sexta-feira, 20 de junho de 2008

Memória: Luz à vista (Por Por Paulo de Tarso Venceslau), em setembro de 2007

COMENTÁRIO DE OTÁVIO LUIZ MACHADO: O autor do artigo, que foi um comprometido militante do movimento estudantil nos anos 1970, trouxe uma questão que sempre nos preocupou: a relação entre os movimentos sociais (e estudantis) com a democracia. Sempre apresentaremos no blog alguns TEXTOS MENOS RECENTES para contextualizar algumas questões pontuais e atuais


FONTE: http://www.jornalcontato.com.br/330/passagem/index.htm

Luz à vista

Por Paulo de Tarso Venceslau
Democracia pressupõe sociedade civil consciente, organizada, mobilizada e flexível diante das diversidades. Por isso mesmo, a recente manifestação pública dos estudantes e a greve da Polícia Civil podem ser um sinal, embora ainda apenas singelo, de que o Partido dos Trabalhadores começa a ser substituído como única referência para os movimentos sociais

Estudantes da Unitau saíram às ruas, na noite de terça-feira, 14, para protestar e reivindicar. O fato em si é motivo de alegria para alguns e de preocupação para outros. Democracia é assim mesmo. Não dá para contentar todos ao mesmo tempo e o tempo todo. Essa manifestação surge exatamente no momento em que os movimentos sociais, especialmente o movimento estudantil, se encontram em uma encruzilhada: se assumir como chapa branca e apoiar explicitamente o governo federal que lhes fornece generosas contribuições com o meu, o seu, o nosso dinheirinho, ou mostrar que são independentes e autônomos. A UNE, comandada há muitos anos pelo pequenino e acomodado PC do B, não moveu uma palha sequer para protestar e denunciar o mar de corrupção que tomou conta de Brasília desde meados de 2005. “Não vamos levar água para o moinho da direita”, foi o argumento de Gustavo Petta, então presidente da entidade. Não importa quem dirige a UNE, uma entidade que tem uma longa e brilhante folha de serviços e de lutas a favor da democracia. Mas incomoda assistir uma trajetória equivocada que compromete sua história. É o preço que se paga por admitir sem qualquer crítica uma política de cooptação levada a efeito pelo governo federal. Os milhões distribuídos sem maiores critérios levaram ao acomodamento toda uma geração de jovens que assistiram suas lideranças serem transformadas em vaquinhas de presépio do governo de plantão. Por isso mesmo, a democracia só tem a ganhar com o protesto dos estudantes da Unitau (Universidade de Taubaté) contra as mudanças no Simube (Sistema Municipal de Bolsas de Estudos) e reivindicações que iam desde a implantação de um bandejão até a federalização da universidade. O movimento teve início em frente a Reitoria e seguiu em passeata até a Câmara Municipal que foi literalmente tomada pelos estudantes. Passado o susto, o bom senso predominou quando o vereador pastor Valdomiro suspendeu a sessão e permitiu que os jovens pudessem fazer uso da tribuna. Foi uma aula de civismo, só quebrada quando o vereador Rodson Lima usou da força bruta para retirar o microfone de um estudante mais radical que acusava os vereadores, indistintamente, de serem patrocinados pela Unitau. O radicalismo infantil de um aluno, que é militante do Conlutas, uma central sindical e de movimentos populares, porém, não compromete a importância e nem a justeza de suas reivindicações (ver reportagem nas pág 8 9).
Na quinta-feira, 16, policiais civis saem às ruas para protestar de novo contra o arrocho salarial imposto há mais de 14 anos pelo governo do estado. Nossa reportagem cobriu com exclusividade a reunião de segunda-feira, 13, que delegados, escrivães, investigadores, agentes penitenciários e carcereiros e membros do comando de greve realizaram na sede do Sindicato dos Bancários, em Taubaté. Nossa cidade foi escolhida como sede desse comando por causa da participação e engajamento desses funcionários públicos estaduais. (Ver reportagem na pág.8 ) Nossos vereadores, no caso dos estudantes, mostraram-se politicamente despreparados. Nem mesmo o vereador petista Jéferson Campos soube lidar com um cidadão com posições mais exaltadas. Salvo o pastor Valdomiro, presidente em exercício da Câmara, que teve um comportamento exemplar, todos os demais, sem exceção, optaram por ameaças veladas ou explícitas ao jovem radical. Sem falar nas medidas administrativas punitivas promovidas de forma recorrentes por parte da reitora da Unitau. O governo do estado, pelo menos até o momento, não resolveu mas também não fez qualquer retaliação contra as diferentes categorias da Polícia Civil. Essas movimentações são sinais de vida saudável na tradicional e conservadora terra de Lobato. A democracia pressupõe demandas e pressões permanentes que devem e podem ser resolvidas ou pelo menos equacionadas com a participação organizada das partes envolvidas. Se assim não for, só restará a paz e o silêncio dos cemitérios que embalam o sono de ditadores

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