FONTE: A IDENTIFICAR
11:27ENTREVISTA - Zarattini traz experiência de luta para a Câmara
O deputado Ricardo Zarattini Filho (PT-SP) assumiu nesta terça-feira a vaga do atual ministro da Coordenação Política e de Relações Institucionais, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), com projetos definidos e uma ampla bagagem na luta pela democracia e pelo desenvolvimento econômico nacional. Ex-integrante de movimentos políticos contrários ao regime militar, Zarattini foi preso por três vezes, torturado, e, em 1969, fez parte do grupo trocado pela libertação do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, seqüestrado por militantes da ALN (Aliança Libertadora Nacional) e do MR-8. Nascido em Campinas (SP), formou-se em Engenharia Civil em São Paulo e recebeu em 2002 55 mil votos. Até sua posse, Zarattini ocupava cargo na Subsecretaria de Ação Parlamentar da Casa Civil, onde acompanhava a tramitação e votação de medidas provisórias.
Informes – Quais são as prioridades de seu mandato?
Ricardo Zarattini - Optei por um trabalho nas áreas de relações exteriores, de defesa do consumidor, e também com a questão do crime organizado e do narcotráfico. Defendo a tese de que o narcotráfico só será eliminado com o fim ou a atenuação da lavagem de dinheiro. O narcotráfico tem toda uma cadeia de lavagem de dinheiro, então precisamos saber para onde vai esse dinheiro. É preciso que seja possível a quebra do sigilo bancário de todos os envolvidos nesse tipo de crime.
Informes – E na área de defesa do consumidor?
Zarattini - Quero defender o consumidor porque nesse país os consumidores sofrem abuso de preços. Não temos ainda no país um órgão aparelhado para enfrentar monopólios que existem em todos os setores brasileiros. É necessário um grande esforço para reverter essa situação. A alternativa é fortalecer o Cade e a Secretaria de Acompanhamento Econômico para penalizar o lucro abusivo desses setores.
Informes – Quais as linhas de política externa que o senhor defende?
Zarattini - Interessa muito a defesa da integração da América Latina e a ampliação das cooperações brasileiras com países como China, Índia, Rússia. Não queremos dizer que não se faça comércio com os Estados Unidos ou a União Européia, mas defendo uma relação comercial mais intensa com China, Índia, África do Sul e Rússia.
Informes – É freqüente a referência a uma nova geografia comercial mundial caso se concretize uma cooperação mais intensa entre o Brasil e esses países. Estaria correta a avaliação de que haverá essa nova geografia?
Zarattini - É correto. Vai haver uma nova geografia e vamos aumentar muito nossa participação comercial mundial. É correto porque o potencial econômico desses países está se desenvolvendo muito. Há um aumento substancial de riqueza na China, criando um grande mercado consumidor e há um aumento substancial de desenvolvimento científico e tecnológico na Índia.
Informes – O senhor possui uma ampla biografia em defesa da democracia.
Zarattini - Fui líder de movimento estudantil, presidi a União Estadual dos Estudantes de São Paulo. Participei ativamente da UNE, participei da campanha para a criação do 13º salário e da campanha do Petróleo é Nosso, para criar a Petrobras. Naquela época o que se dizia era: primeiro, o Brasil não tinha capital; segundo, que o Brasil não tinha tecnologia; terceiro, que no Brasil não tinha petróleo e quarto, que isso daí era campanha de comunistas (risos). E nós demostramos na nossa luta que a campanha não foi só de comunistas, foi do povo. Conquistamos em 3 de outubro de 1953 a Petrobras e o monopólio estatal do petróleo. A Petrobras teve capital, descobriu petróleo e tem tecnologias avançadas como a da exploração em águas profundas.
Informes – E no período do regime militar?
Zarattini - Depois veio 1964 e nós participamos da resistência armada à ditadura. Fui preso três vezes. A primeira, três dias antes da edição do AI-5 , em 10 de dezembro de 1968. Fiquei preso em Pernambuco porque participávamos da reorganização do movimento canavieiro no Nordeste. Sofremos torturas e fugimos. Em São Paulo, em 1969, fui novamente preso e então foi seqüestrado o embaixador norte-americano. Estávamos eu, o José Dirceu (atual ministro da Casa Civil) e mais treze companheiros nesse grupo de quinze que foi trocado pelo embaixador, no México. Em seguida fomos para Cuba, para o Chile e voltei ao país clandestinamente para ajudar a reorganizar o movimento para derrubar a ditadura. Fomos presos de novo em 31 de maio de 1978 e libertados pela Anistia em 1979.
Informes – O que o senhor sentiu quando chegou ao México após ser trocado pelo embaixador norte-americano?
Zarattini – Tínhamos um grande alívio de estar fora da prisão. Mas nós tínhamos o coração muito apertado porque estávamos sendo banidos. Sentíamos o banimento e o temor de não poder mais voltar.
Informes – O senhor foi acusado de participar da colocação de uma bomba no aeroporto de Guararapes, em Recife, em 1968, que atingiria o futuro presidente Costa e Silva. O senhor efetivamente participou da ação? Onde o senhor estava naquele momento?
Zarattini – Naquele momento eu estava em São Paulo. Quem fez aquela ação foi a Ação Popular, um grupo com o qual não tínhamos contato nenhum. Porque nós sempre repelimos esse tipo de ação. Nós achamos que o que deve ser feito é a mobilização popular. É só com grande mobilização popular que se conseguem grandes mudanças.
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