sábado, 5 de abril de 2008

DEPOIMENTO DE ROBERTO ROSA BORGES DE HOLANDA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
LABORATÓRIO DE PESQUISA HISTÓRICA
projeto “O Debate da relação educação e sociedade no movimento estudantil das tradicionais escolas de engenharia de Ouro Preto e Recife.

DEPOIMENTO DE ROBERTO ROSA BORGES DE HOLANDA A OTÁVIO LUIZ MACHADO

ENTREVISTADOR: OTÁVIO LUIZ MACHADO
DEPOENTE: ROBERTO ROSA BORGES DE HOLANDA
LOCAL: RECIFE-PE/CIDADE DO MÉXICO (MÉXICO) POR ESCRITO
DATA:2005

DADOS PESSOAIS DO ENTREVISTADO

Nome completo: Roberto Rosa Borges de Holanda.
Profissão: Engenheiro Mecânico
Cidade natal: Recife.
Origem familiar: meu pai era bancário no Banco do Brasil e escritor. Minha mãe era inspetora do MEC.
Cargos ocupados enquanto estudante: fui vice-presidente do DA de engenharia no inicio da gestão 67-68, mas o presidente renunciou e eu assumi como presidente. Na gestão seguinte (68-69) fui presidente.

OTÁVIO LUIZ MACHADO: ????????????????????????????

ROBERTO ROSA BORGES: As atividades eram muito variadas, por exemplo: luta contra a repressão; luta contra o acordo MEC-USAID; comissões paritárias de estudantes e professores para revisar e propor programas para as carreiras; organização de greves de protesta; busca de empresas para conseguir estágios para os estudantes; participação em congressos locais e nacionais (da UNE, por exemplo); organização (gente e/ou material) para a participação em passeatas de protesta; hospedar companheiros perseguidos pela polícia; orientação aos estudantes sobre eventos internacionais (como a invasão russa da Checoslováquia); etc.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: como eram os Diretórios de Engenharia que você participou bem como o que antecedeu vocês, quais os principais pontos de discussão, os desafios do Diretório em todas as gestões que conviveu e/ou atuou? Mudou muito a forma de atuação a partir daí? Em suma, quais as estratégias utilizadas pelos DAs para se organizar e atuar com toda a repressão instalada?

ROBERTO ROSA BORGES: Muitas atividades eram conjuntas, compartilhávamos gente e recursos para a organização de eventos; havia muita solidariedade entre os DAs. OTÁVIO LUIZ MACHADO: cite os principais trabalhos positivos desenvolvidos pelos Diretórios Acadêmicos das diversas escolas em conjunto.

ROBERTO ROSA BORGES: não considero que o DA de engenharia fosse diferente dos demais; é possível que na minha gestão tentamos ser um pouco menos radicais e um pouco mais preocupados pelos problemas internos da faculdade.

OTÁVIO LUIZ MACHADO: o DA de Engenharia tinha alguma forma de atuação diferente dos demais, ou seja, a própria formação acadêmica dotava os estudantes de mecanismos de atuação diferenciados e especiais?
ROBERTO ROSA BORGES: acho que as duas preocupações principais eram: a) lutar contra a injustiça social e; b) lutar contra todas as formas do imperialismo ianque. Também houve muita luta contra o acordo MEC-USAID que já mencionei.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: quais questões eram levantadas pelo movimento estudantil que incentivava um debate sobre a relação educação e sociedade, enfim, quais preocupações sociais os estudantes tinham? Havia, coletivamente, o sentimento de "ser privilegiado" e que "deveria fazer algo para a sociedade"?

ROBERTO ROSA BORGES: sobre isso posso dizer muito pouco, mas sei que muitos membros dos DAs (incluindo o meu) pertenciam a partidos políticos e realizavam muitas atividades clandestinas com estes partidos que, precisamente por ser clandestinas, eu não conhecia muito bem.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: a partir do final de 67, sobretudo com a cisão do PCB (corrente revolucionária e revisionista), os estudantes passaram a atuar decisivamente em grupos que extrapolavam a atuação meramente em torno de entidades como os DAs. Qual a sua visão sobre esta mudança de foco, as atividades dos estudantes em torno do PCBR?

ROBERTO ROSA BORGES: o que me lembro é o seguinte: depois de tantos enfrentamentos com a direção da faculdade por causa das greves, publicidade contra a ditadura dentro da faculdade, comissões paritárias para modificar os programas, etc. (o diretor era Arnóbio Marquez da Gama si não me engano), o diretor ordenou uma revisão das instalações do DA onde guardávamos todos os materiais e documentos. A pesar de que tentamos esconder tudo antes da visita, não foi possível e encontraram muita coisa (material "subversivo"...). Começou então um processo, principalmente em contra de mim e durante este tempo eu tive a certeza absoluta de que seria cassado. Acho que escapei da cassação por dos motivos: primeiro, era excelente estudante e Arnóbio me admirava (além de odiar-me...); segundo, Arnóbio era muito amigo de uma tia minha e esta amizade afetou a decisão dele.

Nenhum comentário: