quarta-feira, 2 de abril de 2008

FICHA DE LEITURA DO LIVRO IDEOLOGIA DA CULTURA BRASILEIRA (PONTOS DE PARTIDA PARA UMA REVISÃO HISTÓRICA).

Mota, Carlos Guilherme . Ideologia da Cultura Brasileira (pontos de partida para uma revisão histórica). 2ª impressão. São Paulo: Ática, 1977.

p. 154

“Ao analista da história das ideologias no Brasil, os anos 50 fornecem um campo de observação de extrema complexidade e riqueza, uma vez que no seu transcorrer forjaram-se novas concepções de trabalho intelectual, definiram-se novas opções em relação ao processo cultural, assim como novas e radicais interpretações no tocante à ideologia da Cultura Brasileira”.

p. 155

“Da comparação, embora aproximativa, derivaria a impressão de que os anos 50 caracterizaram-se pela montagem (ou, no mínimo, ...

p. 156

... reforço) de tendências ideológicas nacionalistas que vinham se plasmando em ressonância a processos políticos e sociais marcados pelo desenvolvimento econômico e pela criação de condições para uma possível revolução burguesa. A superação do subdesenvolvimento – o termo ganhou concreção nessa década – transformou-se em alvo difuso a ser atingido pelas “forças vivas da Nação”: de “periferia” dever-sei-ia atingir, de maneira planejada, a condição de “centro”, para retomar vocabulário caro aos nacionalistas. Nos anos 60, sobretudo na segunda metade, o que se verifica é a inviabilidade da fórmula, ocorrendo críticas e revisões radicais. Observadas em conjunto as duas décadas, dir-se-ia que a primeira é de consoliudação de um sistema ideológico (com suas múltiplas vertentes, por vezes, diretamente, interligadas: neocapitalista, liberal, nacionalista, sindicalista, desenvolvimentista, marxista); ao passo que a segunda década, vista globalmente, aparece antes como de desintegração desse sistema ideológico, apresentando vertentes em que houve rupturas radicais, dando origem a novas constelações de difícil avaliação – algumas das quais serão apontadas no próximo capítulo. Os anos de fabricação desse quadro ideológico coincidem com o período juscelinista (embora tal quadro tenha razíes por vezes longíquas – e, em frentes tão diversas quanto as integralistas, PC, Exército etc.) e, para efeitos de estabelecimento de marcos referenciais, poderiam ser indicadas as obras de Celso Furtado, a produção do ISEB, alguns textos políicos de José Honório Rodrigues, a parte mais ponderável da obra de N. W. Sodré . Os anos de ruptura sucedem a 1966, quando da publicação de A Revolução Brasileira, de C. Prado Jr., aqui tomada tão-somente para efeito referencial”.

“O objetivo é tão-somente fornecer algumas indicações sobre o lineamento geral da produção cultural nmesse período em que se estruturou um poderoso sistema ideológico, onde as idéias de “consciência nacional”, “aspirações nacionais”, “cultura brasileira” e “culktura nacional” constituíram os fulcros de linhas de pensamento suficientemente fortes para mascarar quase ...

p. 157

... todos os diagnósticos sobre a realidade brasileria. Até mesmo o pensamento marxista, desmistificador por essência, deixou-se penetrar por esse quadro ideológico – ressalvadas poucas exceções, algumas das quais serãp apontadas. Em outras vezes, participou da elaboração de ideologias nacionalistas, como a de Corbisier, desfigurando-se”.

p. 164

“Mas talvez aquele que melhor formalizou a ideologia da Cultura Brasileira dentro dos parâmetros nacionalistas tenha sido Roland Cavalcanti de Albuquerque Corbisier. Diretor Executivo do ISEB, produziu textos de grande importâncioa à época, de vez que convocava a inteligência do País a elaborar uma ideologia que permitisse “decifrar o Brasil”. O principal livro de Corbisier é Formação e Problema da Cultura Brasileira, publicação de 1958, do ISEB, reunião de duas conferências realizadas no Auditório do Ministério da Educação e Cultura, em 1955 e 1956, em cursos sobre “Introdução aos Problemas do Brasil” e “Filosofia no Brasil”. Dado o caráter sintético dos textos, tiveram grande divulgação e, também por esse motivo, merecem comentário . Mas a razão principal reside no fato de enfeixarem uma noção acabada de cultura brasileira, documentando de maneira clara o caldo ideológico em que se navegava nesses anos 50”.

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