DEPOIMENTO DE JARBAS PASSARINHO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Projeto O Debate da relação educação e sociedade no movimento estudantil das tradicionais escolas de engenharia de Ouro Preto e Recife.

DEPOIMENTO DE JARBAS PASSARINHO
A
OTÁVIO LUIZ MACHADO


ENTREVISTADOR: OTÁVIO LUIZ MACHADO
DEPOENTE: JARBAS GONÇALVES PASSARINHO
LOCAL: Brasília
DATA: 28/01/2004


OTÁVIO LUIZ MACHADO: Como o senhor foi convidado para o Ministério da Educação do Governo Médici?


JARBAS PASSARINHO: Aí é que vem a substituição do Costa e Silva. E o Médici me telefona. Eu estava como Ministro do Trabalho em Washington. Era cinco Horas da manhã eu estava sentado na embaixada. E Médici: “Passarinho, eu estou constituindo o Ministério e quero você no meu ministério, mas não mais no Ministério do Trabalho. Eu quero causar um impacto na juventude brasileira.

OTÁVIO LUIZ MACHADO: o senhor impôs condições para aceitar o cargo?

JARBAS PASSARINHO: eu disse a ele: “Eu queria que o senhor aceitasse duas coisas: uma que não houvesse nenhuma invasão de campus universitário e nenhuma escola invadida. E a segunda que o senhor me permita que eu possa muito mais dialogar do que enfrentar’. Ele disse: “por isso, que eu disse queria que causasse um impacto sobre a juventude brasileira”. E me deu carta.

OTÁVIO LUIZ MACHADO: houve recrutamentos de estudantes e suas lideranças para apoiar a política do Ministério da Educação?

JARBAS PASSARINHO: negativo. Houve estudantes que se apresentaram aqui, inclusive de Minas, que sabendo que eu tinha feito no Pará, então me pediram a mesma coisa. E nós fizemos. Eles vieram para cá e passaram uma semana aqui. E foi pequeno. O grupo era relativamente pequeno. Aí começaram a discutir. Então eu organizei a discussão. Eu acho que tivemos até filme para passar.


OTÁVIO LUIZ MACHADO: Uma matéria da Revista Época cita o caso de um estudante que foi supostamente ´recrutado´ pelo senhor. A matéria diz o seguinte: “Costa Leite estudava Direito no Rio Grande do Sul quando foi recrutado pelo ministro da Educação, Jarbas Passarinho, para divulgar nas escolas as idéias da ditadura”.

JARBAS PASSARINHO: aí é mentira total! Não era para divulgar idéias da ditadura. Eram esses estudantes que estudávamos conosco doutrinas sociais e políticas contemporâneos. Não se pode dizer agrupamento, porque eram 800 mil estudantes. Eu reúno vinte ou trinta para discutir. E foram os que tiveram. E ele veio porque havia um grupo muito ativo do DCE do Rio Grande do Sul. O Hermes, que era o Presidente quando veio este camarada. A maldade está neste final: “para divulgar as idéias da ditadura”. Nunca teve nada disso.

OTÁVIO LUIZ MACHADO: e tem uma citação do senhor segundo a Revista (Época): “‘Esses estudantes tinham capacidade de liderança e aprendiam a combater o comunismo’, lembra o ex-ministro”.

JARBAS PASSARINHO: sim, porque quando eles estudavam e nós fazíamos estudos de comunismo os que aceitavam ser anti-comunistas saiam com argumentos. Era o rapaz que eu te disse do DCE de Minas. É bom você ouvir este rapaz.

OTÁVIO LUIZ MACHADO: qual o nome dele?

JARBAS PASSARINHO: eu posso te dar depois o nome. Ele me fez esta homenagem lá. Eu peço para o pessoal de Minas e eles te dão. Isso foi uma repetição em miniatura do eu fiz no Pará. E no Pará não foi com estudante. Já foi com o pessoal formado. Então, a partir do momento que nós descobrimos que o camarada tinha vocação para argumentar contra o comunismo. Por exemplo, a gente pegava as seis teses básicas de Marx. E este agora indo para a escola tinha argumento com o grupo comunista que estava lá dentro. (...) Eles viam porque eles tinham interesse. Esse rapaz veio porque era forte seu Diretório. E que opunha ao grupo comunista lá.

OTÁVIO LUIZ MACHADO: se reuniam em Brasília?

JARBAS PASSARINHO: em Brasília. Nós tínhamos aqui as reuniões. E não foi muito tempo, não. Era mais uma semana. Eles tinham alojamento aqui. E tinham as aulas que eram dadas por alguns alunos dedicados. É preciso rememorar isto bem, porque quem dirigiu o estudo final foi o embaixador Vieira Pinto