FONTE: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/02/memrias-nada-estudantis.html
Publicado em 10 de fevereiro de 2008
Memórias nada estudantis
Otávio Luiz Machado
A União Nacional dos Estudantes (UNE), juntamente com a Fundação Roberto Marinho (Rede ou Organizações Globo), que já torrou cerca de 2,3 milhões de Reais com o pretexto de oferecer uma contribuição à memória do movimento estudantil, no momento quer “mais” dinheiro. Quer ainda “apenas” mais de 2 milhões de Reais. O total de recursos públicos envolvido é nada mais e nada menos que 4,5 milhões de Reais.São dados que constam no sítio do Ministério da Cultura (MINC), embora ali não ficou registrado que “projeto” Memória do Movimento Estudantil (financiado pela Petrobras entre 2004 e 2007) nada fez de positivo à memória do movimento estudantil.Com o aval do MINC, de estatais, da Rede Globo e de Parlamentares (como as emendas ao orçamento de Alice Portugal, Inácio Arruda e Renildo Calheiros), a UNE montou um enorme esquema de arrecadação de recursos públicos com a falsa justificativa de resgatar a história do movimento estudantil brasileiro.A história pessoal do Presidente Lula, de muitos militantes do PC do B e da própria esquerda brasileira não pode deixar ser misturada com um tipo de gente que quer apenas ganhar muito dinheiro. É natural que a UNE e a Fundação Roberto Marinho iludiram muita gente do Governo Federal e das estatais com propaganda falsa em relatórios bem diagramados e de capas bem feitas. Mas com resultados ineficazes e que em nada colabora com o nosso País.Além do desperdício de recursos públicos (milhões de Reais em vídeos para beneficiar a Rede Globo), de propaganda enganosa (a Fundação Roberto Marinho atribui ao projeto deles o que mais recolheu depoimentos de ex-militantes estudantis) e de fraude (os 70 anos da UNE ocorre agora em 2008), o que a UNE quer com quase 5 (CINCO) MILHÕES DE REAIS?Para tentar (e não conseguir) reconstituir a história do movimento estudantil nunca foi destinado um volume de recursos tão imenso como aqueles que a UNE está apossando. O primeiro projeto possui os seguintes dados:- Nome: Memória da U.N.E- Número do Projeto (PRONAC): 030926- Nome do Proponente: Fundação Roberto Marinho- Síntese do Projeto: Recuperação e preservação da memória e da história da UNE. Criação de acervo sobre a história do movimento estudantil através de um site na internet, CD-ROM e gravação de um vídeo digital com depoimentos de dirigentes e militantes de diferentes épocas.- Valor Aprovado: 3.062.134,50- Valor Captado: 2.377.496,58- Fonte: http://www.cultura.gov.br/salic4/index.php?pronac=030926O Ministério da Cultura já aprovou mais dois projetos:1) Nome: Memória do Movimento Estudantil - complementação- Número do Projeto (PRONAC): 076435- Nome do Proponente: União Nacional dos Estudantes - UNE- Síntese do Projeto: Projeto de continuidade dos projetos Memória da UNE I e II, com objetivo de formar o Centro de Estudos Honestino Guimarães, que passará a administrar o acervo produzido nas etapas anteriores, bem como ampliá-lo, divulgá-lo no sítio desenvolvido pelo projeto (www.mme.org.br) e empregá-lo na produção de pesquisas sobre a temática dos movimentos estudantis.- Valor Solicitado: 1.586.700,00- Valor Captado: 00,00- Fonte: http://www.cultura.gov.br/salic4/index.php?pronac=0764352) Nome: Sempre Jovem Sexagenária- Número do Projeto (PRONAC): 0710778- Nome do Proponente: União Nacional dos Estudantes - UNE- Síntese do Projeto: Visa recuperar e organizar as informações sobre a história, através do levantamento de dados, organização de um acervo de documentos, coleta de depoimentos orais de ex-militantes, pretende ainda publicar um livro e um documentário, objetivando desenvolver a arte em geral envolvendo a área da leitura.- Valor Aprovado: 706.470,00- Valor Captado: 650,00Emenda do TesouroDeputado Federal: Alice Portugal: 13.392.1142.4796.0264 - R$ 200.000,00 Deputado Federal: Inácio Arruda: 13.392.1142.4796.0264 - R$ 200.000,00 Deputado Federal: Renildo Calheiros: 13.392.1142.4796.0001 - R$ 250.000,00 TOTAL DE EMENDAS : R$ 650.000,00/ Aguarda descontingenciar orçamento/limite Financ.- Fonte: http://www.cultura.gov.br/salic4/index.php?pronac=0710778O projeto anterior, que foi realizado com cerca de 2,3 milhões de reais não produziu nada de significativo nem para a cultura brasileira. Somando-se os três valores, ou seja, cerca de 4,5 milhões, a UNE cada vez mais se recolhe em relação à atuação do movimento estudantil. Alguns até dizem que a UNE foi comprada.Outro aspecto importante de ser tratado é o acesso ao pouco que o projeto Memória do Movimento Estudantil produziu. È incrível que um projeto apoiado com milhões de reais de verbas públicas ofereça ao leitor interessado um livro por um valor muito alto (R$60,00). É o caso do livro “Memórias Estudantis: da Fundação da UNE aos nossos dias” (de Maria Paula Araújo, Editora: Relumé Dumará, 2007), que é, juntamente com “Memória do Movimento Estudantil” (Editora do Museu da República, 2005), o que o projeto da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da Fundação Roberto Marinho (FRM) “Memória do Movimento Estudantil” conseguiu oferecer ao leitor brasileiro.Como é um projeto que contou com muitas outras benesses à sua disposição, o que se esperava era algo mais significativo e que realmente fizesse avançar o estudo do tema. Agora, quando a UNE busca o mesmo valor como segunda parcela para a “continuidade” do referido Projeto, o que poderemos ficar nos perguntando sobre o que irá sair de agora em diante? O contribuinte brasileiro deveria ser perguntado primeiro se estaria disposto a pagar mais uma conta sem nenhum retorno.O objetivo do livro foi o de lançar luz à história da UNE a partir da documentação organizada e produzida pelo projeto MME, o que consideramos inicialmente um fator limitante à ambição do próprio título do livro, pois o projeto não possui muita documentação escrita ou depoimentos que permitam reconstituir satisfatoriamente a história da UNE. E muito menos do movimento estudantil brasileiroEm menos de cinco meses, a autora teve a incumbência de redigir e concluir o livro. Um desafio que poucos topariam. Não cumpriu bem, pois demonstrou não saber recortar os principais fatos relevantes da história da UNE.Os compromissos institucionais do projeto MME são trazidos nos dois primeiros textos do livro. O primeiro é um texto assinado pela Petrobras intitulado “A Petrobras e a Memória do Movimento Estudantil”, que reafirma seu apoio ao projeto, assim como entende que “apoiar o resgate, a preservação e a difusão da memória do movimento estudantil é uma forma de participar de um esforço cujo objetivo principal é impedir que essa história caia no esquecimento”. O patrocinador parece estar satisfeito, pensando em estar contribuindo com um projeto de profundidade. Falsa ilusão. O livro passa longe da contribuição para o resgate, preservação e a difusão da memória do movimento estudantil.O segundo texto, que é de autoria da Fundação Roberto Marinho e intitula-se “Memória do Movimento Estudantil”, é dotado da mais pura ilusão, pois a entidade da Rede Globo diz esperar que a simples difusão da memória do movimento estudantil fosse fundamental para a conscientização dos jovens acerca da importância de sua ação política. Justamente a empresa que fomenta a cultura do consumo diariamente para a juventude, traz os programas menos educativos para os jovens e monopoliza toda a produção artística do país.O livro foi uma tentativa mal sucedida de propaganda do projeto Memória do Movimento Estudantil para alicerçar um programa de captação de recursos sistematicamente com o pseudo argumento de trabalhar para a memória do país. Nem o apelo da propaganda enganosa do site da Fundação da Rede Globo conseguiu demonstrar a sua relevância:"O maior conjunto de testemunhos sobre a militância estudantil brasileira reunido no país, organizado pelo projeto Memória do Movimento Estudantil, se transformou em dois filmes e um livro" (ver em http://www.frm.org.br/main.asp?TeamID=&ViewID={19680108-E803-461C-84B6-C316A58714DD}¶ms=itemID={32EA4035-3D78-4D75-94D8-BE2C09C66322};&UIPartUID={D90F22DB-05D4-4644-A8F2-FAD4803C8898}&u=u).O País possui projetos que reuniu muito mais depoimentos que a própria UNE/Fundação Roberto Marinho. Preservar o quê? Apresentar o que já foi dito milhares de vezes como algo inédito? E não apresentar os estudos clássicos sobre movimento estudantil que são muito melhor trabalhados, profundos e críticos?Ao eleger o que já foi dito milhares de vezes, o projeto da UNE em parceria com a Rede Globo contribui para o esquecimento daquilo que ainda não foi exposto. E mais uma vez reproduzem a idéia de que movimento estudantil só existiu em dois ou três Estados do Sudeste. E por alguns poucos personagens que são tratados como “mitos”.É um erro da autora ao falar do “amplo acervo de depoimentos de antigos e atuais militantes e dirigentes da entidade, coletados e organizados pela equipe do Projeto Memória do Movimento Estudantil”. Qual o amplo acervo produzido?Ao final do livro, a autora publicou a lista das 100 entrevistas do projeto MME, que qualquer iniciante ao tema poderá ver a sua insuficiência. É bom chamar a atenção para o seguinte: cerca de 10% dos entrevistados são dirigentes da UNE num período mais recente. E que nada teriam a contribuir para a história da UNE.As principais fontes utilizadas no livro são pobres. Houve a exclusão de outras fontes mais relevantes, além da utilização de entrevistas com pautas muito questionáveis. O projeto não conduziu bem as entrevistas. Nem os depoentes falaram o suficiente sobre a história do movimento estudantil. Não foram muito bem explorados pelas lentes do vídeo do Projeto.A autora obscurece ao invés esclarecer sobre a data de criação da UNE com alguns argumentos pouco convincentes. Se tivesse consultado realmente os novos estudos sobre o movimento estudantil poderia ter refletido um pouco melhor sobre a origem da UNE. E não ficaria nos argumentos vazios apresentados.Ademais, a autora poderia ter consultado a própria Coordenadora Técnica do Projeto MME, a senhora Angélica Muller, que inclusive produziu dissertação de mestrado que passa pela origem da UNE. O trabalho de Muller não é nem citado. É frustrante a omissão da autora diante da história oficial da UNE, a entidade que encomendou o projeto MME à Fundação da Rede Globo.A partir daí, cremos que o marketing dos 70 anos da UNE foi a forma encontrada para a captação de recursos públicos aos milhões, pois a UNE sequer estudou as conclusões do Projeto MME sobre a data correta de fundação da UNE.A Coordenadora Técnica do Projeto afirmou à Revista de História da Biblioteca Nacional que a UNE foi fundada oficialmente em 1938. Ao ser questionada sobre o pôrque da UNE divulgar que a data de fundação foi agosto de 1937, Muller novamente confirma a data da criação, mas sem questionar a data fictícia da entidade: “Porque naquele ano a Casa do Estudante do Brasil, no Rio de Janeiro, criou o Conselho Nacional de Estudantes. Foi, de fato, a principal origem da UNE, mas, pelo seu estatuto, o Conselho não podia ter fins políticos. Inclusive proibia os membros de abordar assuntos políticos. Quando houve o Segundo Congresso Nacional dos Estudantes, em dezembro de 1938, militantes do Partido Comunista já haviam tomado conta do Conselho e conseguiram aprovar uma pauta explicitamente política. Com isso, deram outro perfil à iniciativa e propuseram a criação de um novo órgão: a União Nacional dos Estudantes do Brasil. A carta-circular que menciona a UNE pela primeira vez é datada de dezembro de 1938” (http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1089)Da história da Fundação da UNE, é lamentável que um único depoente que ali não se trabalhou adequadamente o nome de Antônio de Franca, sobretudo no que se refere ao tema da sua tese apresentada ao II Congresso da UNE: a “criação da UNE”. Que são questões já exploradas em trabalhos de fôlego como os de Arthur José Poerner (O Poder Jovem) e John Dulles (A Faculdade de Direito de São Paulo e a Resistência Anti-Vargas: 1938-1945).Na própria narrativa sobre o começo da história da UNE começa a série de erros e as enormes lacunas que marcam o livro “Memórias Estudantis”, como é o caso de indicar o renomado físico pernambucano José Leite Lopes como “estudante de física” daquele período. Na crise da Legalidade, que foi muito importante, a UNE estranhamente sumiu de cena.Outro ponto é o total esquecimento das entidades estudantis de base, pois a UNE é colocada no maior destaque, que muitas das vezes no livro é altamente sobrevalorizada. Se a autora tivesse realmente tomado contato com a produção acadêmica mais recente sobre o movimento estudantil – como foi relatado no início do livro – teria maiores condições de apresentar que o movimento estudantil foi retomado logo no início dos anos 1970 com a contribuição vários diretórios e centros acadêmicos.A homenagem do líder estudantil Honestino Guimarães não foi devidamente feita no livro, embora com algum destaque. Nada de relevante foi resgatado do período de militância de Honestino.Das quase 300 páginas do livro – boa parte com fotografias ou imagens de página inteira -, 10% delas são utilizadas para reproduzir a entidade já sob o domínio do PC do B. E o seu atrelamento sem críticas ao Governo Federal, incluindo até a reprodução de bilhetinho do então Ministro do MEC (Cristovam Buarque) ao então Presidente da UNE (Felipe Maia). Aí está inevitavelmente selada a entrega total da UNE ao MEC, que foi consolidada e aumentada em seguida, na longa gestão da Presidência da UNE de Gustavo Petta. E sem nenhum arrependimento do seu papel chapa-branca na condução da UNE. Felizmente não do movimento estudantil, que cresceu e se fortaleceu bem longe da UNE.Como registro é importante ressaltar que, para a queda do então petista Cristovam Buarque, foi desenvolvido por alguns membros da UNE um trabalho pesado nos bastidores. Não bastava se atrelar ao MEC. Queriam controlar o próprio MEC para seus interesses particulares. A UNE até conseguiu ministério e outros cargos importantes para si um pouco depois com a política do que “é dando que se recebe”. Sem falar nas verbas públicas obtidas das formas menos transparentes possíveis.Creio que o projeto MME busca ludibriar a opinião pública. Ao invés de incentivar a participação política dos estudantes, a própria UNE tem utilizado do silêncio em relação aos problemas nacionais.Ao invés de reconstituir a história do movimento estudantil, o que é feito é uma cópia mal reproduzida do que já se sabe acerca do movimento estudantil. Se tirar o livro como base para a própria história da UNE o leitor está perdido. É um de livro de poucos resultados. O pior livro sobre movimento estudantil nos últimos tempos.O pouco que é oferecido, se for somado com o valor financeiro do livro, a história continuará no esquecimento. Levando-se em consideração o alto custo do projeto em relação ao que oferecido, o país precisaria desembolsar algumas centenas de milhões de reais para uma reconstituição histórica do movimento estudantil digna de nome.Mesmo que várias gestões de Presidentes da UNE não tenham feito bonito naquilo que deveria atuar; ou mesmo que ex-Presidentes da UNE hoje estejam ferindo a ética pública, como é o caso do Ministro Orlando Silva (que utilizou um cartão corporativo Executivo de forma irregular e lesando os cofres públicos) e do Deputado Renildo Calheiros (que faltou 88,2% total do trabalho em Comissão a que se propôs atuar), creio que não podemos ficar desestimulados a reconstituir a história do movimento estudantil.É natural que a atitude mesquinha das direções da UNE não agrade antigos militantes do movimento estudantil. E muito menos estudantes de hoje que querem atuar e que não encontram espaços na UNE. Para um ex-vice-Presidente da UNE, Clemente Rosas, que esteve em Brasília a convite do Senado para uma “comemoração” dos 70 anos da UNE (em 2007), “hoje, porém, um único partido – o PCdoB – comanda a instituição, já por dez gestões sucessivas. É natural que a instrumentalize para os seus interesses imediatos e, como compõe a base de sustentação do governo, não deseja desgastá-lo, nem aos outros partidos aliados. Só isso pode explicar a ausência dos estudantes em um movimento que teriam tudo para liderar, como em 1992, e com motivação até mais forte: os casos de improbidade que vêm à tona agora são ainda mais graves e mais numerosos” (artigo de Clemente Rosas intitulado “Onde estão os caras-pintadas?”, Recife, Jornal do Commercio, 12 de Outubro de 2007).É natural que a equipe do Projeto Memória do Movimento Estudantil tente apresentar uma produção nada precisa sobre a história do movimento estudantil. É o caso do artigo de Angélica Muller (Coordenadora Técnica do Projeto Memória do Movimento Estudantil) intitulado “Os Usos Políticos do Passado: A Construção da História da União Nacional dos Estudantes na sua Reconstrução (1976-1979)”, que fez uma leitura rasteira do Memorex. É o que podemos concluir através do seu texto.A autora atribuiu ao DCE da USP a produção do Memorex, mas não consultou fontes específicas que fornecessem tal informação (ver http://snh2007.anpuh.org/resources/content/anais/Ang%E9lica%20M%FCller.pdf.).Para Ary Costa Pinto e Marianna Monteiro, dois dos vários integrantes da equipe que produziu o Memorex,“A autora parece estar bem preocupada com os usos políticos da história e até mesmo surpresa com o impulso dos conhecimentos teóricos, mas pouco se pergunta a respeito do “mistério” do expediente de Memorex e parece não se dar conta das inúmeras referências que acompanham a maior parte da documentação publicada. Um pesquisador atento não deixaria de visualizar o expediente da publicação, na página referente aos anos 61/62...” (http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2007/09/rememorex-uma-rebeldia-necessria-por_27.html)E continuam:“Aspecto importante em qualquer análise de discurso é a definição do sujeito da enunciação. E nesse item Angélica Müller cochila. Para ela esse sujeito é o DCE da USP, ignora solenemente a Edições Guaraná, os autores do trabalho”..Outra questão importante tratada no artigo dos dois autores foi o seguinte: no comentário de Muller sobre o Memorex haveria um erro quanto à data de fundação da UNE. Para Muller, “outra versão para fundação da UNE foi apresentada em minha dissertação de mestrado onde, através da documentação pesquisada, foi evidenciada a fundação da entidade em 1938” (Muller, 2007). Mas Pinto e Monteiro afirmam:“Para completar, Müller reivindica para si o estabelecimento da data da criação da UNE em 1938, parecendo não perceber que o Memorex estampa em letras garrafais: “1938 – O Segundo Congresso. A separação da CEB dos estudantes ou a formação da verdadeira UNE”” (Monteiro e Pinto, 2007).O problema maior da UNE foi a manipulação da data da fundação da entidade a seu favor. Para a Coordenadora Técnica do projeto Memória do Movimento Estudantil, diferentemente da UNE (que pediu o projeto), a UNE foi criada em 1938. Mas a UNE lançou como data de 70 anos, 1937. Leia o que disse Angélica Muller:"PERGUNTA: A UNE não está completando 70 anos?ANGÉLICA MULLER: Oficialmente, ela só foi fundada em 1938.PERGUNTA: Por que a própria entidade diz que foi em agosto de 1937?ANGÉLICA MULLER: Porque naquele ano a Casa do Estudante do Brasil, no Rio de Janeiro, criou o Conselho Nacional de Estudantes. Foi, de fato, a principal origem da UNE, mas, pelo seu estatuto, o Conselho não podia ter fins políticos. Inclusive proibia os membros de abordar assuntos políticos. Quando houve o Segundo Congresso Nacional dos Estudantes, em dezembro de 1938, militantes do Partido Comunista já haviam tomado conta do Conselho e conseguiram aprovar uma pauta explicitamente política. Com isso, deram outro perfil à iniciativa e propuseram a criação de um novo órgão: a União Nacional dos Estudantes do Brasil. A carta-circular que menciona a UNE pela primeira vez é datada de dezembro de 1938" (FONTE: ttp://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1089)É difícil confiar numa entidade que manipula os dados para arrecadar mais dinheiro ao seu proveito.Outro aspecto do debate sobre o Memorex foi a sua própria data de publicação, que para Muller foi em 1979. Novamente dois dos autores restabelecem a questão:“Angélica Muller, em sua comunicação, também afirma que a publicação é de 1979 quando é, de fato, de 1978. Essa imprecisão na datação faz grande diferença na apreensão da conjuntura em que o trabalho veio à luz. Em 1978, a ditadura ainda agia com muita truculência, sem falar que a Edições Guaraná se adiantara em relação aos dirigentes estudantis na iniciativa de elaborar uma história da UNE”.Quanto à reconstituição da memória do movimento estudantil brasileiro, dois dos autores do Memorex pensam que exista um risco quanto à plena realização de um trabalho efetivo que sirva de apoio, suporte e conhecimento às novas gerações:“Talvez, seja hoje difícil acreditar que o Brasil já tenha sido governado por forças que não hesitavam em recorrer à truculência para impedir que a juventude brasileira pudesse investigar, descrever e analisar seu passado. E, no entanto, essas forças existem e hoje se apresentam com novos simulacros e astúcias, mas com o mesmo objetivo: impedir que a nossa juventude tenha acesso ao seu passado e possa escolher livremente o que lembrar e preservar”.A história do movimento estudantil precisa ser feita a partir de instituições sérias e dispostas a empregar todas as suas energias e criatividade num trabalho significativo. E assim permitir ao tema um pouco mais de destaque.É óbvio que não devemos esperar nada da UNE em tal sentido. Mas são tantas entidades estudantis de base, universidades e centros de documentação sérios que podem realizar trabalhos muito interessantes e importantes para reconstituir a história do movimento estudantil. E muitos estão fazendo.BIBLIOGRAFIAPOERNER, Arthur José. O poder jovem. História da participação política dos estudantes brasileiros. 4a ed. Ilustrada, revisada, ampliada e atualizada. São Paulo: Centro de Memória da Juventude, 1995.DULLES, John W. F. A Faculdade de Direito de São Paulo e a Resistência Anti-Vargas (1938-1945). Rio de Janeiro: Nova Fronteira; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1984.MEMOREX: elementos para uma história da UNE. São Paulo: Edições Guaraná e DCE-Livre USP ‘Alexandre Vanuchi Leme’, 1978.MULLER, Angélica. Os usos políticos do passado: a construção da história da União Nacional Dos Estudantes na sua reconstrução (1976-1979). Disponível em: http://snh2007.anpuh.org/resources/content/anais/Ang%E9lica%20M%FCller.pdf.SANFELICE, José Luís. Movimento Estudantil: a UNE na resistência ao golpe de 64. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1986.PELLICCIOTTA, Mirza Maria Baffi. Uma aventura política. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997.SANFELICE, José Luís. Movimento estudantil: A UNE na resistência ao golpe de 64. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1986.FÁVERO, Maria de Lourdes. Da universidade “modernizada” à universidade disciplinada: Atcon e Meira Mattos. São Paulo: Cortez, Autores Associados, 1991.____. UNE em tempos de autoritarismo. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994.MACHADO, Otávio Luiz. 70 anos da UNE: o que já sabemos? O que precisamos saber? Recife: Proenge, 2007.CD-ROM.____. Movimento Estudantil no Brasil: histórias e registros entre 1903 e 2007. Recife: Proenge, 2007.DVD-ROM.____. Juventude, Cidadania, Educação, Democracia e Movimentos Estudantis. Recife: Proenge, 2008. DVD-ROM.____. ZAIDAN, Michel. Movimento estudantil brasileiro e a educação superior. Recife: Editora Universitária UFPE, 2007.MONTEIRO, Marianna Francisca e PINTO, Ary Costa. REMEMOREX - Uma Rebeldia Necessária. Disponível em: http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2007/09/rememorex-uma-rebeldia-necessria-por_27.htmlROSAS, Clemente. Onde estão os cara-pintadas? Disponível em: http://hugocaldas.blogspot.com/2007/10/onde-esto-os-caras-pintadas.htmlANEXO:MEMOREX (PARTE 1)http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2007/10/blog-post_9041.htmlMEMOREX (PARTE 2)http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2007/10/blog-post_03.htmlMEMOREX (PARTE 3)http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2007/10/livro-memorex-parte-3.htmlMEMOREX (PARTE 4)http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2007/10/blog-post_09.html
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