Margem Esquerda n.11 - tema 1968
Ano de publicação: 2008
Editora: Boitempo
1968 foi um ano extraordinário. Espalharam-se pelo mundo protestos contra a Guerra do Vietnã. Estudantes franceses organizaram-se e exigiram mudanças sociais radicais. O povo, em luta, tomou as ruas da Checoslováquia, do México e dos Estados Unidos. Foi um ano de ressurgimento das mobilizações de massa e da esperança, ano de efervescência intelectual, em que pensamento e ativismo não se dissociavam. A cena cultural tremeu, com uma verdadeira revolução: Beatles, Rolling Stones, Sartre, Joan Baez, Bob Dylan, Chico Buarque, Vianinha e tantos outros.Quarenta anos depois, Margem Esquerda dedica um dossiê – “1968, o ano que (quase) mudou o mundo” – à análise do impacto e do legado dessa década marcada pela resistência vitoriosa dos vietnamitas, dirigidos por Ho Chi Minh, pela consolidação triunfante da Revolução Cubana, de Fidel e do Che, pela vitoriosa revolução argelina de Ben Bella, pela passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro e pelo “verão quente” dos trabalhadores italianos, entre outros movimentos.Para lembrar e reivindicar os revolucionários dias dos anos 1960, reunimos – com a colaboração de Daniel Aarão Reis – autores de diferentes visões, idades e países. Alguns militaram nessa década, fizeram parte da geração que procurou aprender com os trabalhadores o significado de sua luta. Uma geração que não esconde seu passado – ao contrário, orgulha-se dele –, que mantém ainda hoje a utopia da justiça social, continua sendo realista e pedindo o impossível.Tariq Ali, de quem a Boitempo publica o livro O poder das barricadas, uma autobiografia dos anos 60, faz um balanço do que ocorreu nessa década de lutas, alertando para a triste evolução de alguns dos militantes de 1968, “hoje à frente de grandes corporações”.O “assalto ao céu” de quarenta anos atrás é revisto por Emir Sader, que busca o sentido e o legado das mobilizações para a esquerda de hoje: “O anticapitalismo e o antiimperialismo continuam a ser o nosso norte, o norte humanista no mundo do século XXI”. Michael Löwy associa o romantismo revolucionário aos movimentos de 1968, citando autores que mudaram o clima intelectual e político em muitos países.Em diversos cantos do mundo, 1968 será lembrado não apenas pelas manifestações estudantis, mas também pela intensa efervescência cultural e pelas muitas greves e mobilizações operárias. Em nosso país não foi diferente: Marco Aurélio Santana analisa a experiência brasileira, do ponto de vista da ação operária; Marcelo Ridenti e Ricardo Antunes apresentam o significado desse ano em que o movimento estudantil atingiu seu ponto mais alto e se misturou à luta operária que ressurgia após o golpe militar de 1964.1968 aparece também nas imagens de Antonio Manuel (editadas por Luiz Renato Martins) e na seção Documentos. O massacre de Tlatelolco é o tema da escritora mexicana Elena Poniatowska (Tiníssima, Era, 1993), em emocionante texto lido na inauguração do Memorial de 68, no Centro Cultural Universitário Tlatelolco (Unam), no qual ela lembra que “denunciar os culpados é a única maneira de evitar que a história seja escrita somente pelos poderosos”.Nessa mesma seção, Margem Esquerda traz uma conferência da dra. Nise da Silveira, psiquiatra e criadora do Museu de Imagens do Inconsciente, publicada na revista Movimento, em 1935, em que ela aborda questões filosóficas e sociais. Esse achado histórico da maior importância chegou a Margem Esquerda – após uma indicação generosa da livreira Milena Duchiade – pelas mãos da artista plástica Martha Pires Ferreira, amiga, colaboradora e estudiosa de Nise desde 1968 até sua morte, em 30 de outubro de 1999.A entrevistada deste número é a economista Maria da Conceição Tavares. Nascida em Portugal, filiada ao Partido dos Trabalhadores, ela recebeu Carlos Eduardo Martins, Rodrigo Castelo e Virgínia Fontes para tratar de assuntos que vão do limite da queda do dólar no padrão flexível à influência de Marx em seu pensamento. Ela critica, entre outras coisas, a teoria da superexploração, de Ruy Mauro Marini – embora afirme respeitá-lo. A economista, célebre por suas opiniões polêmicas, ainda faz agudas considerações sobre o “capitalismo brasileiro”, a China e o risco de uma recessão nos Estados Unidos.István Mészáros brinda Margem Esquerda com mais um grande texto: “Princípios orientadores da estratégia socialista”. Nele, indica conceitos-chave que devem guiar a construção de uma sociedade sem classes. Para o filósofo húngaro, são princípios que devem ser instrumentos para enriquecer a vida dos indivíduos e garantir a eqüidade entre as pessoas, fundamentando a viabilidade e a sustentabilidade de uma ordem socialista necessária.De Nicolas Tertulian – que, como Mészáros, é notável estudioso da obra lukacsiana –, publicamos o artigo “O conceito de ideologia na ontologia de Lukács”, traduzido por Juarez Duayer. Trata-se de vigoroso estudo da ideologia na Ontologia do ser social, obra em que o marxista húngaro defende a polêmica tese da oposição entre ciência (o mundo da transcendência) e ideologia (o mundo da imanência).Duas importantes resenhas retomam os temas da construção do socialismo e da “desconstrução” da ideologia: a de Ruy Braga, professor do Departamento de Sociologia da USP, sobre O desafio e o fardo do tempo histórico, de Mészáros, que identifica na defesa do princípio da igualdade substantiva – empreendida pelo autor – uma importante atualização do projeto socialista; e a de Jorge Grespan, professor de Teoria da História da USP, sobre a principal obra filosófica de Marx e Engels: A ideologia alemã.Outro marxista célebre analisado neste número é o historiador Caio Prado Júnior, cuja produção filosófica é parte integrante do “seu marxismo”, segundo o professor de História da USP Lincoln Secco. O pensamento de Caio Prado Júnior foi concebido como um projeto de atualização e de formalização da dialética marxiana, parte de sua obra pouco discutida pela historiografia. Seus livros filosóficos, todavia, permanecem importantes fontes para a compreensão de sua produção como historiador.Chefe do Departamento de Sociologia da Universidade da Califórnia (EUA), Michael Burawoy traça, em “O futuro da sociologia”, um histórico da sociologia pública baseado em três estudos de países. Em “Medellín: a paz dos pacificadores”, resultado de um trabalho de campo realizado entre 2000 e 2007, o historiador Forrest Hylton desconstrói a visão hegemônica de que a Colômbia se tornou um modelo de sistema de segurança para a América Latina.Fechando a seção Artigos, João Alexandre Peschanski discute, em “A construção do socialismo sem-terra”, os desafios que marcaram a constituição organizacional do MST: da influência de setores progressistas da Igreja à ruptura com a estrutura eclesial, da repressão nos primeiros governos pós-ditadura aos riscos na gestão Lula.Para homenagear o mais universal de todos os revolucionários, Che Guevara, que em 14 de junho completaria 80 anos, publicamos o poema “Digam ao Che”, do professor de Literatura Brasileira, poeta e tradutor Flávio Aguiar. Três notas de leitura e uma “Carta à Margem”, do jornalista Raimundo Pereira, completam este número da revista.Algumas perdas importantes merecem registro: do escritor e dirigente histórico do Partido Comunista chileno, Volodia Teitelboim, em 31 de janeiro, aos 91 anos; do poeta martinicano Aimé Césaire, criador do termo “negritude”, em 17 de abril, aos 94 anos; e do comandante das Farc, Raúl Reyes, assassinado pelo governo colombiano no Equador, em 1º de março, aos 60 anos. Nas palavras de Miguel Urbano Rodrigues, Reyes “entra no panteão dos heróis da América Latina. Como Sucre, como Bolívar, como Artigas ou Che, ele ultrapassa a fronteira da única forma de eternidade possível – dos homens que viveram para servir a humanidade e contribuir para que ela continue”. Aos três dedicamos esta edição. - Ivana JinkingsSumário da ediçãoApresentaçãoEntrevista
Maria da Conceição Tavares
Por Carlos Eduardo Martins, Rodrigo Castelo Branco e Virgínia Fontes
Dossiê: 1968, O ano que (quase) mudou o mundo
Anos de luta
Tariq Ali
O romantismo revolucionário dos movimentos de maio
Michael Löwy
O assalto ao céu
Emir Sader
1968 no Brasil
Ricardo Antunes e Marcelo Ridenti
Caminhando contra o vento: as mobilizações dos operários brasileiros
Marco Aurélio Santana
Artigos
Princípios orientadores da estratégia socialista
István Mészáros
O conceito de ideologia na ontologia de Lukács
Nicolas Tertulian
O futuro da sociologia
Michael Burawoy
Medellín: a paz dos pacificadores
Forrest Hylton
O marxismo de Caio Prado Júnior
Lincoln Secco
A construção do socialismo sem-terra
João Alexandre Peschanski
Documentos
Filosofia e realidade social
Nise da Silveira
Tlatelolco para universitários
Elena Poniatowska
Resenhas
Em defesa da igualdade substantiva
Ruy Braga
A desconstrução da Ideologia
Jorge Grespan
Notas de leitura
Mystery Train
Alexandre de Freitas Barbosa
Pão e rosas
Claudia Mazzei Nogueira
A perda da razão social do trabalho: terceirização e precarização
Paula Marcelina
Carta à Margem
Sobre entrevista de Francisco de Oliveira
Raimundo Pereira
Apresentação das imagens
“A minha cama é uma folha de jornal”
Luiz Renato Martins
Poesia
Digam ao Che
Flávio Aguiar
terça-feira, 13 de maio de 2008
SUMÁRIO E APRESENTAÇÃO DA REVISTA: Margem Esquerda n.11 SOBRE 68
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