FONTE: Livro Repúblicas de Ouro Preto e Mariana: Trajetórias e Importância. Recife: Proenge, 2007. (Formato Eletrônico)
Cap. 2 A Fundação da Aquarius: um caso de ocupação
Antônio Moreira Campolina
Em 1968, em pleno regime militar, o então Ministro da Educação, Jarbas Passarinho, aumentou por decreto em 50% as vagas nas Universidades federais. Foi natural, portanto, a dificuldade de moradia dos estudantes que chegaram nos anos seguintes de 1969 e 1970. As repúblicas da Escola de Minas e as repúblicas particulares encontravam-se então abarrotadas. Os dirigentes da Escola de Minas, representados pelo seu Diretor, o Professor Antônio Pinheiro Filho, tentavam de todas as formas criar mais vagas nas repúblicas e até construir novas repúblicas. Desta forma, na Rua Paraná, 26, uma casa considerada de grande porte se encontrava em ampliação e reforma para ser a maior república de Ouro Preto. O momento era de “calmaria” na vigência do AI-5, após o episódio do seqüestro do embaixador norte-americano e da libertação para o exílio de presos políticos negociados naquele episódio, tais presos foram mandados para a Argélia, razão por que os “gozadores eméritos” da época queriam apelidar a República de Argélia, pois de uma certa forma para lá foram alunos da escola que por excesso de concorrência não conseguiram vagas em outras repúblicas. A ocupação da casa se deu antes mesmo de completar a construção, a casa ainda se encontrava na fase de reboco e ante a ameaça de invasão e por insistência e necessidade absoluta de alguns alunos, o senhor Diretor, cansado do “xororo” de alguns mais necessitados autorizou a ocupação precária do prédio, isto no mês de fevereiro de 1970. Foram então pela ordem de ocupação: Evandro Bomtempo, Roberto Brandão, Botiô, Campolina e Teófilo (que aí começaram juntos e ainda estão juntos até hoje, só que em casas diferentes), Norival, Luiz Romano Russo, Quinquinha, José Wilson, Pinga, até completar trinta felizes e necessitados republicanos, todos com uma vontade imensa de conviver, criar um ambiente propício, fazer a história. E assim se deu, primeiramente por que o nome pejorativo da época de “Argélia” (lugar de deportados, rejeitados) foi substituído pelo que havia de mais empolgante na época, todos falavam e pensavam na Era de AQUARIUS. Portanto, a República nasceu para o futuro. Enganaram aqueles que não acreditavam que pudesse ser viável uma república tão grande, sem os métodos tradicionais de seleção de seus moradores, formada por pessoas das mais diferentes origens, onde o critério protecionista, de conhecimentos passados, de apresentação de um e de outro, não prevaleceu e não foi adotado na ocupação daquela casa. Uma coisa porém foi relevante: todos queriam estabelecer um nível mais feliz de relacionamento, a República então surgiu como uma casa aberta, alegre sem nenhuma herança cultural, a não ser a rica vivência que cada um dos republicanos trazia dos mais longínquos rincões das Minas Gerais, e deste Brasil imenso. Foi assim então que nos diversos lances de criatividade poético/musical que Teófilo José Fernandes (Tiufim), o único violeiro de Ouro Preto da época e capaz de fazer sombra ao então astro que despontava, o poeta e compositor João Bosco, já parceiro de Aldir Blanci, compôs o que poderia ser chamado de primeiro hino da República:
“ Ah, Ah, Ah....Ah, aqui, iiiiii.
Sempre há lugar
República melhor não há
Já contamos com bom batalhão
Índio, escoteiro e malões.
A verdade sempre é está: Nesta casa tudo é festa
Sou do Norte...sou do Sul....sou do Leste...sou do Oeste
Sou brasileiro.
Fui artista-vendedor fui lojista-comprador
Já trabalhei o ano inteiro
E hoje estou a me formar
Adeus Escola de Minas
Adeus meninas
Ah, Ah, Ah....Ah, aqui, iiiiii. Aquarius
Explica-se:
O “Ah, Ah, Ah....Ah, aqui, iiiiii” foi proveniente dos eméritos fogos (pileques) do Quinquinha que entrava na República cantando “Ah, Ah, Ah....Ah, aqui, iiiiii, solideró .....) do batalhão: Índio, Silvio Benedito, que veio direto do Mato Grosso e para lá voltou, escoteiro é o Campolina, e malões eram todos os demais. Claro, artista-vendedor é o autor, Teólifo, lojista (tinha muitos) e comprador mesmo só o incrível Alamir Monteiro da Costa, inventor e protagonista da novela de grande sucesso da época que veio substituir o sheik de Agadir pelo Seiko do Alamir, relógio que até hoje não há notícias de que tenha aparecido um com tamanha precisão, beleza e estima de seu dono.
sábado, 5 de abril de 2008
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