domingo, 24 de maio de 2009

Artigo Em respeito à UFPE


FONTE: http://jc3.uol.com.br/jornal/2009/05/24/not_331965.php

Em respeito à UFPE

Publicado em 24.05.2009
Inácio Strieder
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) é o braço do Ministério da Educação (MEC) encarregado de realizar o Enem, o Enade e avaliar as instituições superiores. Para a avaliação de faculdades e universidades, o Inep habilitou alguns milhares de professores, que são designados especificamente para a visita in loco, com a incumbência de colherem os dados necessários, e preencherem formulários, fornecidos pelo Inep, sobre a instituição. As informações colhidas servem de base ao MEC para autorizar novas instituições superiores de ensino, ou novos cursos. Ou então para o credenciamento ou o recredenciamento de instituições e cursos já existentes. As avaliações, geralmente, são realizadas em três dias por dois ou três professores/técnicos, dependendo do tamanho das instituições e dos cursos. O cronograma da visita, normalmente, prevê que os avaliadores, no primeiro dia, visitem as instalações físicas e examinem os documentos da instituição. Quanto às instalações físicas, os relatórios exigem informações bastante detalhadas sobre salas de aula, como luminosidade, arejamento e móveis, sobre gabinetes, salas para professores, biblioteca, laboratórios, acesso ao uso de computadores, banheiros, rampas para deficientes, estacionamento, segurança contra incêndio e segurança para os usuários, principalmente se os cursos são noturnos. O exame dos documentos da instituição deve verificar a legalidade da instituição, a idoneidade da mantenedora, os projetos pedagógicos dos cursos, o projeto de desenvolvimento da própria instituição, as pastas dos professores e dos funcionários, suas habilitações e seus contratos trabalhistas, as avaliações anteriores da instituição. O segundo dia de visita, os avaliadores, geralmente, reservam para dialogar com os estudantes, com os professores, com os técnicos administrativos e com os coordenadores dos cursos e os dirigentes da Instituição. Depois de colhidos todos estes dados, o terceiro dia exige que os avaliadores se recolham para preencher online os formulários do MEC.
Bem, por que estou detalhando a metodologia normal das avaliações do MEC/Inep dos cursos superiores? Isto para que o leitor entenda que uma avaliação de instituição ou curso superior, com tantos dados a serem colhidos e informados, exige tempo e competência dos avaliadores para ser séria e ética. Destas avaliações depende a qualificação e, muitas vezes, a própria continuidade de cursos e faculdades de ensino superior. Tal a importância do que é informado ao MEC pelos avaliadores. Por isto, na prática, se comprova que dois ou três avaliadores, em três dias, somente são capazes de produzir relatórios rigorosos e éticos de cursos e instituições não muito complexas. Assim, imaginem se o MEC/Inep enviasse três professores/técnicos para avaliar a UFPE, em todos os sentidos, em três dias. Será que seriam capazes de produzir um relatório justo, rigoroso e ético? No meu entender, isto seria humanamente impossível. Pois, se espantem ! Entre os dias 18 e 20 de maio o MEC/Inep enviou ao câmpus da UFPE três avaliadores com a incumbência de, em três dias, visitarem todas as instalações do câmpus, de examinarem todos os documentos da UFPE, de falarem com todos os coordenadores de curso, com os estudantes e com os funcionários, e assim produzirem um relatório global sobre a UFPE. Acresce a isto que dois dos avaliadores eram de uma fundação universitária, sem experiência nenhuma da complexidade de uma Universidade Federal do porte da UFPE. Eles mesmos reconheceram que a sua tarefa era muito complicada. Diante desta constatação, se tivessem suficiente sensibilidade ética, deveriam ter informado ao MEC que seria impossível produzir um relatório justo e ético sobre a 10ª maior e melhor universidade do Brasil em três dias. Admira-me também que as autoridades da UFPE fossem tão passivas, admitindo uma avaliação, necessariamente superficial, imposta pelo MEC. Desde já deveriam comunicar ao MEC que não reconhecerão o resultado desta avaliação, pois a UFPE merece mais respeito por parte do MEC/Inep.
» Inácio Strieder é professor de ética no Departamento de Filosofia da UFPE

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