sexta-feira, 6 de junho de 2008

A permanência e a insistência da tese do Mito do Poder Jovem


A permanência e a insistência da tese do Mito do Poder Jovem
Otávio Luiz Machado


A UJS (União Juventude Socialista) do PC do B (Partido Comunista do Brasil), que está na direção da UNE há cerca de vinte anos, após tentar apropriar-se da história do movimento estudantil em si, também quer se apropriar do presente do movimento estudantil, pois já faz algum tempo que a direção da UNE não representa o movimento estudantil ao optar por não lutar e não fazer parte dele, pois prega o discurso contrastando o “nós” e “eles” .
E já faz algum tempo, também, que a direção da UNE abandonou o exemplo dos que construíram a UNE e fizeram dela uma entidade a serviço do Brasil e não de Governos. Sem debater com os movimentos estudantis existentes do Brasil e sem cobrar do Governo Federal um amplo debate sobre o País, o adesismo da UNE é muito estranho, mas é possível saber os seus motivos quando entendemos o projeto político que envolve a entidade.
Certamente quem escreve hoje sobre a história da UNE o faz num momento em que a mesma encontra-se no seu pior momento, pois a sua credibilidade está num nível muito baixo, o que infelizmente é transmitido para os demais setores do movimento estudantil, parecendo que só a UNE existe e tudo é isso aí que ela representa é generalizado.
Distante dos estudantes, sem reconhecimento social e totalmente chapa-branca, a direção da UNE obviamente tenta fazer os outros viverem sonhando com o passado, ao mesmo que busca apropriar-se politicamente da luta dos estudantes ao longo da história e o instrumentalizando a favor da UJS do PC do B.
É o caso do Mito do Poder Jovem, que não é só alimentado por todas as gestões da UNE para dar sentido a um projeto que pretende ser recuperado, mas também é utilizado para dar sustentação política ao grupo que lá está eternamente.
A apropriação do presente do movimento estudantil é o mais perceptível, pois quando da ocupação da USP no ano passado – episódio que incentivou outras iniciativas em universidades buscando assistência estudantil –, a direção da UNE reuniu-se com o Excelentíssimo Ministro da Educação e anunciou que a UNE havia conseguido uma vitória ao conseguir mais verbas para a assistência estudantil. Sem falar na tropa de choque de membros da direção da UNE que foram às universidades para defender os reitores e o próprio MEC enquanto os estudantes – que sabem da situação da educação superior do Brasil – em alguns casos expulsaram a UNE de suas instituições.
O reflexo está aí: cada dia mais as chapas que apóiam a UNE perdem feio os principais DCEs e DAs do Brasil, além de estar bem fortalecida a fundação de uma outra entidade nacional que irá representar os estudantes universitários brasileiros.
Após a ocupação da Unb, que foi construída e vencida pelos estudantes da própria Universidade com um pé atrás da direção da UNE, a mídia divulgou em vários casos a liderança da UNE que não existiu. No caso da UNB, a construção, organização, deflagração e manutenção da greve da sua greve (abril de 2008) teve liderança das instâncias internas do movimento estudantil. Lembro-me que uma das primeiras movimentações quando veio a público a denúncia do Ministério Público contra o Reitor foi da Casa do Estudante da UnB, que iniciou uma série de comunicados, inclusive recebendo apoio das outras casas estudantis brasileiras, reclamando que, enquanto o Reitor gastava R$500 mil para mobiliar o seu apartamento funcional, enquanto a Casa do Estudante da UnB tinha uma série de problemas estruturais. Além de abrigar poucos estudantes que realmente precisa de moradia estudantil para estudar. O que se ouvia naquele momento era que enquanto a UNE apoiava o Governo Federal e falava tanto em educação, a situação da assistência estudantil era muito precária.
A ocupação da USP, da UnB e de todas as universidades federais teve em comum o desejo de fazer do movimento estudantil um espaço de luta, de reivindicação e de conquistas para o conjunto dos estudantes. Um forte desejo em defender as instituições públicas também permearam o discurso dos líderes estudantis nas ocupações, além da identificação da ausência da direção da UNE na luta dos estudantes.
Felizmente, com a insistência de setores do movimento estudantil que não compactuam com o que a direção da UNE faz, também está buscando se diferenciar, ocupando espaços importantes e fazendo com que aos poucos o movimento estudantil volte ao cenário nacional mais vigoroso, menos burocratizado, mais alegre e tentando ser mais vivo possível.
Ao criticarmos a direção da UNE não significa que estamos deixando de lado a sua importância histórica para o movimento estudantil, mas alertando para que a entidade seja de fato a representante dos estudantes brasileiros, bem como estenda a sua representação além do eixo São Paulo-Rio de Janeiro-Brasília.
A falta de debate, a adesão sem crítica ao projeto do Governo Federal e o distanciamento dos estudantes, que infelizmente em nada contribui para o País, só torna a UNE uma entidade estudantil que precisa ser repensada sobre outros moldes e com a presença de tantos outros grupos na sua condução, o que não significa que novas entidades não devam ocupar o espaço que ela própria deveria ocupar.

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