quarta-feira, 6 de maio de 2009

Artigo Caminhos e desafios do movimento estudantil. Polêmica com Vinicius Almeida (por Armando G. C. Barbosa)

FONTE: LISTA DE E-MAILS


Caminhos e desafios do movimento estudantil. Polêmica com Vinicius Almeida.
Armando G. C. Barbosa

É necessário dizer que é um prazer travar essa discussão com a esquerda combativa sobre os rumos do movimento estudantil, principalmente em um momento de crise da economia capitalista. Desde o principio é preciso destacar que a polêmica entre a oposição da UNE e os que desejam construir uma nova entidade existe, mas em momento nenhum deve servir como parâmetro para destruir, ou dificultar a unidade da esquerda contra o governismo e os setores reacionários. Mas infelizmente isso acaba servindo de desculpa para justificar uma linha ora sectária, ora oportunista de ambos os lados. Ao tentar afastar ao máximo possível o texto da consigna e do desvio do sectarismo, sem recorrer ao oportunismo transformou o texto em mais do que uma simples polêmica tática sobre o movimento estudantil. Assim não é somente a polêmica em torno de estar ou não na UNE que se trata mais de como superar um problema geral, que chamamos de “crise de direção”.
A crise do capitalismo e suas conseqüências para a luta socialista.
A crise atingiu o centro do capitalismo e se espalhou para a América Latina e para o mundo. A crise trouxe consigo o que é clássico das crises capitalistas, demissões e perdas de salários para os trabalhadores como forma da burguesia manter seus lucros. Apesar de hoje ser negado por amplos setores da esquerda, mas a classe operária continua sendo o segmento da classe trabalhadora fundamental para o capitalismo e para a revolução socialista. A crise do capitalismo deixa claro mais uma vez quem produz valor nessa sociedade, e quem são os primeiros a pagarem pelas crises para manter as taxas de lucro, negar isso é negar a essência do capitalismo e buscar um caminho mais curto para o reformismo oportunista.
A crise capitalista fixou no centro imperialista um lema de mudanças, a eleição do presidente Barack Obama representa bem essa “fome” de mudanças. Os eleitores americanos foram chamados pelo sentimento da mudança através do lema “Yes! We Can Change”, mas de fato sabemos que o imperialismo continuou o imperialismo sanguinário e sádico de sempre. A vitória de Obama só mostra que a burguesia ainda tem como usar alguns recursos para existir enquanto classe, enganado os trabalhadores através dessa ideologia de que as coisas mudariam a partir da eleição de um novo presidente.
Não é muito diferente na América Latina e nos demais países periféricos, os trabalhadores clamam sim por mudanças nas suas vidas, principalmente mudanças econômicas, mas sem observar que sem uma política de destruição do Estado burguês, qualquer presidente, na verdade, vai apenas administrar o Estado burguês para deixar a burguesia continuar a existir enquanto classe, mesmo enfraquecida.
No Brasil a crise não só deixou claro o caráter burguês do governo Lula, sendo “o cara” do imperialismo, e achando “chique” emprestar dinheiro para o FMI, como ao mesmo tempo abriu para que a direita pudesse se fortalecer em um processo eleitoral de 2010, mesmo existindo aqueles setores conseqüentes dentro do PT que defendem a unidade com o PSDB (sim, esses setores são conseqüentes com o projeto burguês do PT). Como Lula agradou a burguesia internacional, a Globo ficou feliz, e outros veículos de comunicação burgueses, e mostraram a figura de um Lula que fez o Brasil aparecer bem para os Estados Unidos. Infelizmente esses ainda são os formadores de opinião de massas no Brasil.
A classe trabalhadora e o povo estão ainda sob o julgo econômico, político e ideológico da burguesia. Nesse sentido iremos apenas nos ater a perceber que na superestrutura da sociedade capitalista brasileira, o papel desempenho pelas entidades de massas, instrumentos históricos, como CUT e UNE, estão a serviço da burguesia e não trava lutas, não porque não há necessidade da base, mas porque não tem direção que aponte as lutas. Construir uma nova direção e testá-la na luta é fundamental, aqui a esquerda da UNE e os defensores de se romper com ela, tem em comum, a formação de uma direção de luta para o movimento estudantil.
Caracterizar a direção da UNE é o primeiro passo para ter uma política frente a ela. Ao ver o documento de titulo: “Pra onde vai a oposição da UNE” pude ver que o olhar para a caracterização da realidade é extremamente pragmática, a tal ponto de deixar a dialética de lado. Somos marxistas, o pragmatismo não faz parte do nosso método, porque olhamos não a realidade como fenômeno, mas a realidade quanto processo global e geral, dinâmico e dialético.
Uma “tomografia” do movimento estudantil.
O companheiro Vinicius inicia o debate indo direto a caracterização da direção da UNE: “concordamos que a UNE hoje não pode cumprir um papel de aliado dos defensores dos direitos do povo na crise econômica” temos um acordo de que a UNE não serve para a luta e não serve como aliado. Mas o companheiro não deixa claro se ao caracterizar a UNE ela é adversário de classe ou inimigo de classe, na verdade fica em aberto tal caracterização. Pois ao identificar que a UNE apóia esse governo e o governo na burguesia internacional e nacional, a questão central que não foi levantada é: em outro governo, da direita clássica, o papel da UJS e da UNE vai mudar? Por que ao responder isso deixaremos claro qual a nossa posição sobre a UNE na luta de classes. Acredito que a UNE esteja ao lado do Estado Burguês servindo como quinta coluna da burguesia no movimento estudantil, servindo como o “bate e assopra” na burguesia.
A UJS e o PT são dois organismos de quimera, cara e discurso de esquerda, com a prática da direita, isso define a burocratização dessa entidade. O nível de burocracia após o governo Lula é tamanho, que impede que a luta seja travada de forma conseqüente frente a um governo da direita. Assim como a direita vai precisar da UNE para manter a paralisia do movimento estudantil. A UNE, portanto, está no outro campo da luta de classes, é por esse motivo que devemos estar fora dela.
Mas o companheiro trata toda a dinâmica do movimento estudantil de maneira pragmática e impressionista. É impossível substituir hoje a maioria absoluta da UNE, sim é verdade. Mas a minoria que estará reunida em uma entidade alternativa defenderá qual projeto na base de suas universidades? O projeto do imobilismo ou um projeto de luta em defesa da universidade publica? Trata-se sim companheiro de uma entidade onde estará reunida a vanguarda da luta contra o governismo e contra o projeto neoliberal, mas isso não pode nos desesperar, não desesperou a UNE nos anos 30, nem durante a ditadura, porque nos causaria horror? O fato de não sermos inicialmente uma entidade com tanto lastro que a UNE não significa que não podemos fazer, e sim que devemos disputar na base com a UNE, não uma disputa meramente de quem representa o que; mas um projeto estratégico de universidade e educação. Daí que a proposta de criação de uma nova entidade é por si só um projeto de longo prazo. Não para superar a UNE numericamente, mas para fixar na sociedade brasileira uma concepção de educação e universidade, trata-se de uma disputa de hegemonia, estratégica rumo ao socialismo, não ter esse horizonte é negar, ou esquecer, a revolução.
Penso que para isso é necessário termos as estatísticas, ou as previsões numéricas. Os números não mentem as interpretações desses números, sim. Ao relacionar a questão do crescimento do ensino privado em relação ao público e a participação da UNE, de estudantes ligados a IES privadas, parece um tanto mecânico a interpretação do camarada. Primeiro: não podemos colocar a culpa do imobilismo da UNE nos estudantes que apóiam o governo, essa é a típica desculpa dos reformistas e mentirosos, como a Juventude Revolução - PT, governista até o último fio de cabelo da cabeça e diz que é porque tem que se estar do lado dos estudantes. Isso é um grave erro. As massas como já foi dito, anteriormente, estão sob o julgo econômico, político e ideológico da burguesia. Sofrem influência do que existe de mais podre e mentiroso da imprensa brasileira, e qual é o papel da UNE frente disso? Abandonar seu papel de dirigente e fraudar as eleições de delegados, ou participar mais e mais do dia- dia desses estudantes para apontá-los que a saída é a luta? Mas é da primeira forma que a UJS trata, e vai tratar mesmo após 2010.
O companheiro tenta colocar a responsabilidade de construir uma nova entidade sobre as massas, nós entendemos diferente. Se há uma despolitização dos jovens brasileiros, quem deveria combater isso, por acaso, não é a própria UNE? Ou o companheiro compreende que a UNE está de auxiliar no projeto burguês para a juventude ou então sempre ela será encarada como a vítima da despolitização dos estudantes, e não como colaboradora do problema. É preciso que a vanguarda da luta do movimento estudantil possa estar preparada para, se houver, quando houver, um deslocamento das massas para fora da UNE, estejamos preparados para dar uma resposta aos descontentes. E esse “deslocamento” não acontece nos CONUNEs acontece no dia a dia dos estudantes. A disputa da direção da UNE acabou há anos atrás. A esquerda cada vez é menor e sem influencia nas resoluções, mas assim o é na luta concreta nas universidades? Onde está a distorção da realidade? No CONUNE ou na luta?
Outro “pequeno” detalhe que acontece na realidade é a forma como a luta vem sendo tratada. De 2003 e 2005 os principais organizadores das lutas dos estudantes foram suas executivas de cursos, algumas inclusive romperam com a UNE nesses anos. O FENEX articulou muitas lutas, mas seu caráter de consenso com os governistas acabava por imobilizar muitas vezes a discussão. Depois desses anos outras tentativas de se ter um instrumento que pudesse organizar as lutas foram tentados, não só a FOE, mas também a Frente Nacional de Luta Contra a Reforma Universitária. O que é bom de ver: TODAS POR FORA DA UNE. Nenhumas dessas organizações dependiam seu funcionamento dos fóruns da UNE, eram fóruns do movimento real.
Atualmente que segura a ruptura dos estudantes que presenciaram lutas contra o governismo nas universidades, é na verdade a Oposição de Esquerda da UNE. Os companheiros, infelizmente, têm que cumprir o papel de quinta coluna da UJS no movimento. Os mais enfáticos defensores da UJS estão na Esquerda da UNE. Compreendemos isso, mas é preciso dizer o porquê das coisas. É importante para as organizações as vantagens econômicas que a executiva da UNE garantem aos seus membros, passagens aéreas e rodoviárias, hospedagem, etc. são vantagens econômicas importantes, inclusive para a construção da luta, não negamos nem dizemos que a esquerda da UNE se beneficia como a UJS se beneficia do dinheiro público e das emissões de carteirinhas. Mas não significa que a oposição também não utilize. E deixar isso pode se difícil para alguns setores, que “gostam” da “boa vida” da UNE. E o convite que fazemos é um convite para construir uma entidade que não dê privilégios, ou vantagens, e isso pode parecer difícil para certas correntes, o que é lamentável, mas se não falarmos estaremos sendo omissos no debate.
Conclusões e um Convite
Não estamos na UNE por ter clareza que a sua direção é incapaz de retorna as luta, a UNE não é dependente do governo Lula é dependente do Estado Brasileiro, mesmo um governo petista ou tucano a UNE ficará contra os estudantes, sua direção está falida, assim como a sua organização. Responsabilizar os estudantes que estão dentro do campo do lulismo, apóiam o governo, queremos lembrar ao companheiro que FHC foi reeleito em 2008 também com o voto dos estudantes, e frente a isso a UNE ficou parada, pelo contrário, o CONEB de Viçosa foi a última esperança da esquerda contra a burocracia da UJS. Estamos fora da UNE porque sua direção não faz nada, porque não tem interesse em fazê-lo, de colocar os estudantes das universidades particulares na luta, e não por uma questão aritmética, simplesmente. A fórmula a ser adota para analisar esses dados é uma formula algébrica, com variáveis históricas que podem não ser mensuradas pelas estatísticas.
Criar uma entidade que impeça que os estudantes participem dos fóruns que eles acharem necessários, é construir um feudo e não uma entidade das lutas. A experiência dos estudantes ainda não se esgotou com a UNE, graças em muito aos próprios companheiros da Oposição de Esquerda, que ao defenderem a UNE, o fazem garantindo a legitimidade da UJS na direção, e trata-se do oposto, combater essa direção na base, a partir da luta política, desmascará-la na luta, e não acobertá-la!
Nesse momento devemos construir uma alternativa de luta, mas que possa organizar os estudantes em torno de seus fóruns e de suas disputas legitimas, politizadas e com possibilidade de construir uma unidade forte em torno de um programa para mudar, verdadeiramente, o Brasil e colocar os estudantes novamente em movimento, disputar com a UNE não seu aparato, mas sua legitimidade quanto entidade dos estudantes, devemos mostrar que essa entidade não é mais deles e sim da burocracia. Dizer ao contrário é enganá-los.
Por isso reforçamos o convite de debater com os companheiros a construção de uma nova entidade de maneira democrática e legitima. Construir uma nova entidade estudantil, nadando contra a maré não é loucura é o dever dos revolucionários hoje. Combater a burocracia que domina o movimento estudantil, nas entidades e na prática, é a única chance que temos para mudar os rumos do movimento estudantil. Com certeza companheiros outros maios virão, haverá um momento de lutas em que os estudantes iram se levantar, e de que lado os companheiros estarão? Salvando a burocracia de ser destruída ou somando-se as lutas reais? Acredito que nas lutas, mas para isso é preciso construir as condições, somos agentes históricos também companheiros e não apenas a vermos passar. O bonde da história da UNE passou e hoje vem de ré! É preciso ir em frente.
PARA ONDE VAI A ESQUERDA DA UNE
Vinicius Almeida
[i]
Em tempos de crise econômica no capitalismo, tudo é pior. Contudo, trata-se de um período que há maior capacidade de consciência para as massas. Essa possibilidade somente existe diante de um bom diálogo, capaz de abri-lhes os olhos para o que sempre esteve lá: a exploração do homem e da natureza pelo homem, que fez com que chegássemos a esse poço sem fundo.
No Brasil a crise causa milhares de desempregos. O sentimento de indignação da população cresce. Os trabalhadores que já algum tempo são organizados na defesa de seus direitos pautam hoje uma alternativa nacional de grande porte: a nova central. Com isso, será possível fazer com que paguem pela crise os causadores dela.
No movimento estudantil o quadro é difuso. Apesar de um grande setor de jovens universitários estarem cientes dos ataques ao povo com o aprofundamento da crise, as respostas de como o estudante pode fortalecer a resistência a esses ataques ainda não está clara. Mesmo sabendo que lutar é importante, é preciso saber como.

RAIO-X DO MOVIMENTO ESTUDANTIL

Começamos a discussão indo direto ao ponto. Somos contra a formação de uma nova entidade alternativa a UNE. Mas concordamos que a UNE hoje não pode cumprir um papel de aliado dos defensores dos direitos do povo na crise econômica. Seu comprometimento com o governo federal é tamanho que isso é inviável. E o comprometimento do governo com as elites brasileiras e internacional leva a essa adesão da UNE significar uma rejeição de solidariedade dos mesmos aos trabalhadores, miseráveis, jovens e estudantes.
Bom, se a UNE não é capaz de dar conta da principal tarefa dos estudantes para nós nesse momento, para que a UNE serve? Porque depositar energias na “disputa” da UNE, se é que ela é possível? Por que não construir outra representação que cumpra o papel que deveria a UNE cumprir nesse momento e posteriormente a ele?
A resposta é simples: isso não é possível! Se a discussão que fazemos passa por organizamos uma alternativa para AGORA, devemos reconhecer que nada que os setores do movimento (que chamarei de setores combativos) façam vai ser capaz de substituir no curto prazo a expressão social da UNE, infelizmente.
Então, sendo bem realista, qualquer alternativa que possamos almejar à UNE, qualquer possibilidade de um dia termos para a sociedade o apoio maciço dos estudantes em lutas que disputam a sociedade, como em nossa história tivemos inúmeras vezes, depende de um projeto de longo prazo que deve percorrer um longo caminho.
Vejamos outro elemento para o debate. Será que a maioria dos estudantes hoje apóia a direção majoritária da UNE? SIM. A adesão ao governo Lula é um reflexo da opinião dos jovens brasileiros que, assim como todos os outros setores, contribuem para um índice gigantesco de aprovação do mesmo.
Além disso, a correlação de forças da UNE reflete bastante a expressão dos estudantes nas universidades, inclusive reproduzindo as diferenças de opinião entre os de universidades públicas e pagas. Prova disso é a presença muito superior de militantes dos grupos governistas (UJS, Kizomba, Mudança, MR8, etc.) nas universidades pagas do que de grupos não governistas ou combativos (PSTU, Oposição de Esquerda da UNE). Nas públicas, a maioria se inverte, porém não de forma proporcional.
Considerando que existem 80% de estudantes universitários matriculados nas escolas pagas e 20% em escolas públicas, constatar que a maioria esmagadora das pagas está sob influência dos governistas é, automaticamente, admitir que a maioria dos estudantes também esteja com o mesmo setor.
Porém, o maior setor entre os estudantes, apesar de aderir ao governo Lula, são aqueles que o fazem por uma indiferença com relação à política e identifica em Lula “dos males o menor”. Isso também tem reflexo direto na UNE, que concentra nos seus fóruns mais amplos, como o CONUNE, a maioria de pessoas pouco ou nada esclarecidas das verdadeiras opiniões expressas em teses.
Muitas das afirmações feitas por aqui poderiam ser polêmicas, já que tantas são as diferenças das alternativas propostas pelos diversos grupos ao movimento estudantil. No entanto, raros são os militantes a contrariar que: 1) as pagas são de domínio majoritário dos governistas; 2) a proporção entre públicas e pagas é de 80% a 20% (alguns dados mostram um pouco mais ou um pouco menos, o que não interfere na nossa análise); 3) o Governo Lula tem um altíssimo índice de aprovação; 4) existe uma grande despolitização entre os jovens e estudantes.
A única afirmação contestável na verdade é referente ao domínio dos setores combativos nas universidades públicas. Com relação a isso, é importante ressaltar que as aferições a favor dos “combativos” se percebem pelos próprios fóruns da UNE, como o CONEG de 2008 e 2009 cuja maioria das entidades de DCEs de universidades públicas era posicionada no campo de oposição de esquerda. No CONEG em especial de 2008 foi realizado a revelia da direção majoritária da UNE a plenária de públicas, que construiu uma resolução dessas universidades (17 DCEs) contra o REUNI, principal política do governo federal para as IFES dos últimos anos.
Para reforçar, a grande maioria das universidades federais e estaduais do Brasil passou nos últimos dois anos por processos de intensa mobilização e quase nenhuma delas era organizada ou liderada por grupos governistas. No máximo os governistas eram coadjuvantes indesejados, como na ocupação da UnB, em 2008, que derrubou o reitor Timothy.
Outra dúvida, bem maior, é saber se o movimento estudantil combativo está majoritariamente a serviço de que proposta: dentro ou fora da UNE? Mesmo que exista uma resposta, ela não satisfaz nossas preocupações maiores, que são o início de nosso debate: Como vamos trazer os estudantes para a luta? Como vamos resistir aos ataques que a crise fará ao povo, jovens e estudantes? Como vamos transformar o movimento estudantil em algo mais atraente, e assim forte? Sem dúvida não é impondo uma opinião sobre a UNE àqueles que querem lutar e não concordam com a sua saída ou sua permanência.
Sem cessar a nossa última dúvida sobre o peso das forças do movimento combativo, sabemos que existe um grande setor, reconhecido como Oposição de Esquerda da UNE (antiga FOE) e outro setor, organizador do Congresso Nacional dos Estudantes (CNE ou CONE). Ainda temos setores que são defensores dos dois setores. Nenhum desses grupos pode ser desprezado por um processo de unidade contra o governo Lula e pela construção de um movimento estudantil independente de governos e reitorias. Nesse sentido, apostar na disputa dos estudantes entre aqueles que estão na UNE ou construindo o CONE vai à contramão do que acreditamos serem os maiores desafios do movimento estudantil hoje.


ALTERNATIVAS AO GOVERNISMO

O governismo da UNE deve ser combatido em seus fóruns e fora deles. Só assim é possível hoje a construção unitária dos diversos grupos e estudantes combativos. Isso não obriga nenhum grupo abandonar sua tática de disputa da UNE ou de construção do CONE, mas sim de que os mesmos pautem, com mais centralidade, a construção de espaços e pontes entre essas duas diferenças táticas.
O que acreditamos ser essa iniciativa são uma agenda de lutas unificada e um encontro de estudantes promovido pelos grupos, entidades e estudantes partidários das diversas táticas de organização dos lutadores no ME. O mais importante dessa iniciativa é a retomada de um espaço unitário como foi a Frente de Luta contra a Reforma Universitária, e menos pontual que a mesma, pois serviria não somente a “luta contra a Reforma Universitária”, mas também ações como a intervenção na Conferência Nacional de Educação, nas diversas bandeiras tanto de educação quanto de outros temas, como a luta em defesa da Meia-Entrada irrestrita.

A NOVA OPOSIÇÃO DE ESQUERDA DA UNE

Podemos considerar que a partir do Seminário Crise e Resistência, ocorrido no dia 20 de março, tivemos uma retomada formal da atuação conjunta dos setores de oposição de esquerda da UNE, antes organizados na FOE (Frente de Oposição de Esquerda). Desse modo, a partir de um debate com temática central a crise econômica fomos testemunhas de um retorno de uma oposição unificada.
Na experiência anterior, a FOE, a unidade contra o governismo (e o divisionismo) foi gerada. Dessa vez, de forma acertada, a questão do divisionismo não foi pautada de forma auto-proclamató ria, isto é, sem levar em consideração nossa dose de “culpa no cartório” da divisão entre a esquerda do ME. O foco está na luta, e na luta em especial contra a crise econômica, unido a trabalhadores e movimentos sociais.
Por isso mesmo, a questão da unidade para fora da UNE é fundamental nessa nova Oposição de Esquerda, pois seu maior interesse está em unir todos contra os governos conservadores e as elites. Dessa forma, em último plano está se quem está conosco participa da UNE ou do CNE.
Mais do que apenas sermos uma Oposição para nós mesmos, devemos ser uma Oposição para o máximo de estudantes e agitarmos a nossa política para o máximo de espaços o possível. Para isso pautamos junto com uma política e um entendimento, uma proposta de ação de curto, médio e longo prazo, em que nosso empenho pode e deve resultar na consolidação da visão geral que implica na unidade dos setores combativos como princípio de nossa atuação para os próximos anos.

O PLANO DE AÇÃO DA OPOSIÇÃO

Estamos há três meses do Congresso Nacional da UNE. Esse processo consiste numa tiragem de delegad@s eleitos por universidades na proporção de 1 delegad@ a cada 1000 estudantes. O último CONUNE credenciou cerca de 4000 delegados e tinha mais de 8000 estudantes no total. No mesmo período, dessa vez, ainda estará ocorrendo o CNE, Congresso Nacional dos Estudantes, cuja participação não está ainda definida, mas não deve ser menor do que 1000 estudantes, dentre delegados e observadores. Sem dúvida, este será o período de maior mobilização política de estudantes universitários no país em muitos anos.
Toda construção política, seja em partido, coletivo, campos, frentes ou uma articulação ampla, deve ser pautada por uma política de comunicação que garanta sua disseminação real. Até o momento, a política de comunicação da Oposição de Esquerda se resume a troca de informes internas dos coletivos políticos internos a ela. Como podemos ver, a atual conjuntura exige coragem e algo de maior porte para dar conta de seus desafios. Não devemos pensar somente em construir algo para morrer após o Congresso da UNE, devemos preparar nossa política, como fazemos em eleições do DCE, para o que será de nossa próxima gestão, mesmo sabendo que seremos novamente Oposição. Os militantes nas universidades devem ter papel protagonista e mecanismos de participação dos mesmos devem ser construídos como plenárias locais e nacionais, debates em lista, blogs, e outras formas de mídia que alcancem uma abrangência de nossas idéias maiores.
A nova oposição de esquerda da UNE, que surge pautada na unidade com o povo contra a crise econômica, deve aproveitar esse momento para mostrar ao máximo de estudantes sua construção política e, assim, fortalecer suas propostas. Portanto, devemos lançar um jornal, como início dessa política de comunicação, organizado por uma comissão definida pela reunião nacional da oposição de esquerda da UNE. Com esse jornal, devemos consolidar no Brasil inteiro uma Oposição unida contra os campos governistas, e apta a disputar os rumos da entidade, com propostas para uma nova UNE.
Fora isso, devemos estar à frente das mobilizações que defendam direitos dos estudantes, como a luta pela redução das mensalidades nas instituições privadas e a luta pela meia-entrada irrestrita. Somente com lutas concretas poderemos aprofundar nossas relações políticas e dizer que, mais do que nunca, temos uma Oposição de Esquerda Unida e combativa contra os ataques a educação e defesa dela como um direito e não mercadoria. Armando Barbosa Por que somar se a gente pode dividir?
http://saidapelaesq uerda.blogspot. com

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