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30/04/2008 - 16h02
Maio de 68 ajudou a difundir novas idéias no mundo ocidental
Colaboração para a Folha Online
O Maio de 68 contribuiu para que o mundo ocidental fundasse e difundisse idéias que eram novas para a época, como as liberdades civis democráticas, os direitos das minorias, a igualdade entre os homens e as mulheres, entre os brancos e os negros e entre os heterossexuais e os gays.
A herança do maio francês e da década de 60 ainda é sentida nos dias de hoje. Após 40 anos do assassinato do ativista negro Martin Luther King, em abril de 1968--, um candidato negro é o favorito para a candidatura de seu partido às eleições presidenciais nos Estados Unidos.
25.abr.2008 - Frank Polich /Reuters
O pré-candidato democrata à Casa Branca lidera a corrida pela nomeação de seu partido
Depois de 68, a educação se tornou mais acessível, tornando-se um elemento de emancipação, e não apenas de "moralização e enquadramento" das pessoas.
Nas fábricas e instituições sociais em geral, as autoridades já não são mais um dogma.
A igualdade entre homens e mulheres hoje é reconhecida por leis, e a homossexualidade é aceita progressivamente pela legislação de vários países do mundo.
A democracia é cada vez mais associada à liberdade de pensamento e expressão.
Para Daniel Cohn-Bendit, líder estudantil na época e hoje deputado francês, o legado de Maio de 68 vai dos costumes à política.
1974 - AP
Filósofo francês Jean-Paul Sartre (à esq.) durante coletiva de imprensa ao lado de Daniel Cohn-Bendit, em Stuttgart (Alemanha)
"Hoje em dia, mesmo os católicos inveterados defendem que a base da democracia é a autonomia e a igualdade entre homens e mulheres. Hoje você tem uma aceitação da autonomia das crianças, uma aceitação da homossexualidade, apesar da igreja ainda ter seus problemas. Uma aceitação da diversidade dos indivíduos. Uma idéia de direitos humanos e democracia", disse ele em entrevista à agência de notícias France Presse.
Segundo Claude-Jean Bertrand, professor do instituto francês de imprensa, os protestos dos estudantes ajudaram a França e a sua imprensa a entrarem para o mundo pós-moderno.
"Maio de 68 foi uma explosão que inaugurou uma revolução cultural", escreve Bertrand no artigo "Um novo nascimento na França".
Culto à revolução
Na opinião do historiador francês Michel Winock, autor dos livros "La fièvre hexagonale: les grandes crises politiques de 1871 à 1968" (sem tradução em português) e "O século dos intelectuais", houve na França, em Maio de 68, uma "emancipação" e "liberação social" cujo denominador comum foi "um movimento anti-autoritário".
O historiador diz acreditar que em seu país, desde a Revolução Francesa (1979), há um culto à revolução. "Batemos os recordes mundiais de manifestações, há mais de mil por ano em Paris. Em qual país vemos isso? Em nenhum, isso é uma herança da história."
Para Winock, a vida política da França nasceu da Revolução Francesa.
"A Revolução de 1789 e dos anos que se seguiram instaurou na vida política o conflito praticamente estrutural. Nós estamos em um país que vive há dois séculos sobre esse modelo de confronto permanente. Esses embates nem sempre resultam em barricadas, mas eles são ficam claros em nossa dificuldade para negociar, para encontrar um consenso".
Publicações
No 40º aniversário dos acontecimentos de Maio de 68, uma avalanche de publicações, edições especiais de jornais e programas na TV estão no ar desde meados de abril, um sinal do interesse intacto por esse marco da história contemporânea do país, informa a agência de notícias France Presse.
O presidente da França Nicolas Sarkozy, recentemente fez um apelo aos franceses, em abril de 2007, para "romper" com o "cinismo" do Maio de 68, que teria "acabado com a diferença entre o bem e o mal, entre o verdadeiro e o falso, entre o bonito e o feio".
Em entrevista recente, o líder Daniel Cohn-Bendit rebateu a posição do presidente francês.
"Cinismo? Era tudo menos cinismo. Talvez contraditório, talvez cretino, mas nada cínico. Ele [Sarkozy], sim, é absolutamente cínico. Quando ele diz isso, ele se olha no espelho."
Leia a entrevista de Daniel Cohn-Bendit para a agência France Presse
Com France Presse
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