- FICHA DE LEITURA: MACHADO, O. L.. & PINTO, L. C.; ANTUNES, M. A. Análise do discurso do novo movimento estudantil. In: MACHADO, O. L & Zaidan, M. (orgs.), Movimento Estudantil Brasileiro e a educação superior, Recife, Editora UFPE, 2007a, p. 35-40.
"As expectativas com que nossa sociedade trata a juventude vem de uma visão nostálgica e romanceada da memória do passado. Nesta tarefa de buscar no passado um mapa para juventude atual acaba desfavorecendo uma rigor histórico, desconsiderando contextos e sujeitos. Como acontece com outras fases da vida – como infância, velhice, etc – a juventude é definida quase que exclusivamente a partir da idade biológica, ficando em segundo plano aspectos relacionados às experiências dos sujeitos reais. Assim, a divisão cronológica pura e simples do ciclo da vida, sem considerar as diferenças históricas, culturais, econômicas, sociais e étnicas entre os grupos etários, induz a homogeneização de conceitos teóricos absolutos e abstratos, projetados como totalidades sociais, embora distantes das experiências de vida dos grupos reais (Bourdieu, 1983).
A tônica do discurso construído pela indústria cultural, estimulada pela velocidade da técnica, transformam os conteúdos e significados das representações sociais da experiência de “ser jovem”, relacionando esta com a velocidade, agilidade, com os riscos, como indica a valorização dos esportes radicais apoiados em instrumentos ou no controle, pretensamente absoluto, do corpo (Ribeiro, 1997). O corpo jovem é agora glamurizado, convertido em corpo ideal para qualquer idade biológica do homem e da mulher e a juventude é equiparada a um estado de bem-estar e disposição física e mental que pode ser apropriado pelos adultos de “meia-idade”, como um produto de consumo.
A juventude não é um estado, mas uma construção sociocultural que ocorre num tempo histórico determinado. As diferenças das juventudes ao longo da história são enormes. O retorno da juventude como categoria analítica que ocupa o centro das atenções de muitos pesquisadores e organismos internacionais, se dá muito em função deste ser um dos grupos mais sensíveis às transformações sociais, econômicas e culturais que têm impactado quase todas as sociedades afetadas pela globalização e pela reestruturação produtiva. Assim, na verdade, a pauta que está associada à juventude tem a ver com as conseqüências da “modernização” imposta pelas forças hegemônicas do capital, que se traduzem nos seguintes termos cunhados por cientistas sociais e jornalistas: desemprego juvenil, violência juvenil, exclusão juvenil, cultura juvenil. Assim, de uma forma genérica, a juventude é evocada como o grupo que tem que vencer os maiores obstáculos para projetar seu futuro em meio a um mundo em mudanças".
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