FERNANDES, Florestan. Universidade Brasileira: reforma ou revolução? São Paulo: Alfa-Omega, 1975.
Prefácio à 2ª edição, F.F., São Paulo, 20 de julho de 1978.
VII
- Este livro(..) produto de conferências realizadas pelo autor no contexto da discussão das reformas de base ou "reformas de estrutura", nos anos de 1967 e 1968.
- ... tentativa de recuperação de espaço político pelas forças que lutavam contra o regime ditatorial.
VIII
- ... o interesse pelo assunto continua vivo e estudantes ou professores voltam a mobilizar-se em defesa da criação da Universidade Nova, pela qual lutaram em vão.
IX
- ... os vários ensaios reúnem uma contribuição positiva para o estado da escola superior tradicional, da universidade conglomerada e da passagem necessária a uma universidade nova...
Prefácio da 1ª edição
XIII
-... à necessidade de continuar a luta com a nação conservadora.
- ... as minhas experiências pessoais e a minha lealdade ao socialismo me ensinariam a não aceitar na apregoada "fé reformista...
- Não confio, de maneira alguma, na capacidade de atuação social inovadora do poder conservador.
XIV
- É o conservador que aceita as vantagens do conservantismo sem pagar seus ônus morais...
XV
- Não é fácil responder-se às exigências intelectuais e morais da responsabilidade científica de uma cena histórica tão estreita e intolerante.
- Se me colocasse diante dos nossos problemas educacionais e dos nossos dilemas culturais em termos de minhas convicções, só recomendaria uma saída, que éa fornecida pelo socialismo.
- ... nunca fui chamado para falar como socialista e em nome do socialismo.Feliz ou infelizmente para mim, o que querem ouvir são as opiniões que possa sustentar como sociólogo e tendo em vista explicações e tipos de intervenções compreensíveis ou aceitáveis à luz do horizonte intelectual médio. Como dizem os estudantes e os intelectuais " esquerdistas"ou "nacionalistas": querem que eu ajude a "conscientizar os problemas".
- ... compreendo bem que a responsabilidade científica nos obriga a aceitar esse papel social imprevisto, que nos transforma em meros propagadores de técnicas modernas, algumas paracientíficas ou científicas, de consciência social.
XVI
- A inércia cultural, o isolamento das massas e a apatia política forjam a sua continuidade (do pensamento e o comportamento conservadores), sob diferentes roupagens e como uma espécie de fatalidade, pois acabam engendrando o único poder capaz de manifestar-se, de atuar, e de "resolver problemas". Não há como combatê-los e destruí-los sem um esclarecimento prévio dos espíritos, dos que são potencialmente inconformistas e dos que apenas contam como os "condenadores do sistema", mas não sabem como identificar e extinguir a espoliação dos que sofrem de maneira cruel e permanente.
XVII
- ... um povo tem o direito de buscar maior segurança e felicidade sem romper todas as barreiras que separam a vida da morte.
XVIII
- Foi um ano e pico de intenso desgaste pessoal, com limitadas compensações para a revalorização da sociologia, praticamente congelada pelo irracionalismo das pressões ou das incompreensões reacionárias...
- O subdesenvolvimento jamais será combatido sem uma alteração de atitudes e comportamentos que atinjam a todo o povo.
- ...largamos os jovens, estudantes, operários ou intelectuais, uma sobrecarga desumana. Eles se arriscam sozinhos na 1ª linha de combate, como se a sociedade nacional não possuísse outros agentes válidos de defesa de seus interesses centrais e dos seus valores coletivos. Caem vitimados pela incompreensão, pela difamação ou por castigos que chegam à eliminação física.
XXI
- No fundo, a sociedade não encontra, dentro de si mesma, condições para proteger e para incentivar as inovações urgentemente necessárias.
XXIII
- ... os debates não eram marginais, mas possuíam intenções políticas que escapavam aos meus propósitos de situar os problemas e os dilemas no plano imediato das soluções possíveis. Eu não quis escapar às identificações ideológicas e aos facciosismos políticos.
XXIV
- A reforma universitária não é um meio para atingir outros fins. Ela constitui um movimento educacional, cultural e político para erigir no Brasil a universidade plurifuncional de nossa época.
P. 29
- A Universidade enfrenta, no momento, a pior crise com que já defrontou durante sua curta formação no Brasil.
- Três ameaças principais pairam sobre ela e sobre a natureza de sua contribuição educacional. 1º, pretende-se submetê-la a uma tutela cega e inflexível. 2º, o radicalismo intelectual é focalizado como um mal em si mesmo e como um perigo para a sociedade. 3º, de uma forma ou de outra, os professores vêm-se diante de um novo dilema: fortalece-se dia-a-dia a aspiração de isolar-se o jovem do fluxo e reconstrução da sociedade.
P. 32
- Nenhum país poderá possuir ciência e tecnologia moderna, por exemplo, sem formar antes cientistas e técnicos.
P. 33
- ... o destino do homem passa a depender de sua capacidade de criar controles novos, de explorá-los e, assim, expandir os limites de poder conferidos pela herança social recebida.
P. 34
- 1º parágrafo( Sobre o Jovem Brasileiro).
- A subversão, se existe, não está só dentro do jovem; ela parte do exterior, de uma sociedade que se renova e exige um novo tipo de juventude.
- O extremo radicalismo do jovem brasileiro parece ser, visto sociologicamente, um produto histórico de sua situação de existência. O desafio não parte da supressão ou da contenção desse radicalismo. Mas de seu aproveitamento útil e normal pela sociedade.
P. 39
- ... o ensino superior continua a caracterizar-se por sua natureza ultraelitista, que não pode ser corrigida por países de mágica e a curto prazo.
P. 46
- Direito, Engenharia e Medicina (as três "escolas tradicionais", que possuem maior importância para a formação de profissionais liberais) concorrem sozinhos (...) com mais de 45% do total ( das matrículas) e (...) com 34% do total ( de conclusões) de curso).
- Os dados indicam, portanto, que o ensino superior sofre uma espécie de estrangulamento, ocasionado e mantido pela influência que os interesses associados às profissões liberais exercem em sua organização e na orientação da procura.
P. 48
- Os dados apresentados indicam que o Brasil enfrenta vários problemas graves em relação à organização, expansão e aproveitamento do ensino superior.
- Em virtude da predominância dos interesses econômicos, sociais e políticos de elites culturais, ralas e egoístas, o ensino superior foi praticamente confinado à função de preparar profissionais liberais.
P. 50
- Em 23 anos, isto é, de 1942 a 1965, o ensino primário aumentou quase 3 vezes, o ensino médio aumentou 8 vezes e o ensino superio aumentou 8 vezes e o ensino superio aumentou mais de 8,5 vezes(...) a essa evolução quantitativa não correspondem transformações substanciais na esfera política educacional.
P. 51
- ... praticamente não se fez outra coisa senão expandir o tipo de escola superior herdado do passado.
P. 55
- Os modelos institucionais importados foram submetidos a um permanente processo de erosão, de esvaziamento e de utilização unilateral, que acabou produzindo um tipo de escola superior ultra-deficiente e irrecuperável.
P. 56
- ... uma escola altamente hierarquizada, rígida e exclusivista, que transformava o saber em símbolo de distância social, a atividade educacional em fonte de poder e os professores em agentes pessoais do controle gerontocrático das gerações novas. Por si e em si mesma, a escola superior comunicava-se muito pouco com a sociedade condicionante.
P. 57
- A escola superior era pois, uma prisioneira de suas funções societárias, o que a impedia de transformar-se profundamente, a partir de influências inovadoras internas ou externas.
P. 58
- Só (..) depois da revolução de 30, é que esboçaram novas tendências, que liberaram de modo parcial, a escola superior de suas antigas e estreitas funções societárias.
P. 61
- As correntes de opinião insatisfeitas, entre alunos e professores, desencadeavam as primeiras manifestações verdadeiramente relevantes e consistentes da reforma universitária.
P. 64
-... quando falam ou lutam pela reforma universitária não querem apenas"reorganizar" formalmente o ensino superior. Visam construir uma universidade totalmente nova, educacionalmente criadora, intelectualmente crítica e socialmente atuante, aberta ao povo e capaz de exprimir politicamente os seus anseios mais profundos.
P. 65
- A escola superior tradicional abrangia um corpo docente restrito e poucos estudantes. Nesse tipo de estrutura, o poder podia concentrar-se nas mãos dos professores sem graves inconvenientes: eles davam conta, oficialmente, dos encargos didáticos e da alta administração e direção das escolas.
P. 67
- Em vez de ser( a reforma universitária) um elo entre o presente e o futuro, uma tentativa arrojada de conquista de autonomia de pensamento e de liberdade no desenvolvimento, tornar-se=á precocemente obsoleta e impotente para atingir seu destino. Negaria as esperanças das multidões de jovens e os sonhos dos pugilos de intelectuais que lutam pela reforma universitária com o fito de construir uma universidade livre numa sociedade livre.
P. 70
- A situação do ensino superior é tão grave, no entanto, que se impõe uma total mudança de atitudes nas avaliações. 1º , precisamos ter a coragem de romper completamente com a ordem educacional vigente. (...) 2º , devemos ter a audácia de lançar as bases de uma política educacional adequada às condições da sociedade brasileira e aos nossos desígnios de autonomia nacional e de desenvolvimento econômico, sócio-cultural e político. Cumpre fixar, os caminhos de nossa revolução educacional. Já perdemos muito tempo com soluções paliativas e com remendos engenhosos, mas inúteis e ridículos.
P. 71
-Para que o Brasil pudesse igualar os resultados médios do esforço educacional dos países da região, ao nível do ensino superior, a sua realização deveria ser pelo menos 3 vezes maior .
P. 72
- Herdamos da colonização portuguesa, da sociedade senhorial e escravista, e da Oligarquia da I República, níveis ínfimos de aspiração educacional, a propensão a bloquear a democratização do ".
ensino e a concepção de que o ensino superior constitui um privilégio das elites das "classes possuidoras P. 73
- O termo "reforma universitária"tem sido empregado(...) para designar as medidas quantitativas e qualitativas a serem tomadas para adaptar o sistema de ensino superior às atuais exigências da situação histórico-social brasileira.
- ... o Brasil se acha no momento crítico da transição da era da escola superior para a era da Universidade.
- ... quando se tentou instituir a "universidade", não se pensou em corrigir os defeitos estruturais da "escola superior", e a universidade brasileira "assumiu o caráter de uma conglomeração de escolas superiores.
P. 74
- ... tornou-se patente que a conglomeração de escolas superiores é um fator de desorganização , de desperdício e de atrofiamento da expansão do ensino.
P. 77
- ... o nosso ensino graduado se estruturava como uma preparação técnico-profissional de circuito fechado. Ele não previa nem prevê a formação do aluno intelectualmente auto-suficiente.
- No ensino pós-graduado avançado. o elemento mais importante na situação de aprendizagem não é o professor, mas o aluno ou aprendiz. Cumpre que este disponha de conhecimentos, de maturidade intelectual e de incentivos para trabalhar sozinho ou sob supervisão limitada ( predominantemente apenas, incentivadora). Não formamos esse tipo de aluno senão excepcionalmente o temos de atingir esse objetivo como parte de uma nova rotina de aprendizagem, a ser introduzida nos cursos graduados.
- Cumpre criar dotações especiais, que permitam o financiamento dos estudos pelo menos de uma parcela dos estudantes pós-graduados. (...) é indispensável adaptar os prédios escolares a condições mínimas de conforto, que dêem aos estudantes a possibilidade de organizar a rotina de sua vida dentro das escolas, onde terão de trabalhar e viver.
- Outra exigência fundamental, no delineamento da universidade, vem a ser o lugar da pesquisa como instrumento de ensino e como meio de progresso da ciência, da tecnologia científica e de outras formas do saber.
P. 78
- ... Cumpre dar à universidade condições materiais, financeiras e humanas para se converterem em agências de produção de conhecimento básico, nos diferentes ramos do saber- mas, principalmente, nos diversos campos da ciência e da tecnologia científica.
P. 79
- O que deve ser extinto é um excesso de poder pessoal e de centralização, o que não tem servido senão para alimentar alternativas egoístas de ajustamento intelectual e formas irresponsáveis de aplicação da inteligência criadora.
P. 81
- ... professor catedrático. Produto de uma elaboração histórico-cultural e de uma escola subordinada à consolidação e ao progresso das profissões liberais, o professor catedrático é o verdadeiro agente do descalabro que impera no ensino superior(...) ele se colocou no centro da oposição contra qualquer transformação que levasse ao desaparecimento da escola superior . (...) o professor catedrático (...) o "agente conservador", que luta por "convicções íntimas e "valores sagrados", está o seu ( do profº catedrático) escritório de advocacia , o seu consultório ou a sua clínica... (...) só pode ser universitário pela metade..
P. 82
- O professor catedrático, escravo dos interesses estreitos das profissões liberais, prende-se a um estilo de vida e aspirações intelectuais que o convertem no pior adversário da inovação educacional.
- ... oo professor catedrático não encontra forças para superar-se: não tem entusiasmo para aderir a novos ideais e aspirações educacionais, não possui tempo para modificar sua participação marginal nos processos educacionais e de criação do saber, e não acha, em si mesmo, coragem para romper com as avaliações tacanhas dominantes, que incetivam os círculos dirigentes a excluírem os problemas do ensino superior das questões vitais para a integração e o desenvolvimento da sociedade nacional.
P. 87
- Fala-se muito em universidade e desenvolvimento e, particularmente, numa universidade para o desenvolvimento.
-... as instituições devotadas ao ensino superior, organizadas como "escolas"ou como "universidades", não estão aproveitando construtivamente os recursos financeiros, materiais e humanos nelas investidos pela sociedade brasileira, neutralizando assim qualquer tendência de 'revolução pelo desenvolvimento"como um processo educacional.
P. 93
- ... a universidade integrada e multifuncional propõe-se o objetivo de modernizar e intensificar o ensino, bem como se impõe a missão de produzir conhecimentos científicos e tecnológicos de forma independente.
P. 96
- O conhecimento de senso comum e o pensamento abstrato voluntarista ou não, tendem a focalizar as instituições-chaves como se seu rendimento constituísse uma função exclusiva de sua organização interna, de qualidade do pessoal ( ou de sua motivação) e da adequação das relações entre meios e fins.
P. 97
- ... ao encarar a universidade brasileira como instituição, o sociólogo procura compreendê-la à luz de condições, fatores e influências que a projetam no cenário mais amplo das ações e das relações humanas. Ela não surge, como o mundo em si e para si, da reflexão pedagógica.
- .. a nossa "universidade"lança suas raízes históricas, culturais e pedagógicas em modelos institucionais europeus, modelos que transcendiam às "exigências educacionais da situação", como elas podiam ser definidas socialmente.
P. 99
- O que se montou foi uma "escola superior"despojada de funções culturais criadoras, estritamente orientada para servir de elo entre "modernização"e "progresso cultural "no exterior.
- ... o que a "escola superior" precisava formar era um letrado com aptidões gerais e um mínimo de informações técnico-profissionais, habilitado para preencher certos papéis específicos na burocracia, na estrutura do poder político e na esfera das profissões liberais.
- Impunha-se a complementação da aprendizagem por meios propriamente formais e acadêmicos( dai as "viagens de estudo"à Europa) e, particularmente, pela via do tirocínio prático ( agregação ao escritório ou clínica de algum parente ou amigo).
P. 100
- ... permitia que ele adquirisse a maturidade intelectual e a destreza técnica que a "escola superior"não tinha possiblidade de garantir.
P. 108
- A incongruência, a imaturidade ou o oportunismo conduzem os defensores das soluções inovadoras e reformistas por caminhos que não levam, por si mesmos, à universidade nova.
- A escola superior tradicional e a universidade conglomerada são produtos de uma sociedade que se adaptou, estrutural e historicamente, a uma situação de dependência cultural imposta de fora para dentro.
P. 112
- .. para a "sociedade subdesenvolvida", desenvolvimento não é qualquer tipo de transformação estrutural interna: é a mudança social que, além de destruir os laços de dependência para com o exterior, permite àquela sociedade a conquista de semellhante posição de autonomia cultural relativa, no seio de uma configuração civilizatória em crescimento.
P. 115
-O ensino superior brasileiro, em particular, ajustou-se apenas aos requisitos de poder de uma estratificação social oligárquica, amolgando-se ao privilegiamento societário dos profissionais liberais.
P. 127
- Precisamos dessa universidade (autêntica universidade da era da ciência e da tecnologia científica). Pois numa época em que outros povos conquistam o desconhecido, ainda lutamos por conquistar o limiar da condição humana.
P. 133
- Sob o tipo de regime de classes que se originou com o capitalismo, a distribuição das oportunidades educacionais, especialmente ao nível do ensino superior, e condicionado pela situação econômica, social e política das famílias dos estudantes.
P. 134
- A estrutura competitiva da sociedade sofre tremenda brecha, pois a possibilidade de competir e o direito de competir livremente são regulados fora e acima dos fundamentos axiológicos( legais, políticos ou morais) e psicossociais( condicionados pela personalidade dos agentes ou plos dinamismos das instituições-chaves) da ordem social competitiva .
P. 135
- ... o crescimento quantitativo do ensino superior - ... o crescimento quantitativo do ensino superior reflete as alterações ocorridas na distribuição social da renda, do prestígio social e do poder. À medida que o regime de classes, se consolida, as classes médias tendem a melhorar sua posição nas relações de classe.
P. 136
- As classes médias brasileiras não defendiam diretamente, portanto, a monopolização das oportunidades educacionais estratégicas( como fizeram as antigas classes altas tradicionais e suas elites).
P. 140
- ... o volume de pessoas que dependem das facilidades do ensino público gratuito é relativamente alto. (...) mais de 1/4 do total de universitários brasileiros estudam, visivelmente, graças à existência desse suporte legal.
P. 141
- ... através da gratuidade do ensino superior surgiram estímulos e suportes para expandir o sistema oficial de ensino superior, ou seja, de instituir-se o controle nacional de serviços educacionais e culturais de importância vital para a nação.
P. 142
- ... a gratuidade do ensino superior deve ser defendida sem subterfúgios(...) há, por trás da situação existente, muitos inconvenientes e várias distorções. (...) não conduziu à intensificação da democratizaçào do ensino, porque foi amplamente explorada como uma técnica de expropriação de classe e como uma fonte de privilégios educacionais.
P.145
- A intervenção estatal na educação escolarizada, especialmente aos níveis do ensino primário e do ensino superior, pode parecer exagerada aos olhos de um analista estrangeiro, especialmente se ele esperar que a situação educacional brasileira seja uma miniatura do que ocorre no mundo educacional vinculado ao capitalismo avançado.
P. 146
- ... a modernização das universidades brasileiras dificilmente poderá processar-s fora e acima da intervenção direta e maciça do Estado. Os custos e a complexidade das inovações envolvidas são excessivas para a iniciativa privada existente no setor.
P. 149
- A democratização é um "produto final". Ela constitui um processo onde este não se inicia , ela não existe.
- ... o Brasil está transitando do predomínio da "oligarquia agrária"para o predomínio da "plutocracia urbana".
P. 153
- Muito se tem escrito(...) que "rico" tira o "pobre" e que o "ensino superior" abocanha o quinhão e que o "ensino primário". (...) o que está em jogo não é a continuidade de um privilégio, mas saber-se se vai além, tanto em termos de asseguração do direito dos que não podem desfrutá-lo quanto em termos de estrutura e funcionamento democráticos do estado Republicano.
P. 157
- A reforma universitária já é, em si mesma, uma manifestação da mudança social, ao nível institucional. As pressões de mudança, a partir do meio externo e da própria universidade, precisaram tornar-se muito fortes para que ela se desencadeasse.
P. 158
- A presença maciça dos estudantes marcou uma alteração substancial nos objetivos e formas de atuação das correntes anteriores. (...) Descobrindo que seria impossível "mudar a universidade" sem "transformar a sociedade", eles deram novo ímpeto às correntes reformistas e empalmaram seu controle ideológico"( ver Marialice Mencarini Foracchi. O estudante e a transformação da Sociedade Brasileira. São Paulo: Cia. Ed. Nac., 1965.).
P. 159
- ... os homens não destroem socialmente senão aquilo que eles querem reconstruir.
P. 160
- Os que defendem a ciência, o pensamento crítico e a pesquisa criadora vivem de esperanças. Uma esperança tênue e irracional, mas, que se alimenta de lutas incessantes e sem tréguas. Os ganhos podem parecer irrisórios e a própria causa excessiva para as fo excessiva para as forças que conseguimos mobilizar socialmente.
- No plano institucional, o movimento de reforma universitária possui duas vinculações exclusivas. Uma, voltada para a destruição de modelos institucionais que são autênticas sobrevivências socioculturais do "antigo regime: ; outra, orientada para a construção da universidade nova.
P. 161
- A reforma universitária emergiu como tentativa de mera regeneração e recuperação institucionais.
- No fundo, os quadros intelectuais jovens das universidades brasileiras eram vitimados pela ideologia educacional, pseudamente "avançada" e " liberal", das elites culturais.
P. 165
- Nas fronteiras do presente e do futuro, a universidade brasileira não deverá contentar-se em contribuir para "acelerar o desenvolvimento".
P. 166
- O poder que eles( os professores catedráticos) não queriam dividir e "degradar"não era o poder inerente à cátedra e à instituição- mas o poder que lhes advinha do fato de representarem, na cátedra e na instituição, aquele poder mais geral e intocável, dos estratos sociais"ilustrados"e "responsáveis", os únicos que seriam "capazes de decidir"e de fazê-lo "em nome de todos".
P. 174
- ... o movimento de reforma universitária logo se tornou um movimento de transformação da sociedade.
P. 175
- O movimento de reforma universitária foi mais longe e alimenta esperanças de que a universidade nascente seja um foco de pensamento crítico e de renovação cultural.
- Acomodar-se às pressões e às composições conservadoras seria o msmo que trair-se, relegando ou pervertendo os ideais democráticos que dão sentido à sua existência e legitimidade.
P. 176
- ... ao propor um novo tipo de universidade, estava-se respondendo à necessidade de mudar a própria relação do homem com a educação e com a cultura. A universidade integrada e multifuncional não é uma construção artificiosa de intelectuais desarraigados e dissidentes.
P. 180
- Ao nível do corpo docente - e através das figuras mais ilustres do corpo docente- ainda estamos no ponto zero de qualquer reforma universitária, que é a mudança de mentalidade dos próprios professores, com uma agravante: pouco se dispõem a aceitar restrições ou com entusiasmo a alteração de atitudes, de valores e de objetivos educacionais.
P. 184
- O que o prejudica, grave e irremediavelmente, não é a falta de consciência do que se deve fazer. Mas o fato de não ter rompido frontalmente com a situação existente.
P. 191
- ... o nosso ensino médio foi quase estrangulado, enquanto o ensino superior sofria um processo inverso, de complicação e ingurgitamento.
P. 193
- A USP precisa desempenhar 4 funções básicas ou 4 missões, como diria o educador Frondizi) : de transmitir o saber acumulado, de investigar e produzir originalmente o saber novo, de formar profissionais e de participar ativamente do progresso sóio-cultural da sociedade.
P. 195
- Nenhum professor ou educador é individualmente responsável pelas condições de trabalho herdadas, mas todo professor tem grande interesse de ver-se individualmente associado à melhoria de tais condições.
P. 201
- O estudante quer acesso fácil aos livros; abundância de cópias para leitura rápida; ausência de dificuldades para obter um lugar nas salas de leitura ou para tirar o livro; conforto e segurança quanto aos horários, às condições de acomodação, ao acesso aos fichários ou às coleções etc.
P. 205
- A reforma universitária , quando surgiu tardiamente no Brasil, constitui-se como um movimento de estudantes e de professores.
P. 209
- Os estratos constituídos por intelectuais são aqueles que vão mais longe, porque os intelectuais não sofrem, na mesma escala e com a mesma intensidade, os efeitos negativos do isolamento cultural em que encontram os demais estratos das camadas conservadoras.
P. 216
- O professor catedrático os seus colaboradores raramente eram universitários( ...) eram sobretudo profissionais liberais que se distinguem de seus colegas que se voltavam ao "mister de ensinar"de modo precário.
P. 218
- Os estudantes e os professores que defendem inovações mais profundas se empenham pela total democratização da estrutura e funcionamento de colegiados e comissões.
P. 223
- A reforma universitária não é um exercício de intelectuais. Ela é um movimento histórico-social: traz em seu bojo as configurações de um querer coletivo, que se equaciona atualmente através de fortes frustrações e de grandes esperanças da juventude e de alguns círculos de cientistas, educadores e homens de ação. Mas em breve ela se deparará dos elementos de tensão, que nascem de reações psicológicas e sociais negativas, dirigidas contra a deficiente herança educacional que recebemos, e ganhará novos elementos de tensão, socialmente construtivos, que estarão voltadas para a fase criadora e de elaboração institucional do tipo de universidade de que carecemos e que desejamos historicamente.
P. 224
- ... a primeira exigência de um projeto realista de reforma universitária consistiria em caracterizar o protótipo da universidade que devemos construir no Brasil.
1) para aproveitar melhor os recursos materiais e humanos que devotamos à educação escolarizada: 2) para realizar com maior eficácia as funções que a universidade deve preencher em nossas comunidades, sob o padrão vigente da civilização.
P. 229
- ... sem revolução democrática é impossível qualquer reforma universitária, pois a nova universidade só poderá ser alimentada e crescer através de uma ordem social democrática bastante forte para se impor como denominador geral da vontade do povo brasileiro.
P. 235
- A tutelagem externa não fomenta (...) o amadurecimento das universidades. Ela gera a concepção da instituição e a irresponsabilidade dos que formam seu corpo de pessoal, induzidos a julgarem seus atos e decisões a partir de critérios exteriores e meramente formais.
P. 239
- ... Graus, títulos e carreira vinculam-se de tal forma que se incentiva o carreirismo como norma e a mediocridade como fim, procedendo-se, ao mesmo tempo, pela burocratização da carreira docente, a uma sorte simples desnivelamento, e socialização do "absolutismo"dos antigos catedráticos.
P. 240
- ... limitação trágica, que fez de nossa "universidade"uma instituição invisivelmente especializada no ensino e acidentalmente capaz de fomentar a pesquisa empírica, pura ou aplicada e a pesquisa tecnológica.
P.243
- Somos obrigados a reconhecer que a sociedade brasileira revela enorme incapacidade em evoluir para o uso racional e socialmente disciplinado de seus recursos educacionais.
P. 244
- A reconstrução da Universidade é possível e necessária. Mas ela não poderá ser alcançada sem que a própria sociedade se reconstrua, modificando-se completamente suas relações com a educação escolarizada, com a cultura e com a imaginação intelectual criadora.
P. 245
- ... a modernização e a racionalização da universidade constituem processos vitais de sobrevivência.-
- O nosso alvo é a criação de uma universidade capaz de operar através de si mesma, de preencher todas as funções que deve satisfazer sob a civilização urbano-industrial, de ser uma fonte de consciência histórica crítica e de pensamento inventivo( na ciência ou demais formas de saber), de converter-se em um dos eixos da revolução democrática. Aí está a nossa causa. Por ela nos deveremos bater incondicionalmente para forjar a nova universidade , mas também para fazer do Brasil uma sociedade nacional democrática e independente,.
P. 247
- A reforma universitária continua a ser vista e discutida como uma pura "reforma de ensino superior". Presos a uma tradição cultural ( estreita, teimamos em ver a universidade como uma instituição apegada a um ensino livresco, se segunda mão- uma instituição cuja maior contribuição à coletividade estaria na transferência e absorção de conhecimentos produzidos originalmente no exterior.
P. 248
- Ninguém ignora que a universidade tem sido, em todos os tempos e em todos os lugares, um baluarte dos preconceitos da inércia cultural. Ninguém ignora o recurso da medalha, pois muitos progressos decisivos da ciência e da tecnologia científica lançaram suas raízes no labor intelectual feito dentro e através da universidade.
P. 250
- A universidade não pode procurar fora de si o conhecimento científico pronto e acabado.
P. 251
- A universidade não está condenada à pesquisa fundamental que busque o conhecimento puro e a construção da teoria geral. Mas somente ela pode fornecer suporte material, intelectual e moral para a produção criadora que transcenda à especialização, ao imediatismo ou particularismo.
- As fórmulas para atingir semelhantes objetivos são naturalmente variáveis, de acordo com os recursos que cada sociedade pode colocar à disposição da universidade.
P. 252
- Na situação brasileira ainda estamos na fase de criação das condições institucionais para a realização e o fomento da pesquisa científica.
- A maior parte dos investigadores precisa dedicar suas energias a fins e a condições instrumentais - como obtenção de verbas, contrato de pessoal, meios técnicos de pesquisa etc., como se a pesquisa científica não estivesse institucionalizada e como se certos esforços devessem ser eternamente repetidos.
P. 254
- Não só se precisam talentos em grandes números; precisam-se os melhores talentos.
-... o candidato à pesquisa fundamental avançada deve passar previamente por um tipo de aprendizagem que o habilite a associar teoria e pesquisa de forma criadora. Se ele não souber pôr em prática as regras científicas do pensamento inventivo, dificilmente poderá ter êxito e varar as exigências preliminares.
P. 255
- O treinamento em pesquisa não deve , apenas, introduzido( o estudante) nos rudimentos da investigação e da lógica do raciocínio científico. Ele deve receber um ensino que é quase pré-especialização e que lhe confira condições para alcançar o maior domínio possível sobre determinadas teorias e as técnicas de investigação que elas pressupõem.
P. 257
- A nossa universidade propõe-se incorporar a pesquisa científica como se esta fosse um ornamento ou uma dimensão burocrática de sua existência.
P. 263
- O etnólogo não procura a árvore nem a floresta. Estuda povos em sua totalidade, o que quer dizer que vê o homem como agente coletivo da produção- conservação e transformação da cultura.
P. 267
- ... devemos tomar cuidado com as instituições...
P. 269
- O educador que "educa os outros" e o reformador que "reforma para os outros"são entidades condenadas ao desaparecimento.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
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