Algumas considerações elementares, como ponto de partida para qualquer reflexão séria sobre
EDUCAÇÃO e PARTICIPAÇÃO ESTUDANTIL:
1) Para não se continuar colocando remendos novos em panos velhos, urge entender, como pauta primeira da PARTICIPAÇÃO ESTUDANTIL, repensar todo o sistema de Ensino/Aprendizagem, a Escola: criar mecanismos ágeis e eficazes que possibilitem o diálogo, olho no olho, com toda juventude estudantil sobre como vai e como precisa ir a Escola, o Ensino. Por aí, já estamos iniciando uma revolução, não só na Educação, como na Sociedade. E se não começarmos por aí, estaremos queimando a etapa inicial e principal. Tudo mais, a seguir, ficará prejudicado, viciado. Tudo mais, que desejarmos de bom, se começarmos por aí, virá por acréscimo.
2) Investir nesse processo e em tudo quanto dele poderá decorrer precisa ser entendido como questão de vida ou de morte para este país. É como se estivéssemos investindo, em tempos de guerra, nos moldes de uma verdadeira economia de guerra, tal a urgência, tais as conseqüências do fazê-lo ou do deixar de fazê-lo.
3) O contexto geral, no qual se dará a nossa intervenção, é o de um mais que perigoso e crescente vazio cultural, resultado do “milagre” neo-liberal, que, enquanto exclui a grande maioria de suas ilusórias benesses, a estes e aos demais, outro valor não propõe senão a sede insaciável de consumir, provocando na maioria a frustração, a ânsia de desfrutar a qualquer custo, a violência se preciso for, para consegui-lo... e, nos contemplados, a ausência de sentido, o tédio da vida. No seio deste imenso vazio, qualquer onda é bem-vinda, desde que mantenha acesa, em uns, a ilusão de poder chegar lá, ou divirta os demais, por mais algum tempo. A proliferação da droga e do tráfico, com todas as suas funestas conseqüências, tem aí sua explicação. Não precisa ser um profeta de desventuras para prever, com grande grau de probabilidade, para mais algum tempo pela frente, um verdadeiro tsunami juvenil se abatendo incontrolável e implacável sobre o que possa existir de sociedade e civilização. Precisamos chegar, em tempo, se ainda o conseguirmos, e a Educação, a Escola pode ser o único trunfo, se soubermos repensá-la, antes de tudo, escutando o que têm a dizer os próprios jovens.
4) A par da Escola, embora alguns continuem apostando na construção de presídios e prisões, pensamos num amplo mutirão pela Animação Cultural. Para os que, há 15 anos ou mais, militamos por esta proposta, não precisaria muita explicação. Por via das dúvidas, seja-nos permitido tecer algumas considerações. De partida, não se confunda a proposta com mera recreação, no sentido de mais uma diversão ou passa-tempo. Trata-se, na verdade, de algo bem profundo e radical, que poderia, quem sabe, servir de inspiração ao próprio sistema de Ensino-Aprendizagem, à Escola. Disseminar por todos os cantos, por onde uma porta se abra, um espaço se ofereça, uma parceria se disponha, a experiência de mobilizar jovens, em regime de inteira liberdade, a partir de seus gostos e interesses, sugerindo e disponibilizando, pra começo de conversa e como ponto de encontro imediato, as várias modalidades da experiência artística e lúdica, em torno das quais se formariam GRUPOS CULTURAIS de diverso gênero, onde as pessoas vivenciariam a experiência do encontro. Encontrar-se consigo mesmo e com os demais. Sentir-se alguém que tem nome e por ele é chamado, que tem projeto ou poderá construí-lo com os demais... que vai tomando consciência
· do seu próprio valor e dignidade, cultivando a auto-estima;
· do valor e da dignidade dos outros, com quem se convive com espírito de tolerância, solidariedade e colaboração, cultivando o companheirismo;
· do valor e dignidade do seu povo, cujas tradições e costumes passam a ser encarados como “coisa nossa”, cultivando a identidade cultural;
· do valor e dignidade do seu habitat, cultivando o meio ambiente;
· do valor e dignidade do cidadão/ã, cultivando o gosto da participação, da responsabilidade social, do envolvimento nas lutas por direitos, o espírito de cidadania, enfim.
Aproveitar, para esta finalidade, todos os espaços disponíveis, antes de tudo das próprias escolas; otimização de todos esses espaços, como centros propulsores de uma CULTURA DA VIDA E DA PAZ, com possíveis desdobramentos, em termos de formação continuada e/ou formação profissional (tipo, formação artística, formação esportiva, formação sindical, formação política, formação religiosa etc.).
Importante será, a bem de uma experiência com garantia, ao mesmo tempo, de dinamismo e continuidade, superar as limitações, já conhecidas, de um trabalho assumido por jovens estudantes universitários ou do ensino médio, como estagiários, criando-se mecanismos legais ou encontrando-se soluções que permitam os mesmos poderem permanecer por um tempo suficiente à consolidação das experiências.
Importante, também, é perceber o fato de que, ao serem jovens atuando junto a outros jovens, já se caracteriza uma significativa experiência de participação juvenil, de militância até, que dá, inclusive, à formação acadêmica uma dimensão fecunda e rica de realidade, concretude e humanização, que dificilmente um estudante universitário encontraria em outro lugar.
Importantíssimo, pensar e investir na formação específica e continuada deste novo agente social, a quem caberá a urgente e determinante tarefa de animar, isto é, não apenas provocar ânimo, mas, sobretudo, despertar a anima (lat., alma) o ser interior, os sentidos mais profundos da vida, as motivações mais fortes, em prol de uma cultura da vida e da paz, nos moldes acima definidos.
Pra começo de conversa, urge fazer um levantamento de experiências que já concretizem de alguma forma estes sonhos de participação juvenil, e viabilizar a socialização das mesmas, como ponto de partida para a elaboração de um projeto nacional de re-criação da EDUCAÇÃO e de um mutirão nacional de ANIMAÇÃO CULTURAL. Imaginamos um Seminário com este viés.
Pela Gerência de Animação Cultural – GAC, da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer da Prefeitura do Recife,
Reginaldo Veloso, assessor.
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