Culturas jovens: novos mapas afeto. Organizado por Maria Isabel Mendes de Almeida e Fernanda Eugênio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006.
PREFÁCIO POR JOSÉ MACHADO PAIS (Buscas de si: expressividades e identidades juvenis).
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“Há duas diferentes maneiras de olharmos as culturas juvenis: através das socializações que as prescrevem ou das suas expressividades (performances) cotidianas. A distinção entre estas duas perspectivas pode ser aclarada tomando a “dualidade primordial” proposta por Deleuze ao contrapôr “espaço estriado” a “espaço liso”. O espaço estriado é revelador da ordem, do controle. Seus trajetos aparecem confinados às características do espaço que os determinam. Em contraste, o espaço liso abre-se ao caos, ao nomadismo, ao devir, ao performativo. É um espaço de patchwork: de novas sensibilidades e realidades.
A idéia que ponho em discussão é a seguinte: nos tradicionais estatutos de passagem da adolescência para a vida adulta os jovens adaptavam-se a formas prescritivas que tornavam rígidas as modalidades de passagem de uma a outra fase de vida. Diríamos, então, que essas transições ocorriam predominantemente em espaços estriados. No entanto, entre muitos jovens, as transições encontram-se atualmente sujeitas às culturas performativas que emergem das ilhas de dissidência em que se têm constituído os cotidianos juvenis. Ou seja, as culturas juvenis são vincadamente performativas porque, na realidade, os jovens nem sempre se enquadram nas culturas prescritivas que a sociedade lhes impõe”.
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“Perante estruturas sociais cada vez mais fluidas, os jovens sentem a sua vida marcada por crescentes inconstâncias, flutuações, descontinuidades, reversibilidades, movimentos autênticos de vaivém: saem da casa dos pais para um dia qualquer voltarem; abandonam os estudos para os retomar tempos depois; encontram um emprego e em qualquer momento se vêem sem ele; suas paixões são como “vôos de borboleta”, sem pouso certo; casam-se, não é certo que seja para toda a vida... São esses movimentos oscilatórios e reversíveis que o recurso à metáfora do ioiô ajuda a ...
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... expressar. Como se os jovens fizessem das suas vidas um céu onde exercitassem a sua capacidade de pássaros migratórios.
Esta “vida de inconstâncias” muda, ainda que sem suprimir, os constrangimentos do trabalho profissional, educacional e familiar. Os jovens tendem a tudo relativizar: desde o valor dos diplomas até a segurança de emprego. E não o fazem sem razões. Os diplomas são cada vez mais vistos como “cheques sem fundos” sem cobertura no “mercado de trabalho”, também ele sujeito a inconstâncias, flexibilizações, segmentações, turn overs. As “voltas e mais voltas” ocorrem ainda no campo das relações de namoro.
Numa semana pode dar-se uma volta com um namorado(a) para, na semana seguinte, se andar com outro/a. Há ritualizações associadas aos afetos e à sexualidade que produzem, entre os jovens, uma mediação entre desejos, angústias e desilusões. Também é freqüente, quando surge o cansaço, mandar-se o(a) namorado(a) “dar uma volta”, ou pô-lo(a) a “girar” ou a “bugiar”, isto é, pô-lo(a) a distância ou à ilharga. A metáfora das “voltas” aplica-se ainda às relações sexuais.”
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