quinta-feira, 19 de junho de 2008

Memória do Movimento Operário: Entrevista de Jorge Eduardo Nascimento

FONTE: http://www.sindipetro.org.br/101/b1042/s-1042p4.htm


Jorge Eduardo do Nascimento nasceu em 18 de agosto de 1952, em Garanhuns (PE). Entrou na Petrobras em 76, quando estava no último ano da Escola de Engenharia em Recife. Ficou de 77 a 78 na Bahia. Foi responsável pela área do Norte e Nordeste (Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte e início da exploração no Ceará). Trabalhou na área de produção e controle de produção até 84, quando houve o acidente na plataforma de Enchova em que morreram 37 trabalhadores. Iniciou então movimento maior pela segurança do trabalhador. Foi diretor da Aepet de 84 a 86. Em 90 integrou a diretoria do Sindipetro-RJ.

Surgente, uma história de luta e resistência

Um dos fundadores do movimento e do jornal Surgente, na década de 80, o engenheiro Jorge Eduardo Nascimento tem uma história de luta em defesa do nosso petróleo e da Petrobrás. Nascido em Garanhuns, Pernambuco, ele entrou por concurso público na Petrobrás em 1976, e, nos últimos anos, tem denunciado irregularidades na Companhia. Nesta edição, o Surgente presta uma homenagem ao companheiro que se tornou conhecido não apenas por sua trajetória de luta, mas principalmente pela resistência. Nesses quase 30 anos de carreira na Petrobrás, Jorginho (como é mais conhecido) diz que se orgulha de ser “cidadão brasileiro”. Ele também foi diretor do Sindipetro-RJ, do Sindicato dos Engenheiros do Rio, da FUP e da CUT/RJ.
Catia Lima

Surgente – Como surgiu o movimento Surgente? Jorge Eduardo – Em 1979, eu comecei a participar de assembléias junto com outros companheiros, entre eles, os atuais diretores do Sindipetro-RJ, Emanuel Cancella e Laerte, e Miguel, da Transpetro. Começamos a pensar a idéia de um movimento e de um nome que tivesse identificação com a categoria petroleira e nossa idéia de sindicato. O nome Surgente significa um tipo de método para elevar o petróleo à superfície. Essa elevação acontece de forma espontânea, sem a utilização de outra energia ou qualquer equipamento. E o movimento sindical tem de ser natural, autônomo, independente. A organização dos trabalhadores passa por essa analogia com a indústria do petróleo. Desde o início dos anos 80, o movimento influenciava na eleição de outros sindicatos e, em 1983, alguns membros do Surgente ajudaram a fundar a Central Única dos Trabalhadores. O Surgente foi criado oficialmente em 3 de outubro de 1985, mesmo dia do aniversário da Petrobrás. Em 1990, o movimento ganhou as eleições para a direção do Sindipetro-RJ. Nesta gestão, fui diretor da Secretaria de Imprensa e Divulgação e ajudei a criar a Secretaria de Saúde, Tecnologia e Meio Ambiente. Também fui diretor da primeira direção da CUT/RJ.
Surgente – Quais foram as lutas mais marcantes do movimento Surgente nas décadas de 80 e 90?Jorge Eduardo – Eu gosto de fazer uma comparação. Eu não conheço nenhum caso de corrupção de companheiros do Surgente, seja de diretores ou de ex-diretores. Toda organização é feita de pessoas. O Surgente tem pessoas em diversos níveis de decisão, tanto no sindicato, como na CUT e na direção da Petrobrás. A história da Petrobrás e a do Surgente se confundem, principalmente na defesa da Companhia. Não é por acaso que o aniversário do Surgente é no mesmo dia da Petrobrás. Os valores associados ao Surgente são: ética, resistência, luta por anistia, equiparação dos Novos, luta contra assédio moral, além de outras lutas da sociedade, como o impeachment de Collor, as Diretas Já e a apuração de esquemas de irregularidades e tráfico de influência na própria Petrobrás, em casos como Marítima e Brastubos. Estas irregularidades, denunciadas pelo Sindipetro-RJ no Surgente, foram comprovadas em diversas instâncias, como Congresso Nacional, Tribunal de Contas da União, Ministério Público e Tribunal Marítimo. Inclusive, este Tribunal condenou recentemente os responsáveis pelo acidente da P-36. Vale registrar que, em 1983, alguns companheiros do movimento Surgente foram transferidos como castigo por terem participado da defesa da Companhia. Queria aproveitar para prestar uma homenagem àqueles que foram transferidos ou demitidos pela direção da Petrobrás. Companheiros como os do Centro de Pesquisas, demitidos apesar de não fazerem parte do Surgente, e Miguel, hoje da Transpetro.
Surgente – Como nasceu a idéia de criar o jornal com o mesmo nome do movimento? Jorge Eduardo – O movimento Surgente tinha um jornal, o boletim da Oposição Sindical. Como a categoria exigia um nome para ele, fizemos uma pesquisa com trabalhadores de todas as bases do Rio. Foram apresentados dois outros nomes: Blow Out (poço pegando fogo) e Gas Lift (poço que usa gás para funcionar), além da opção outros. Mais de 90% da categoria elegeram o nome Surgente. A marca Surgente é tão forte que ainda hoje, apesar das mudanças de diretoria no Sindicato, o nome permanece.

Surgente – No acidente da Plataforma de Enchova, que completou 21 anos no dia 16 de agosto, você, que na época era diretor do Sindicato dos Engenheiros do Rio, fez diversas críticas à segurança das plataformas. Por conta disso, sofreu perseguição política. Poderia relembrar um pouco dessa história? Jorge Eduardo – O fato mais marcante foi a entrevista à Folha de S. Paulo, em 17 de agosto de 1984. Nesta reportagem, eu pedi a investigação das causas do acidente. Mas, infelizmente, a direção da Petrobrás não permitiu que o Sindicato dos Engenheiros (Senge-Rio) participasse das investigações e, ao invés de fazer um laudo técnico, forjou um laudo isentando de responsabilidades a Pozzos, empresa norte-americana. A Petrobrás tentou me corromper me oferecendo cargo na empresa, que eu recusei por questões éticas. Por isso, sofro assédio moral e perseguição política até hoje. Por conta do assédio moral, eu tenho ação na Justiça do Trabalho, impetrada pelo Jurídico do Sindipetro-RJ. Mas a luta contra o assédio moral está crescendo. Tenho certeza de que, em breve, o Congresso Nacional vai aprovar o projeto de lei que trata dessa questão e cria o Dia Nacional de Combate ao Assédio Moral. Será uma vitória dos trabalhadores brasileiros. Além disso, a Pauta de Reivindicações do ACT 2005/2006 do Sistema Petrobrás inova ao incluir uma cláusula (nº 117) sobre esta questão.

Surgente – Poderia nos contar sobre as perseguições políticas que você e outros companheiros sofreram ao longo desses anos? Jorge Eduardo – Todos os companheiros que sofreram perseguição política ao longo dos últimos anos têm direito à anistia. Vários companheiros já foram anistiados, mas outros não. Na greve da URP, em 1988, foram demitidos mais de 40 petroleiros em todo o Brasil, inclusive eu e o companheiro Emanuel Cancella. Em 1996, alguns companheiros foram suspensos por denunciarem a Brastubos e outras irregularidades. Por estas denúncias, recebi suspensão de 29 dias. Alguns petroleiros até hoje não foram anistiados pela direção da empresa. Apesar de eu ter conseguido na Justiça sentença favorável em relação à anistia, a direção da Companhia recorreu ao TST. Tenho certeza de que muitos companheiros que ocupam cargo na direção da Petrobrás devem isso, em parte, à luta de todos os petroleiros que lutaram pela democracia neste país. Em 2002, a campanha de Geraldo Alckmin ao Governo do Estado de São Paulo, provável candidato do PSDB à presidência da República, recebeu R$ 1 milhão da Brastubos. Minha pergunta é: qual o interesse daqueles que puniram dois sindicalistas em 1996? Nessa mesma época, a Marítima começou a ser questionada no Congresso Nacional e na própria imprensa sobre favorecimento em licitações que ela ganhava na Petrobrás. A própria Aepet denunciou que, de nove plataformas licitadas, a Marítima ganhava as nove, e também levantou suspeitas, na época, de que parte desse dinheiro iria para a reeleição de FHC. Seria bom que o Congresso Nacional e o Ministério Público apurassem esses fatos. Já existem processos da nossa luta no Ministério Público do Trabalho, Ministério Público, Ministério da Justiça e Justiça do Trabalho sobre assédio moral, anistia e denúncias de irregularidades e tráfico de influência.

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