FONTE http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1405200906.htm
São Paulo, quinta-feira, 14 de maio de 2009
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Família de guerrilheiro se manifesta contra governo
Irmã vê pressão política para ossada não ser identificada
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Inconformada com o rumo da identificação da ossada desenterrada em 1996 na região do Araguaia, a irmã mais velha do guerrilheiro Bergson Gurjão Farias, Tânia Gurjão Farias, 65, afirmou não entender a razão da demora e que acredita haver pressões políticas para que o caso jamais seja esclarecido.Como a Folha mostrou ontem, a perícia encomendada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara concluiu existir a possibilidade de o esqueleto ser de Bergson. Ele integra a lista dos desaparecidos nos combates entre militares e os guerrilheiros rurais enviados ao Araguaia (sudeste do Pará, norte de Goiás, hoje Tocantins, e sul do Maranhão) pelo então clandestino PC do B, nos anos 60 e 70.Administradora de empresa aposentada, Tânia lamentou, em entrevista por telefone de Fortaleza, onde mora, que, passados 13 anos da descoberta dos restos mortais no cemitério de Xambioá (TO), a família não tenha ainda uma resposta."De vez em quando surge a informação de que a ossada pode ser do Bergson. Não consigo entender por que esse povo está demorando tanto para fazer a identificação. Quanto mais demora mais difícil vai ficar."Tânia disse que a esperança de vir a enterrar os restos mortais do irmão vai aos poucos se diluindo. "Morro de pena de minha mãe. Ela [Luiza], que tem 94 anos, quer morrer só depois que resolver essa questão. Ela ainda acha que ele pode chegar a qualquer hora."Há três anos, ela, a mãe e o irmão Jessiner tiveram amostras de sangue coletadas pela Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos da Presidência para exame de DNA. Só há três dias, por telefone, ela recebeu a informação de que o exame dera resultado inconclusivo. Para tornar oficial o reconhecimento, é preciso fazer novo exame de DNA nos restos mortais.Responsável pela contratação do perito Domingos Tocchetto, autor do relatório, o deputado Pompeo de Mattos, ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos, disse que pedirá audiência ao presidente Lula para que sejam retomados os processos de identificação de 11 ossadas recolhidas no Araguaia. "A identificação é mais que viável. Há possibilidade técnica e científica de se identificar a pessoa a quem corresponde o esqueleto e se essa pessoa é o Bergson."A opinião é partilhada pela jornalista Myrian Alves, ex-assessora da Comissão de Direitos Humanos e especialista sobre a guerrilha do Araguaia. Ela disse que ele nem deveria ser tido como desaparecido. "Ele foi enterrado no cemitério de Xambioá diante de testemunhas. Os militares tinham de mostrar às pessoas que guerrilheiros estavam morrendo."
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