IANNI, O. "O jovem radical", in Sociologia da juventude, vol I. RJ, Zahar, 1968
“A história do regime capitalista tem sido a história do advento político da juventude. Em cada país em que se desenvolve o sistema capitalista de produção, o capitalismo transforma de maneira tão drástica as condições de vida dos grupos humanos que a juventude se torna rapidamente um elemento decisivo dos movimentos sociais, em especial das correntes políticas de direita e de esquerda”. ” (Ianni, p. 225).
“A Universidade torna-se o momento em que jovens de diversas camadas sociais passam a ter uma atuação muitas das vezes incompatíveis com a sua condição social atual, das suas vinculações familiares e da própria expectativa de inserção na sociedade global
(Ianni, p. 226).
“No momento em que se inicia o ingresso na sociedade ampla, o jovem descortina condições e possibilidades de existência que o tornam consciente tanto das condições reais como das emergentes” Daí a organização do seu comportamento em termos às vezes radicais, onde se instaura a relação de negatividade com o presente. A princípio esta consciência é inestruturada, vaga, mas pouco ela pode adquirir um alto grau de consistência” (Ianni, p. 228-229).
“O radicalismo político é a manifestação de um tipo peculiar de consciência social, isto é, histórica, desenvolvida pelo jovem em condições determinadas; exprime a apreensão, pela consciência, dos primeiros sintomas da própria alienação, que se manifesta no próprio lar” (Ianni, p. 230)
“No instante em que a consciência das contradições inerentes à situação se estrutura, o jovem passa a canalizar politicamente a sua ação, transformando-se em agente dinâmico da história. E assim, paulatinamente, o individuo vai compreendendo, como diz Victor Serge, que o “sentido próprio da vida consiste na participação consciente na realização histórica”. É essa síntese da própria situação social que está na base dos inúmeros empreendimentos levados a efeito por grupos juvenis brasileiros. Percorrendo as reflexões contidas nos seus escritos ou observando-se as atividades daqueles que se organizam em tôrno de partidos ou grupos políticos, verificam-se a seriedade e o rigor com que a juventude procura se situar em face da história, projetando formas sociais que negam em graus diversos o presente” (IANNI, p. 236)
“Como vemos, o jovem radical é um produto natural do sistema social em que se encontra imerso. O seu radicalismo produz-se exatamente no momento em que ele próprio descobre que o seu comportamento é tolhido, prejudicado, e, muitas vezes, deformado institucionalmente. Em conseqüência da relação do trabalhador com as condições e o produto do seu trabalho - fenômeno que começa a ser descortinado na juventude – e devido às contradições entre os valores universais da cultura e as possibilidades reais apresentadas à ação, o adolescente vislumbra tanto as inconsistências estruturais do sistema como as alternativas concretas apresentadas à sua consciência. Naturalmente, determinadas evoluções do comportamento de muitos jovens introduzem em nossas reflexões elementos novos, aparentemente perturbadores, mas na realidade fundando ainda mais rigorosamente as reflexões desenvolvidas até aqui” (Ianni, p. 238).
“Em verdade, o que ocorre é uma transformação progressiva da “situação real” ou imaginária do indivíduo. À medida que a pessoa se torna adulta, vai sendo preparada para o desempenho de papeis sociais condizentes com o status quo. Esse é um dos pólos de atuação do sistema doméstico, da escola, do clube etc. O processo de socialização que envolve a pessoa é um fenômeno contínuo e atuante, e é estruturado segundo as exigências da sociedade presente. Por isso, o indivíduo muitas vezes é paulatinamente levado a ajustar-se aos padrões e normas vigentes, desenvolvendo atitudes e opiniões políticas adequadas às necessidades da sua nova situação. A mobilidade social e o funcionamento dos mecanismos de controle social, particularmente os de repressão drástica e sistemática da atuação revolucionaria, produzem a reorganização do comportamento humano em outras bases, orientando-o para ideais consentâneos com a configuração presente da sociedade. Neste caso, o indivíduo “perde”, reformula ou abandona as perspectivas intelectuais anteriores, adquiridas transitoriamente. A sua transformação num profissional qualificado, o casamento, a sua adoção em associação de classe ou clube, em partido conservador etc. são outros tantos fatores operando no sentido de completar a fase de elaboração de uma personalidade ajustada às exigências da sociedade atual. E com isso se completa a abdicação dos ideais de mudança ou renovação concebidos ou adquiridos na época de adolescência”.
Por outro lado, há aqueles que entram no período da adolescência sem apresentar qualquer tendência a desenvolver uma atuação política radical. São indivíduos que ou não manifestam qualquer sintoma de inconformismo ou passam a assumir atitudes que ainda que socialmente reprovadas, não possuem a menor significação política. Em conseqüência do modo pelo qual são apanhados no processo de socialização, ou melhor, particularmente devido aos mecanismos de controle da “sociedade adulta”, uma grande parte da juventude não apreende...”.
“Em suma, o jovem que não se “rebela” não realizou a conscientização da condição alienada do homem na sociedade capitalista: ou porque foi amplamente envolvido e integrado pela ordem estabelecida ou por não ter condições intelectuais para formular a própria condição real” (Ianni, 1968, p. 140)
quarta-feira, 2 de abril de 2008
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Um comentário:
Pow me muiitissimo no meu trabalho escolar ...
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