COMENTÁRIO DE OTÁVIO LUIZ MACHADO: considero a matéria abaixo bem sintonizada com os anseios de nossas JUVENTUDES. Parabéns!!!
FONTE: http://www.jap.org.br/site/1823/nota/97393
Juventude em dois tempos: 1968 e 2008
No mundo todo se celebra os feitos da geração de 1968, ano que ficou marcado na história pelas revoluções promovidas pela juventude, que rompeu padrões, mexeu em estrutura, rompeu comportamentos. E a geração de hoje, o que ela faz para interferir nessa sociedade?
Jovens nas ruas, gritos, palavras de ordem como “faça amor, não faça a guerra”. Mulheres lutando por sua liberdade sexual. Hippies dançando sobre as mesas da burguesia. Ditadura recrudescendo. Moças e rapazes caindo na clandestinidade da luta armada. Guitarras, rock n'roll misturado com xaxado. Cabeludos, roupas coloridas. Homens mais sensíveis. Mulheres com mais fibra. Esse é um pouco do espírito de uma época, das marcas que a geração de 1968, bem definido como “o ano que não acabou”, por Zuenir Ventura, em seu livro homônimo. Naquele momento, jovens protagonizaram revoluções: as lutas pelo fim do Apartheid na África do Sul, descolonização de países da África e o poder negro ganhando força nos Estados Unidos, através dos Panteras Negras; no Brasil, a luta armada se tornava mais expressiva juntamente com o maior rigor da Ditadura. Revoluções culturais e estéticas: era o tempo do Cinema Novo, do baiano Glauber Rocha, do Tropicalismo colorido e irreverente, Leila Diniz inaugurava um novo modelo de mulher brasileira. Além das mudanças, ficou de herança uma certa nostalgia e a recorrente comparação com aquele passado de muros derrubados. Para o sociólogo baiano Gey Espinheira, “os anos 60 foram anos de ruptura histórica, não apenas uma luta contra a ditadura que se firmava no Brasil e em toda América Latina, na contramão da descolonização africana, em cujo continente os movimento libertários ganhavam espaço. Muitas frentes de libertação se abriram naquela época, sendo a mais significativa o Movimento Feminista e a Revolução Sexual, O movimento pelos Direitos Civis e Igualdade Racial, sobretudo nos Estados Unidos, com o fim do aparthaid. Ideais revolucionários se acenderam com o sucesso da Revolução Cubana na América Latina, portanto, causas e mais causas, assim como anti-causas que o Movimento da Contra Cultura levou adiante. O Movimento Hippie, por seu lado, inaugurou uma nova ética e estilos de vida, tudo isso porque uma era se acabava e uma outra começava sob a égide do individualismo, da emancipação e da liberdade pessoal. Os anos 60 são o século XX em sua maturidade. O estudioso acredita que os impactos gerados a partir daquele ano se desenrolaram até os anos 80 e tem como marco de finalização “a queda do Muro de Berlim, o eclipse da União Soviética e a febre neo-liberal que se alastra no rastro da globalização”. Muitos questionam o caráter de supervalorização daquele ano, que como outras épocas teve o seu espírito particular e próprio, como também foi diferente de país para país. Espinheira explica que “a década de 60 foi de ruptura, revolucionária a inaugurar novas formas de pensar e de sentir, conseqüentemente de expressar suas opiniões e desejos. Eram muito os canais de luta, mas havia a compreensão de que a luta de classe estava no centro e só através dela se poderia alcançar os objetivos pretendidos”. Quarenta anos depois, as coisas mudaram e a forma de atuar não pode ser a mesma na opinião do sociólogo “hoje, sem um ‘inimigo comum’, seja ela a ‘ditadura militar’ ou o ‘capitalismo’, os jovens se dispersam em lutas multi-culturais que obscurecem a luta central contra o capitalismo. São movimentos étnicos plurais, movimentos ambientais, de gênero, de identidade e mesmo de cultura no sentido mais específico do termo quando se fala em educação e mesmo em arte”. Para ele, ‘”essa dispersão dificulta o entendimento e desarticula um movimento unificado, tal como aconteceu com os trabalhadores da indústria com seus sindicatos obrigados a fazer negociações não mais para garantir melhoria salarial e melhores condições de trabalho, mas simplesmente para garantir a permanência no trabalho, mesmo com perdas salariais e ambientais”. Movimento estudantil – Uma das marcas mais instituídas da participação de juventude daqueles tempos era a participação em movimentos estudantis. Décadas depois, algumas posturas ficaram de heranças como o culto ao revolucionário Che Guevara, apoio a Cuba, repulsa aos EUA e ocupações de prédios públicos. Hoje, o movimento estudantil perdeu a centralidade: outras questões como a dos negros, dos jovens populares ou ligados a tantos projetos sociais e culturais. Os canais de participação política têm sido ocupados nos últimos 40 anos por diversos grupos sociais, o que torna o movimento estudantil mais um na multidão. Otávio Machado, pesquisador dos movimentos estudantis no Brasil pela Universidade Federal de Pernambuco recorda o enterro do jovem Edson Luís, morto em um restaurante universitário pela ditadura, em março de 1968 como um choque para a classe média, que aí despertou para face dolorosa da ditadura. Uma faixa chamava atenção com a frase “Mataram um estudante, podia ser seu filho”. Em sua opinião, o movimento estudantil contribuiu a partir daí para que vários grupos sociais aderissem à luta contra a ditadura: religiosos, trabalhadores, profissionais liberais, artistas, professores e intelectuais. Para o pesquisador, atualmente a forma de atuação do movimento estudantil não vem valorizando a capacidade do jovem e atuar na sociedade, nem não faz a sociedade enxergar seus problemas. Machado lança a pergunta provocadora para o movimento “qual o problema em debater com estudantes e com o país a reforma universitária, a política educacional do Presidente Lula, o Reuni, a Amazônia, os bio-combustíveis, a política econômica e a inserção do Brasil no mundo?” Ontem e hoje - Nos anos 60/70/80 derrubar a ditadura militar era o objetivo comum de todas as esquerdas e alguns segmentos liberais. É notório que quando se tem um inimigo comum é mais fácil aglutinar pessoas e grupos em ações concentradas. Assim, no Brasil, o movimento daqueles "anos de chumbo" era de total oposição ao poder vigente. A esquerda era clandestina e reprimida com violência pelos aparelhos do estado. Toda essa história é fechada com o movimento "Diretas Já" que acabou por levar à Constituição de 1988. Para as gerações que vieram depois ficou aquela sensação de ressaca de um tempo não vivido. O modelo do jovem revolucionário, de esquerda, que tomava as ruas e quebrava estruturas inspirou muitos, mas também gerou uma espécie de referência, que aqueles que desejam ter uma atitude política precisam seguir. Em vários momentos são feitas comparações entre a geração da década de 60 e as gerações mais jovens, consideradas muitas vezes apolíticas, alienadas e hedonistas. Matérias, pesquisas e o próprio senso comum fazem referências àquela forma de participação política, muitas vezes sem contextualizar que os jovens de hoje estão inseridos numa nova sociedade, extremamente complexa e com valores bastante diferentes. O jovem jornalista Pedro Caribé critica a nostalgia dos anos 60, porque para ele “a juventude de hoje é tão complexa quanto a sociedade. Quem são os jovens que têm nostalgia do passado? A que classe ou formação cultural eles pertencem? Creio que sejam alguns que herdaram os espaços políticos, econômicos e culturais da geração de 68, que no Brasil foi basicamente elitista e por isso, segmentada”. Ele ressalta as fragmentações já existentes naquela época e a atuação política de esquerda, muito mais calcada na classe média universitária. Caribé acredita que não se pode esperar dessa geração as mesmas formas de participação política que os jovens dos anos 60 tinham: “o que é participação política pra juventude? Participar de um grêmio estudantil ou disputar a UNE, dedicando tempo integral de sua vida? Isso cheira a mofo de casa de gente velha e decadente. Sou contra a noção que a participação política é uma tarefa divina. Esses espaços não são única referência”. O jornalista acredita que outras formas expressivas de participação ganham mais força nesse tempo, como a atuação em grupos culturais, o movimento hip hop, as associações de bairro, as ongs, movimentos de base como o Movimento dos Sem Terra, Sem Teto, os militantes com as questões de raça, gênero, ambientalismo...entre tantas bandeiras que se espalham e têm na garantia de direitos sua maior defesa. Na sua opinião, a geração de hoje talvez tenha uma característica de maior hedonismo e individualismo, bastante relacionados à lógica desse tempo. Quanto à qualidade da participação política, ele acredita que o próprio cotidiano pode dar pistas “Tento integrar a política a minha ação como profissional, como comunicador, nas relações pessoais, culturais e etc. A política está em tudo. Tudo a crítica lógica de mercado, a valorização dos direitos individuais e coletivos, a negação de um modelo hegemônico, a crença na solidariedade. e com certeza existem diversas contradições”. Outro presente – Se por um lado, no nosso presente não existe mais o monstro da ditadura e seus grandes tentáculos que impediam outros pensamentos vigentes ou oposições, o presente não é menos tenso. Questões graves como a perda de valores, da esperança política, os avanços do neo-liberalismo e do capitalismo, desemprego, fome, quadros ambientais assustadores dão a tônica do momento político atual, que exige ação e novas posturas. Para o estudante de Direito, Vavá Oliveira uma experimentação necessária é olhar para o passado e aprender com ele. “Em vez de guardar a melancolia que muitos da geração de 68 trazem por terem tentado e não conseguido, nossa geração precisa olhar para aqueles valores que guiavam os jovens: a busca de desburocratizar a política, de fazer ações com autonomia e horizontalidade”. Atuando hoje ao lado do Movimento dos Sem-Teto de Salvador, Vavá acredita que aquela geração deu o seu recado e é no presente que se deve construir uma nova história, experimentando novos caminhos e engajamentos. Pedro Villaça tem no DNA a luta pela liberdade e proposta de um novo país. Seus pais participaram diretamente da luta armada e sentiram na pele as conseqüências de se opor ao estado vigente. Ele acredita que se por um lado podemos falar em liberdade de expressão e pensamento, isso não faz desse momento atual mais leve. “Vivemos um momento diferente, mas de extrema gravidade. Vivemos num momento histórico bastante perigoso, à beira da nossa própria destruição. Pode parecer uma visão assustadora, mas é uma realidade e que precisamos bater com ela de frente. Vivemos um momento de grandes contradições, os inimigos não são claros. O Estado é ao mesmo tempo opressor e resultado da luta de toda uma classe trabalhadora desse país. Nossos recursos naturais estão à beira do colapso e para alimentar a estrutura egoísta do capitalismo a Terra já não é suficiente” adverte o publicitário, que acredita na radicalização da democracia como saída para a construção de um outro mundo possível. “A radicalização da democracia e da autonomia é uma urgência para construção de algo novo” conclui.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
nossa!que loucura!!!!!!!!!!
Postar um comentário