FONTE: http://jc3.uol.com.br/jornal/2009/06/04/not_333340.php
Publicado em 04.06.2009
Clube de Engenharia do Estado
Jaime Gusmão Filho
O elogio honesto de nossos antepassados nos confirma a alegria de estar no mundo de pessoas úteis. Temos o exemplo de homens que fundaram o Clube de Engenharia de Pernambuco, como personalidades capazes de romper o conformismo e as limitações do meio, e criar novas instituições, novas obras, novos comportamentos intelectuais.
Somos herdeiros deste patrimônio. A maneira séria de honrar a tradição é um exame crítico, inteligente e desapaixonado de nossas heranças, que pode mostrar o que está vivo e o que constitui coisa morta.
De nada valem os conservadores que não plantam sementes, nem mantêm um diálogo, vivo e aberto, com as exigências novas de um momento e de um mundo em mutação. Também de nada valem os inovadores, os futuristas, os destruidores, que fantasiam o mundo sem tradição e sem passado. Os fanáticos conservadores e mudancistas esquecem-se de que as verdadeiras revoluções conservam e se lastreiam na cultura, pois esta representa o somatório de forças, capaz de impor mudanças.
Só as verdadeiras tradições são capazes de perene renovação. Onde a civilização não foi desculpa para o aniquilamento e a destruição, as instituições tiram a sua força da riqueza do seu passado e o cultivam com o ritual das coisas sagradas.
O Clube de Engenharia de Pernambuco é uma instituição que comemora hoje 90 anos de fundação. Ele se fez pelo desprendimento, pelo saber e pela coragem de muitas gerações. Não há acontecimento social e cultural no século passado que não esteja, de alguma forma, permeado pela influência da tecnologia. O Clube de Engenharia é o porta-voz da sociedade, que fala pelos engenheiros. Nunca está ausente de algum fato novo que peça o seu apoio. Sempre defende o interesse social ameaçado. Por isso, os engenheiros desta geração sempre tiveram a sua trincheira de lutas e ideias, no que diz respeito ao espaço público. Cumpre honrar este Clube, homenageá-lo, ajudá-lo a continuar com a mesma dignidade com que foi fundado.
Hoje o País está mudando, na emergência de um novo patamar de desenvolvimento. Temos influência como engenheiros nestes acontecimentos. O País precisa de nós para defendê-lo de interesses de grupos e, frequentemente, alheios de responsabilidade. Não podemos deixar morrer o que foi tão útil a Pernambuco e ao Brasil.
Cumpre honrar esta tradição na construção do futuro. Para isso é essencial que o futuro de todos seja obra de todos. Que a vida possa um dia ser vida, e para todos. Esta é a engenharia do futuro: a difícil engenharia do novo mundo. Quando então o engenheiro não estará pensando e sim fazendo o mundo justo, como dizia o poeta João Cabral de Melo Neto: “Mundo que nenhum véu encobre”. Quando, talvez, possamos dar razão a outro poeta, Fernando Pessoa: “O binômio de Newton é tão belo quanto à Vênus de Milo”.
» Jaime Gusmão Filho é engenheiro e professor emérito da UFPE
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