FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1506200903.htm
São Paulo, segunda-feira, 15 de junho de 2009
FERNANDO DE BARROS E SILVA
USP, polícia e demagogia
SÃO PAULO - "Não se deve caluniar abstratamente a polícia". É conhecida a resposta do filósofo Theodor Adorno à reprovação que lhe fazia, dos EUA, Herbert Marcuse pelo fato de ter recorrido à força policial para barrar estudantes que tinham invadido o Instituto de Pesquisa Social, em Frankfurt, no início de 1969. A polícia, escreve Adorno numa das célebres cartas ao amigo, "tratou os estudantes de maneira incomparavelmente mais tolerante do que estes a mim".A USP não é a Escola de Frankfurt, 2009 não é 1969 e Suely Vilela não é... bem, a reitora já disse ser adepta dos livros de autoajuda. Alguém dirá, além disso, que há razões nada abstratas para criticar a ação da polícia no campus, o despreparo para lidar com situações deste tipo entre elas.Sim, ninguém pode de boa-fé desejar a universidade ocupada. Sim, a reitora é uma figura lamentável, e sua gestão, ruinosa. Mas quando os "progressistas" da USP vão ter coragem intelectual para criticar também o comportamento autoritário de uma minoria de funcionários grevistas que intimidam colegas e querem impor ao conjunto da universidade o que há de pior e mais privado no espírito corporativo?Quando dirão que luta social e vandalização de patrimônio público não são nem devem ser sinônimos? Quando chamarão pelo nome o "fascismo de esquerda" de grupelhos pautados por estupidez teórica e desprezo sistemático pelos direitos dos outros?Coube ao professor Dalmo Dallari, um veterano das causas democráticas, a intervenção mais lúcida, honesta e destemida a respeito do imbróglio uspiano. Em entrevista à Folha, na sexta, ele diz coisas como: a polícia que cumpre uma ordem judicial para proteger o bem público não é a polícia da ditadura; a pauta dos grevistas é desconexa e seus métodos são intoleráveis; a reitora é fraca, mas sua destituição agora desmoralizaria a instituição.Eis, para os que não querem ficar presos a clichês mal digeridos da cultura meia-oito, um bom ponto de partida para o debate.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário