fato é que a greve
continuou.Acho que durou mais de um mês.
Um belo dia, recebo um telefonema dizendo que o presidente
Getúlio Vargas pedia que eu comparecesse ao Catete.
Estranhei aquilo, mas fui. Getúlio estava me esperando e
me recebeu na sala dele, extremamente atencioso. Estava
com um daqueles charutões grandes na boca, deu uma senhora
baforada e perguntou: “O senhor é que está liderando
essa greve?” Respondi que sim, e ele continuou: “Estou querendo
um entendimento com o senhor. Diga ao ministro o
que pretende e, seja o que for, garanto que será atendido,
desde que, ao ser atendido, suspenda a greve”. Eu disse:
“Presidente, se formos atendidos, a greve será suspensa. A
assembléia aprovará a suspensão quando vir que os senhores
tomaram providências”. Ele: “Então, o senhor se dirija ao
meu ministro da Educação”. Eu disse: “Ah, não, esse não!
Esse não dá...” Ele deu uma sonora gargalhada! “Então, o senhor
escolha qual é o ministro com quem quer despachar,
porque eu darei ordens a ele para o senhor ser atendido”. Escolhi
o ministro das Relações Exteriores, João Neves da Fontoura,
o homem do Acuso.26 Fui a ele, expus o problema, e
ele disse: “Fique tranqüilo. O presidente mandou atender,
será atendido”. Não sei qual foi o entendimento do governo
com o dono da escola, mas sei que, para os alunos, as mensalidades
ficaram como eram antes do aumento extorsivo, e
a greve terminou.


comunistas X anticomunistas


O senhor mencionou a presença, naquele primeiro congresso
da ume a que assistiu, de dois estudantes da puc, Álvaro
Americano e Jose Bonifácio, o primeiro, udenista, e o segundo,
pessedista. Na época o senhor já tinha ouvido falar em
udn e psd, nos partidos criados no fim do Estado Novo?


Não. O que aconteceu foi que, quando fui eleito presidente
da ume, houve repercussão no Rio. O primeiro indício disso
foi que Paulo Bittencourt mandou me chamar, querendo me
conhecer. Perguntei: “Quem é Paulo Bittencourt? Não estou
sabendo”. Paulo Bittencourt era o dono do Correio da Manhã.
Havia três ou quatro grandes jornais no Rio: o Correio da Manhã;
o Diário Carioca, que era o jornal do José Eduardo de
Macedo Soares; e o Diário de Notícias, que se especializou em
dar informações sobre escolas, exames etc. Quem era estudante
lia o Diário de Notícias por causa disso. Evidentemente,
depois que Paulo Bittencourt mandou me chamar, passei a
ler o Correio da Manhã. E foi aí que comecei a me politizar.



Quer dizer que quando disputou o Diretório Acadêmico da
Escola de Engenharia, e depois a presidência da ume, o senhor
e seu grupo não tinham uma posição política definida?


Não.Tenho até vergonha de contar, mas vou contar, porque
não estou aqui só para falar das coisas boas. Naquela primeira
eleição para o Diretório Acadêmico, ninguém estava com
idéia do que dizer no nosso manifesto. Um colega sugeriu
um trecho, achamos lindíssimo e colocamos lá. Depois ficamos
sabendo que o trecho era do Plínio Salgado! É óbvio
que, pelo meu posicionamento contra os comunistas, tendo
usado o Plínio Salgado, eu era um fascista... Mas nós não sabíamos
que aquilo era do Plínio Salgado. Usamos porque
achamos bonito e ponto. Como já disse aqui, só comecei minha
politização realmente depois que assumi a presidência da
ume. Até então eu não tinha formação política, não estava
interessado no assunto. É incrível, mas não estava. Aí comecei
a ler no Correio da Manhã os artigos de um homem que
passou a ser muito importante para mim: Carlos Lacerda.
Lacerda tinha uma coluna que passei a ler com assiduidade e
que me impressionou muito.27 Procurei saber quem era ele,
comecei a me interessar. Depois de ter entrado na ume é
que fui tomar conhecimento da cúpula do pcb, de quem era
quem, qual era a visão soviética, o que era stalinismo. Comprei
a autobiografia do Trotski, um livro volumoso, que li
todo. Comecei então a me educar, e me auto-eduquei, não
tive um mestre, não tive um guru. O mais próximo de um
guru que eu posso chamar era o Lacerda.
Esse seu despertar para a política não foi discutido em sua
casa? O senhor costumava conversar com seu avô. Conversava
também com seu pai?
Meu avô àquela altura já tinha morrido. Meu pai conversava
comigo e me dava orientações gerais. Era um democrata, mas
não tinha partido.Tinha inclusive um problema delicado, porque
foi diretor-técnico da csn – foi ele quem acendeu o altoforno
de Volta Redonda –, depois se tornou diretor industrial,
quando a empresa entrou em funcionamento, e depois foi
vice-presidente muitos anos. Substituiu várias vezes Raulino
de Oliveira ou Macedo Soares, que se revezaram na presidência.
O problema dele era que quem elegia a diretoria da csn
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era o Getúlio, era uma decisão do Getúlio. Meu pai não tinha
apoio político, e por isso tinha receio de que uma hora qualquer
não fosse reeleito. Não sendo reeleito, e não tendo recursos,
o que lhe restaria? Voltar para Santos, porque o emprego
fixo dele era o de engenheiro da Repartição de Saneamento do
Estado de São Paulo. Isso provocava um pavor em minha mãe.
Voltar para Santos e tirar dos filhos a oportunidade de estudar
no Rio de Janeiro... Minhas irmãs, quando acabaram o Sacré-
Coeur, começaram a estudar direito na Universidade Católica,
mas no fim do primeiro ano se casaram.
O senhor começou a participar da política estudantil por ímpeto,
por vontade de se opor àquela assembléia em que não
pôde falar. Mas podia não ter continuado, podia ter parado por
ali. O que o levou a ler a biografia do Trotski, por exemplo?
É que eu comecei a tomar conhecimento do problema do totalitarismo,
e a me aproximar mais dos ideais democratas, inclusive
os norte-americanos. Houve um período em que fui fã de
carteirinha dos Estados Unidos, do American way of life.Viajei
pela primeira vez para os Estados Unidos em 1950, e em 1951
viajei para Edinbourgh, Escócia, para o Congresso Internacional
de Estudantes. Minha visão começou a se fixar, sob o ponto
de vista, vamos chamar de político-ideológico, dessa época em
diante. Aí os embates passaram a ser político-ideológicos, porque
havia no meio estudantil uma clara divisão entre comunistas
e anticomunistas. E como o problema era sempre o domínio
pelas minorias, com a minha vitória na ume, no Rio, nós
estendemos o nosso movimento para o resto do Brasil, porque
começamos a ver que nos estados a apatia também era absolutamente
geral.Através de Carlos Lacerda, fiquei conhecendo o
brigadeiro Eduardo Gomes, que me cedia lugar no Correio Aéreo
Nacional para percorrer o Brasil. Eu ia para as capitais para
saber o que existia. Um detalhe: quando fui a São Luís do Maranhão,
não existia uma União Metropolitana dos Estudantes.
Fundei a ume lá, sabem com quem? Com José Sarney.


O que é interessante é que o senhor começou a se politizar
dentro do contexto da Guerra Fria.


Exatamente. Naquela época, um fato muito importante foi a
invasão da Coréia do Sul pela Coréia do Norte.28 Quando
ouvi a notícia pelo rádio, me lembrei da Pax Romana e redigi,
de próprio punho, um manifesto de protesto contra a invasão,
que chamei de “Pax Soviética”. Quando acabei, entreguei
aquilo ao Diário de Notícias. Não é que, no dia seguinte,
o manifesto foi manchete em todos os jornais? Isso causou o
maior rebuliço no meio estudantil. Fui obrigado a convocar
um Conselho Estadual de Estudantes, que ficou cheiíssimo.
No fim apoiaram o meu manifesto e não me deram voto de
desconfiança. Mas também ganhei um apelido: Paulinho da
Coréia. O pessoal da época se lembra disso.
a une muda de mãos


O senhor foi presidente da ume de quando até quando, exatamente?


Fui eleito uma primeira vez e fui reeleito para um outro período,
portanto, fiquei dois anos: de meados de 1949 a meados de
1950, e daí até meados de 1951. Quando terminei o segundo
mandato, até recebi uma homenagem que me foi muito grata:
o título de presidente emérito da ume, concedido pela primeira
vez. No último ano, já acumulei o cargo de presidente da
ume com o de secretário internacional da une. Foi quando, na
une, nós derrotamos o candidato da situação e elegemos um
desconhecido no nosso meio, Olavo Jardim Campos.29 Foi a
vitória do nosso movimento no Brasil inteiro.
Houve até um episódio muito interessante nessa eleição
da une. Quem estava representando a situação era Roberto
Gusmão, e quem estava representando a oposição era eu. Roberto
teve uma negociação comigo que começou às oito horas
da noite e foi terminar às dez horas da manhã do dia seguinte.
No princípio, ele queria fazer uma chapa única meio a
meio: ele indicaria a metade da diretoria, e eu indicaria a outra
metade.A conversa foi evoluindo, e quando chegou às dez
da manhã, eu seria o presidente e ele indicaria um único
membro da diretoria. Mesmo assim eu disse: “Não posso aceitar
isso, porque o nosso movimento tem um conteúdo ideológico
diferente do seu”. Como já disse aqui, quando entrei,
eu era totalmente despolitizado. Eu me politizei rapidamente,
não só pelo embate, mas porque nós estávamos em plena
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Guerra Fria, numa fase de bipolarização mundial. Ou você estava
de um lado, ou estava do outro: o meio-termo não tinha
lugar. Eu não quis aceitar a indicação do Roberto, porque seria
aceitar ter na minha diretoria um membro com idéias totalmente
divergentes das nossas, naquela polarização entre
uma visão democrática e uma visão comunista.


Isso que o senhor está chamando de “nosso movimento” tinha
um nome? Tinha metas definidas?


O nosso movimento era a União Universitária, a famosa uu a
que já me referi. E as metas eram atender às necessidades dos
estudantes e não permitir a penetração comunista no movimento
estudantil. É preciso ver que, naquela ocasião, a doutrinação
comunista não era própria de todos os estudantes comunistas,
mas sim da parcela que acatava as orientações da cúpula
do Partido Comunista, que tinha sido posto na ilegalidade.


Quem eram essas pessoas?


Branca Fialho, Jacob Gorender, Salomão Malina... Esses são
os nomes de que me lembro, mas havia muitos mais. Salomão
Malina era aluno da Escola de Engenharia, tinha sido
herói da feb, era uma pessoa muito carismática. Era o que
nós chamávamos de estudante profissional, ou seja, o sujeito
que ficava estudando anos e anos sem a intenção de se formar,
apenas para fazer política estudantil. Havia vários outros
nomes, do Nordeste inclusive, de que, para ser sincero,
não me lembro. Muitos já tinham se formado, eram mais velhos
que nós. Sei que eles foram para a Faculdade de Filosofia
e, de lá, tomaram o movimento estudantil e a une. Eram
a linha stalinista, baseada no centralismo democrático: o Komintern
decidia e o pessoal de baixo cumpria sem discussão.
Era o que o Kruschev veio denunciar no xx Congresso do
Partido Comunista da União Soviética, em 1956, juntamente
com uma série de crimes cometidos. Nesse momento, o
mundo inteiro e os próprios comunistas ficaram aturdidos
com o que Stalin tinha feito. Mas se esquecem do que Lenin
fez, e que foi denunciado por quem? Por Trotski.
Acabei de contar que, na minha fase de politização intensa,
li a autobiografia do Trotski.Tenho uma característica
na minha vida: minha mãe costumava dizer que ela não sabia por quê, mas eu andava melhor quando tinha uma pedra no
sapato. Quando enfrento uma dificuldade, eu cresço. E
quando faço uma coisa, sou radical, no sentido de me aprofundar
até onde puder. Não fico no meio-termo. Nesse ponto
sigo o que está escrito na Bíblia: “Conheço as tuas obras:
não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. Mas,
como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te”.30
Nessa fase de politização fui fundo, fui ler, entender, fui ver
o que era a democracia, quem eram os Founding Fathers dos
Estados Unidos, quais eram as idéias de Andrew Jackson e de
George Washington. Fui ler La Fayette, na França. Fui me
atualizar, porque eu não tinha essa formação. Passei a ter.
Mas eu estava contando da minha discussão com Roberto
Gusmão, que hoje é um grande e querido amigo meu. Uma
pessoa que, inclusive, tive a oportunidade de ajudar. Embora
eu vá dar um pulo, se me permitirem, há outra história que
quero contar. Quando eu era ministro do governo Castello,
recebi um pedido de audiência do Roberto Gusmão. Como
sempre tínhamos nos respeitado muito, mesmo sendo adversários
no movimento estudantil, atendi-o imediatamente. Eu
sabia que ele era um socialista, mas não um comunista. Havia
uma distinção. Entendo e aplaudo, inclusive, a visão utópica
do jovem que quer ver a transformação do mundo. É lógico
que isso é apreciável, é desejável, mas não do jeito que Stalin
fez, e Mao Tsé-tung repetiu, pior ainda. Enfim, quando recebi
o Roberto, ele me disse: “Paulo, abriram um ipm contra
mim, porque tenho um irmão que, em tempos idos, andou lidando
com o pcb.Você me conhece, sabe que eu sou socialista,
mas nunca pertenci ao pcb. E agora estou sendo processado.
Você poderia me dar uma declaração atestando que não
sou comunista?” Respondi: “Roberto, eu quero dar essa declaração,
mas tenho que consultar o presidente, porque sou um
ministro de Estado.Vou redigir o documento e vou consultálo”.
Redigi a declaração, Castello pegou o papel, leu e perguntou:
“Ministro, o senhor sabe o que significa isto?” Respondi:
“Significa a verdade”. Ele: “Não, estou falando do que
isto significa legalmente. Isto encerra o ipm. O senhor ainda
quer mandar esta declaração?” Eu disse que sim, e ele concluiu:
“Então, mande”. E o ipm foi encerrado. Depois o Roberto
foi ministro da Indústria e Comércio,31 como eu tinha
sido. Pude brincar com ele, porque eu conhecia muito bem a
política do ministério e dizia: “Roberto, agora você está mais
à direita do que eu, viu?”A vida é uma roda-gigante: vai lá em
cima e vem aqui embaixo. É muito difícil as pessoas permanecerem
em pontos fixos. Graças a Deus, as pessoas mudam e,
com boa fé, tentam se aprimorar.

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