terça-feira, 13 de maio de 2008

Matéria na FSP: Na América Latina, atraso econômico e ditaduras motivaram protestos

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30/04/2008 - 16h18
Na América Latina, atraso econômico e ditaduras motivaram protestos
Colaboração para a Folha Online
O ano de 1968 foi o ápice do movimento estudantil na América Latina, mas os protestos na região também foram motivados pela luta contra o subdesenvolvimento econômico e as ditaduras militares, além da atmosfera de contestação cultural que se tornava cada vez mais presente em todo o mundo na época.
A Revolução Cubana foi uma das inspirações para os latino-americanos, que passaram a acreditar que a guerrilha conseguiria realizar a revolução em seus países.
Conheça o contexto histórico em que viviam os países da América Latina em 1968:
Argentina
abr.1974 - Eduardo Di Baia/AP
Ex-presidente argentino Juan Domingo Perón, em discurso
Entre 1930 e 1976, o país sofreu sete golpes militares, que tiveram como objetivo sufocar as tentativas dos movimentos populares em constituir uma sociedade democrática autônoma e obter o desenvolvimento social mais eqüitativo e harmônico.
Em 1966, o general Juan Carlos Onganía (1966- 1970) destituiu o general Arturo Illia (1963-1966), em um golpe militar chamado Revolução Argentina. A Confederação Geral do Trabalho, que surgiu em 1930 e se fortaleceu durante o governo de Juan Domingo Perón (1946-1962/1952-1955), estava desarticulada por confrontos internos. Mas, organizadas por sindicatos, as greves tornaram-se freqüentes nos anos 60 e atingiram seu ápice em 1969, com o Cordobaço (protestos em Córdoba).
Segundo o professor de história da Universidade de São Paulo (USP), Henrique Carneiro, 1968 "não foi um ano de grande movimentação na Argentina", onde o marco de grande rebelião foi o ano seguinte, em 1969, com os Cordobaço.
Bolívia
13.dez.1964 - AP
Che Guevara participa do programa "Face the Nation", na emissora CBS-TV, em Nova York
Entre 1952 e 1964, embora oficialmente existisse um sistema multipartidário, o partido de esquerda nacionalista obtinha cerca de 90% dos votos dos camponeses. A então recém- criada Central Operária Bolivariana, COB, transformou-se em um ator político com capacidade de nomear ministros e pressionar pela implementação de políticas públicas.
Um golpe de Estado em 1964 deu fim a coexistência pacífica entre partido e sindicato e iniciou um período que se estenderia até 1982.
O golpe foi chefiado por René Barrientos Ortuño. Foi durante essa gestão do governo militar que se descobriu uma organização guerrilheira no território, liderada pelo revolucionário argentino Ernesto Che Guevara.
A luta antiditatorial da guerrilha se somava às manifestações de índios e camponeses por melhores condições de vida. Che Guevara foi morto em 9 de outubro de 1967.
Brasil
Em maio de 1968, o Brasil vivia a ditadura militar, instaurada em 1964 após o golpe que destituiu o presidente João Goulart.
28.mar.1968 - Folha Imagem
Estudantes carregam corpo de Edson Luís de Lima Souto, morto em conflito com a polícia
O movimento estudantil, que havia começado a se reerguer em 1966, ganhou força após a morte do estudante Edson Luis de Lima Souto, no Rio de Janeiro, após uma manifestação contra o preço da comida do Calabouço, o refeitório do Instituto Cooperativo de Ensino, onde Edson cursava o segundo grau. O regime militar deu aos estudantes uma razão a mais pela qual lutar, já que se mostraram capazes de matar um deles.
Os estudantes brasileiros reivindicavam mudanças na educação, no sistema de ensino, e queriam ter participação no processo educacional, visando à democratização do ensino. Mas as reivindicações se ampliaram e passaram a pedir o fim da ditadura, gerando greves, ocupação de universidades e passeatas.
O governo militar usou os protestos como uma das formas de justificar a aplicação do Ato Institucional número cinco, o AI-5, que implantou a censura e enfraqueceu o movimento estudantil.
Chile
Em 1968, o Chile estava sob o governo da democracia-cristã de Eduardo Frei Montalva. As dificuldades econômicas e a perda de apoio político tornaram insustentável a continuação do partido Democrata-Cristão no poder e, em 1970, Salvador Allende, da coalizão de esquerda União Popular é eleito presidente.
Segundo o professor Henrique Carneiro, a eleição de Allende personificou a "efervescência de mobilização semelhante ao que ocorreu em 1968".
"Certamente, o Allende foi uma expressão eleitoral do clima de rebelião, de busca de uma alternativa socialista e, ao mesmo tempo, uma alternativa socialista que se distinguia do movimento soviético mais tradicional".
Três anos depois, em 1973, os militares chilenos, liderados pelo general Augusto Pinochet, derrubam o governo de Allende com um golpe de Estado.
México
AP
Exército mexicano reprime protesto de estudantes em Tlatelolco, Cidade do México
O México foi palco para reivindicações de liberdade para presos políticos e autonomia universitária. O movimento foi duramente reprimido, com centenas de mortos e milhares de presos.
O país não vivia uma ditadura, mas o presidente Gustavo Díaz Ordaz Bolaños (1964-1970) não era tolerante com os protestos estudantis e ordenou ao Exército que ocupasse o campus da Universidade Autônoma do México (UNAM) para por fim às manifestações, em setembro de 1968. Os protestos foram reprimidos com espancamentos e detenções.
Mas os protestos estudantis continuaram e as manifestações aumentaram de proporção. No dia 2 de outubro, após nove semanas de greves, 15 mil alunos protestaram nas ruas da Cidade do México contra a ocupação da UNAM. Forças do exército foram usadas para acalmar a manifestação e contra a multidão.
O verdadeiro número de mortos é desconhecido. Na época, o governo mexicano divulgou um total de quatro mortos e 20 feridos, mas outras fontes não-oficiais divulgaram a morte de mais de 200 pessoas.
Colômbia
A reforma constitucional realizada na Colômbia em 1968, atribuiu ao presidente do país --Carlos Lleras Restrepo (1966-1970)-- importantes funções econômicas, como o planejamento das políticas públicas.
Como contestação, renasceram as lutas reivindicatórias sindicais, com base no desejo de promover a Revolução Cubana na Colômbia.
A antiga guerrilha liberal foi convertida em movimento armado com as FARC e o ELN (Exército de libertação nacional, do sacerdote Camilo Torres Restrepo), respectivamente em 1964 e 1965. O EPL (Exército Popular de Libertação), de inspiração maoísta, surgiu em 1967.
Paraguai
Eduardo Di Baia/AP
Ex-ditador paraguaio Alfredo Strossner (à dir.) ao lado do ex-ditador chileno Augusto Pinochet
Em 1960, a estrutura estatal paraguaia era representada pela figura central do presidente-general Alfredo Stroessner (1954-1989). O poder era centralizado, e reprimia com violência as organizações ideológicas da base social. As entidades representativas das forças sócio-econômicas foram excluídas politicamente.
A Lei nº 194, promulgada pelo Executivo em 1955, legalizou a repressão contra os movimentos estudantil, operário, camponês e contra dirigentes políticos dissidentes do Partido Colorado, que formaram os partidos Comunista, Liberal e Febrerista.
Emergiram então, já na década de 60, dois movimentos: o Movimento 14 de Maio e a Frente Unida de Libertação nacional (FULNA).
Mas os jovens dos partidos de oposição não conseguiram transformar a luta de guerrilha em uma organização política que impedisse a formação de um governo ditatorial de Strossner. A guerrilha foi reprimida e seus representantes presos ou mortos.
Peru
O ano de 1968 foi marcado pelo início da ditadura militar peruana, realizada para conter a insurreição camponesa baseada na revolução de Cuba.
O presidente Fernando Belaunde (1963-1968) tentou implantar indústrias para contentar a população e segurar as revoltas, mas não teve poder suficiente para lidar com a direita conservadora e, principalmente com os militares, que o derrubaram.
Uruguai
Nos anos 60, o país estava em crise econômica, com a industrialização estagnada, a produção agrária em baixa e o comércio defasado. A violência política se instalou como instrumento de luta pelo poder.
Os protestos seguiram em meio a problemas de pauperização, inflação descontrolada, e fenômenos de corrupção política. Os protestos foram contidos e seguidos do golpe militar, em 1971.
Fonte: Enciclopédia de Guerras e Revoluções do século 20
Fonte: Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe

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