sábado, 5 de abril de 2008

DEPOIMENTO DE GERALDO BALDI

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
PROJETO RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS REPÚBLICAS ESTUDANTIS DA UFOP


DEPOIMENTO DE GERALDO BALDI (GEBA)
á
OTÁVIO LUIZ MACHADO



OTÁVIO LUIZ MACHADO: Geba, como foi a ocupação do alojamento pelos estudantes?


GERALDO BALDI: teve uma tentativa de construção do Centro de Convergência, que seria um prédio de 10 andares aqui no Morro do Cruzeiro. O Patrimônio embargou e ficou só no 3o andar, que está aí hoje ainda. Era um alojamento que estava vazio. Começou a der invadido pelos bixo grilo e os hippies que a gente falava, estudante, é claro. Mas, era um pessoal que tinha, era dessa tendência, eles tomavam banho na cachoeira, no pocinho, na geladeira, não tinha energia elétrica. Depois conseguiram energia elétrica e se organizaram melhor ainda. Conseguiram um caminhão pipa prá botar água. Eu descobri aonde estavam as chaves do Alojamento, porque há inclusive documentos, documentos que podem até comprovar, que o Diretório desta época estavam querendo distribuir as chaves prá alunos. Inclusive chegou a distribuir uma meia dúzia, dez, não sei, de chaves, para certos alunos que tinham uma média boa etc. E tem até um documento aqui de que não havia comunicação. Aí, eu descobri onde estavam as chaves. Contei para o Paraíba. Na realidade, eu levei as chaves para o Paraíba, eu fiz só esta parte, e o Paraíba pegou e distribuiu. Foi meio aleatória esta distribuição, foi dentro do Remop: ‘quem quiser esta chave está aqui”, não foi uma coisa organizada. Todos que pegaram a chave subiram para o Alojamento e muita gente não queria morar no Alojamento, porque faltava água, às vezes faltava até luz. Mas foram aí umas 40 pessoas que subiram para o Alojamento e começou a funcionar clandestinamente.


OTÁVIO LUIZ MACHADO: O Escritório-Piloto da Escola de Minas é a primeira atividade extensionista da Universidade Federal de Ouro Preto. A ele está a responsabilidade de cursos exclusivos para a comunidade de Ouro Preto ou a realização de projetos de intervenção na área de Engenharia em Ouro Preto. Como foi a sua criação?

GERALDO BALDI: Quando existia o Escritório-Piloto se fazia um trabalho de base. Foi em 1979, quando teve uma chuva contínua de três meses. Os morros e os barrancos cederam, por ser a região composta de filito. Nessa época, os morros já estavam sendo ocupados pela população. Eles tiraram aquela crosta, aquela canga, que era uma crosta dura que tinha em cima dos morros. Eu tenho as fotografias da época. Não tinha tanta casa. Depois o cara ia fazendo a casa dele, a água infiltrava, entrava no meio das camadas de filito e escorregava todo esse negócio prá baixo. Tivemos três meses de chuva em 79 sem parar. Então, não houve muitas mortes, mas umas duzentas pessoas desabrigadas. Isto levou o Roberto Guidugli, não sei se à época ele já era o Presidente do D.A. ou não, a montar o Escritório-Piloto, que tinha mais um pessoal da Engenharia Civil envolvido. Esse primeiro, o curso de mestres de obras, foi o curso que eles fizeram nesse momento inicial. Eles já aproveitaram o curso, que tinham um monte de mestres de obras, e já fizeram as casas aqui na Bauxita, do lado do Campus. Eram os “flagelados”, a Vila dos Flagelados (...) que foram casas boas feitas com mutirão, mas com um mutirão com engenheiros, mestres de obras e em cima de um curso de uma Escola de Engenharia por trás, que eram coordenados pelos estudantes. O Escritório-Piloto tinha sua proposta voltada para a população. O Escritório-Piloto pretendia, é claro, dar um incentivo ao estudante na relação com o mestre de obras, pedreiro, carpinteiro e outros cursos. (...) Eu participei do curso de garimpo.

OTÁVIO LUIZ MACHADO: as repúblicas também eram importantes no contato da Universidade com a cidade?

GERALDO BALDI: a primeira relação que existiu entre a Universidade e a comunidade foi a república, efetivamente.

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