Livro UNE Instrumento de Subversão Sonia Seganfreddo
Sonia Seganfreddo
Fonte digital
Digitalização da edição em papel
Ed. GRD -1963
Seganfreddo, Sonia Maria S (Sonia Maria Saraiva), 1937
“Série de quatorze reportagens, publicada sob o título
UNE—menina dos olhos do PC ... em O Jornal durante o mês
de setembro de 1962” -Dedalus -http://dedalus.usp.br
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© 2008 — Sonia Seganfreddo
USO NÃO COMERCIAL -VEDADO USO COMERCIAL
ÍNDICE
Introdução
I — O que é a UNE
II — Pequeno histórico da UNE
III — 1949, ano de definição da UNE
IV — UNE volta a ser notícia em 1956
V — A UNE se declara fundamentalmente política
VI — Ainda a greve do terço e sua fundamentação ideológica
VII — Catequese estudantil comprovada em inquérito
VIII — Congresso de Quitandinha pratica arbitrariedades
IX — Conclaves estudantis internacionais são dirigidos por
Moscou
X — ISEB alicia estudantes e orienta a UNE
XI — ...e os poderes da república patrocinam o festival
subversivo
Conclusão
INTRODUÇÃO
Por que escrevi uma série de reportagens sobre a União
Nacional dos Estudantes denunciando-a em suas atividades
subversivas? Eis a pergunta a mim dirigida, muitas vezes, por
amigos, principalmente colegas e professores, preocupados com
a repercussão que minhas afirmações pudessem encontrar
mesmo nas esferas governamentais. Escrevi as reportagens, ora
apresentadas em livro, por uma questão de responsabilidade, de
conhecimento, de vivência e, acima de tudo, com a sadia
pretensão de esclarecer, na medida do possível, à grande
maioria de estudantes desinteressados e ingênuos que, sem
saber por que o fazem, auxiliam as manobras de elementos
regiamente pagos para agitarem o panorama universitário em
particular e a Nação em geral.
As atividades da UNE me preocupam devido à minha
formação democrática autêntica. Democracia é dinamismo, é
responsabilidade, é a possibilidade de errarmos, aprendermos e
corrigirmos os erros. O Estado Democrático tem as suas
obrigações para com o povo e, quando estas obrigações são
esquecidas, e uma casta dirigente exorbita em seus direitos,
propiciando a miséria e o desespero em seus comandados, a
situação torna-se perigosa. Idéias contrárias à formação
humanística e cristã de um povo encontram, neste mesmo povo,
abrigo seguro e possibilidades de evoluírem, culminando na
mudança violenta de uma estrutura estatal e social. Por isso é
preciso que tenhamos cuidado. No Brasil o erro está em nossa
democracia de fachada, deteriorada por arbitrariedades,
desumanismo e ignorância, muita ignorância. É preciso que
corrijamos o erro. Tal não encontra solução, entretanto, em
doutrinas importadas e, sob certos aspectos, piores que a mais
corrupta das democracias. É necessário, isso sim, uma
consciência nacional — soma das várias consciências
individuais — que desperte do eterno sono em que está
mergulhada há muitos anos. À juventude compete a tarefa de
lutar e, futuramente, galgar os postos de mando da Nação. E é
na juventude, revolucionária por natureza, e desencantada com
a irresponsável democracia brasileira, que se incute idéias e
técnicas marxistas-leninistas ao invés de esclarecê-la e animá-la
para a reconstrução de um Brasil melhor, mais humano,
formado por homens dignos e responsáveis. Por homens que
compreendam a sua verdadeira situação histórica: viverem
livres e serem úteis à comunidade.
A UNE representa uma juventude inconsciente. Suas
atividades não preocupam às autoridades do país, que apenas
em épocas de agitação ou greve resolvem tomar atitudes de
pseudo-autoridade, acabando, logo, por oferecerem, aos líderes
estudantis, todas as regalias e proteções. A UNE, esta é a
verdade, tornou-se uma das maiores células do comunismo
internacional instalada em nosso território, servindo, os seus
elementos, aos agentes bolchevistas, de quem, provavelmente,
recebem dinheiro, pelos caminhos mais diversos... A entidade
estudantil, portanto, constitui-se num problema de segurança
nacional. O mais lamentável é a apatia da grande maioria dos
estudantes de formação democrática, mas envenenada pelo
excesso de propaganda de uma entidade que, de direito,
representa os universitários brasileiros. Esta maioria compactua,
por desconhecimento ou medo de ser tachada de “reacionária”,
com os ideais de um pequeno número de estudantes, muitos dos
quais profissionais que passam a vida em universidades, na
catequese de jovens ao credo vermelho.
Quando decidi entrar na Faculdade Nacional de
Filosofia, outros interesses me moviam. Escolhi o curso de
Filosofia por entender que uma formação filosófica
possibilitaria a concretização de meus planos, referentes à
literatura musical. Assim, em agosto de 1958 me matriculei no
Curso Pré-Vestibular da Faculdade Nacional de Filosofia da
Universidade do Brasil, quando, imediatamente, passei a sofrer
a pressão catequética dos professores do Pré-Vestibular, alunos
da Faculdade, liderados pelo Prof. Álvaro Borges Vieira Pinto,
o catedrático de História da Filosofia. O grupo de professores,
de início, tratava-me muito bem, com o intuito de captar a
minha simpatia e introduzir-me na “realidade brasileira”.
Confesso que me fascinei um pouco pelas críticas e combates
do grupo. Realmente, o Brasil estava, como ainda está,
mergulhado na maior anarquia e injustiça social. Analisando,
porém, uma série de atitudes, completamente opostas aos meus
princípios, cheguei à conclusão de que não poderia dar
autoridade moral a quem não apresentava o mínimo de
coerência e decência. Mantive-me calada, não compactuando,
nem fazendo oposição, pois o meu interesse era o de cursar a
Faculdade sem fazer política.
Em novembro de 1958 o grupo participou da invasão ao
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, cujo
Presidente, Embaixador Roberto Campos, era, então,
considerado entreguista. A UNE, dirigente do movimento,
alegava que o Presidente da República devia ser pressionado a
fim de demitir o Sr. Roberto Campos e colocar em seu lugar um
elemento nacionalista. Pouco entendia eu de política, e os
termos “nacionalista”, “entreguista”, “reacionário”, tão
explorados, confundiam-me. Pouco sabia, também, sobre a
UNE e sobre suas atividades. Isso, aliás, acontecia e ainda
acontece com os estudantes que ingressam em nossas escolas
superiores e o grande mal é que a maioria se entusiasma e se
deixa levar pelos “ensinamentos” que recebe, não se
preocupando em ler, analisar e raciocinar. Nesta época comecei
a estudar o problema, chegando à conclusão de que toda a
doutrinação da UNE não passava de uma deformação da
realidade. Partiam seus militantes de premissas verdadeiras,
pois, de fato, há miséria, fome, analfabetismo, grupos
econômicos, etc, em nosso país, mas as causas reais dessas
situações eram propositadamente ignoradas e arranjadas na
conta de chegar com o fito de possibilitarem as teses
subversivas.
Mas, obrigada a participar da arruaça contra o BNDE,
recusei-me determinantemente, alegando que não era aluna da
Faculdade, não conhecia a questão e nem considerava próprio
moças participarem de movimentos de rua. A perseguição
contra mim começou. Passei a ser “difamada”, conforme
supunha o grupo catequisador, através de carimbos próprios dos
comunistas: “burguesa decadente”, “reacionária”, “entreguista”,
“sem capacidade intelectual para fazer curso superior”, etc...
Recebi, ainda, um aviso de que seria eliminada no vestibular,
uma vez que o Sr. Vieira Pinto, presidente da banca
examinadora, só deixaria ingressar na Faculdade os candidatos
“evoluídos”, aqueles que se haviam deixado influenciar pela
pregação marxista misturada com a mais completa imoralidade.
Após um vestibular desonesto fui “reprovada” junto com outros
elementos previamente estudados pelo grupo.
Aí começou o meu combate. Revisões de prova, ameaça
de ação judicial, ameaça de denúncias pela imprensa e uma
série de outras medidas fizeram com que o caso fosse resolvido
imediatamente. O Sr. Vieira Pinto, e seu assistente, contudo,
não deixaram de me perseguir em dois anos de curso. Quanto ao
caso do vestibular e um inquérito disciplinar levado a efeito na
Faculdade Nacional de Filosofia, dedico um capítulo deste
trabalho.
Foi assim que entrei na política estudantil. Mais por
emoção e sentimento de justiça do que, propriamente, por
conhecimento e vontade. Da emoção passei ao estudo sereno
dos vários problemas e, usando da pena, durante os quatro anos
de curso, colaborei, como pude, para o esclarecimento daqueles
que ainda não se entregavam às sórdidas campanhas de
corrupção intelectual e moral ministradas em nossas escolas
superiores. Neste livro está, pois, um dos últimos trabalhos
feitos em minha vida universitária.
Em agosto de 1962, após ter rompido a greve
universitária, de objetivo político, decretada pela UNE, em
reivindicação a um terço de estudantes nos colegiados
universitários, recebi um convite do jornalista Paulo Vial
Corrêa, secretário de “O Jornal”, para escrever uma série de
reportagens sobre a propaganda e a atividade comunista no
meio estudantil. Aceitei o convite, como disse no início,
consciente de minha responsabilidade, acreditando ser um dever
cívico levar ao público e às autoridades, embora muitas saibam
e não queiram agir, as atividades subversivas de estudantes
manobrados pelos comunistas. Apesar, porém, de me sentir
capacitada para falar do problema, por dois motivos — estar
concluindo um curso de Filosofia e ter prática jornalística —
senti o peso da grande tarefa e o receio natural de sofrer
perseguições, pois os comunistas não têm escrúpulos quando se
propõem a aniquilar alguém que atrapalhe e denuncie as suas
atividades. Isso, no entanto, logo passou e, pondo mãos à obra,
em menos de quinze dias consegui recolher o material
necessário para uma série de quatorze reportagens, publicada
sob o título “UNE — MENINA DOS OLHOS DO PC”.
A série, publicada em “O Jornal” durante o mês de
setembro de 1962, logo foi reproduzida em vários órgãos dos
Diários Associados, correndo pelo Brasil a fora. Tive o consolo
de ser procurada por várias associações estudantis, colégios e
universitários, todos estarrecidos com as denúncias feitas e
afirmando que se tornava necessária, com urgência, uma ação
democrática consciente em nossas faculdades.
O tempo que tive para compilar o material e escrever as
reportagens não foi muito. Mesmo assim creio que apresentei o
suficiente para dar uma idéia do que é a União Nacional dos
Estudantes. Agora, por convite do editor Gumercindo Rocha
Dorea, publico este livro, uma coletânea das reportagens de “O
Jornal”, ampliadas em vários pontos com novos fatos e novas
pesquisas. As acusações aqui feitas são produtos dos próprios
relatórios da UNE e de suas demais publicações que podem ser
obtidas na sede da entidade. Recorri, também, aos noticiários de
jornais, os mais antagônicos politicamente, e publicações de
caráter secreto quanto à sua fonte e pessoas que me auxiliaram
em sua obtenção. Por uma questão de ética não posso revelá-las.
Agradeço a todos os que permitiram a realização deste
trabalho, principalmente aos entrevistados que me forneceram
os dados suficientes para recompor uma pequena história sobre
a UNE, suas campanhas, suas glórias, suas quedas, suas
misérias. Agradeço, também, antecipadamente àqueles que,
verificando falhas neste volume, me remetam sugestões e dados
para melhorá-lo numa possível segunda edição.
Estado da Guanabara, janeiro de 1963.
S. S.
I - O QUE É A UNE
A União Nacional dos Estudantes é a entidade máxima
dos estudantes brasileiros. A ela cabe orientar, planejar,
coordenar e executar as tarefas relacionadas com os estudantes
universitários, pois a entidade supervisiona as Uniões Estaduais
dos Estudantes e os Diretórios Centrais dos Estudantes,
entidades que congregam escolas superiores do país. Sua
diretoria é eleita anualmente em Congressos Nacionais dos
Estudantes, nos quais se fazem representar dois estudantes de
cada Faculdade e de cada Diretório com o direito de voto.
A UNE é importante para o comunismo porque se situa
no Brasil, país líder da América Latina, e no principal estado da
Federação. Qualquer movimento estudantil partindo da
Guanabara, mobiliza setores da Nação, especialmente a
imprensa que, muitas vezes, sem saber os verdadeiros objetivos
de tais movimentos, os noticia com simpatia. A ação da UNE,
também, se faz sentir junto ao Governo. Através de manobras
bem arquitetadas, sob o pretexto de conseguir melhoria em
restaurantes, obtenção de livros ou viagens culturais, a UNE
recebe dos poderes Legislativo e Executivo verbas vultosas que
são empregadas em propagandas subversivas e em criação de
centros culturais (o Centro Popular de Cultura, por exemplo)
cuja finalidade é a de difundir o marxismo entre os estudantes e
os trabalhadores. O dinheiro obtido do Governo serve, ainda,
para alimentar e vestir os estudantes profissionais que não
estudam, mas que agitam e atrapalham aqueles que desejam
fazer da Universidade uma instituição educacional.
Dada a sua força, a UNE é, no Brasil, o principal
instrumento do comunismo internacional que, por meio da
União Internacional dos Estudantes (UIE), entidade comunista
sediada em Praga, envia agentes, técnicos e planos para os
comunistas militantes nas universidades. No Brasil o
aliciamento dos universitários, feito pelos agentes da UNE, já
assume proporções consideráveis que devem ser reprimidas
imediatamente, sob pena de a universidade se transformar em
centro político e constante foco de agitação.
A CATEQUESE FEITA PELA UNE
A UNE, recebendo instruções superiores, catequisa
jovens universitários. A técnica aplicada é a da “simpatia e
amizade”. Os catequisadores, já veteranos nas escolas,
convidam os calouros para praias, cinemas, bailes, estudos, etc.
Quando a vítima é do sexo oposto ao do catequisador, entra o
“golpe do namoro”. Os primeiros contatos são os mais cordiais
possíveis e o catequisador vai influenciando e adquirindo a
confiança do calouro. Perguntas embaraçosas e de duplo sentido
são formuladas aos jovens inexperientes que começam a cair
em confusão mental. Aproveitando-se desta confusão e da
dúvida, o catequisador vai levando o seu interlocutor para onde
quer, expondo teses, habilmente veladas, com segurança e
autoridade. Oferece, também, livros marxistas ao jovem,
afirmando-lhe que neles está a verdadeira evolução.
Quando a confiança entre mestre e discípulo é absoluta,
entra a parte moral. Família, sociedade, casamento são meios de
impedir a verdadeira evolução social. São hábitos burgueses
que devem ser abolidos. A literatura, agora oferecida, é
pornográfica, mas rotulada de “obras avançadas e de grandes
concepções”. O jovem, numa fase muito própria para ser
revolucionário e reformador, geralmente aceita a doutrinação,
convencido de que assim será evoluído.
A catequese varia de acordo com as escolas e os grupos
de alunos. Os que têm tendência à liderança são os preferidos.
Aos elementos inexpressivos o importante é que votem com os
“progressistas”. Quando um aluno se revolta com a catequese
que lhe é imposta, imediatamente o serviço de desmoralização
entra em ação. Logo a Faculdade conhece o “burguês
decadente”, “o fascista”, o “débil mental”, o “reacionário”, o
“antinacionalista”, o “entreguista”, etc. E é por isso que muita
gente não reage contra os elementos “progressistas da
esquerda”...
A aluna esquerdista é de grande importância na escola
para a obra de catequese. Quando bonita atrai os rapazes por
meio de atitudes masculinas de absoluta independência,
concedendo-lhes toda a série de facilidades e participando de
noitadas alegres.
O ESTUDANTE PROFISSIONAL
Os elementos comunistas, atuantes nas faculdades,
quando conseguem se formar, são encaminhados na vida a fim
de executarem a missão catequética em seus setores de
atividade. A propósito, atualmente, a pós-graduação dos
elementos filiados à UNE é feita no Instituto Superior de
Estudos Brasileiros (ISEB), local onde os ex-acadêmicos
“progressistas” encontram, sob a proteção do Governo, o
emprego fixo que lhes possibilita ordenado seguro.
Muitos elementos, porém, se perpetuam nas faculdades
através de dependências e ausências às provas. Estes elementos,
geralmente, estão matriculados em duas escolas superiores,
burlando assim a “severa” vigilância do Ministério da
Educação. Outros elementos terminam um curso e se
matriculam em outro ou em outra faculdade, especialmente na
que não lhes exige um exame vestibular.
PREFERÊNCIA DE PROFISSÕES
As faculdades visadas para a catequese são, em primeiro
lugar, as de Filosofia. Aí se formam professores que
desempenharão importante papel na orientação de
secundaristas. Nas faculdades de Filosofia, quase sempre
funcionam os cursos de Pré-Vestibular, onde os futuros
universitários começam a receber o marxismo em doses
controladas. Na Faculdade Nacional de Filosofia, por exemplo,
dois elementos freqüentam cada curso a mando da UNE.
Os cursos de Jornalismo, também nas faculdades de
Filosofia, oferecem material humano importante para a obra do
PC. Os jornalistas, atuando em jornais burgueses, podem forjar
notícias que impeçam o trabalho livre dos subversivos e fazer
promoções de atividades comunistas, muitas das quais bastante
camufladas.
Seguem-se as faculdades de Agronomia, Assistência
Social, Artes e Economia, devido às relações humanas que seus
diplomados exercem. Papel de relevo têm as faculdades de
Direito, devido a oratória que seus alunos desenvolvem, o que é
incoerente, uma vez que no regime comunista os advogados
perdem a sua razão de ser. E é interessante notar que os que
mais se dedicam à agitação estudantil cursam Direito, o que
prova o desconhecimento da sociedade e das instituições dos
países tidos como socialistas, por parte daqueles acadêmicos.
Todos sabem que em países comunistas não há o Direito Civil,
pois não há possibilidades de acordos salarial, contratual, etc...
O Direito Penal também não existe, pois são as comissões
estatais que fazem os “julgamentos”.
A UNIÃO INTERNACIONAL DOS ESTUDANTES
A União da Juventude Comunista (UJC) funciona
paralela ao PC, sendo subordinada ao Konsomol Russo. Ela
aparece ao público, porém, com o nome de Federação da
Juventude Brasileira. Seus diretores são elementos já
diplomados em alguma coisa, visto ainda não existirem comitês
estudantis nas Faculdades, o que seria arriscado devido ao fato
de tal entidade ser bastante visada e confessadamente
comunista.
O Konsomol, além de dirigir as Uniões das Juventudes
Comunistas existentes em vários países é, também, a dirigente
da União Internacional dos Estudantes (UIE), sediada em Praga
e organizadora dos diversos conclaves estudantis aos quais
comparecem federações de estudantes brasileiros credenciadas
pela UNE.
A UIE envia embaixadas em missão especial de
espionagem e ensinamento de novas técnicas para diversos
países, obtendo bastante êxito nos países subdesenvolvidos. Em
1956, a Polícia prendeu, no Brasil, enviados da UIE, caso que
relataremos mais adiante.
TOMADA DOS DIRETÓRIOS ACADÊMICOS
Os Diretórios Acadêmicos são objetivos dos comunistas.
Antes estes os conseguiam através de tumultos e coações, indo
até à agressão física àqueles que se opunham aos seus planos.
Com o tempo, porém, a técnica foi melhorando. As chapas são
formadas por “inocentes úteis” ou indivíduos que, suspeitos de
serem comunistas, de fato nada apresentam contra si. Os
“inocentes úteis” são elementos sem expressão e desconhecidos
em suas faculdades, mas facilmente manobráveis, e seguem a
orientação dos chefes comunistas. Estes elementos apresentam
fabulosos programas a serem postos em prática caso se elejam.
Se vencem, porém, passam a agir sob as ordens da cúpula
instalada na UNE.
Realizam, tais Diretórios, o programa de desmoralização
dos professores, conferências e mesas-redondas com elementos
declaradamente de esquerda ou simpatizantes ainda não
enquadrados na linha justa, sejam eles deputados, governadores,
professores ou artistas.
ASSALTO NAS ASSEMBLÉIAS
Nas assembléias universitárias os elementos comunistas
sempre estão presentes e conseguem tomar conta dos trabalhos
devido à persistência e “enrolação” que adotam. Acumulam a
mesa diretora com propostas e contrapropostas que retardam a
votação. Esta só é feita quando o “contador” — elemento da
UNE, União Estadual ou da própria Faculdade, que sabe qual é
o seu pessoal — após ter contado os presentes dá um sinal à
mesa.
Os democratas na hora da votação não estão mais na
assembléia, devido ao adiantado da hora, principalmente em se
tratando de moças. Assim uma Faculdade com 1.200 alunos
tem, em sua assembléia, inicialmente, cerca de 400 elementos.
Com o passar do tempo sobram uns 300, dos quais,
aproximadamente uns 200 votam com a UNE, e muitos destes
por ingenuidade. Duzentos alunos, portanto, são tidos como
maioria, numa Faculdade de 1.200 alunos, e é preciso que se
diga que os comunistas não faltam, sempre estão presentes,
mesmo “carregados em maca”.
A situação, embora exposta rapidamente, mostra que
uma minoria de agitadores consegue fazer movimentos
fantásticos em nome de todos os estudantes brasileiros. Isso é
uma farsa e daí a necessidade que têm os estudantes democratas
de se organizar e de agirem. Para tal é necessário que conheçam
a filosofia marxista assim como as várias doutrinas sociais. É
necessário que tenham confiança naquilo que fazem sem temer
as perseguições morais daqueles que não têm autoridade para
fazê-las. A posição da democracia, agora, deve ser a ofensiva.
II — PEQUENO HISTÓRICO DA UNE
UM ESCLARECIMENTO SOBRE A HISTÓRIA DA UNE
O objetivo deste trabalho não é o de relatar todos os
acontecimentos da UNE, ano por ano, em seus mínimos
detalhes. Isto seria quase impossível, não comportando a
realização de uma série de reportagens, mas um volumoso
compêndio. Seguindo o tempo, porém, procuramos trazer fatos,
os mais expressivos, os que possam dar uma visão das atitudes
públicas assumidas pela UNE.
O pequeno histórico a ser apresentado terá lacunas
correspondentes a períodos em que nada houve na entidade que
merecesse maior destaque. A UNE, nascida em 1937, pouco
antes do Estado Novo, tinha como finalidade congregar os
estudantes apolíticamente, desenvolvendo-lhes o verdadeiro
espírito de liberdade e incentivo às realizações de suas
potencialidades nos terrenos social e profissional. Nascida sob a
influência da Casa do Estudante do Brasil, rompeu a UNE com
aquela entidade em 1940, passando a ser autônoma em suas
ações. A Guerra motivou os grandes movimentos universitários
em prol da participação de nosso país contra os ditadores do
Eixo. Mas, foi nos anos de 1944 e 1945 que a UNE
desempenhou seu grande papel político, participando das
conspirações contra a ditadura de Getúlio Vargas. Grandes
partidos políticos se formavam ou ressurgiam após quinze anos
de silêncio. Entre estes a União Democrática Nacional e o
Partido Socialista Brasileiro, cujas primeiras reuniões tiveram
efeito no salão da União Nacional dos Estudantes, com a
participação de conceituados políticos e universitários, hoje
elementos de destaque na vida do país.
Pouco se tem a falar sobre a UNE a partir daquela data
até 1949, ano em que o primeiro movimento de rua perturbou a
vida da cidade, começando a se caracterizar a infiltração
comunista entre os estudantes. De 1956 até os nossos dias, a
UNE vem se tornando motivo de sobressalto junto a pessoas
responsáveis e de formação realmente democrática.
Todos os relatos dos acontecimentos que marcaram a
vida da UNE estão baseados em pesquisas, entrevistas,
trabalhos impressos pelas próprias entidades estudantis, jornais
universitários, órgãos de nossa imprensa e, especialmente os
relatórios de diretoria da própria UNE.
Mas, vamos a história da UNE.
a) ORIGEM DA UNE
Segundo Raymundo Nonato Rodrigues Vilella,
Secretário Geral da UNE, em 1954, autor do folheto “Fundação
da UNE”, a história da União Nacional dos Estudantes pode ser
dividida em três fases: antes, durante e depois da guerra. O
período inicial é de grande importância, por ser a fase de
organização da entidade e de sua definição.
Algumas escolas isoladas possuíam seus centros
representativos de caráter puramente cultural. A primeira
entidade estudantil com características nacionais data de 1929 e
ainda hoje existe, é a Casa do Estudante do Brasil, nascida por
iniciativa da Sra. Ana Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça,
visando a assistência social ao estudante e promovendo-lhe o
espírito de cooperação e solidariedade em torno de seus
problemas. A CEB tinha o apoio do Governo e cumpria seus
objetivos, determinados em estatuto, mantendo intercâmbios
entre as entidades estudantis do país e entre estas e as entidades
estrangeiras análogas.
Em 1932 a Casa do Estudante do Brasil recebeu a visita
de dois estudantes poloneses, pertencentes à antiga União dos
Estudantes Poloneses, que, impressionados com a ação da
entidade, sugeriram a sua filiação à Confédération
Internationale des Étudiants, sediada em Bruxelas e cúpula de
todas as entidades estudantis mundiais. Após entendimentos
com o nosso Governo, a CEB, em 1936, enviava a estudante
Clotilde Cavalcanti a Sofia, como representante do Brasil no
XVIII Congresso da CIE, a fim de propor a nossa filiação ao
órgão internacional. Em 1937, o Conselho da CIE, reunido em
Viena, aprovou por unanimidade a indicação, determinando “o
compromisso de convocar uma assembléia das associações
estudantis do Brasil para fundar a entidade máxima de
representação dos estudantes brasileiros”, conforme consta no
próprio estatuto da UNE.
A Casa do Estudante do Brasil, em conseqüência,
cumprindo o artigo 25 de seu estatuto, artigo que previa a
convocação de estudantes sob forma de Conselho Nacional,
deliberou a sua criação e convocou as entidades estudantis
existentes a se reunirem em Conselho Nacional de Estudantes.
A primeira convocação do referido Conselho trazia o subtítulo
de União Nacional dos Estudantes do Brasil para efeito de
filiação à Confédération Internationale des Étudiants. O
Conselho, formado de associações estudantis do país, dava
direito a dois votos a cada uma das entidades participantes.
PRIMEIROS ANOS DA UNE
A primeira sessão do Conselho Nacional dos Estudantes
teve lugar no então Distrito Federal, mas no dia seguinte o
Conselho se reunia novamente para deliberar sobre os seus
estatutos e regimento. Das várias deliberações, de grande
importância era a que proibia, nas reuniões, referências às
ideologias político-partidárias e religiosas. Os objetivos da nova
entidade seriam tão somente o ensino e os próprios estudantes.
Fizeram o primeiro estatuto da UNE os acadêmicos Luiz
Dias Ferreira, de São Paulo; Álvarez da Cruz, do Estado do Rio;
Henrique Bonança, do Paraná; Augusto Mascarenhas, da Bahia
e Valter Sá Cavalcanti, do Ceará. A primeira assembléia teve
grandes méritos, entre eles a fundação de uma entidade nacional
e a congregação de estudantes brasileiros para debates de seus
problemas. A primeira diretoria do Conselho Nacional de
Estudantes (ou UNE) era encabeçada pelo acadêmico José
Raimundo Soares. Neste período o CNE tomou parte na
“Semana da Siderurgia”, promovendo debates e conferências e
na “Campanha de Nacionalização do Ensino”, em colaboração
com o Exército, visando levar a língua e os hábitos brasileiros
aos núcleos alemães, italianos e japoneses.
Após um ano de funcionamento o CNE, em 1938,
preparou-se com a CEB e vários diretórios acadêmicos para a
realização do II Congresso Nacional dos Estudantes, sob a
presidência de Clotilde Cavalcanti. Este Congresso é tido como
segundo e não primeiro porque em 1909 houvera um I
Congresso Nacional dos Estudantes realizado em São Paulo.
O temário do II Congresso era estritamente de interesse
estudantil. Dos vários assuntos tratados pode-se citar alguns de
real competência estudantil: Orientação Universitária, Difusão
da Cultura, Estágios Remunerados, Cidade Universitária,
Ensino Rural, Assistência Médica e Judiciária ao Estudante,
Colônias de Férias, A Mulher estudante frente ao problema do
lar, Esportes universitários como intercâmbio estudantil, etc.
Funcionando no Estado Novo, o Conselho Nacional dos
Estudantes sentiu o problema político, dele não se omitindo e,
por isso mesmo, lutando pelos problemas específicos dos
estudantes, reafirmou a esperança em um futuro tranqüilo. É da
Circular do II Congresso o trecho que segue: “Numa época de
perturbações e incertezas, de esperanças e desilusões, a
mocidade das escolas tem o dever e a necessidade de se
conhecer, para junta poder melhor trabalhar, orientando a sua
ação num sentido comum. Seremos, sem dúvida, felizes, nos
reunindo isentos de quaisquer ressentimentos pessoais ou de
grupos, desejosos, unicamente, de discutir, dentro da mais
estreita camaradagem, os nossos problemas e as nossas
necessidades”.
Este II Congresso Nacional dos Estudantes marcado
para o período de 12 a 27 de outubro foi transferido,
posteriormente, para o de 1 a 15 de novembro, sendo,
finalmente, realizado entre 9 e 21 dezembro de 1938, no Teatro
Municipal, com a presença de professores universitários e
estudantes, sendo, inegavelmente, um dos mais proveitosos dos
que até hoje se tem notícia, conforme comenta Raymundo
Nonato.
No dia 20 de dezembro o II Congresso recebeu a tese
“União Nacional dos Estudantes”, de Antônio Franca, tese em
que o autor estabeleceu a autonomia da UNE. Paira, segundo
Raymundo Nonato, uma dúvida quanto à data de fundação da
UNE. Seria a 11 de agosto de 1937, por iniciativa da Casa do
Estudante do Brasil ou a 22 de dezembro de 1938, no
Congresso em que Antônio Franca apresentou a tese título da
entidade máxima dos estudantes? É difícil responder a esta
pergunta, mas o artigo I do estatuto da UNE considera que sua
fundação tenha se dado em 1937.
No II Congresso nova diretoria foi eleita, tendo como
presidente Waldir Borges. Em fins de 1938, após o Congresso,
a UNE surgiu como “órgão máximo de representação dos
estudantes brasileiros”, enquanto que no ano anterior a UNE era
apenas um subtítulo do Conselho Nacional dos Estudantes. A
diretoria do período 1938-1939 criou vários departamentos
novos, inclusive o de cultura, que esteve a cargo do conhecido e
admirado homem de arte Paschoal Carlos Magno.
FIM DE UMA FASE
Trajano Pupo foi o presidente da UNE, eleito em
dezembro de 1939, no III Congresso Nacional dos Estudantes.
Em sua gestão realizou-se a I Olimpíada Universitária Nacional
e os esportes universitários se coordenaram em torno da
Confederação Brasileira de Esportes Estudantis, também
criação daquele período.
Os estudantes participaram das comemorações do 50º
aniversário da República, promovendo dois concursos, um de
oratória e outro de peças teatrais. Neste último foram
vencedores, entre outros, Mário Brasini com a peça
“Estudantes” e Alfredo Dias Gomes com a “Comédia dos
Moralistas”. Brasini mais tarde dirigiu o setor de teatro da UNE.
Em 1939, ainda, a UNE se viu diante de sério problema.
A Casa do Estudante do Brasil, acusando-a de estar
desvirtuando as suas finalidades, dela se desligou no dia 22 de
abril de 1940. Cada entidade, então, passou a ter os seus
objetivos. Em julho, o IV Congresso Nacional dos Estudantes
introduziu emendas estatutárias passando a UNE a ser um
“órgão de representação dos corpos discentes de institutos de
ensino superior do país” — o que mudou o espírito inicial da
entidade. Criou-se um Conselho Consultivo, formado de antigos
presidentes da UNE, que supriria a falta da Casa do Estudante
do Brasil, de muita valia devido à sua experiência.
A primeira fase da UNE termina em 1940. O autor do
folheto que serviu de consulta a este trabalho, em 1954 tecia o
seguinte comentário: “Volte-se a 17 anos e veja-se que os
problemas especificamente universitários são os mesmos da
atualidade e continuam insolúveis...” Afirmava Raymundo
Nonato que fatores negativos impediam a marcha normal da
entidade. Dificuldades de toda a ordem e a absoluta falta de
recursos acarretavam corridas para as verbas oficiais e
prejudicavam as iniciativas estudantis.
Esta foi a União Nacional dos Estudantes até 1940, que,
conforme o relato de Raymundo Nonato Rodrigues Vilella, há
quase dez anos, carecia de recursos financeiros. A UNE, porém,
de tempos para cá, mudou. Hoje ela é poderosa para receber
muito dinheiro e não prestar contas, transformando-se num
órgão político-social, conforme apregoam seus líderes, e não
num órgão estudantil, que atenda às necessidades da classe e
possibilite o seu desenvolvimento.
b) A UNE frente à Ditadura e à Guerra
A UNE, fundada na Ditadura, funcionava como sala do
Ministério da Educação. As atividades estudantis no campo
político, praticamente não existiam, pois a entidade procurava
se acomodar ao Governo na esperança de conseguir dele as suas
reivindicações. Quanto aos elementos que compunham as
diretorias da UNE, no período da Ditadura, discutível foi a sua
atuação. Para muitos eles teriam sido omissos face ao regime
que esmagava as liberdades individuais. Mas, para outros, se
aquelas diretorias não tivessem agido assim, fatalmente a UNE
não sobreviveria.
Entre os anos de 1940 e 1942, a UNE empreendeu
campanha no sentido de mobilizar a opinião pública e o
Governo para a participação do Brasil na guerra contra o
nazi-fascismo. Em 1942, pela primeira vez, os estudantes
promoveram uma passeata contra os ditadores do Eixo. A
passeata, como não poderia deixar de ser, foi tutelada pela
Ditadura, que sempre se reservava quanto ao seu real
pensamento, ainda mais naquela fase em que o nazismo
fascinava governo e intelectuais brasileiros.
As atividades da UNE, nesta fase, com exceção de suas
campanhas pró participação do Brasil na guerra, foram bastante
limitadas. Registra-se, contudo, a organização de diretórios
acadêmicos nas faculdades, produtos de centros culturais. Um
exemplo é a criação do Centro Acadêmico Cândido de Oliveira
(CACO), da Faculdade Nacional de Direito que, existindo como
agremiação literária e jurídica, por eleição, passou a ter as
funções de diretório, órgão representativo do corpo discente da
Faculdade.
O Brasil entrou na Guerra, em 1942, se definindo,
finalmente, pelos aliados. A Rússia, também aliada, lutava pelos
mesmos ideais do nosso país, o que repercutia, como não
poderia ser de outra forma, na política brasileira e entre os
estudantes. Democratas e comunistas, portanto, marchavam
juntos nas mesmas campanhas, principalmente nas que iam
contra a Ditadura, cujos primeiros movimentos começaram a
aparecer entre 1943 e 1944. Era a época de defesa das
democracias contra os ditadores do Eixo. No estudante estava o
sangue novo, a revolta natural contra as arbitrariedades do
regime.
No terreno estudantil, propriamente, continuava a fase
de organização dos diretórios acadêmicos, agora com a
reivindicação da participação discente nos colegiados
universitários. Criou-se, então, o Diretório Central dos
Estudantes da Universidade do Brasil, reconhecido como órgão
de representação estudantil nos conselhos universitários. Deste
período, também, foi a criação da União Metropolitana dos
Estudantes que passou a representar os universitários cariocas, a
exemplo das entidades estaduais.
Com a vitória dos democratas em 1945, a Ditadura
começou a ser desprestigiada. Era inconcebível que o Brasil,
participando de uma guerra contra ditadura, mantivesse uma em
seu solo. Iniciaram-se as conspirações para a redemocratização
do Brasil, nas quais os estudantes desempenharam papel de
destaque. Grandes partidos políticos se formaram ou se
reorganizaram após quinze anos de silêncio. Assim, por
exemplo, a União Democrática Nacional e o Partido Socialista
Brasileiro tiveram suas primeiras sessões no salão da União
Nacional dos Estudantes, muito bem instalada na Praia do
Flamengo no prédio do ex-“Clube Germânia”, desapropriado
dos alemães em 1944, por motivo da guerra.
A questão ideológica, em termos de comunismo e
democracia não era cogitada. O que interessava era a queda da
Ditadura. Neste ideal todos se entendiam e lutavam. Já em
1943, os estudantes reunidos no VIII Congresso Nacional dos
Estudantes, patrocinado pela UNE, se haviam manifestado
publicamente contra o Estado Novo. Após sérias medidas, o
silêncio voltou a imperar entre os estudantes até fins de 1944
quando, cautelosamente, começaram a surgir grupos de reação,
culminando com movimentos gerais, em 1945.
Mas, de fato, a primeira luta ideológica estudantil,
embora não apresentasse as características de quase guerra,
como se verifica hoje, aconteceu, em 1944, no VIII Congresso
Nacional dos Estudantes, onde comunistas e democratas
disputaram as eleições, cabendo a vitória a estes. De 1944 até
1947 os estudantes democratas dominaram a UNE passando a
perder terreno no ano seguinte.
O relato apresentado deve-se à entrevista concedida pelo
Dr. Venâncio Igrejas, Ministro do Tribunal de Contas do Estado
da Guanabara, um dos fundadores da UDN e Secretário Geral
da UNE entre os anos de 1945 e 1947. Afirma o Ministro
Venâncio Igrejas que a política não era fator de desunião da
classe estudantil: “Nós discutíamos muito sobre os
acontecimentos nacionais e internacionais, mas ao sairmos da
UNE ou de nossas faculdades íamos para as célebres
”chopadas” no Lamas ou no Bar Recreio, muito em moda
naquela época. Havia um espírito universitário, coisa que hoje,
creio, está desaparecendo. Por mais divergentes que fossem as
nossas idéias políticas, não desrespeitávamos um colega por
causa disso. Fazíamos política, e até intensamente, fora das
escolas, nos partidos que se formavam. Não havia o político
estudante e sim o estudante político. Enfim, cumpríamos as
nossas obrigações escolares, não levando para dentro das
faculdades as questões que pudessem tumultuar a vida
estudantil. Os colegas se respeitavam e o ambiente universitário
era de cordialidade”.
A partir de 1945 a UNE voltou às suas atividades
normais, uma vez que a campanha de redemocratização lograra
êxito. A participação da UNE na política passou a ser moderada
e nenhuma intervenção policial se fez necessária em seus
movimentos.
Grandes conquistas para os estudantes obteve s UNE no
período de 1940 a 1945: a formação de grupos de teatro (Sérgio
Cardoso foi um dos que fizeram teatro na UNE), a fundação do
Ballet da Juventude e a criação de restaurantes estudantis, além
da formação dos vários diretórios de faculdades e do DCE da
Universidade do Brasil.
III - 1949, ANO DE DEFINIÇÃO DA UNE
A UNE começa a se definir em 1949. Até então ela
seguiu a política da boa vontade, acompanhando o contexto
universal, uma vez que a Rússia, unida aos aliados, dera uma
trégua à sua doutrinação. Os comunistas marchavam juntos com
os democratas nas grandes questões nacionais e internacionais.
A luta ideológica, portanto, não existia.
Mas, com o fechamento do Partido Comunista, em 1947,
uma de suas células se formava na entidade estudantil. A
preparação ideológica, feita habilmente durante os anos de 1947
e 1948, apresentou seus primeiros frutos em 1949, ano em que a
UNE foi interditada duas vezes, devido aos sérios tumultos por
ela praticados, agitando a vida da cidade.
INTERDIÇÃO DA UNE
O Presidente da UNE, no ano de 1948, era o atual
professor Roberto Gusmão, hoje declaradamente de esquerda, e
o Vice-Presidente, o atual Procurador do Estado de São Paulo,
Dr. Rui Pinho, de linha moderada e pertencente à Juventude
Universitária Católica. A JUC, sentindo as tentativas de
agitação por parte e vários estudantes filiados à UNE, colocava
seus elementos como integrantes nas chapas que concorriam às
eleições da entidade. Assim, Rui Pinho, naquele ano, lançou, na
chapa encabeçada por Genival Barbosa, o estudante Célio
Borja, hoje professor da Faculdade de Direito da Universidade
do Estado da Guanabara.
O Prof. Célio Borja relata o primeiro caso ocorrido na
UNE, num período em que ele exercia a função de presidente,
por ausência de Genival Barbosa. Em princípios de 1949 um
estudante foi atropelado na Praia do Flamengo, em frente ao
prédio da UNE. Elementos da entidade, em represália,
bloquearam a alameda por onde trafegavam os bondes. A
Polícia dirigiu-se ao local tentando desfazer as barricadas
enquanto os estudantes apedrejavam os carros que passavam.
Célio Borja manteve contatos com o Chefe de Polícia,
Gen. Lima Câmara, que parecia já estar prevenido em relação
às manobras da UNE, dele conseguindo uma palestra com os
estudantes e a promessa de não fechar a sede. A UNE ficou,
apenas, interditada por algumas horas, passando a ser
severamente vigiada pelo Governo.
CONGRESSO CRIA CONFLITO
Em março de 1949 outro caso, cujas origens são meio
confusas, motivou nova interdição na UNE. Ao que parece,
devido a fatos posteriores, teriam sido atritos entre estudantes
pró e contra a realização de congressos estudantis, trazendo os
títulos típicos das realizações comunistas (paz, amor, amizade,
liberdade, etc), causadores da grande manifestação estudantil de
graves conseqüências. Célio Borja chamou os lideres tidos
como comunistas ou socialistas, pediu-lhes que cessassem a
agitação e voltassem a considerar a UNE como um órgão de
representação estudantil e não de pregação política. Não sendo
atendido em sua solicitação, Célio Borja demitiu-se do cargo de
vice-presidente, alegando “não poder permanecer num posto
que comprometia a sua reputação de universitário”.
A história, segundo várias publicações e documentos, é
a seguinte: em princípios de abril daquele ano, elementos
conhecidamente comunistas da “Mocidade Pró Paz e Cultura”
invadiram o Conselho da UNE impedindo a votação, tida como
certa, de diversas moções de repulsa às manobras vermelhas.
Entre as moções figurava a do presidente da União
Metropolitana dos Estudantes, Zilmar Madeira de Matos, que
protestava contra a condenação do Cardeal da Hungria e dos
pastores búlgaros. Os agitadores atuantes na sessão eram os
mesmos que antes haviam agitado a UME, entidade contrária à
submissão da UNE aos esquerdistas.
Os agitadores chegaram às agressões físicas a fim de
obterem, pela coação e violência, a realização do “Congresso
em Defesa da Paz e Fraternidade”, ao qual a maioria se opunha
por considerá-lo extremista. Genival Barbosa, presidente da
UNE, passou a ser acusado de inconseqüente por não ter
oferecido garantias suficientes aos estudantes e por ter dado
livre acesso aos desordeiros, permitindo-lhes, inclusive, a
interferência nos órgãos deliberativos da entidade estudantil.
Genival, vendo a situação por ele mesmo criada, proibiu a
realização do congresso, que se efetuaria no dia 9 de abril,
enviando uma nota ao Ministro da Educação para que este não
desse, também, a sua permissão.
Mas, mesmo com esta atitude, os estudantes exigiram a
renúncia coletiva da diretoria da UNE, sendo, porém,
exonerado, apenas, Genival Barbosa. Vários incidentes se
registraram entre estudantes, jornalistas e pessoas diversas.
Muitos foram os presos. A UNE, desta vez, foi interditada.
Quanto ao Congresso pela Paz, seus objetivos se confirmaram.
Os congressistas, detidos no Edifício Darke de Matos, onde
pretendiam realizá-lo, traziam vasto material de propaganda
subversiva, apreendido pela Polícia.
LUTAS ENTRE ESTUDANTES
Enquanto a UNE ia se revelando com esses fatos, na
Bahia o acadêmio Evaldo Solano Martins, presidente da União
dos Estudantes da Bahia, declarando-se “reformista de Marx”,
emitia nota oficial em prol dos trabalhos “pela Paz e
Fraternidade”, acusando a grupos ambiciosos de terem
impedido a realização do importante conclave que “ajudaria a
elucidação dos graves problemas econômicos do país”.
Lamentava ainda a falta de firmeza de Genival Barbosa,
culpando-o pela não realização do congresso.
A 22 de maio de 1949 surgiu um grupo que teve pouca
duração, mas que serviu de reação contra a política da UNE.
Era a Coligação Acadêmica Democrática (CAD). Viajando por
todo o Brasil, seus dirigentes fundaram associações de
estudantes, podendo os mesmos pertencer a qualquer partido,
menos aos extremistas. Assim, São Paulo, Rio Grande do Norte,
Bahia, Pará, Paraná, Distrito Federal, Pernambuco e Rio Grande
do Sul criaram as suas CADs visando “reabilitar a dignidade da
UNE, obstruindo a ação agitadora dos estudantes”. O jornal “O
Momento”, órgão oficial do PC na Bahia, passou a combater a
CAD, afirmando ser a mesma uma organização fascista,
formada pelos integralistas do PRP, cuja pretensão era a de
assaltar a direção da UNE “no próximo Congresso Nacional dos
Estudantes, o décimo segundo, que se realizaria na Bahia”.
O XII Congresso Nacional dos Estudantes, da UNE,
realizou-se, em 1949, na Bahia. Nele tomou posse nova
diretoria encabeçada por José Frejat. No local da reunião os
estudantes não conseguiram que a bandeira brasileira fosse
hasteada. Vasculharam a sede da União dos Estudantes da
Bahia e só encontraram uma bandeira russa guardada num
armário. Os democratas foram acusados de “ministeriais” por
não haverem permitido o “Congresso da Paz e da Fraternidade”.
Após pressões e tumultos os esquerdistas venceram as eleições
e enviaram um telegrama ao Ministro da Educação nestes
termos: “Temos grata satisfação comunicar V. Excia. foi mais
uma vez derrotado. Desculpe o mau jeito”.
Neste Congresso os comunistas, aproveitando os debates
sobre Reforma de Ensino, esquematizaram uma nos termos
pregados pela UNE de hoje. Os estudantes, liderantes dos
debates, criticaram o Projeto Mariani, de Diretrizes e Bases da
Educação, por ser “antidemocrático”.
AGENTES COMUNISTAS PRESOS
Em 1950 houve problemas entre estudantes e Polícia.
Em abril daquele ano dois estudantes foram presos quando
tentavam cometer atos de vandalismo frente à Chancelaria da
Espanha. Vários populares assistiram as manobras. Os
estudantes, identificados na Divisão de Polícia Política e Social,
eram Mayer Camenietzky, acadêmico de medicina preso
anteriormente, em janeiro de 1949, quando incendiava um
bonde em frente à UNE, e Hélio Block, estudante de
arquitetura.
Novo caso foi denunciado e comprovado em julho de
1950. O navio “Pulasky” chegava ao Rio, em maio, trazendo o
estudante Fernando Jorge Pedreira, bolsista de nosso Governo
na Europa. Pedreira trazia livros editados na Rússia e
Tcheco-Eslováquia, em língua espanhola, além de discos,
filmes e bilhetes endereçados a Luiz Carlos Prestes. O DOPS
apurou o caso e prendeu o estudante. O fato motivou uma série
de pesquisas cujos resultados foram amplamente divulgados
pela imprensa.
IV - UNE VOLTA A SER NOTÍCIA EM 1956
De 1949 a 1951, além dos fatos já narrados, outros de
menor importância, sem maiores conseqüências, tumultuaram
alguns setores estudantis. Em julho de 1952, no XV Congresso
Nacional dos Estudantes, por proposta de Antônio Faustino
Porto Sobrinho, líder da Bancada do Distrito Federal e
representante do Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, da
Faculdade Nacional de Direito, a UNE se desligou da União
Internacional dos Estudantes, a entidade comunista supervisora
das Uniões de Estudantes dos países subdesenvolvidos. Porto
Sobrinho, de forte atuação no meio universitário, conseguia
neutralizar as investidas esquerdistas e nos dois anos que se
seguiram ao seu desligamento da UIE, a UNE ficou meio
desarticulada, agindo clandestinamente. Aliás, entre 1952 e
1955, politicamente, a UNE se manteve tranqüila, explorando,
apenas, a campanha do petróleo, que, sem entrarmos no mérito
da questão, tornou-se bandeira dos comunistas, sempre
demagogos no aproveitamento de teses provocadoras da
exaltação do patriotismo.
O XVII Congresso Nacional dos Estudantes, realizado
na Universidade Rural, em 1954, deu a vitória aos democratas.
Os trabalhos daquele Congresso foram feitos pelo sistema de
mesas redondas, isto é, por comissões, sistema que impedia a
atuação dos agitadores nas assembléias. Alguns elementos da
UNE, contudo, procuraram “conversar” os menos esclarecidos,
na intenção de fazer com que as forças democráticas se
fraccionassem e uma terceira chapa foi apresentada para
enfraquecer a chapa democrática. Mas, logo repudiada, o pleito
ficou entre as duas chapas, uma democrática e a outra de
esquerda. Fracassando em seus planos, os comunistas mudaram
de tática, passando a adotar uma atitude cordial para com os
democratas, “esquecendo” mágoas passadas. Os comunistas
foram ao Congresso com três intenções: 1) anarquisar
totalmente o Governo (o que não foi difícil, pois o governo
estava totalmente desmoralizado); 2) retomar a UNE
(haviam-na perdido havia dois anos); e 3) reatar as relação da
UNE com a UIE (coisa que não conseguiram). No Congresso
venceu a chapa democrática encabeçada por Cunha Netto.
O XVIII Congresso Nacional dos Estudantes, realizado
no ano seguinte, em 1955, elegeu Carlos Veloso para presidente
da UNE. Este teve um grande mérito para os comunistas:
promoveu uma greve geral de estudantes, culminando em
atritos entre estes e a Polícia. O XVIII Congresso teve lugar em
Belém do Pará e contou com a presença de autoridades e
estudantes locais. O representante piauiense pronunciou um
discurso atacando o Presidente da UNE, Cunha Netto que,
eleito pelos democratas, conduzia os estudantes através de
“slogans” típicos dos comunistas.
GREVE ESTUDANTIL DE 1956
Em maio de 1956, a UNE, pelo seu Presidente Carlos
Veloso, deflagrou uma greve geral em protesto ao aumento das
passagens de bonde. O movimento, de início pacífico,
transformou-se numa baderna, deixando, em conseqüência,
muitos feridos e bondes depredados.
As primeira, segunda e última páginas do jornal “Última
Hora”, do dia 31 de maio de 1956, estão totalmente ocupadas
com relatos e fotografias do movimento estudantil. O mesmo,
que começara pacificamente, transformara-se numa verdadeira
rebelião, que preocupava as autoridades, principalmente o então
Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira que, alarmado com
a situação, declarou à “Última Hora” que “o Rio não se
transformaria numa nova Bogotá” (pouco antes houvera um
tumulto estudantil de caráter comunista naquela cidade).
O mesmo jornal publicou uma entrevista do Coronel
Luna Pedrosa, então Diretor de Polícia Política e Social,
denunciando a participação de elementos comunistas nos
tumultos estudantis registrados no dia 30 de maio.
Na UNE estava instalado o QG do movimento e um
choque da Polícia mantinha prontidão em frente ao prédio. Os
estudantes, não desejando a Polícia no local, se rebelaram,
obrigando os policiais a detonarem suas armas e a lançarem gás
lacrimogênio. Em protesto à ação policial foi decretada uma
greve universitária nacional. Todas as faculdades, em
assembléias (do tipo que descrevemos) resolveram se
solidarizar com a UNE (com o termo “solidariedade” o pessoal
comunista da UNE sempre consegue tocar o coração dos
estudantes). Nos discursos da UNE os estudantes exigiam a
demissão do então Prefeito Negrão de Lima, do Ministro da
Justiça e, ainda, a extinção da Polícia Especial, como condições
para a suspensão da greve. É lógico que nada disso aconteceu e
a UNE teve que ordenar a “operação retorno às aulas”.
Ainda como matéria de responsabilidade do jornal,
“Última Hora” comentava: “Como não poderia deixar de
ocorrer — e “Última Hora” desde ontem noticiou — o
movimento estudantil iniciado sob os mais nobres propósitos,
foi desde logo infiltrado por agitadores comunistas.”
Enquanto a UNE ditava as instruções às entidades
estudantis do país, José Batista de Oliveira Júnior, presidente da
União Metropolitana dos Estudantes, supervisionava os
diretórios grevistas do então Distrito Federal. O jornal “Tribuna
da Imprensa”, de 4 de maio de 1956, fazia um histórico
fotográfico da greve, noticiando que nem mesmo os possuidores
de imunidades parlamentares escaparam do tumulto, pois os
deputados Mário Martins e Aurélio Viana e os vereadores
Wilson Leite Passos e Hélio Walkacer sofreram contusões no
conflito entre estudantes e policiais. Cumpria-se assim, a
finalidade de tais movimentos liderados por comunistas:
cometer toda a série de ilegalidades e desrespeitos, subvertendo
a ordem, para obrigar a intervenção da Polícia, o que transforma
os agitadores em vítimas.
ESTUDANTES PRESOS E NOVA DIRETORIA
Quase toda a imprensa carioca publicou na primeira
quinzena de junho de 1956 a prisão, em São Paulo, dos
indivíduos Sedhaugahn Chauduri e Hugo Herdozia (ou Heloísa)
Herrera, tcheco-eslovaco e equatoriano, respectivamente,
denunciados pela Frente da Juventude Democrática como
agitadores dos meios estudantis brasileiros. De fato, antes da
greve, a ação dos dois era sentida nos meios universitários do
Rio e de São Paulo. A União Internacional dos Estudantes os
enviara ao Brasil, apesar de a UNE ainda estar dela desligada,
como seus agentes. Os “estudantes” mantinham contatos com os
dirigentes da UNE, da UME, da UBES (União Brasileira dos
Estudantes Secundários) e diretórios acadêmicos de faculdades,
onde escolhiam elementos “progressistas” para representarem o
Brasil nos congressos estudantis dos países da cortina de ferro.
Os comunistas internacionais, presos pela Polícia
paulista, afirmaram que estavam no Brasil “para estreitar os
laços de amizade entre os estudantes”. A Polícia, porém,
descobriu em suas bagagens vasto material subversivo e
documentos que aludiam a um tal de “Carrasco”, elemento que
deveria se encontrar com eles na América Latina. Os
“estudantes”, sem outra saída, manifestaram desejo de voltar
imediatamente à Tcheco-Eslováquia. O Governo Brasileiro
expulsou-os do país, embarcando-os rumo ao Uruguai.
Em julho de 1956, José Batista de Oliveira Júnior, o
presidente da UME que participara do comando da greve contra
o aumento das passagens de bondes, foi eleito presidente da
UNE no XIX Congresso Nacional dos Estudantes. José Batista
fazia “oposição” à chapa de Carlos Veloso, presidente da
entidade e candidato à reeleição. É interessante notar a oposição
do presidente da UME que sempre compactuara com a UNE,
em todos os seus atos, e surpreendente a adesão dos estudantes
democratas à sua candidatura. Ambos, Batista e Veloso, eram
idênticos. Ambos haviam liderado os tumultos registrados em
maio de 1956. Ambos fizeram um pacto, iludindo os estudantes,
com a finalidade de fazer com que a UNE continuasse em sua
linha subversiva.
Em setembro daquele ano, na presidência de José
Batista, houve uma cisão na diretoria da UNE. O jornal “O
Globo”, do dia 20, publicava denúncia dos acadêmicos Carlos
Noel, Francisco Ney e Warren Carvalho Lima contra José
Batista, acusando-o de enviar delegados a congressos
internacionais pelo critério “progressista” da esquerda.
V - A UNE SE DECLARA
FUNDAMENTALMENTE POLÍTICA
A partir de 1959, após a experiência do curso
Pré-Vestibular, no ano anterior, na Faculdade Nacional de
Filosofia, caso que relataremos mais adiante, passamos a sentir
o problema que a UNE representa para o país. E, justamente, a
partir desta data a UNE parece se sentir mais forte, não
escondendo mais o seu jogo.
As atividades facciosas da entidade podem set
comprovadas pelos seus próprios documentos. Os relatórios de
diretoria apresentam páginas e páginas dedicadas às atividades
políticas nacionais e internacionais, enquanto que umas poucas
abordam problemas educacionais e, assim mesmo, greves ou
reformas de ensino em moldes soviéticos.
Todas as citações entre aspas referentes às gestões de
presidentes da UNE, são textuais dos Relatórios de Diretoria,
documentos que podem ser solicitados à União Nacional dos
Estudantes.
GESTÃO EIRADO:
(Julho de 58 a julho de 59)
No período compreendido entre julho de 1958 e julho de
1959, a UNE teve como Presidente o acadêmico Raimundo
Eirado, eleito no XXI Congresso Nacional dos Estudantes,
realizado em Bauru. Em junho de 1959 registrou-se uma greve
universitária de âmbito nacional, motivada pela Faculdade de
Ciências Médicas da então Universidade do Rio de Janeiro. A
UNE decretou a greve no período das primeiras provas parciais,
apelando para a solidariedade dos estudantes aos colegas de
medicina, vítimas das arbitrariedades do Diretor Cumplido
Santana.
Inicialmente a greve reivindicava a demissão do Diretor
da Faculdade de Ciências Médicas, passando, logo depois, a ter
como bandeira a “encampação da Faculdade”. Várias
manifestações foram feitas pelos estudantes nas escadarias da
antiga Câmara dos Vereadores. A greve, que deveria acabar em
um dia, acabou em princípios de agosto e serviu, apenas, para
retardar a realização das primeiras provas parciais,
permanecendo, porém, o Diretor Cumplido Santana em seu
posto na Faculdade de Ciências Médicas.
Na gestão Eirado aconteceram coisas interessantes.
Seguindo o Relatório da Diretoria da UNE, referente ao período
1958-1959, vamos às suas atividades. Frisamos que as frases
entre aspas são textuais.
Eirado se queixava da falta de verba oficial para a UNE
e dizia que deveria agir politicamente, embora “aos colegas
menos avisados, sempre poderá haver um perigoso
desequilíbrio entre as atividades políticas e administrativas de
nossa entidade”. E mais adiante: “... a União Nacional dos
Estudantes é fundamentalmente uma entidade de representação
política da classe universitária”, só podendo arcar com as
responsabilidades administrativas quando obtivesse autonomia
financeira.
A UNE, acompanhando a transformação estrutural
brasileira, constituiu um grupo de trabalhos para lutar pelo
“nacionalismo”, esclarecendo ao “povo” e aos “trabalhadores”
sobre os “problemas nacionais”. A entidade se manteve contra o
“entreguismo do petróleo”, “pois o Brasil queria adotar a
fórmula Frondizi, que capitulara ante a pressão estrangeira”.
Foster Dulles, Secretário de Estado Americano, em visita ao
Brasil, “por causa do petróleo”, foi recebido hostilmente pela
UNE, em nome dos estudantes, porque tal manifestação
representava “antes de tudo uma menção à política de opressão
do Departamento de Estado contra os países latino-americanos
do que a tentativa de julgamento daquele titular. E
vangloriava-se a UNE de prestar uma valorosa contribuição aos
“trabalhadores” e ao “povo” em geral, em relação ao “perigo
que representa a pressão exercida, em nosso país, pelo
Departamento de Estado”.
Em fins de 1958 os pelegos estudantis andaram pelas
faculdades arregimentando alunos para uma passeata e posterior
depredação ao Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico, cujo Presidente, Roberto Campos, se “revelava
entreguista”. Os elementos da UNE, contudo, sempre se
notabilizaram pela incoerência: enquanto combatiam o
“entreguismo” de Roberto Campos enalteciam o Governo de
Juscelino Kubitschek, como se este nada tivesse a ver com o
“entreguismo” tão explorado nas campanhas estudantis.
Seguindo, ainda, o Relatório da UNE, ficamos sabendo que a
entidade pseudo estudantil fez o então Ministro da Guerra,
Marechal Teixeira Lott, declarar, pela imprensa, ser a Petrobrás
intocável.
“PRESSÃO” DA UNE SOBRE O ISEB
A estreita relação entre a UNE e o ISEB será motivo de
um dos próximos capítulos. Agora, baseando-nos no mesmo
Relatório da Diretoria da gestão Eirado, contemos a atuação da
entidade no caso Hélio Jaguaribe, então professor do ISEB.
O Instituto Superior de Estudos Brasileiros é “um órgão
empenhado, desde à sua criação, na compreensão crítica da
realidade nacional, escopo fundamental à orientação dos
quadros diretivos do país”. Por isso o ISEB é merecedor de toda
a atenção da UNE, que “mantém estreitas relações com o ISEB,
fazendo-se representar em suas conferências e cursos”. Dada
essa afinidade, a UNE se ofendeu profundamente quando Hélio
Jaguaribe publicou o livro: O Nacionalismo na Atualidade
Brasileira, por ela considerado “eminentemente entreguista”. A
entidade pseudo-estudantil “exigir dos professores do ISEB uma
tomada de posição em face da abrupta mudança ideológica”. O
livro, no entender da UNE — e confessamos que não o lemos
— era “eminentemente entreguista” por admitir a participação
do capital estrangeiro na Petrobrás. Uma comissão de estudos
analisou a obra e suas conclusões foram impressas e distribuídas
(com que dinheiro?) nas faculdades (para “esclarecimento dos
alunos”), na Confederação Nacional dos Trabalhadores da
Indústria (entidade dominada pelos comunistas) e aos
integrantes da Frente Parlamentar Nacionalista.
Ao mesmo tempo, o amigo fiel da UNE e Presidente do
ISEB, Roland Corbisier, era interpelado a respeito do livro.
Tornava-se necessário saber se a obra representava a opinião do
ISEB. Corbisier respondeu aos estudantes que a entidade por ele
dirigida não se responsabilizava pelas publicações assinadas
pelo autor, mas que a Congregação iria se reunir para examinar
o antinacionalismo do livro.
O Prof. Vieira Pinto, cuja personalidade e ação serão
focalizadas mais adiante, na qualidade de Chefe do
Departamento de Filosofia do ISEB, recebeu uma carta de
interpelação da UNE, tomando-lhe satisfações. Entre outras
coisas Vieira Pinto respondeu aos seus atuais discípulos: “... o
movimento de protesto a mim dirigido em torno do referido
livro é um confortador indício de maturidade da consciência
universitária”. Receberam, também, cartas, que foram
respondidas com a maior simpatia, os demais integrantes do
ISEB: Guerreiro Ramos, Cândido Mendes de Almeida, Ignacio
Mourão Rangel e Nelson Werneck Sodré, todos felizes com a
“consciência patriótica” da UNE. Um dos membros do ISEB
chegou a declarar que os estudantes eram “os únicos aptos a
compreenderem a realidade nacional”. Diante de tal bajulação,
é evidente que estudantes medíocres se sintam donos da
situação.
A coisa poderia ter parado aí, pois a movimentação da
UNE foi intensa e o Sr. Hélio Jaguaribe vendeu muitos livros.
Mas, também, os parlamentares foram interpelados. O Sr.
Sérgio Magalhães, candidato oficial da UNE, agora desbancado
com o aparecimento de Brizola, enviou um ofício ao Ministro
da Fazenda a fim de saber “quais as relações de Hélio Jaguaribe
com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico”. O
resultado de toda esta luta “nacionalista” foi que a UNE retirou
o seu precioso apoio ao ISEB, afirmando só voltar a dá-lo
quando a instituição não mais mantivesse “tipos como o Sr.
Jaguaribe em seus quadros”. Guerreiro Ramos retirou-se da
“Sorbone Brasileira” com a dramática afirmação de para lá
voltar “quando a instituição estivesse ideologicamente
saneada”. O ISEB, imediatamente “se saneou ideologicamente”
passando a ser, oficialmente, centro de estudos marxistas.
Ainda na gestão Eirado a UNE, pretensiosamente, tratou
de outros temas distantes do imediato interesse estudantil, pelo
que se vê em seu relatório. Entre estes temas destacam-se a
denúncia do acordo Roboré, a reavaliação dos ativos, o caso
Delgado, os comandos nacionalistas (em colaboração com o
jornal “O Semanário”, órgão conhecidamente comunista), a
encampação da CEERGS (Companhia de Energia Elétrica do
Rio Grande do Sul, promovida pelo “nacionalista” Brizola), o
rompimento do Governo com o Fundo Monetário Internacional,
a reforma cambial, a estabilização da moeda, a liquidação da
Petrobrás, além da campanha contra o Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico.
b) GESTÃO CONRADO
(julho de 1959 a julho de 1960)
Depois de Raimundo Eirado, a UNE, em 1959, passou
para as mãos de João Manuel Conrado, acadêmico de São
Paulo, apoiado pela direção anterior. Sobre Conrado temos um
fato interessante, a respeito de um Congresso realizado em
Caracas, em que a honestidade e a moral da esquerda dominante
na UNE ficam patenteadas. Falaremos deste caso em outro
capítulo, dedicado a alguns congressos internacionais, cujos
elementos participantes são selecionados pela UNE, mediante o
critério de “maturidade política”.
No XXII Congresso Nacional dos Estudantes que elegeu
Conrado, a UNE praticou uma série de arbitrariedades, como,
por exemplo, ter vedado o restaurante a Leopold Joseph
Corbett, Presidente do Diretório Central dos Estudantes da
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Corbett cometera o
crime de entregar aos congressistas uma carta de D. Jaime de
Barros Câmara, pedindo aos católicos que não votassem pela
refiliação da UNE à União Internacional dos Estudantes (a
entidade comunista sediada em Praga, da qual a UNE se
desligara, em 1962, por proposta de Porto Sobrinho).
Ricardo Érico Howling, representante da PUC, liderou o
movimento de repulsa à refiliação, conseguindo arregimentar
elementos democratas e católicos, inclusive parte da Diretoria
da UNE que, com o incidente registrado com Corbett, resolveu
acordar e fazer oposição. Embora a situação vencesse, a UNE
não se refiliou à UIE, coisa que os comunistas conseguiram no
ano seguinte.
Na apresentação do Relatório da Diretoria de Conrado,
encontramos, de saída, o seguinte: “A UNE, além de ser uma
entidade de reivindicação de maiores privilégios para os
estudantes, deve ser um movimento, um órgão de manifestação
do pensamento político do estudante brasileiro, frente aos
magnos problemas que atingem o nosso país e o povo de nossa
Terra”. Tal enunciado iniciou a apresentação da chapa
situacionista, liderada por Conrado, no XXII Congresso
Nacional dos Estudantes. “E foi com esse objetivo — esclarece
o relatório — que dirigimos, principalmente, as atividades da
diretoria que comparece novamente ao Congresso (XXIII), já
agora prestando contas do passado no mais altamente honroso
cargo que nos foi confiado”. E a UNE presta as suas contas.
DIRETRIZES E BASES
Entre as várias campanhas e “benefícios” prestados ao
povo, a UNE dedicou-se à “defesa da escola pública”. Com a
derrota, na Câmara dos Deputados, dos substitutivos Celso
Brant e Carlos Lacerda, o problema de Diretrizes e Bases ficou
abandonado e uma comissão de congressistas foi organizada
para tratar do assunto. A UNE, também, “organizou a sua
comissão de educação com o fito de estudar, em suas novas
nuances, a questão”. Os elementos da comissão de educação da
UNE debateram o problema com os deputados, “constituindo-se
numa autêntica assessoria aos parlamentares que se colocaram
na posição de defensores da escola pública (esses, aliás, em
acentuada minoria na subcomissão privatista), e
REPRESENTANDO O ÚNICO APOIO QUE OS
DEFENSORES DA EDUCAÇÃO PARA O POVO
encontraram na luta contra os advogados (bem assistidos) dos
negocistas do ensino”.
Todos devem se lembrar que a UNE fez tudo para
impedir a votação do Projeto de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, explorando-o, errada e demagogicamente, em
campanha política, contra os democratas que se batiam a favor
de uma legislação, há muito exigida, para a educação nacional.
Os comunistas afirmavam que o Projeto, se transformado em
Lei, eliminaria a escola pública e favoreceria a escola
particular. Nada como o tempo para desmascarar certas
campanhas. Hoje a UNE não combate a Lei e até a usa para
movimentos subversivos, através de argumentos descabidos. Os
próprios professores comunistas que se mantinham contrários
ao Projeto, com o intuito evidente de entravá-lo e não
possibilitarem uma expansão do ensino, são os que, no
momento, mais falam dos benefícios da Lei para se agarrarem
ao poder. Entre estes podemos citar o ex-Ministro da Educação,
Darcy Ribeiro, que instigava os estudantes contra o Projeto e,
depois, vendo-se no cargo de Ministro, fez o seguinte
pronunciamento quando da instalação de um plano de educação
em cumprimento à Lei de Diretrizes e Bases: “Estou
perfeitamente capacitado da enorme importância histórica deste
momento, que pode ser tido como o segundo momento da
educação nacional em nosso tempo. O primeiro foi a
promulgação por S. Excia., o Presidente da República, da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação, que devolveu aos
educadores a possibilidade de errar e, com ela, de acertar,
também... A situação nova é de plena autonomia e
responsabilidade dos educadores, devolvendo-lhes aquilo que o
médico e o engenheiro já tinham como profissionais, isto é, a
responsabilidade para uma tarefa escolar, humana, filosófica e
moral, pela qual eles devem responder, até mesmo de modo
individual” (sic).
É claro que o Sr. Darcy Ribeiro não pensava em nada do
que dizia e é mais claro ainda que, antes, quando líder mais
velho dos estudantes da UNE, não queria que a Lei fosse posta
em prática, justamente pelos resultados benéficos que dela
adviriam.
O fato é que a UNE não desejava que a Lei entrasse em
vigor e, à base de “slogans”, começou a espalhar,
principalmente entre as moças estudantes de nossas escolas
normais públicas, que o Projeto de Diretrizes e Bases iria acabar
com a escola pública, tirando-lhes o emprego. Em união com as
normalistas, a UNE se pôs a fazer passeatas em “defesa da
escola pública”.
A comissão de educação da UNE propôs supressões e
emendas de vários artigos do Projeto, coisa que não foi
atendida. Imediatamente passou à ação. Elaborou um “longo
trabalho sobre o panorama educacional brasileiro, no qual
insistimos — diz o Relatório — na defesa do nosso ponto de
vista quanto ao Projeto de Diretrizes e Bases”. Nesse
documento que foi enviado a TODAS as entidades
universitárias do país, a UNE conclamava os estudantes a “se
levantarem em todo o território nacional, em defesa do ensino,
exigindo a supressão, no Projeto, dos artigos condenados” pela
entidade. O trabalho foi distribuído à imprensa, tendo sido
publicado, na íntegra, pelo “O Semanário”.
As justificações e pensamentos dos dirigentes da UNE
são de uma petulância a toda prova. Só encontramos
imperativos e ameaças, inclusive, a afirmação: “... o movimento
de defesa da escola pública ganhou tal incremento que nos
sentimos hoje na situação de dizer que o crime contra o povo,
em que se constituiria a aprovação do Projeto 2.222-C-1957,
não será consumado”. A Lei promulgada em dezembro de 1961
entrou em vigor e o projeto, que sofreu muitas alterações, não
se sovietizou, conforme desejavam os adeptos da UNE.
INTERCÂMBIO INTERNACIONAL
A convite da União Internacional dos Estudantes, a
UNE participou, como observadora, do Comitê Executivo
daquela entidade, com o objetivo de tomar conhecimento das
normas para a sua refiliação ao organismo da qual se desligara
em 1952. O Comitê reuniu-se em Tunis, e desta cidade a
delegação brasileira viajou para a China, passando antes por
Praga, onde participou de um seminário de reforma
educacional. A UIE prometeu cobrir as despesas de viagem dos
membros latino-americanos participantes do conclave.
Em Pequim a comitiva brasileira observou que a
reforma educacional, verificada na China, em 1952, “teve o
objetivo de eliminar o ensino burguês e imperialista,
implantando o ensino nacional”. A Universidade de Pequim,
por exemplo, era “ semifeudal, tendo por objetivo
exclusivamente, formar intelectuais”. A reforma de 1949 criou
escolas secundárias em todo o país “para obreiros e campesinos
a fim de instrui-los nos movimentos revolucionários”.
Manoel Conrado integrou a comitiva do então Deputado
Jânio Quadros, em sua viagem a Cuba, pois “após discutir o
assunto, a UNE concluiu que pelo fato de haver na caravana
pessoas contrárias à candidatura do referido deputado a
Presidência da República, nenhuma vinculação de caráter
político partidário poderia ferir a independência da entidade”.
As causas da renúncia de Jânio Quadros, pelo visto, são antigas.
Em Havana, recebidos por Fidel Castro, ao qual levaram
sua admiração, a comitiva e Conrado conversaram com o
Arcebispo de Havana. O Relatório diz que o Arcebispo declarou
estar satisfeito com o novo regime. Seguem-se, no Relatório, as
inovações introduzidas, em Cuba, por Fidel Castro e Moscou.
OUTRAS ATIVIDADES
A carestia da vida, a reforma do ensino (em moldes
pregados por Vieira Pinto), o capital estrangeiro e as relações
internacionais, mereceram os estudos da UNE no mês de
reivindicações nacionais. Deputados e educadores
compareceram à sua sede, entre os quais os Srs. Temperani
Pereira, Celso Brant, Aurélio Viana, Paschoal Lemme, Darcy
Ribeiro, San Thiago Dantas e Anísio Teixeira.
A UNE “se uniu à população” no movimento a favor do
General Ururay Magalhães, então Presidente da COFAP,
“homem que resistia às investidas do Embaixador Americano”,
não permitindo o aumento do preço da carne, assim se
expressando: “No passado o Gen. Ururay merecera críticas
acerbas. Hoje, merecia aplausos. Soubera resistir às pressões
dos trustes. A grande imprensa, sim, é que se mostrava
incoerente. Enquanto as patas de cavalo atropelavam os
estudantes na rua, merecia aplauso quem os comandava. Agora,
que a mesma pessoa punha a dignidade de sua farda e a
responsabilidade de seu cargo a serviço do povo, era atacada.
Paradoxos que somente as polpudas matérias pagas poderão
explicar...”
Outros casos preocuparam a UNE: acordo
Petrobrás-Esso Export (a UNE participou de debates numa das
salas da Câmara dos Deputados), greve dos oficiais de náutica
(“os grevistas se asilaram no recinto inviolável da UNE”);
episódio de bombas na COFAP (culminando em campanha
contra a nomeação, para diretor do órgão, do Coronel Danilo
Nunes, ex-diretor do DOPS, tido como carrasco por estudantes
subversivos) e visita de Eisenhower ao Brasil. Faixas
ornamentaram a fachada da entidade estudantil com os dizeres:
“We like Fidel Castro”.
Cuba não poderia deixar de ser enaltecida pelos seus
liderados no Brasil. Várias manifestações de apoio às reformas
cubanas se registraram. “Dentre todos estes atos — esclarece o
relatório — cumpre salientar a recepção oferecida, em nossa
sede, ao Sr. Dr. Oswaldo Dorticós Torrado, Presidente da
República de Cuba, ocasião em que, perante uma verdadeira
multidão que arrebatou todas as dependências do casarão da
Praia do Flamengo, os presidentes da UNE e do Diretório
Central dos Estudantes da Universidade do Brasil, fizeram
chegar às mãos do visitante cartões de prata (notem os leitores o
burguesismo) contendo a manifestação de apreço pelo que vem
realizando a revolução. Na mesma oportunidade o DCE da UB
entregou ao Presidente de Cuba o diploma de Estudante
“Honoris Causa” da Universidade do Brasil”.
No terreno estudantil, além da campanha contra o
Projeto de Diretrizes e Bases, temos três grandes movimentos
de “idealismo” universitário: greve dos estudantes de
Arquitetura da Bahia, greve dos estudantes de Arquitetura de
Belo Horizonte e greve da Universidade da Bahia.
c) GESTÃO GUANAIS:
(julho de 1960-junho de 1961)
Em julho de 1960 foi eleito, no XXIII Congresso dos
Estudantes, Oliveiros Guanais de Aguiar, representante da
situação. Guanais era da Juventude Universitária Católica e,
seguindo a linha desta juventude, jurava não ser comunista, mas
agia sob as ordens do pessoal do PC. Naquele Congresso os
católicos da Juventude Universitária Católica foram comprados,
para votar em Guanais, por passagens a Cuba.
Em dezembro do mesmo ano, a UNE promoveu uma
passeata em solidariedade a Fidel Castro. Atuaram no
movimento estudantes que há muito serviam de ligação entre a
UNE e o Governo de Cuba. Os cubanos, promotores da passeata
foram: Francisco Domingues, encarregado de Negócios; Raul
Aparício Nogales, Conselheiro Econômico da Embaixada de
Cuba; Venâncio Merino, e José Prado Laballos, diretor da
Agência Informativa Prensa Latina. Todos estes eram ligados
ao Governo de Fidel, sendo que Merino se encarregava do
levantamento de fundos.
Acompanhando o “Relatório da diretoria da UNE”,
referente à gestão Guanais, encontramos uma série de
informações sobre as suas atividades. O relatório fala da
atuação do estudante junto aos operários e camponeses, com o
intuito de fortalecer a liga estudante-operária-camponês. Assim
a UNE “participou ativamente dos movimentos grevistas dos
portuários, marítimos e ferroviários”, sendo que a sede da
entidade serviu de abrigo ao comando da greve quando este se
viu ameaçado pelo Ministro da Justiça. A mesma diretoria
congratulou-se com a escolha de Álvaro Vieira Pinto (o mentor
intelectual dos comunistas da UNE, e professor apontado no
inquérito da Faculdade Nacional de Filosofia como responsável
pela atuação perniciosa de um grupo) para diretor do ISEB, por
motivo de vacância do cargo devido à eleição de Roland
Corbisier para a Assembléia Legislativa.
As teses que preocuparam os “professores-estudantes”
foram: Instrução 204 da SUMOC, Petrobrás, Greve pela
paridade, Grupo HANNA Co. e a venda das ações da Petrobrás.
DITADURA, SÓ A RUSSA
No setor internacional a UNE se preocupou com a visita
do Presidente Juscelino Kubitschek a Portugal, condenando a
amizade luso-brasileira, porque Portugal mantém uma ditadura,
não importando a situação do povo português, mas o Governo
que “tem que ser repudiado pelo Presidente, não devendo este
se identificar com Salazar”. Notem os leitores que, em Cuba,
também há uma ditadura, mas deve ser respeitada porque “o
povo se autodeterminou e quis o regime”. A ditadura
portuguesa, porém, para a UNE é diferente, o povo não se
“autodeterminou”.
A UNE definiu sua posição de simpatia e solidariedade
à ditadura cubana. Eis alguns trechos do “Relatório da
Diretoria”: a) Após o Congresso (refere-se ao XXIII Congresso
Nacional dos Estudantes) a UNE dirigiu uma mensagem ao
Primeiro Ministro da República de Cuba, Dr. Fidel Castro,
subscrevendo com orgulho a Declaração de Havana e enviando
seu abraço fraternal aos estudantes e ao povo; b) ... enviamos
telegramas ao representante do Brasil na ONU, solicitando a
defesa de Cuba, com base no princípio de autodeterminação e
soberania dos povos; c) Compreendendo o sentido histórico da
Revolução Cubana, que libertou o seu povo da escravidão
econômica, da fome e da miséria, promovemos novas
manifestações de solidariedade e novas denúncias das forças
imperialistas tentadoras da volta ao triste passado de um povo já
liberto; d) Certos de que o problema de Cuba não é só dos
cubanos, mas de todos os povos subdesenvolvidos e espoliados
que lutam pela sua emancipação, inclusive o povo brasileiro,
fomos às ruas, protestar e advertir a opinião pública dos perigos
que poderiam advir para nós e para os povos latino-americanos
com a sufocação do Governo de Fidel Castro...
A UNE se empenhou em uma grande representação
internacional, o Fórum Mundial da Juventude, em que “tendo
sido eleito o Brasil, em Assembléia Geral, para indicar um
membro a fim de compor o Secretariado Permanente do Fórum,
designamos o colega Nelson Venuzi, Vice-Presidente de
Assistência Universitária (cargo da diretoria da UNE), para a
referida representação”. O Fórum teve lugar em Moscou, em
julho de 1960.
INTERCÂMBIO SOVIÉTICO-BRASILEIRO
No mesmo ano em que a UNE repudiava Portugal e
Espanha, defendendo Cuba, uma delegação de estudantes
soviéticos chegou ao Brasil: “Com a finalidade de estreitar os
laços de amizade entre os estudantes brasileiros e soviéticos,
tivemos a oportunidade de receber, em nosso país, a delegação
de estudantes soviéticos, credenciados pelo Conselho Estudantil
da URSS. A referida delegação veio composta dos seguintes
estudantes: Guenadi Dobrov, Presidente da Delegação e Bóris e
Maya Menglet. Fizemos o possível para facilitar aos colegas
soviéticos o conhecimento da sociedade brasileira...”
No setor assistencial, segundo a UNE, sua grande
conquista foi a obtenção de bolsas de estudos para os seguintes
países: República Democrática Alemã (2), Tcheco-Eslováquia
(2), Rumânia (4) e Iugoslávia (1). Estas bolsas resultaram dos
entendimentos entre a UNE e a União Internacional dos
Estudantes. A FAB, conforme consta no relatório, ajudou os
estudantes, cedendo seus aviões para viagens pelo Brasil e
exterior.
ATIVIDADES “EDUCACIONAIS”
As referências às atividades “educacionais” da UNE no
período 60-61 são: greve geral na Bahia, greve na Universidade
Mackenzie, greve da Faculdade de Engenharia Industrial e da
Politécnica de São Paulo, greve na Paraíba, trote dos calouros
criticando as autoridades (em Natal), criação de um Centro
Popular de Cultura e do Centro de Estudos Cinematográficos,
com a finalidade de “conceber a significação da arte na vida
social e na realidade brasileira” (a UNE vem fazendo teatro
político, cujas peças são apresentadas em faculdades, fábricas,
sindicatos etc). Ainda neste Relatório foi abordado o Projeto de
Diretrizes e Bases da Educação, “projeto antidemocrático que
significa a eliminação da escola pública”...
A UNE tratou, também, de reforma universitária, mas
nestes termos: “os reitores e a classe professoral não
compareceram aos trabalhos (refere-se às sessões promovidas
pela UNE) porque a eles não interessa a reforma universitária,
pois estamos em conflito entre o velho e o novo”.
ENE “ROMPEU” COM A UNE
Em junho de 1961 a Escola Nacional de Engenharia
resolveu romper com a UNE e a UME. Naquela ocasião
fizemos uma reportagem sobre o caso, denunciando as
manobras dos estudantes profissionais e afirmando a
necessidade de uma reação por parte dos estudantes democratas.
Os elementos agitadores das entidades estudantis, em
junho, dirigiram-se para a escadaria da Escola Nacional de
Engenharia e, sem que ninguém soubesse como, pois no Largo
de S. Francisco não há pedras, a ENE se viu atingida por uma
saraivada de pedras que, evidentemente, estavam nos bolsos dos
desordeiros. Chegaram ao local o Reitor, um enviado do
Ministro da Educação e estudantes da Escola. Um acadêmico
reconheceu, entre os promotores do ataque, dirigentes da UNE e
da UME. O vice-diretor desta entidade, Roberto Marchesini,
apanhado em flagrante, disse estar ali “para apaziguar os
ânimos”.
Tal movimento resultou da coação feita pela UME aos
estudantes secundaristas comensais do Calabouço. Se estes não
participassem da passeata e depredação teriam suas carteiras
cassadas e perderiam o direito de fazer as refeições no
restaurante da UME. Já em janeiro daquele ano, a União
Metropolitana dos Estudantes tentara depredar a ENE, a
pretexto da péssima alimentação oferecida pelo SAPS (o que a
ENE tinha com isso?). Os funcionários da ótica situada no
Largo de São Francisco, porém, chamaram a Polícia e o
movimento não foi adiante.
O Diretório Acadêmico da ENE emitiu nota oficial pela
imprensa repudiando as entidades UNE e UME, delas se
desligando. Depois, enviou circular a outras faculdades,
convidando-as para que fizessem o mesmo. Três faculdades se
comprometeram a abandonar a UNE e a UME: a Faculdade
Nacional de Filosofia, a Faculdade Nacional de Odontologia e a
Faculdade Nacional de Ciências Econômicas. Só esta última
manteve a palavra, e a própria Escola Nacional de Engenharia,
embora desligada da UNE, apoiou inteiramente seus
movimentos grevistas de junho de 1962, prestando-se,
inclusive, a ser palco de peças subversivas do Centro Popular de
Cultura.
JÂNIO QUADROS E OS ESTUDANTES
Em Brasília o ex-presidente Jânio Quadros, sempre
dúbio, enviou o seguinte telegrama ao Ministro da Educação
Brígido Tinoco:
“Excia:
1) registro com espanto que dezenas de
desordeiros, fazendo-se passar por estudantes,
depredam a Escola Nacional de Engenharia, um
dos mais altos e beneméritos institutos de ensino
superior do país;
2) verifique V. Exa. se é possível
identificar todo o bando para que os nomes sejam
encaminhados, na hipótese que não aceito, de
estudantes, à Reitoria e às respectivas Escolas, a
fim de receberem castigo exemplar;
3) verifique ainda se foi aberto inquérito e a
conveniência de acompanhar este inquérito
membros do Ministério Público.
(as) Jânio Quadros”
O mesmo Jânio Quadros, nas vésperas de sua renúncia,
época em que condecorou, pelos “grandes serviços prestados ao
Brasil”, Che Guevara, ofereceu apartamento aos estudantes em
Brasília, um milhão e meio de cruzeiros para a UNE e colocou à
disposição da entidade 18 funcionários da União para
trabalharem na sede. Prometeu, ainda, auxílio financeiro ao IV
Congresso Latino-Americano de Estudantes.
MINISTÉRIO FINANCIA ELEIÇÕES
Como vimos, a UNE só trata de intercâmbio e amizade
com os países soviéticos, mas, afirma, cinicamente, que não é
comunista. Realmente, esta afirmação valeria se, além dessas
relações, a entidade mantivesse outras com a França, a
Inglaterra, a Suíça, a Alemanha Ocidental, etc. — e o próprio
Estados Unidos da América do Norte — países desenvolvidos
que, pertencentes ao bloco ocidental, se assemelham mais às
nossas cultura e tradição. A UNE, porém, em todas as
manifestações, enaltece a “democracia” de Fidel Castro e
desencadeia violenta campanha antiamericanista, atribuindo
todos os males do país aos Estados Unidos, inclusive a inépcia
de nossos governantes, pois se não há reformas é porque eles
não as querem fazer.
E o Ministério da Educação, já naquela época,
financiava as campanhas eleitorais da UNE, conforme
denúncias amplamente divulgadas pela imprensa por Emílio
Nina Ribeiro, da Faculdade de Direito da PUC do Estado da
Guanabara e hoje eleito deputado estadual. Afirmava Nina
Ribeiro, em julho de 1961 que, de um lado, existiam os
estudantes desonestos, apoiados e prestigiados pelo Governo e,
de outro lado, os estudantes que estudavam e não tinham tempo
para se dedicar exclusivamente à política. A estes o Ministério
não atendia em suas reivindicações.
Emílio Nina Ribeiro ainda denunciava as manobras da
Juventude Universitária Católica que, apoiando a UNE, rotulava
seus movimentos de católicos para iludir a boa-fé dos
estudantes. Hoje a JUC não se esconde mais através da
designação absurda com que se apresenta, “católica de
esquerda”, agindo subversivamente, chegando a ponto de
liderar a invasão do Ministério da Educação em agosto de 1962.
E as autoridades religiosas ainda não se manifestaram sobre as
atitudes da JUC
esquerdistas, agora
Universitária Comunista.
que,
está
de
sendo
totalmente
chamada
dominada
de Juvpelos
entude
GESTÃO ALDO ARANTES
(julho de 1961 -julho de 1962)
O XXIV Congresso Nacional dos Estudantes, realizado
em julho de 1961, em Niterói, deu a Presidencia da UNE a Aldo
Arantes, eleito pelos esquerdistas e pelos elementos da
Juventude Universitaria Católica, que mais uma vez se
venderam em troca de algumas vantagens e por solidariedade ao
recém-eleito, um jucista. Arantes já fizera a sua profissão de fé
marxista, em 1960, quando presidente do Diretório Central dos
Estudantes da Pontifícia Universidade Católica, segundo
denúncia de Ricardo Érico Howling, Presidente do Centro
Acadêmico Eduardo Lustosa, da Faculdade de Direito daquela
Universidade. Usando de seu cargo, sem consultar os diretórios
da PUC, Aldo Arantes manifestou-se em seu nome e em nome
da Universidade, favorável ao regime de Cuba, solidarizando-se
com Fidel Castro. O fato motivou repulsa entre os alunos da
PUC, que o desmentiram pelos jornais.
O grande acontecimento da gestão Aldo Arantes foi,
sem dúvida, a greve universitária, em reivindicação de um terço
de estudantes nos colegiados universitários, episódio que
relataremos com detalhes. Arantes revelou-se francamente
marxista. No folheto “Resoluções do Conselho da UNE”, de
janeiro de 1962, encontramos a seguinte afirmação da Diretoria:
“... nossa posição em nada mudou com a profissão de fé
marxista-leninista de seu Governo (refere-se a Fidel Castro),
pois consideramos que qualquer país tem o direito de adotar o
regime que seu povo desejar”. E a UNE naquele ano fez mil e
uma manifestações de simpatia ao regime cubano.
Na publicação “Cadernos da UNE — I”, de março de
1962, Aldo Arantes afirmava que os estudantes, “classe
privilegiada num país subdesenvolvido, tem papel importante,
mais que nos países desenvolvidos. A diretoria — dizia Arantes
— se preocupa apenas com a politização das massas, sendo
necessária, para isso, a formação de uma secretaria com
funcionários que cuidem da administração”. Daí a criação de
órgãos ou assessorias com o objetivo de politizar as massas: o
Centro Popular de Cultura (CPC), a Editora Universitária e a
Procuradoria (na época em estudos) e a preparação de um
congresso estudante-operário-camponês.
BOLSAS DE ESTUDO
O Conselho Estudantil da URSS, segundo aquele
relatório, ofereceu cinco bolsas de estudos aos estudantes
brasileiros por intermédio da UIE: “Com o fechamento da sede,
durante a crise política (a de agosto de 1961) não nos foi
possível enviar os documentos dos bolsistas dentro do prazo
previsto. Não obstante, os documentos estão em poder do
Conselho Estudantil da URSS e as vagas estão confirmadas
para o corrente ano...”
Continua o relatório: “Mediante acordo firmado na
gestão anterior, enviamos delegações para viagens de
intercâmbio à União Soviética e à China”. Uma outra delegação
enviada a Cuba, teve como representante Vinícius Caldeira
Brant, atual presidente da UNE que, provavelmente, fez aquela
viagem para receber o plano de ação de sua diretoria.
Em suma, Aldo Arantes tratou de intercambio com os
países soviéticos, do fortalecimento da liga estudante-operário
camponês, dos contatos da UNE com os sindicatos e
associações populares e das instalações do CPC e de um circo.
Ainda, com a colaboração da Embaixada de Cuba e do jornal
“Última Hora”, organizou um concurso de símbolos e siglas
para o Centro Popular de Cultura, cujo vencedor teria uma
viagem-prêmio a Havana.
UNE DECRETOU GREVE COM OBJETIVOS POLÍTICOS
A grande realização da diretoria da UNE presidida por
Aldo Arantes, sem dúvida alguma, foi a campanha de
reivindicação pela participação estudantil nos colegiados
universitários.
A greve, decretada em princípios de junho de 1962, veio
em má hora e da forma mais absurda possível. Ela apareceu
junto com a primeira crise deste último período de crises
políticas, tendo a finalidade de agitar, ainda mais, o panorama
nacional. Um movimento que, de início, pelo efeito da
propaganda, empolgou grande número de estudantes
desprevenidos e sinceramente desejosos de reformas, acabou
deixando todos os estudantes “na mão”, e revoltados com a
politicagem da UNE.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em
seu artigo 78 diz: “O corpo discente terá representação com
direito a voto, nos conselhos universitários, nas congregações e
nos conselhos departamentais das universidades e das escolas
superiores isoladas, nas formas dos estatutos das referidas
entidades”. As universidades, portanto, deveriam reformar seus
estatutos, em atendimento à Lei de Diretrizes e Bases,
competindo a cada uma delas estabelecer o número de alunos
participantes nos colegiados. Neste sentido as faculdades
trabalhavam nas reformas de seus estatutos, devendo os mesmos
serem entregues ao Conselho Federal de Educação até 27 de
junho de 1962. Várias faculdades já tinham seus alunos
representados nas congregações através dos presidentes de
Diretórios Acadêmicos e os Conselhos Universitários já têm a
participação dos Presidentes dos Diretórios Centrais de
Estudantes.
Sem esperar o resultado das reformas de estatutos,
propostas pelas faculdades, e a sua entrega ao Conselho Federal
de Educação, a UNE decretou a greve com o intuito de impedir
qualquer reforma e tumultuar os trabalhos, além de prejudicar
as atividades discentes em período de provas parciais.
Os líderes da greve não se preocuparam, conforme
estabelece a ética, em manter contatos com as direções das
faculdades. Ao contrário, gritavam pela reforma, em campanha
de desmoralização à classe professoral, tachando-a de
“imbecil”, “nazi-fascista”, “retrógrada” e “serviçal do
imperialismo ianque”.
GREVE POLÍTICA
O Governo, que naquele momento parecia identificado
com a mentalidade subversiva da UNE, omitiu-se publicamente,
embora, em conversas com os supostos líderes da classe
estudantil, apoiasse, instigasse e prometesse todas as garantias
àqueles elementos arrogantes e pretensiosos.
Muita gente que nada tem a ver com os estudantes, veio
a público elogiar o movimento. Num programa de televisão
debatemos o assunto com o Deputado Paulo Alberto que, sem a
menor cerimônia, declarou ser aquela greve “a mais bonita
greve estudantil”. O Sr. San Thiago Dantas, então candidato a
“premier”, encontrando-se com alguns alunos da Faculdade
Nacional de Filosofia, incentivou-os, afirmando que o Ministro
da Educação, Oliveira Brito, estava totalmente solidário com a
“nobre causa”. Isto foi dito numa assembléia da FNFi, por um
membro do Diretório Acadêmico.
Os estudantes, oradores nas assembléias, garantiam que
o novo gabinete do Sr. San Thiago aprovaria a reivindicação de
um terço de estudantes nos colegiados universitários e, ainda,
deixavam claro que a greve estudantil era uma forma de pressão
sobre o Congresso para a eleição de San Thiago.
Além deste objetivo político, o “pivot” da greve foi a
Faculdade Nacional de Direito. O Centro Acadêmico Cândido
de Oliveira (CACO) desta faculdade, estando em mãos de
elementos ligados à UNE, promoveu a pregação revolucionária
de Leonel Brizola, resolvendo, logo após, promover outra
pregação revolucionária, esta com o Embaixador de Cuba. A
Congregação da Faculdade barrou a pretensão do CACO,
afirmando não permitir a transformação de uma casa
educacional em centro de agitação política. Antes que a UNE
decretasse a greve, comentava-se, vindo do CACO, que os
estudantes entrariam em greve.
MENTIRAS DOS “PROGRESSISTAS”
Surgida de repente, a greve pegou os estudantes de
surpresa. Julho passou com as férias e o vergonhoso Congresso
de Quitandinha da UNE-PC-JUC. Veio agosto com as provas
marcadas pelas faculdades, mas a UNE se manteve firme em
seus propósitos de agitação, prometendo aos estudantes
grevistas coisas que jamais ela poderia dar.
Várias faculdades começaram a tomar consciência da
situação e denunciaram as manobras dos pelegos estudantis que
pretendiam subjugar os estudantes aos seus intentos políticos.
Nas assembléias de alunos de nossas escolas superiores de todo
o país, grandes grupos se dispunham a “furar” a greve. A UNE
tentava segurar a situação, enviando seus agentes às
assembléias onde afirmavam eles haver o Conselho Federal de
Educação deliberado a realização de uma só prova no fim do
ano. Como todos sabem, o Conselho Federal de Educação é
órgão consultivo e não deliberativo, não podendo determinar
medidas que só às universidades (que são autônomas)
competem. As universidades já haviam resolvido sobre as
primeiras provas, marcando-as para agosto. Segundo o próprio
Conselho Federal de Educação, esta declaração da UNE não
tinha cabimento, a mesma havia sido “interpretada” de maneira
incorreta pelos “progressistas” líderes estudantis.
Diante do número sempre crescente de faculdades que
aboliam a greve, a UNE não teve outra alternativa senão a de
suspendê-la.
SUSPENSÃO DA GREVE
Diante de seu fracasso confesso, a UNE expediu nota
oficial ordenando a “operação retorno às aulas”, justificando a
sua atitude pelo “desvirtuamento que seus objetivos sofreram
por parte de elementos divisionistas, que deram à greve um
cunho político”. A nota ainda afirmava que a entidade
continuaria firme em sua reivindicação pelo terço. Mas, apesar
destas desculpas, os estudantes ficaram abandonados pela UNE,
sem as proteções prometidas, na obrigação de terem aulas extras
que preenchessem o número de aulas perdidas durante a greve e
tendo que fazer as primeiras provas parciais. A UNE, de fato,
fez um bonito papel, ainda mais depois de ter prometido que
“todo mundo ia passar por decreto”. Em conseqüência, houve
uma reação no meio estudantil e várias faculdades se
desligaram da UNE. No Estado da Guanabara, por exemplo, a
Escola de Medicina e Cirurgia, a Faculdade de Direito da
Universidade do Estado da Guanabara, além das faculdades que
já se haviam desligado: Nacional de Odontologia, Nacional de
Ciências Econômicas e, por último, desligou-se a Escola de
Engenharia da PUC. A PUC, desde os primeiros movimentos da
UNE, manteve-se ausente, não tomando conhecimento nem
participando da greve.
UNE CONFESSA PRESSÃO
O jornalzinho “O Metropolitano”, do dia 11 de agosto
de 1961, explica por que a UNE suspendera a greve. O jornal
diz que após vários estudos os elementos da UNE chegaram à
conclusão de que a condição indispensável para uma reforma
universitária está na participação de um terço de alunos nos
colegiados universitários. A UNE tapeia os estudantes com esta
afirmação sem explicá-la. O verdadeiro objetivo do terço está
exposto pelo ideólogo da UNE no livro A Questão da
Universidade.
Em sua exposição “O Metropolitano” diz textualmente:
“A princípio dirigiu-se a greve às direções das universidades
que deveriam votar seus novos estatutos até à data de 27 de
junho. Após aquele prazo, como muitas faculdades não
tivessem atendido às reivindicações e como o assunto passasse
à alçada do Conselho Federal de Educação, o movimento
universitário ratificou a greve nacional e dirigiu a este órgão o
movimento paredista. Em vista da indefinição do Congresso,
diante da solicitação dos poderes especiais por parte do
Gabinete Brochado da Rocha, onde inclui-se a participação de
um terço, foi mais uma vez ratificada a greve, desta vez
procurando obter do Congresso Nacional a decisão almejada”.
A primeira explicação a ser dada está na confusão de datas
feitas pelos líderes da UNE. O prazo para a entrega dos novos
estatutos, conforme diz o artigo, era o dia 27 de junho e todos se
lembram que a greve foi decretada no dia 12 de junho, portanto,
houve má-fé. Quem lê aquele pequeno trecho de “O
Metropolitano” entende: a) que a UNE decretou a greve muito
antes do prazo de entrega dos novos estatutos das faculdades; b)
que a UNE pressionou o Conselho Federal de Educação; c) que
a UNE pressionou o Congresso Nacional para que este desse
poderes especiais ao Sr. Brochado da Rocha e bem claro fica
que a UNE decretou greve reivindicando um terço sem que
antes houvesse entendimentos entre alunos e diretores.
Resumindo: a UNE quer acabar com a autonomia universitária.
“O Metropolitano” prossegue, confessando claramente o
objetivo político da greve: “3 — Chegada a época da concessão
daqueles poderes especiais, fatos novos vieram alterar o
panorama nacional, e também as condições do movimento
grevista: por um lado o Congresso Nacional, que marcara
inicialmente a data de 6 de agosto para a sua decisão, adiou a
mesma data para o dia 8, novamente a transferiu para o dia 14,
numa flagrante demonstração que somente a contragosto fará
aquela delegação; por outro lado, radicalizaram-se as correntes
políticas, ora em choque, podendo-se reconhecer que, de
momento, o seu interesse reside em garantir sua própria
sobrevivência, mesmo que isso venha a forçar o sufocamento
dos que se lhes opõem...”
Com todas as letras o jornalzinho da União
Metropolitana dos Estudantes, a UNE particular do Estado da
Guanabara, disse isso... A UNE, portanto, integrada num
esquema de agitação geral, esperava a concessão de poderes
especiais ao Premier e, como tal estivesse demorando a
acontecer, ela não teve outra alternativa senão a de suspender a
greve, fazendo seus liderados voltarem às aulas e às provas...
“O Metropolitano”, concluindo suas explicações, afirma,
ainda, que os estudantes continuariam a reivindicar o terço,
ameaçando que “denunciará amplamente aqueles que procuram
se opor à representação estudantil”, promovendo movimentos
de rua. Finalmente, vem o chavão que qualquer conhecedor de
Filosofia sabe em que boca é usado: “A reforma é um
imperativo histórico”.
A UNE não falou mais em terço, nem em reforma.
Sossegou e tratou de arranjar novas façanhas. Lançou, em fins
de 1962, um livro, Cristianismo Hoje, obra que não nos conduz
a coisa alguma e traz formulações marxistas. O livro é de
Betinho (falaremos dele mais adiante), do Padre Vaz
(hegeliano, que bastante explorado pela UNE, por ela se deixou
envolver), e do Padre Cardonel (dominicano francês que, de tão
explorado pelos comunistas do Brasil, foi chamado de volta ao
seu país pelos seus superiores).
As atitudes da UNE, no decorrer da greve, também, não
deixaram dúvidas quanto às suas idéias subversivas. O Centro
Popular de Cultura fez representar em várias faculdades a peça
“Auto dos 99 por Cento”, peça que atenta contra o clero, contra
a família e contra a sociedade, além de ser desprovida do
mínimo senso estético. Os reformistas da UNE, ainda,
invadiram o Ministério da Educação (hoje Palácio da Cultura)
ali praticando uma série de ações que chocaram as senhoras que
entravam no prédio. Os “reformistas” faziam coisas que bons
meninos não fazem... E isso, publicamente, nas dependências
do segundo andar, onde se acha o Gabinete do Ministro...
VI - AINDA A GREVE DO TERÇO E SUA
FUNDAMENTAÇÃO IDEOLÓGICA
IDEÓLOGO DA UNE PREGA GREVES POLÍTICAS
Podemos dizer, sem dúvida alguma, que a greve
decretada pela UNE, em junho de 1962, teve uma finalidade
política, fazendo parte de um esquema preparado pelos
intelectuais de esquerda, desejosos de submeterem o Brasil ao
jugo da ditadura marxista.
Todos sabem que os estudantes, por pertencerem a uma
elite intelectual, exercem papel de destaque diante do público
de um país subdesenvolvido. Daí o empenho dos agentes
extremistas em escolherem os estudantes, jovens desencantados
com a nossa irresponsável democracia e com pouco ou nenhum
conhecimento de doutrinas políticas, para servirem de veículos
aos seus interesses. A liga estudante-operário-camponês é
constante nas pregações marxistas. E sempre frisando a união
dos estudantes com os trabalhadores, a UNE,
demagogicamente, exerce papel de destaque na política
nacional. Sabemos, pela palavra dos agentes “progressistas”,
que a entidade pseudo-estudantil teve a força de colocar o seu
elemento de confiança no Ministério da Educação, no curto
período do pseudo-gabinete Brochado da Rocha, além de fazer
de Álvaro Borges Vieira Pinto um ministro sem pasta do
mesmo governo.
Quanto à greve, a UNE não teve a inteligência suficiente
para esconder os seus verdadeiros objetivos uma vez que seu
ideólogo publicara, pouco antes do movimento paredista, um
livro que é o ideário reformista da “entidade social”, conforme
declaração do autor. Vamos falar deste e do livro. O autor,
muito nosso conhecido, por ter sido nosso professor e nos ter
oferecido pregações constantes, dentro e fora das salas de aula,
visando incutir nos alunos a sua verdadeira filosofia: a esquerda
hegeliana.
PROFESSOR POR “PICARETAGEM”
Álvaro Borges Vieira Pinto era médico cancerologista.
Descontente com a profissão procurou na Filosofia o lenitivo e
a possível explicação para os seus desencantos. Após estudar
algum tempo a referida matéria prestou exame de suficiência no
Ministério da Educação, ficando apto a ser professor de
Filosofia. Por meio de San Thiago Dantas e do Professor Alceu
Amoroso Lima, além de outros professores de prestígio na
Faculdade Nacional de Filosofia, Vieira entrou para lá ficando
como assistente de Frei Damião Berg, então catedrático de
História da Filosofia. Frei Berg, porém, gostando de seu
assistente, possibilitou-o a fazer o concurso para a cátedra de
História da Filosofia na Faculdade recém-criada. Ele, Frei Berg,
especialista em Grego, faria o concurso para a cátedra de
Grego. Vieira, então, prestou o concurso para a cátedra de
História da Filosofia, apresentando uma tese sobre Platão.
Segundo várias informações de professores da época, Vieira
estudou-a na Sorbone. Mas, de fato, não temos a certeza se sua
viagem à Paris se deu antes ou depois do concurso. O certo é
que Vieira esteve freqüentando cursos da Sorbone, mas diz que
foi dar aulas na Universidade francesa, sendo constantemente
convidado a voltar para lá, pelo seu amigo René Poirier.
A sua tese, sobre Platão, deu-lhe o qualificativo de
“gênio”... Frei Damião Berg, porém, já catedrático de grego,
descobriu que o Timeu, traduzido por Vieira, estava errado.
Vieira defendera uma tese apoiada em uma falsa afirmação
atribuída a Platão, por erro de tradução. Ora, isto invalidava a
tese. O caso foi denunciado, havendo uma certa corrida na
Faculdade. Mas Vieira Pinto era amigo de San Thiago Dantas,
diretor da Faculdade e homem de prestígio, fator que o
conservou como catedrático. E como tal, ele sempre se
prevaleceu das regalias da vitaliciedade de cátedra, passando o
“conto do culto”, através das várias comissões culturais de que
participou, coisas tão criticadas pelo filósofo. Enfim, como diz
Hélio Fernandes, a condição para se obter postos de mando no
país é a mediocridade e o fracasso.
Álvaro Vieira Pinto era integralista do Grupo de Itatiaia.
Naquela época era muito católico, uma vez que a religião servia
de capa protetora aos extremistas da direita. Com o fim do
integralismo, Vieira foi se acomodando à ditadura, passando a
ser platônico. No Governo de Juscelino, o filósofo, juntamente
com Corbisier e outros, fez o ISEB, sendo que sua filosofia era
a hegeliana, com matizes marxistas. Em 1957 passou a ser
“nacionalista” e de esquerda. Do ISEB fez campanha contra
Jânio Quadros, mas quando Jânio tornou-se presidente, Vieira
passou a ser um dos homens escolhidos para fazer “palestras de
esclarecimento sobre a realidade brasileira”. Estas palestras já
pertenceram a sua fase bem marxista.
No pseudo-gabinete Brochado, Vieira Pinto governou o
Brasil nos bastidores. Aliás, uma de suas características é essa:
a de nunca aparecer e mandar os outros fazerem o que ele quer.
Até o momento, quando escrevemos esta matéria, Vieira é o
assessor de assuntos educacionais do Ministro da Educação
Darcy Ribeiro, sendo o responsável por uma série de decretos
demagógicos, assinados por este.
A “REFORMA” PREGADA POR VIEIRA E ACEITA PELA UNE
O “filósofo” da UNE escreveu um livrinho de 163
páginas, intitulado A Questão da Universidade, obra inaugural
da Editora Universitária, de propriedade da UNE,
constituindo-se na homenagem do autor aos vinte e cinco anos
de existência da entidade, comemorada em 1962. O opúsculo,
segundo o autor, exprime o pensamento dos verdadeiros
estudantes, daqueles que desejam promover a revolução e, por
isso mesmo, cada vez mais se desinteressam das atividades
universitárias. A obra representa o ideal da Reforma
Universitária para a mocidade “progressista” da UNE.
Transcrevemos alguns trechos extraídos desse trabalho,
verdadeira obra-prima como manual de revolução marxista
aplicada à universidade, com a indicação das páginas, a fim de
facilitar a pesquisa àqueles que duvidam.
— “Ninguém tenha dúvida, o destino, a
forma futura de Universidade brasileira está sendo
decidida, neste momento, muito mais nos comícios
de camponeses do nordeste do que nas salas de
reuniões dos Conselhos de Educação” — pág. 13.
— “... a reforma da universidade não é
tarefa de natureza jurídica, institucional e, muito
menos, pedagógica, e sim consiste na
transformação de sua essência” — pág. 18.
A essência da universidade, segundo Vieira, é política.
A universidade, em seu estado atual, é uma das formas de
imperialismo, cuja única finalidade é a de alienar alguns
privilegiados da realidade político-social brasileira,
transformando-se em sustentáculo da classe capitalista. Mas
Vieira prossegue:
— “Esta tese tem por corolário outra
imediata: a reforma da Universidade do país
subdesenvolvido que necessita sacudir o jugo das
pressões imperialistas que o entravam e criar com
plena liberdade a sua cultura própria, não tem,
primordialmente, a finalidade pedagógica, mas
visa, antes de tudo, uma finalidade política”. —
pág. 17.
— “... aos estudantes cabe, evidentemente,
o principal papel neste processo transformador
porque eles são os primeiros a entender as idéias
como as que estamos enunciando...” — pág. 17.
— “Cometem os pedagogos um engano
fundamental: supõem que seu trabalho consiste em
organizar, da melhor forma possível, o ensino
universitário para aqueles alunos que entram na
universidade”. — pág. 24.
O autor aqui, faz um elogio aos professores dizendo que
eles são responsáveis em sua missão de ensinar, oferecendo o
melhor possível. Vieira Pinto, evidentemente, não pensou no
que disse, pois os que querem uma verdadeira reforma
universitária reclamam, entre outras coisas, a falta de
responsabilidade da maioria dos professores. Vieira, embora
pregue a incompetência dos professores, seus colegas de
magistério, paradoxalmente, faz-lhes este grande elogio.
— “O tema principal da reforma não
consiste na organização do ensino para os
elementos que ingressam na universidade. Isso
seria o simples aspecto didático.” — pág. 25.
— “A universidade representa o
instrumento mais eficiente para assegurar o
comando ideológico da classe dirigente (ao lado de
outros subsidiários, como a imprensa, o púlpito,
etc. . .)” — pág. 30.
— “A universidade luta pelo seu
isolamento através de sua “autonomia” que
defende ociosamente em seus múltiplos aspectos:
administrativos, didáticos, financeiros, mas com
isso ela se transforma num fosso...” — pág. 62.
O que o “filósofo da realidade brasileira” quer dizer com
isso é que a universidade não é popular, não é democrática. Ela
está desligada das massas operárias. É preciso que a
universidade se democratize. Todos podem ver na fachada da
UNE as faixas com os slogans: “Democratização da
Universidade”, “Universidade para o povo”, etc, slogans
jogados que não apresentam uma solução sequer, a não ser
pregações de greves. Quem pretende reformar alguma coisa traz
um plano definido. A UNE fala em reforma, mas não propõe
nenhuma.
— “Torna-se necessário que, de vez em
quando, um grupo de estudantes se levante em
greve...” — pág. 64.
— “A reforma da universidade tem que ser
feita de fora para dentro por via política” — pág.
95.
— “Os estudantes que compreendem estes
fatos cada vez mais se desinteressam das contendas
internas da universidade, isto é, pelo fator
pedagógico” — pág. 95.
— “Os estudantes se unem aos proletários
mais politizados (certamente o autor quer se referir
aos pelegos de sindicatos), uma vez que seus
interesses são os mesmos. Os estudantes
brasileiros, pela palavra e pela ação de seus líderes
mais capacitados, reunidos na entidade social que é
a UNE, compreendem que a peleja da reforma
universitária só tem sentido e possibilidade de
êxito, se for concebida e executada como luta
fundamentalmente política”. — pág. 103.
— “Toda a formulação do problema da
reforma em termos administrativos ou pedagógicos
precisa ser repelida com energia, como
mistificação dos serviçais da classe dominante que
visam desviar a atenção dos estudantes para o
debate de questões reais, não há dúvidas, mas
secundárias” — pág. 109.
Com esta última citação podemos dizer que Vieira se
propõe, sem sombra de dúvida, a mudar o regime vigente no
Brasil, uma democracia falha, mas uma democracia que pode
ser corrigida em todos os seus defeitos. O regime proposto pelo
reformista é o comunismo. Em conteúdo e forma, Vieira usa a
dialética marxista. O livro prega, ainda, a desmoralização dos
professores por parte dos alunos. Estes não devem respeitar
aqueles porque a classe professoral é “retrógrada”
“incompetente” e “ignorante” para fazer alguma coisa.
A revolução, bem revolução, pregada sem armas (por
enquanto) está na objetividade de cada greve: “um fim imediato
e um meio para alcançar outro fim que à primeira vista não está
em jogo, mas que constitui o alvo para toda a operação diária da
guerrilha” — pág. 148.
Quando dizemos que a UNE é uma entidade que serve
para promover agitações e é uma célula do Partido Comunista,
não o dizemos por desconhecimento de causa. O livro do
ideólogo da UNE é bem claro e afirma que a entidade
representa uma das “forças progressistas do país”,
desempenhando, agora, um papel até então inédito na história
brasileira, qual seja o de influir na política, pressionando o
Governo. E Vieira Pinto é um homem do Governo. . .
COMO SERIA FEITA A REFORMA
A universidade, no entender de Vieira e da UNE, deve
se “democratizar”, isto é, ficar aberta ao povo. Mas o processo
preconizado para que isso aconteça é o seguinte:
a) Suprimir os vestibulares nas faculdades (o que não
seria condenável), para que todos possam ter acesso à
universidade, cuja função exclusiva é a de “politizar” os alunos;
b) após um ano de experiência nas faculdades, os alunos
seriam “examinados”, só permanecendo nas mesmas aqueles
que assimilassem a doutrina política ensinada pelos professores
“progressistas”, o marxismo.
Quanto a este último item os leitores verão no próximo
capítulo o que aconteceu na Faculdade Nacional de Filosofia,
em 1959. Naquele ano o filósofo fizera exatamente isso,
submetendo-se pró-forma ao vestibular, cujo critério de
admissão dos alunos na faculdade foi o político, não importando
a sua competência.
A reforma da universidade não deve ser tratada entre
professores e alunos. Os professores não estão à altura de
promover uma reforma porque são “serviçais do capitalismo
espoliador”. Os estudantes da UNE são os únicos com
possibilidades para tal tarefa, devendo os mesmos pressionar o
Governo para conseguirem a representação de metade nos
órgãos colegiados das faculdades e universidades. É
interessante notar que enquanto os elementos da UNE pedem
um terço o “mestre” se adianta pedindo metade. A
representação maciça de alunos nos órgãos colegiados
possibilitará que alunos marxistas, unidos aos professores
marxistas, expulsem os professores que não aceitem a doutrina
“popular” da esquerda.
Quanto a parte pedagógica, sem nenhuma importância
para a reforma, a única coisa a fazer seria suprimir as
humanidades. Artes, letras clássicas, filosofia (menos, e claro, a
marxista) são coisas do passado. A nossa época só exige técnica
e aprendizado de coisas materiais que proporcionem o
desenvolvimento econômico. Arrematando sua tese, Vieira
Pinto afirma que moral é coisa do passado e seus princípios
servem, apenas, para entravar o progresso da humanidade.
UNE DESMENTE, MAS AGE
A UNE nega com veemência que seus movimentos pró
reforma sejam inspirados nas teses de Vieira Pinto. Mas este
atribui à entidade estudantil a compreensão das idéias que
expõe, frisando ser a UNE “a única que compreende a peleja da
reforma universitária”. A UNE, enquanto nega em palavras, age
exatamente de acordo com as determinações de seu filósofo,
promovendo-o a “manifestante legítimo dos anseios estudantis”.
Pelo exposto, torna-se dispensável qualquer comentário.
O próprio livro, A Questão da Universidade, se encarrega de ser
claro e objetivo quanto à sua finalidade. Mas cumpre-nos fazer
um comentário. A UNE, sem base alguma, prega a reforma da
universidade antes que a reforma política se efetue no país. Em
Cuba, país exemplo para a mocidade reunida na Praia do
Flamengo, houve a reforma universitária quase nestes termos,
mas depois que a revolução mudou a política do país. O que
deseja esta juventude, parte corrompida moral e
intelectualmente e parte idealista, mas totalmente cega, é
absurdo. Seria o mesmo que colocarmos a carroça antes dos
bois e fazê-los andar. O pior, em tudo isso, é a liderança
exercida pela personagem sinistra (não é trocadilho),
irresponsável, que, em qualquer país civilizado, há muito teria
sido eliminada do magistério.
Ultimamente, depois da greve, a UNE sossegou. Não
exige mais um terço, nem coisa nenhuma. Não fala mais nisso.
Acreditamos que a queda do comunismo no plano internacional
e, principalmente, a desmoralização de Kruchev em relação ao
caso de Cuba, tenha dado uma trégua aos intentos da UNE.
VII - CATEQUESE ESTUDANTIL
COMPROVADA EM INQUÉRITO
Falamos, no primeiro capítulo, da técnica adotada na
catequese promovida pela UNE, a da “simpatia e amizade”.
Quando elementos catequisadores têm como mentor intelectual
um professor com as imunidades da cátedra vitalícia, a coisa
muda de figura. Aí a catequese é ostensiva e protegida,
assegurando a liberdade de ação dos catequisadores. Os alunos
que não aceitam a “evolução” ou as aulas a que são submetidos,
passam a ser perseguidos e, de certo modo, expulsos da
Faculdade, uma vez que são, sistematicamente, reprovados na
cadeira do mestre “progressista”.
Estudantes ligados à UNE, em 1958, na Faculdade
Nacional de Filosofia, puseram em prática uma idéia que, hoje,
é enunciada, cinicamente e com todas as garantias, na cartilha
da reforma universitária de Álvaro Borges Vieira Pinto,
assessor de assuntos de abastecimento e educação do Governo
João Goulart, na fase em que o nome do Sr. Brochado da Rocha
aparecia como Primeiro Ministro, e assessor de assuntos
educacionais do Ministro da Educação, Darcy Ribeiro, homem
que encomenda, com o dinheiro público, panfletos subversivos
ao ISEB. O que o “grupo do Vieira”, como são conhecidos os
elementos de confiança do Sr. Vieira Pinto, fez na Faculdade
Nacional de Filosofia, chegou ao auge da arbitrariedade e, por
que não dizer, da sordidez. Tudo que aqui for dito poderá ser
averiguado no Conselho Universitário da Universidade do
Brasil e na Faculdade Nacional de Filosofia, cujo diretor, Prof.
Eremildo Luiz Viana, por uma questão de responsabilidade, não
se oporá a prestar esclarecimentos e a fornecer os depoimentos
e a conclusão do inquérito que, “para não comprometer o bom
nome da Faculdade”, foi arquivado. Os senhores deputados que
apuram as atividades da UNE, numa justa satisfação ao povo
brasileiro, contribuinte da mazela nacional, no dizer do
Deputado Raimundo Padilha, poderão recorrer ao referido
inquérito, solicitando-o ao Prof. Eremildo Viana ou ao Prof.
Sílvio Júlio de Albuquerque Lima, presidente da comissão
instalada pela Congregação da Faculdade, a fim de apurar
responsabilidades de alunos e professores nos vergonhosos
incidentes que ocorreram naquela casa de ensino.
Resumamos o célebre “caso do vestibular”, suas
conseqüências, e o inquérito disciplinar pedido pela
Congregação da Faculdade Nacional de Filosofia.
GRUPO CATEQUISANDO O PRÉ-VESTIBULAR
Em 1958 chegou ao apogeu um movimento ditatorial
promovido por alguns alunos do curso de Filosofia da
Faculdade. Nacional de Filosofia, prestigiados e fomentados
pelo seu catedrático de História da Filosofia, Álvaro Borges
Vieira Pinto. Este professor, entre outras coisas, incutia em seus
alunos idéias avançadas de “disciplina”. Preocupado com a
realidade nacional, afirmava ser necessária uma mudança de
ordem. Para tal fazia os seus discípulos desrespeitarem os
outros professores, aconselhando-os a colarem nas provas,
permanecerem de livros e revistas abertas nas aulas (que não
fossem as suas) e a não aceitarem nada do que os professores
dissessem, por serem estes “reacionários e serviçais da classe
dominante”. O Sr. Vieira Pinto fazia um levantamento das
tendências de seus alunos. Aqueles que não se metiam em
política, eram religiosos ou antimarxistas, sistematicamente não
logravam nota em sua matéria. Não apenas os estudantes de
Filosofia que apresentassem estas características eram
reprovados, mas, também, os alunos de outros cursos que
tinham a sua cátedra (Pedagogia e Ciências Sociais). O Sr.
Vieira Pinto passou a ser temido, era a “dureza” da Faculdade e
todos tremiam só em ouvir o seu nome.
A Faculdade Nacional de Filosofia mantém cursos de
Pré-Vestibular, cujas aulas são ministradas pelos alunos das
últimas séries dos cursos da Faculdade. O Pré-Vestibular de
Filosofia, em 1958, era dirigido por alunos filiados à UNE e ao
ISEB. Os professores pregavam uma doutrina que, só depois de
algumas aulas, nos foi possível entendê-la bem. Era o
marxismo, incluindo a prática de atitudes antifamiliares. A
catequese, seguindo a técnica da “simpatia e amizade”,
apresentava resultados proveitosos, devido à inexperiência de
jovens recém-saídos de escolas secundárias, que se sentiam com
a responsabilidade de aprender a “dominar as massas”,
conforme diziam os elementos do grupo do Vieira. O diretor da
Faculdade, Professor Eremildo Viana, desconfiava da atuação
do grupo, mas, em declaração feita mais tarde, disse que nada
podia fazer por não ter as provas suficientes.
O chefe do grupo naquele ano exigiu do Diretor que o
próximo vestibular de Filosofia, a se realizar em fevereiro de
1959, fosse examinado apenas por ele, Vieira Pinto, e seus
assistentes. O Diretor concordou, embora houvesse muitos
professores no curso de Filosofia, e seja de hábito professores
das diferentes cadeiras do curso examinarem. Mas Vieira queria
ficar só.
Os professores do Curso Pré-Vestibular, à medida que
conseguiam catequisar os alunos, os anotavam numa listinha a
ser apresentada ao examinador, a fim de poderem entrar na
Faculdade. O critério do vestibular não foi o da competência,
mas o da assimilação da doutrina. A banca realizou as provas
orais com as escritas na frente para que não houvesse o
descuido de algum aluno indesejável entrar na Faculdade.
Apenas quatro elementos estranhos ao grupo, que não haviam
feito o Pré-Vestibular na Faculdade, foram aprovados e, isto
porque, antes, houvera uma sondagem sobre cada um. Três
eram amigos de amigos do Sr. Vieira Pinto e uma moça, muito
inteligente, bastante católica e filha de um professor, poderia
“criar caso”.
O vestibular foi tão imoral que os elementos professores
dos vestibulandos trocavam sinais com os examinadores. Uma
das moças aprovadas no vestibular, ganhou o apelido de “Maria
Muda”, porque passou sem abrir a boca. Outro vestibulando,
integrado no grupo, consultado sobre se fazia questão de entrar
na Faculdade, respondeu que não, porque preferia cursar direito
e assim poderia servir de testemunha à “honestidade” do exame,
caso alguém reclamasse, o que de fato aconteceu. Alguns
alunos aprovados mais tarde declararam que procuraram tapear,
aceitando a doutrinação, por não quererem barulho.
Com as notas absurdas distribuídas pelo Sr. Vieira Pinto
e sua gang, quatro alunos pediram revisão de provas. Depois de
muita luta e da obstinada recusa de Vieira em revisar as provas
fazendo, inclusive, com que seus adeptos assinassem uma lista
em solidariedade à sua pessoa e à sua “honestidade”, a
Congregação da Faculdade decidiu levar a questão ao Conselho
Universitário da Universidade do Brasil. Lá, após muitos
debates, ficou resolvida a formação de uma nova banca
examinadora para revisar as provas.
Dos quatro requerentes, dois entraram na Faculdade,
inclusive a autora do presente trabalho, que teve a sua nota da
prova escrita majorada em quase quatro pontos. Ficava assim
comprovada a desonestidade da banca examinadora formada
por Álvaro Borges Vieira Pinto e seus dois assistentes. O diretor
da Faculdade chegou a declarar que se tal atitude não criasse
mais confusão, ele teria anulado aquele vestibular e aberto
outro, pois não houvera nenhum critério na atribuição das notas,
em geral. Isso parece incrível, mas acontece em nosso país.
O INQUÉRITO
O caso poderia ter parado aí. Comprovada a sua
desonestidade, o Sr. Vieira Pinto não mais examinou nos
vestibulares da Faculdade Nacional de Filosofia e passou a dar
sete, oito, nove e dez a todos os alunos, apregoando que esta era
uma forma de desmoralizar a Faculdade, pois ele fora vítima
das “infâmias burguesas de serviçais do capitalismo”.
Naquela mesma época um fato, paralelo ao narrado, veio
comprovar a série de acusações que se faziam contra Vieira
Pinto e seu grupo. Na véspera do exame oral do vestibular de
Filosofia, a mãe de uma menor aluna do Pré-Vestibular, foi à
Faculdade e criou um escândalo, noticiado em todos os jornais
da cidade. Sua filha resolvera viver com Fausto Cupertino
Guimarães (hoje nos quadros do ISEB), elemento do grupo do
Vieira e professor do Pré-Vestibular. A mãe da menor
encontrou, ainda, em poder desta, um diário de outra moça do
grupo, aluna da Faculdade, entregando-o ao diretor, peça que se
constituiu, mais tarde, na prova material do inquérito. A “visita”
da senhora, acompanhada de um advogado, à Faculdade, teve o
objetivo de pegar Fausto e dar-lhe uma surra. Durante mais de
duas horas o prédio da Avenida Presidente Antônio Carlos se
tornou alvo da curiosidade pública, devido à permanência da
polícia e de repórteres no local. Diante de tal acontecimento era
necessário, mesmo, a abertura de um inquérito.
Deste caso particular veio à tona toda uma trama. O
diário da aluna da Faculdade, autenticado na Polícia, relatava as
maiores barbaridades e imoralidades praticadas pelo grupo,
inclusive referências a moças que davam pensões aos rapazes
do grupo. Este grupo era o mesmo que atuara na catequese do
vestibular, liderado pela intelectualidade de Vieira Pinto. Após
dois anos de trabalhos o inquérito concluiu eximindo os
professores de culpa e, segundo comentários, seus nomes foram
riscados com nanquim no processo. O Diretor publicou,
contudo, a expulsão de seis alunos. Face a isso o Diretório
Acadêmico da Faculdade enviou um ofício ao Diretor pedindo a
apuração da responsabilidade dos professores implicados no
caso. A solicitação não foi atendida e os alunos não foram
expulsos (o que foi justo, uma vez que eles agiam sob a
proteção de catedráticos), com excessão de Fausto Cupertino
Guimarães e da menor, pois o caso de ambos era flagrante.
Vamos transcrever a íntegra de um documento, assinado
pelo Presidente do Diretório Acadêmico da época — dezembro
de 1960, data em que o inquérito teve sua conclusão — ofício
enviado ao Diretório Central dos Estudantes da Universidade do
Brasil:
“Do Presidente do Diretório Acadêmico
Ao Presidente do Diretório Central dos Estudantes
Assunto: inquérito disciplinar
Colega Presidente
Acaba de ter fim um ciclo de ocorrências que
convulsionou a Faculdade Nacional de Filosofia. Não quero
rememorar os fatos que deram inicio a estes incidentes
desagradáveis.
Cabe-me informá-lo de que, por esses dias entrará no
Conselho Universitário uma recomendação de expulsão de
vários alunos desta faculdade:
1 — Fausto Cupertino Guimarães.
2 — H.J.B.C.
3 — M.S.
4 — H.H.
5 — F.N.C.
6 — V.P.
À professora primária R.M., foi recomendada a
proibição de matrícula nesta faculdade, a que teria direito, por
ter sido aprovada em exame vestibular.
Foi recomendada, também, a proibição da entrada no
recinto da Faculdade, dos senhores Wanderley Guilherme dos
Santos, Carlos Estevam e Alberto Coelho de Souza, licenciados
pela Faculdade Nacional de Filosofia (anotação nossa:
professores do Pré-Vestibular de Curso de Filosofia no ano de
1958).
Anexo a este ofício segue relatório circunstanciado
sobre este fato, em caráter reservado. Peço ao colega que, por
questão de ética universitária, valha-se deste relatório no
Conselho Universitário, como lhe parecer melhor, mas não
permita a divulgação destes fatos, sem conhecimento do D.A.
da F.N.Fi.. Isso porque consideramos que a divulgação externa
de ângulos isolados desse fato só poderia prejudicar os alunos
desta Faculdade.
Aceite nossas saudações universitárias.
(as) José Augusto Guillon de Albuquerque”.
Eis alguns informes sobre os elementos do grupo, hoje
atuantes no ISEB, na UNE e em outros setores da vida nacional:
Fausto Cupertino Guimarães — desquitado de Abigail
Pereira Nunes (a “mocinha” guerrilheira presa há um ano no
Equador), vivia com outra do grupo, H. H., deixando-a pela
menor R. M., sua aluna no Pré-Vestibular;
M. S. — Milionária dona do carro que servia às bacanais
do grupo;
F. N. C. — aluno desligado da Escola Naval;
Carlos Estevam Martins — apelidado de “Cavalo” (ele
mesmo gostava de ser chamado assim), Presidente do Centro
Popular de Cultura da UNE;
Wanderley Guilherme dos Santos — ex-presidente do
Diretório Acadêmico da Faculdade Nacional de Filosofia, eleito
pelos democratas, traindo-os imediatamente. Em sua gestão
começaram as anormalidades na Faculdade. Representante,
juntamente com Alberto Coelho de Souza e Abigail Pereira
Nunes, da Faculdade Nacional de Filosofia no I Seminário da
Reforma de Ensino promovido pela UNE. Atualmente escreve
sobre política e golpes na série “Cadernos do Povo”, editados
pela Civilização Brasileira, acompanhando seu mestre Vieira
Pinto, também autor nos “Cadernos do Povo”.
Alberto Coelho de Souza — representante da Faculdade
Nacional de Filosofia no I Seminário de Reforma de Ensino da
UNE, orador dos diplomandos da mesma Faculdade, em 1958.
Seu discurso causou repulsa a vários alunos e professores,
devido ao conteúdo subversivo, valendo-lhe a publicação no
jornal “O Semanário”, órgão conhecidamente comunista.
Alberto hoje é um bom burguês.
Vários destes elementos, enquanto o inquérito
prosseguia, adotaram a “operação casamento”, cumprindo
ordens superiores para melhorar a situação.
Mas que fatos seriam aqueles, tão comprometedores
para a Faculdade Nacional de Filosofia, caso caíssem no
conhecimento do público? Eram as atitudes imorais daqueles
alunos, auxiliados por professores, dentro da Faculdade, onde
tinham livre acesso por serem ligados ao Diretório Acadêmico.
Basta dizer, e só isso já basta, que o Diretor da Faculdade,
durante o inquérito, ordenou que as salas só fossem abertas para
as aulas, pois estas serviam para encontros amorosos, dos mais
extravagantes.
VIII — CONGRESSO DE QUITANDINHA
PRATICA ARBITRARIEDADES
Em junho de 1962 realizou-se o XXV Congresso
Nacional de Estudantes, em Quitandinha, tendo aberto a sessão
o patrono Leonel Brizola, que proferiu um discurso
revolucionário, semelhante aos pronunciados no CACO e nas
emissoras sob a responsabilidade do Governo Federal. Afirmou
Brizola que as desgraças do Brasil deviam-se ao “imperialismo
ianque”. O nosso país, para ele, é formado por uma maioria não
comprometida com os americanos — da qual ele faria parte —
que precisa acordar para a realidade nacional, e por uma
minoria ativa — da qual os elementos que compõem o Governo
Federal fazem parte — comprometida com os trustes que
dominam aquela maioria.
Ao mesmo tempo, enquanto falava do imperialismo
ianque, provando suas limitações intelectuais, Brizola disse que
admirava o modo de vida do povo americano e gostaria que o
mesmo fosse possível no Brasil. Nesse momento, a assembléia
ficou muda, não aprovando as palavras de seu patrono. O
discurso do novo “líder”, de fato, externou sua mágoa para com
os governos americanos, “pois estes são causadores dos males
brasileiros devido ao abandono a que nos deixaram, enviando,
depois da guerra, recursos só para a Europa”.
ARBITRARIEDADES EM QUITANDINHA
Nas sessões plenárias os oradores representantes da
situação (UNE, JUC e PC), principalmente o Presidente da
UNE, Aldo Arantes, atacaram os demais congressistas por
discordarem da orientação da entidade. Os problemas tratados
nas sessões foram os políticos, pois a UNE não podia se
justificar dos desmandos que vinha praticando e da aplicação
das verbas recebidas, nunca revertendo em benefício dos
estudantes, mas em propagandas políticas e na manutenção de
500 elementos num Festival comunista dirigido por Moscou.
O Congresso caracterizou-se pelos entendimentos de
cúpula, encontrando, seus dirigentes, dificuldades em penetrar
no sul do país, região onde os estudantes estudam e dificilmente
se afinam com os esquemas da UNE. As arbitrariedades
praticadas foram várias. Os comunistas dirigentes do conclave
impediram a circulação do “Jornal Universitário” e das
publicações da Frente da Juventude Democrática. Os elementos
da F.J.D. foram presos porque se atreveram a reclamar os
desmandos de Aldo Arantes e seus apaniguados. Funcionou o
Congresso com uma “Comissão de Segurança” ou “Polícia
Popular”, semelhante à Gestapo, responsável pela implantação
do estado policial em Quitandinha, impedindo a manifestação
da oposição e promovendo a prisão de seus elementos.
JUC NA POLITIZAÇÃO DAS MASSAS
Amplamente divulgada — e agora rememoramos — foi
a carta assinada por um tal de Betinho (Herbert de Souza), carta
que trata da ação política da JUC e de seu objetivo em cooperar
com a UNE. Publicamos o documento, repleto de erros, na
íntegra:
“Finalmente podemos definir alguns elementos
concretos de nosso encontro de Belo Horizonte:
1) A data será de 31 de maio a 1, 2, 3 de junho.
2) O temário será constituído de quatro temas
fundamentais:
a) Fundamentos ideológicos do grupo. Apresentação de
teses e direção dos trabalhos a cargo do Padre Vaz.
b) Caracterização sócio-econômica do Brasil, a cargo da
equipe do Recife. Direção dos debates de Germano Coelho.
c) Organização de um plano de ação política. Exposição
e direção dos debates a cargo de Almino Afonso.
d) Plano financeiro e sustentação do grupo a cargo da
equipe de São Paulo. Direção dos debates a cargo de Paulo de
Tarso.
3) Para esses debates solicitamos de cada grupo estadual
a preparação para as exposições orais, como também
documentos escritos a serem examinados como contribuição aos
debates. Acreditamos que para todos os quatro itens da reunião
cada grupo estadual poderia levar também de forma
sistematizada suas contribuições por escrito. Lembramos que
todas as decisões serão tomadas de comum acordo, após os
debates. Cabe a cada grupo preparar-se com a antecedência
possível para esse trabalho.
4) Pedimos também que antes do encontro a decisão dos
representantes de cada grupo seja tomada em reunião em que se
decidirá a respeito de nomes, posições a serem tomadas,
sugestões, etc.
5) Lembramos mais uma vez a característica
fundamental de ser o nosso grupo um movimento político
ideológico, fundamentado numa ideologia própria, numa visão
do homem e do universo, que sendo universal aspira ser um
ponto de convergência e união de todas as forças para trabalhar
pelo desenvolvimento integral do homem.
6) O secretariado provisório do encontro está em Belo
Horizonte:
Vinícius Caldeira Brant
Rua São Paulo, 348, apto. 1003
Fone 2-0103 — Belo Horizonte
Betinho, continuando, fala da linha política a ser
adotada no referido encontro secretariado pelo atual presidente
da UNE:
7) Para efeito de discussão inicial, provisória portanto,
submetemos aos companheiros algumas proposições que se
localizariam ao nível de ideologia definidora de nosso grupo.
É um grupo ideológico, não confessional, visando a
atuação política em sentido amplo definido:
A) A história humana como um processo evolutivo de
superação dos determinismos e dos obstáculos ao seu
desenvolvimento.
A História é tarefa do povo evoluído para a sua
consciência concreta de sua situação concreta, é portanto, a
dialética da libertação em busca da humanização total.
O sujeito da história é o povo universal não podendo ser
identificado com caráter exclusivo a forças, partidos ou
organizadas.
O homem como ser concreto, é consciência dos
determinismos e da liberdade. Não pode ser concebido mutilado
ou dividido em sua existência. Os valores humanos são
universalmente dirigidos e atribuídos a todos os homens, tendo
como condições básicas a reciprocidade e igualdade.
O atendimento das necessidades humanas é condição
básica para seu desenvolvimento integral. São realizados ao
nível do desenvolvimento das forças produtivas e das
potencialidades de cada um e de todos.
Toda a consciência puramente idealista é omissão contra
a realização concreta dos homens concretos.
Nessa posição diante da evolução humana se considera
os determinismos específicos das forças materiais, os
condicionamentos econômicos e sociais, considera também a
especificidade da realidade humana, sua capacidade criadora,
sua evolução permanente à libertação dos obstáculos ao seu
desenvolvimento total.
Finalmente definimos o trabalho humano como
fundamento primeiro da história humana. O capital é assim
instrumento do trabalho não podendo jamais tê-lo como objeto
de exploração.
Consideramos para a realidade brasileira:
B) A necessidade inadiável da luta pela superação da
estrutura capitalista e de todos os seus efeitos na estrutura
sócio-econômica. Causa histórica do subdesenvolvimento e dos
entraves à emancipação econômico-social do nosso povo.
A falência dos partidos políticos como instrumento de
promoção do povo e o compromisso de uma falsa democracia
representativa, colocada a serviço de uma aristocracia
econômica.
A necessidade da denúncia de grupos econômicos
nacionais e internacionais que manipulam o poder.
A necessidade da denúncia imediata dos ideólogos
reacionários e conservadores que tentam neutralizar o despertar
do povo.
A necessidade imediata de revelar ao povo o alcance e a
extensão de nossa realidade, dos obstáculos ao seu
desenvolvimento e dos caminhos para a solução que a nosso ver
só serão possível se nascidas do próprio povo, promovendo face
a anarquia do capitalismo a planificação do socialismo, face a
exploração do trabalho pelo capital a aplicação de recursos e
capitais segundo os interesses das forças produtoras. Frente a
falsa democracia das eleições “compradas” a verdadeira
emancipação política do povo nas decisões políticas e
econômicas.
Face a cultura privilégio de uns poucos a
democratização real do ensino para todos, sem distinção e
discriminações.
Postula ainda além de outros pontos importantes
relacionados aos problemas da empresa, estatização etc. a
necessidade imperiosa de uma reforma agrária sem soluções de
compromisso com a classe dominante, que atenda aos reais
interesses dos que trabalham na terra, os camponeses.
Finalmente considera a urgência de uma política externa
independente concreta e definitiva com o mundo
subdesenvolvido na condenação expressa ao imperialismo e ao
colonialismo, geradores do conflito e do permanente clima de
guerra mundial.
Nesse sentido e visando ao aprofundamento destes
pontos e a concretização desta luta julgamos inadiável a
formação de um movimento político nacional que se caracterize
por:
C) Ser movimento amplo, com ideologia definida,
englobando todos os setores de atividades visando a se
constituir uma expressão de um pensamento organicamente
definido e orientadores da luta revolucionária pela emancipação
nacional.
Ser movimento organizado e disciplinado capaz de
responder aos desafios da realidade nacional.
Ser movimento voltado para a nossa realidade em
constante evolução, identificado com a luta do proletariado e do
campesinato.
Como ponto de partida de uma exposição que será
realizada pelo Padre Vaz submetemos aos companheiros estas
teses para discussão. Ê evidente que não definimos de modo
algum com isto a ideologia do movimento, simplesmente
colocamos para discussão prévia, inclusive para facilitar o
debate ainda nos estados, alguns pontos que a nosso ver são
fundamentais. Com isso queremos iniciar um debate que se
concretizará em Belo Horizonte.
HERBERT SOUZA
BETINHO
(assinatura a máquina)
Inicialmente, em matéria de português, grau zero. A
redação de Betinho talvez se inclua no espírito novo, na nova
visão da realidade. Ideologicamente, vemos uma mistura de
lugares comuns e slogans marxistas que não conduzem a nada.
Notamos uma incoerência marcante, aliás, característica dos
líderes esquerdistas de hoje. Combatem eles o imperialismo, a
classe dominante, o capitalismo, mas se esquecem de dizer que
imperialismo, classe dominante e capitalismo estão no governo
que eles defendem e que sempre tiveram o poder político nas
mãos. A carta esclarece que a Juventude Universitária Católica
é um grupo político, não confessional e no último parágrafo
declara que não definiu sua ideologia. Evidentemente, a JUC
não poderia se declarar marxista embora aja dentro da “praxis”
determinada pelos agentes bolchevistas.
A JUC, quando entramos para a Faculdade, dizia-se
apolítica e voltada para o apostolado católico. Atualmente ela
apresenta esta linha de ação, declarando-se política e “católica
de esquerda”. De Florianópolis, Francisco Mastella, jucista
democrata, também denunciou, em entrevista publicada no
“Jornal Universitário”, as manobras políticas da agremiação e a
sua ação subversiva durante o Congresso de Quitandinha e na
gestão do jucista Marcílio Krieger quando presidente da União
dos Estudantes de Santa Catarina. Krieger deixou esta entidade
depenada, com uma conta fabulosa para o novo Presidente,
Mastella, pagar e, ainda, traiu os estudantes catarinenses,
apoiando a candidatura Aldo Arantes no ano anterior, sem ouvir
antes as bancadas de seu estado.
DENÚNCIAS MOTIVAM ABERTURA DE INQUÉRITO
No capitalista Congresso de Quitandinha, em que os
congressistas beberam uísque, dançaram “twist” e viveram a
“dolce vita” nos quartos, corredores e salões do Hotel, foi
apresentado o filme “Cinco Vezes Favela” produção da UNE,
no qual os “preocupados com a realidade brasileira gastaram
Cr$ 2.600.000,00, quantia que poderia ter ido para uma obra
social em ajuda à recuperação de alguma favela.
A Frente da Juventude Democrática, pelo seu Presidente
J. Batista Gabriel, entrou com um mandado de segurança no
Estado do Rio, justificando sua atitude com as seguintes
denúncias: 1) ingerência declarada do Governo Federal nas
eleições, através de Brizola que deu, dos cofres do Rio Grande
do Sul, cerca de Cr$ 13 milhões para estudantes extremistas de
outros estados participarem do Congresso (Brizola não negou o
fato depois que o Sr. Rubem Berta negou que as passagens da
VARIG tivessem sido ofertadas); 2) inexistência de segurança
ao estudante, confirmado pela UNE, perante as autoridades de
Petrópolis, pois a Polícia seviciou e coagiu elementos da
oposição em plenário; 3) aparecimento de forças estranhas ao
Congresso, representadas por organizações internacionais
(Havana, Budapeste, Praga) que influíram nas decisões de
cúpula; 4) falta de garantia aos estudantes que ficaram
impedidos de falar por pressões e ameaças de “tropas de
choque”, formada por elementos não-estudantes, como Jacob
Gorender, homem de destaque do PC.
EMISSÁRIOS DE MOSCOU
Concluindo este capítulo vamos falar dos emissários
enviados pela União Internacional dos Estudantes (a entidade
comunista sediada em Praga) à Quitandinha que, ao
regressarem a Paris, soltaram a língua e fizeram várias
declarações referentes à comunização da América Latina e,
principalmente, do Brasil.
Os objetivos do Konsomol são: 1) instalar solidamente a
estrutura de seu “aparelho” (o Aparat) de propaganda e ação no
seio da UNE; 2) tomar as alavancas do comando; 3) assegurar
com meios monetários, provindos do Governo, certos núcleos
“burgueses”; 4) formar “brigadas de choque” assegurando a
proteção dos dirigentes comunistas e a eliminação eventual dos
opositores; 5) obter apoio incondicional do Governo por meio
de homens de confiança, colocados pelo Partido Comunista em
importantes cargos públicos. Os agentes comunistas afirmaram
que, no Brasil, há facilidade para a instalação deste plano,
estando o mesmo em franco progresso.
A parte mais importante da exposição é a que se refere à
estratégia e a tática da UIE nos países subdesenvolvidos com
relativa industrialização, dos quais faz parte o Brasil.
Infelizmente, no dizer dos agentes, a URSS não possui número
suficiente de elementos especializados que possam, realmente,
atuar no Brasil e demais países subdesenvolvidos. Neste caso, a
finalidade não é de acelerar e sim de frear o progresso a que
aspiram os países “capitalistas”. O grande empenho da URSS é
o de entravar a formação de uma elite intelectual e técnica nas
universidades. A tática da UNE, sob as ordens da UIE, consiste
em sabotar o ensino superior para retardar a formação de novos
grupos intelectuais. O objetivo da UNE vem sendo conseguido
através das greves que, em algumas faculdades, poderão
retardar a formatura de novos profissionais. Nesta manobra
segundo ainda os emissários soviéticos, há uma tríplice
vantagem para o comunismo: 1) permitir a sabotagem metódica
do ensino superior em todos os países subdesenvolvidos; 2) a
utilização dos estudantes grevistas nas manobras dos
movimentos revolucionários, como se verifica no Brasil
(lembramos as várias denúncias feitas relativas às aulas de
guerrilha, para as quais a UNE vem arregimentando estudantes)
e 3) esta tática favorece o recrutamento dos jovens
universitários para os cursos especiais comunistas.
O problema para a URSS está no fato de o Brasil ser um
país católico. Para contornar esta dificuldade, a UIE ordenou
que se apresentassem os militantes como “católicos de
esquerda”. Assim, há uma dupla vantagem para os comunistas:
adquirem um campo mais vasto para as manobras e
“comprometem” os católicos.
A prova do que dizemos está no espetáculo que nos
oferece a situação nacional, incluindo o problema universitário,
suas constantes greves, a atuação da JUC, etc.
IX — CONCLAVES ESTUDANTIS
INTERNACIONAIS SÃO DIRIGIDOS POR
MOSCOU
Os conclaves estudantis internacionais, sejam eles
congressos, fóruns ou festivais, são realizados sob a orientação
de Moscou, que dita as ordens à União Internacional dos
Estudantes. A UIE, como já vimos, é uma entidade comunista
sediada em Praga e encarregada de supervisionar as Uniões de
Estudantes a ela filiadas.
Estudantes comunistas, com a finalidade de receberem
instruções para a ação em seus países, participam dos
congressos. Os festivais são feitos, exclusivamente, para
agradar estudantes que, através da técnica da “simpatia e
amizade” se transformam em novos soldados da causa
revolucionária marxista. Por ocasião de um Festival da
Juventude Sul-Americana, realizado em Moscou, no ano de
1954, o jornal chileno “El Mercúrio” assim se expressou: “O
Festival, uma nova armadilha para atrair a juventude a serviço
do imperialismo soviético, sob o pretexto de bailes, jogos e
exposições, politiza, principalmente, jovens sul-americanos”.
São famosos estes festivais. Os comunistas corrompem a
mocidade com gentilezas, como viagens, passeios e dinheiro.
Em 1951, estudantes brasileiros foram obrigados a fugir de
Berlim Oriental por terem protestado contra a doutrinação a que
estavam sendo submetidos pelos líderes do conclave. Os jovens
haviam ido ao Festival, ingenuamente, pensando que o mesmo
se tratasse de um encontro fraternal, conforme anunciava a
propaganda.
Os congressos e festivais são feitos em países satélites
da URSS ou em cidades sul-americanas, no caso específico de
ser um conclave ínter-americano. A UNE escolhe seus
elementos representantes, obedecendo ao critério da
“maturidade política”, reservando-se ao direito de vetar
credenciais a estudantes católicos ou democratas, mesmo que
estes sejam credenciados pelas suas universidades.
A título de ilustração, vamos falar de alguns conclaves,
de poucos, mas que servem de esclarecimento sobre a ação
subversiva da UNE e entidades congêneres da América Latina.
FESTIVAIS
No XX Congresso da UNE a Frente Nacionalista
Brasileira (agremiação comunista) arquitetou um plano para
fazer “imbecis burgueses” contribuírem para a representação
brasileira num Festival a ser realizado em Moscou. Usando o
nome do Professor Irineu de Albuquerque Melo, como
Presidente da embaixada, a UNE conseguiu grande soma em
dinheiro de várias firmas, entre as quais Coca-Cola(Cr$ 50 mil),
Light (Cr$ 200 mil) e a Livraria Civilização Brasileira (Cr$ 50
mil). O Festival, realizado em agosto de 1957, trazia o pomposo
título de VI Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes
pela Paz e Amizade, tendo como representante brasileiro, em
sua preparação, Orlando Gomes, e como Secretário Geral,
Chauduri Suganau, o estrangeiro expulso do Brasil em 1956.
Entre 27 de julho e 7 de agosto de 1962 teve lugar em
Helsinque o VII Festival Internacional da Juventude e dos
Estudantes. Alguns festivais, como este, são realizados em
países neutros, isto é, em países cujas entidades estudantis não
estão filiadas a nenhuma outra entidade de caráter político (por
exemplo, à UIE). Anteriormente houvera um Festival em Viena
e agora este em Helsinque, ambos à revelia dos estudantes
austríacos e filandeses, sendo que 97% dos estudantes
filandeses repudiaram a idéia de um conclave político-partidário
ter abrigo em seu país. Mas a UIE e a Federação Mundial da
Juventude Democrática, entidade comunista sediada em
Moscou, fizeram realizar o festival em Helsinque, não
respeitando a autodeterminação dos estudantes filandeses.
A esse festival comunista o Brasil enviou uma delegação
de 250 representantes, para uns e 500 para outros (não se sabe
ao certo o número de participantes), incluindo elementos de
sindicatos e artistas que desfilaram pelas ruas da capital
filandesa fazendo propaganda do Brasil. Resta-nos saber quem
pagou viagens e estadas, pois não sabemos da existência de
nenhuma verba especial dada pelo Governo, à delegação
brasileira. Se houve a verba, não sabemos qual o montante.
CONGRESSO DA UIE EM PEQUIM
Baseando-nos no relatório apresentado pela UNE no V
Congresso da União Internacional dos Estudantes, realizado em
Pequim, no periodo de 4 a 14 de setembro de 1958, sabemos
que a organização do Congresso foi perfeita e deveria servir de
exemplo aos congressos nacionais. A delegação brasileira foi
muito bem tratada pela Federação Chinesa de Estudantes e pela
UIE que lhe ofereceu as passagens até Pequim, não tendo a
UNE nenhuma despesa com os seus enviados.
Os problemas tratados no Congresso foram muitos e
entre eles a luta nacionalista, afirmando que os estudantes
brasileiros muito trabalhavam neste sentido, pois “a marcha do
colonialismo sobre a América Latina se fazia sentir
acentuadamente”. O representante da UNE em seu discurso
abordou a sua corajosa luta contra o subdesenvolvimento e o
colonialismo do país, fazendo com que a UIE enaltecesse a
UNE pelos seus méritos. Eis como se referiu a UIE em relação
à UNE: “Considerando, a) que a luta vitoriosa dos estudantes
brasileiros para arrancar o país do subdesenvolvimento; b) que a
campanha de nacionalização nos diversos setores da economia
nacional é um dos aspectos dessa luta; c) que a vitória obtida
pelo povo brasileiro pela nacionalização do petróleo achava-se
ameaçada pelas forças imperialistas; d) que a atuação de
“trusts” e forças nefastas impediam a nacionalização do setor de
energia e reformas, como a agrária, que mantém o povo na
miserabilidade; e) que a UNE, por sua ação contra as manobras
do imperialismo americano, consubstanciado na recente visita
do Secretário de Estado ianque ao Brasil com o fim de fazer
pressão sobre o Governo Brasileiro, para que este modificasse a
sua política do petróleo, foi vítima de uma campanha caluniosa
por parte da imprensa vendida aos interesses do imperialismo, a
fim de que o povo brasileiro lhe retirasse o apoio” a UIE
resolvia apoiar os estudantes brasileiros pela sua “justa luta
anti-americanista e denunciar as manobras do imperialismo,
visando impedir a emancipação econômica do Brasil”.
A UIE prometeu ajudar a UNE na obtenção de sua
gráfica, o que nos leva a crer que a Editora Universitária tenha
sido possível graças ao dinheiro russo, muito bem aplicado no
Brasil, pois a referida editora só vem publicando livros
marxistas. A UNE, que se diz “nacionalista”, leva os problemas
do Brasil para congressos promovidos pela Rússia, de onde
recebe elogios, dinheiro e conselhos. Mas que “nacionalismo” é
este?...
CONGRESSOS SUL-AMERICANOS
Em 1959 houve o III Congresso Latino-Americano em
Caracas. Um fato, digno de nota, prova as atitudes serviçais da
UNE ao comunismo e a categoria de seus presidentes. A PUC
do Rio de Janeiro se fazia representar pelo acadêmico Emílio
Nina Ribeiro, credenciado pelo Diretório Central dos
Estudantes de sua Universidade. Sua credencial, porém, para
valer no Congresso de Caracas, deveria ter um visto da UNE. O
presidente da entidade, Manuel Conrado, inicialmente, negou-se
a dar a validade alegando que Nina Ribeiro “não tinha
idoneidade ideológica para representar uma universidade
brasileira”. O estudante ameaçou ir aos jornais denunciar o
acontecido. Conrado, então, com medo, deu a sua permissão,
credenciando Nina Ribeiro a participar do Congresso.
Emílio Nina Ribeiro viajou rumo a Caracas e logo
depois da sua chegada à capital venezuelana, recebeu a visita de
um estudante paulista, Mastruobono que, cumprindo
determinações de Conrado, revogou o reconhecimento da
credencial concedida no Rio. Oficialmente, em conseqüência,
Emílio Nina Ribeiro não participou do conclave, mas deu
entrevista aos jornais denunciando a manobra da UNE. A
delegação da Colômbia, também, não foi reconhecida pelo
mesmo motivo: ser católico e democrata.
O Congresso de Caracas votou as seguintes teses: 1)
Supressão das universidades católicas, por serem formas de
“trusts”; 2) Controle absoluto dos meios de produção; e 3)
Supressão da família. Este último item foi tão grave em suas
teses atentatórias à moral e, principalmente à dignidade
feminina, que a própria delegada cubana retirou-se do recinto
em prantos. No Congresso circulou uma revista pornográfica,
No nos tiente, contendo o pensamento dos congressistas sobre a
moral e o casamento. Aliás, é preciso que se diga: revistas
pornográficas são obrigatórias em todos os conclaves estudantis
e, não só as revistas, mas, também, as práticas.
CONGRESSO TEM QUE SER POLÍTICO
Os festivais e congressos aqui relatados são exemplos
dos muitos que se efetuam todos os anos sob os mais variados
títulos. A característica fundamental dos conclaves estudantis,
participados pelo Brasil, é a política e a própria UNE o
confirma.
Em 1959 houve a VIII Conferência Internacional de
Estudantes em Lima. O Congresso contou com estudantes
ingleses, americanos e escandinavos, todos pertencentes a
países onde os estudantes desempenham a sua verdadeira
missão. Os referidos estudantes foram acusados pela UNE de
não terem se dedicado a problemas de importância, isto é, a
problemas políticos, questões de imperialismo, colonialismo,
etc. É a UNE, em seu relatório, que reconhece haver duas
entidades de estudantes e, conseqüentemente, duas formas de
estudantes, ambas representativas: “Filiar-se a uma seria negar a
existência de outra e, seria, antes de resolver, aguçar ainda mais
a separação e as contradições entre elas”. A UNE quis dizer
com isso que seus congressos têm que ser políticos, de pregação
e práticas marxistas e quando outros países se fazem
representar, países livres, os congressistas subdesenvolvidos,
que professam ideologias que não admitem o debate, não se
sentem à vontade para mostrar a sua pseudo-sabedoria.
X - ISEB ALICIA ESTUDANTES E ORIENTA
A UNE
As universidades brasileiras sempre foram insuficientes
nos trabalhos de pesquisas sociais. Intelectuais brasileiros, das
mais variadas tendências, desejavam a criação de um centro de
estudos brasileiros a exemplo dos existentes na Europa e nos
Estados Unidos. Aproveitando esta idéia apareceram em cena o
Sr. Roland Corbisier e um grupo de oportunistas que, auxiliados
pelo Fórum Roberto Simonsen, criaram o Instituto Superior de
Estudos Brasileiros (ISEB).
O ISEB nasceu de repente, enganando a muita gente.
Homens de fortuna, inclusive, contribuíam para a formação de
um centro de estudos marxistas. Corbisier, enriquecendo e
tirando o maior proveito possível do ISEB, apesar de toda a sua
confusão mental, levava a sua “Sorbone brasileira” para onde
queria. O Prof. Almeida Sales, mestre integralista de Corbisier e
um dos idealizadores do ISEB, traído pelo aluno, portador de
visíveis sintomas de daltonismo ideológico, percebeu a
manobra, declarando que o ISEB “nascia como um verdadeiro
partido político” a serviço de um grupo oportunista.
ORIGEM DO ISEB
O Instituto Superior de Estudos Brasileiros foi instituído
pelo Ministério da Educação e Cultura, por decreto n° 37.808,
de 14 de julho de 1955, com a finalidade de ser um centro de
altos estudos políticos e sociais. A entidade era dirigida por um
Conselho Consultivo, composto de 50 membros, ao qual
competia a orientação e o planejamento dos cursos e
publicações a serem realizadas. Pelo decreto 41.500 de 15 de
maio de 1956, o Conselho Consultivo foi extinto, sendo
substituído por uma Congregação formada pelos cinco
professores da época, responsáveis pelos departamentos
culturais. Assim, cinco elementos, em vez de cinqüenta,
passaram a dirigir o ISEB, o que possibilitou levar a instituição
para uma determinada direção.
Apoiado e prestigiado pelo Governo do Sr. Juscelino
Kubitschek, o ISEB se propôs a adotar uma filosofia
desenvolvimentista que encobria, grosseiramente, o confuso
marxismo de seus dirigentes. O “desenvolvimento” do ISEB era
e ainda é tão sinistro que, não fosse a seriedade do assunto,
tornar-se-ia engraçado. A instituição nascida com Corbisier e
seus amigos do “grupo de Itatiaia” (o grupo intelectual
integralista) criou uma linguagem própria: a terminologia
marxista-leninista adaptada ao desenvolvimentismo de
Kubitschek. O ISEB, em sua fase inicial, então, passou a
funcionar com comunistas, homens ambiciosos de poder
pessoal, racistas, conservadores, industriais, homens de “trusts”,
etc, todos “criando” uma cultura “especificamente” brasileira.
Estes ingredientes misturados e batidos na vasilha da Rua das
Palmeiras davam um bolo de gosto sui-gêneres, comido
normalmente por uns e causando engasgos a outros. Quem lesse
as publicações do ISEB, por mais que quisesse, não conseguia
atinar com a sua doutrina. Os mais esclarecidos, contudo,
afirmavam que aquele
comuno-nacionalismo-desenvolvimentismo, se vingasse, traria
sérios problemas à Nação.
O que se passava, de fato, no ISEB, durante o Governo
Juscelino, era mais lamentável do que pode parecer. Justamente,
ao pensarem os seus membros em desenvolvimento,
procuravam fazer do ISEB um núcleo contra o
desenvolvimento. Por um lado os comunistas procuravam
impedir através de seus “altos estudos” um possível
desenvolvimento e, por outro lado, os homens de fortuna e
ligados a indústrias e “trusts”, procuravam uma forma de não
promover a riqueza em novos setores, o que propiciaria a outras
pessoas a sua situação econômica. Para estes homens era
necessário que o poder econômico se restringisse a uma
pequena minoria da qual eles faziam parte. Mais tarde, pelo
desenrolar dos fatos, pôde-se comprovar o intuito dos isebianos.
DENÚNCIAS AO ISEB
O jornal “O Globo”, em 25 de março de 1960, publicou
um suplemento sobre o ISEB. Várias denúncias foram feitas aos
cursos ali ministrados.
Em 1956, o Comandante Aristides Pereira Campos
Filho, cumprindo ordens do Estado-Maior das Forças Armadas,
estagiou no ISEB. Para a conclusão de seu curso apresentou a
tese de que o comunismo era fator de entrave ao
desenvolvimento nacional. Seu trabalho foi recusado pela
direção do ISEB. O comandante Aristides Pereira Campos Filho
levou ao conhecimento da EMFA o ocorrido. O Gal. Otávio
Mazza mandou que os fatos fossem apurados, ficando tal
encargo sob a responsabilidade do Brigadeiro Clóvis Travasso.
A conclusão, após pesquisas e interrogatórios, foi enviada ao
Gabinete Civil da Presidência da República e depois ninguém
mais soube o que aconteceu.
Antônio Carlos Villaça escrevia, no dia 8 de novembro
de 1959, no “Jornal do Brasil”, que o ISEB poderia ter
professores marxistas, pois isso era uma questão pessoal que
merecia respeito. Mas, grave era o fato de o ISEB ser órgão do
Governo e sustentado pelo país. “A questão — escrevia Antônio
Carlos Villaça — ganha assim um outro aspecto que interessa a
Nação inteira: um órgão do Governo mantido por verbas do
Governo e por generosa (e talvez assustadora) subvenção de
industriais... está a serviço da filosofia marxista de vida. É
grave.” O artigo ainda fazia um apelo aos padres jesuítas,
convidados a fazerem conferências no ISEB, que não as
fizessem, que agissem como os professores Alceu Amoroso
Lima e Gustavo Corção. Ambos convidados do ISEB haviam se
negado a dar cobertura, com os seus nomes, àquela “vigarice”.
REFORMAS NO ISEB?
Muita gente se movimentou para reformar o ISEB. O
Boletim Cambial de 29 de dezembro de 1959, em sua seção
“Confidencial” trazia o seguinte parágrafo: “Fontes ligadas à
Presidência da República adiantam que estão quase concluídos
os estudos que determinarão uma completa reforma da estrutura
do ISEB, elaborados sobre os dados e informações fornecidos
pelo Conselho de Segurança Nacional e por determinação do
Presidente1 da República. O Ministro Clóvis Salgado tem
envidado todos os esforços para emular aquele trabalho, pois é
um dos mais ardorosos defensores daquele instituto e de suas
ideologias.”
Na época sondamos várias pessoas ligadas ao Gabinete
do Ministro da Educação. Todos comentavam os desmandos do
ISEB e o trabalho que seus dirigentes davam ao MEC. Mas o
Sr. Clóvis Salgado, de acordo com a regra bem brasileira — um
ministro da Educação no Brasil poderá conhecer tudo, menos
educação — não admitia que o ISEB, a “Sorbone Brasileira”,
fosse atingida. A criação da entidade, não importando para o
que fosse, era uma conquista sua, de seu ministério.
Em resumo, o ISEB tem um corpo de professores
admitidos sem concurso e escolhidos ao gosto de seus
dirigentes. Todo o pessoal do ISEB ganha muito bem, às custas
do povo e, demagogicamente, reclama que o Brasil não tem
escolas, que a universidade é privilégio, que os professores
precisam fazer concursos, etc. O Brasil está nesta situação mas
ostenta um Instituto de Estudos Brasileiros que em nada
colabora para a resolução dos sérios problemas brasileiros e
difunde e aprimora a extrema-esquerda, cumprindo assim o seu
grande papel: arregimentar estudantes para as suas aulas,
ministrando-lhes a doutrina marxista-leninista.
FAMA DO ISEB NO ESTRANGEIRO
Convém lembrar que a fama do ISEB ultrapassou as
fronteiras brasileiras. O “Diário Ilustrado” de Santiago do Chile,
a 5 de outubro de 1959, publicou um artigo sobre a importancia
do ISEB como órgão de orientação política no Brasil e afirmou:
“Infelizmente foi criticado com razão que o ISEB carece de
uma verdadeira unidade ideológica. Seus integrantes professam
ideologias diferentes que não chegam a integrar-se na forma do
todo harmonioso na fachada de nacionalismo com que se
apresenta o Instituto. O mais grave de tudo, ainda mais numa
entidade de tanta influência, é a tentativa que desempenha nela
elementos de idéias marxistas que, com hábil pretexto de
nacionalismo e estudos sociológicos, difundem dissociadoras
ideologias comunistas.”
E no Brasil não há comunismo... Os que o combatem o
fazem emocionalmente, têm fobia, conforme dizem certos
elementos de má-fé ou profundamente ignorantes. Estas
denúncias e comentários datam de algum tempo. Agora o ISEB
está muito mais poderoso. O Sr. Darcy Ribeiro, Ministro da
Educação na época do plebiscito, por exemplo, encomendou ao
ISEB um planfleto “cultural” sobre os males do
parlamentarismo, panfleto que, segundo declaração do
“premier” Hermes de Lima, não foi caro, nem atentou contra a
dignidade de ninguém, pois custou Cr$ 300 mil. O panfleto,
“inocente”, entre uma série de erros históricos e ofensas a
pessoas do Estado da Guanabara e das Forças Armadas,
afirmava que o reacionarismo liquidava com o Brasil, sendo
preciso voltar ao presidencialismo para que nosso país “pudesse
ser” maravilhoso.
RELAÇÕES DO ISEB COM A UNE
Pode parecer estranha a nossa acusação ao ISEB quando
o que nos interessa é a UNE. O ISEB, porém, não foi aqui
jogado ao acaso. Esta instituição congrega e alicia para os seus
cursos alunos universitários, sob a justificação de “ampliação de
cultura”. A UNE considera o ISEB a entidade mais evoluída do
país e a única capaz de equacionar os problemas nacionais. A
literatura político-social brasileira e internacional da UNE é
expedida pelo ISEB. São as publicações isebianas, as mesmas
que, alguém, com espírito, já as classificou de “isebestas”.
O ex-diretor do ISEB, deputado Roland Corbisier, está
em todas as manifestações dos estudantes da UNE. O atual
diretor da instituição, Álvaro Borges Vieira Pinto, é o que nós já
conhecemos. O Sr. Jacob Gorender, militante comunista da
UNE, não sabemos há quanto tempo, já em 1959 dava um ciclo
de conferências sobre “Materialismo Dialético” no ISEB.
Gorender, ao que supomos, para atuar na UNE deve ser
estudante e, no entanto, há quatro anos aparecia como
conferencista de um centro de estudos superiores...
Há dúvidas quanto as relações ISEB-UNE?
XI — ...E OS PODERES DA REPÚBLICA
PATROCINAM O FESTIVAL SUBVERSIVO
CENTRO POPULAR DE CULTURA
Trazemos, agora, alguma coisa da “arte” dirigida,
empreendimento da UNE, que conta com o auxílio do Governo.
Através de uma pseudo-arte, rotulada de democrática e popular,
a UNE faz sua catequese, não só nas universidades, mas em
fábricas, favelas, escolas secundárias, centros agrícolas,
sindicatos, etc.
A União Nacional dos Estudantes, conforme ficou
provado no decorrer destes capítulos, tornou-se uma entidade
político-social, empenhada em promover a revolução
“democrática” no país. Tudo que ela faz tem o objetivo político,
inclusive a arte, “arte política”, visando “esclarecer as massas”.
E o Governo contribuiu, generosamente, para a criação do
Centro Popular de Cultura, órgão da entidade pseudo-estudantil
que, entre outras figuras, conta com a direção de Carlos
Estevam Martins, o mesmo envolvido no inquérito de 1959 da
Faculdade Nacional de Filosofia e proibido de lá pôr os pés.
O CPC da UNE se propõe a levar a arte ao povo. Diz-se
formado por intelectuais de vanguarda que procuram transmitir
a “verdadeira arte” ao povo, indo às faculdades e aos sindicatos.
Os fundamentos e objetivos do CPC estão expostos no jornal
“O Metropolitano”, do dia 11 de agosto de 1962. Afirma o
jornal que esta arte “é de caráter popular e revolucionário,
afastando-se da arte de elite, por não possuir conteúdo
intelectual apurado nem esmeradas formas estilísticas”. Fazer
arte com o povo e para o povo é conscientizar as massas. É
fazê-las ver que o poder está nas mãos de poucos. A arte
torna-se uma forma de exprimir a necessidade de uma
revolução. É a arte popular.
O teatro feito pelo CPC representa, segundo o mesmo
jornal, “a arte política de agitação social”. Para aumentar a
agitação social a UNE criou a UNE-VOLANTE, o que permitiu
a fundação de vários CPCs pelo Brasil, “dando maiores
possibilidades de organização positiva à arte revolucionária”.
Vejamos algumas peças do CPC:
AUTO DOS 99 POR CENTO — peça anticlerical,
contra as instituições, cuja mensagem é incutir nos jovens o
desrespeito às autoridades, a subversão da ordem e promover
uma péssima e de muito mau gosto crítica à situação
universitária,
AUTO DOS CASSETETES ~ peça que “traduz os
argumentos das forças retrógradas que se contrapõem à
argumentação estudantil”;
AUTO DO TUTU ESTÁ NO FIM -o problema do
abastecimento, “criado” pelo Governador Carlos Lacerda, é
colocado após “sérios” estudos feitos com elementos dos
sindicatos (Roberto Morena, Dante Pelacani, Hércules Correia,
etc).
A UNE, é preciso esclarecer, fracassou redondamente na
apresentação de suas “peças populares” em meios operários. A
primeira e única peça apresentada numa fábrica, revoltou os
trabalhadores que, imediatamente, trataram de retirar suas
famílias do local, escandalizados com os palavrões e a
pornografia da “arte política”. É um erro pensar que as classes
menos favorecidas do Brasil participem de imoralidades e
aceitem determinado vocabulário.
Além das “peças teatrais”, a UNE fez representar em
Quitandinha e, recentemente em vários cinemas da cidade, o
filme “Cinco Vezes Favela”, cujas críticas os especialistas em
cinema já se encarregaram de fazê-las. Filme que explora os
aspectos negativos da vida brasileira, é vazio em conclusões.
Como toda a dialética marxista, parte de denúncias reais, mas
alterando a História, incute a revolta, ao invés de trazer
soluções condizentes com a autêntica democracia.
Recentemente ainda, a UNE lançou o LP “O Povo
Canta”, com músicas que pretendem ser “bossa nova”, nas quais
vozes esganiçadas berram (é este o termo certo) que o povo
quer educação, quer comida, mas o americano não deixa. O
disco foi vendido nas faculdades ao preço de Cr$ 500; é um
disco muito popular, como vemos.
A UNE mesma confessa que esta arte popular não
possui conteúdo intelectual nem formas estilísticas. Concluímos
que a entidade criou uma “arte” que exprime a ignorância e,
seguindo o raciocínio comunista, se o povo é ignorante é
preciso oferecer-lhe algo que se adapte à sua condição. É
preciso oferecer ignorância ao povo. O lamentável em tudo isso
é que, no ex-Distrito Federal, a capital da política, da cultura e
não sabemos de mais de quê, existem coisas assim, feitas
abertamente, com a cobertura de políticos, usuários das regalias
capitalistas, que extorquem quantias fabulosas da Nação para
agradar uma turma que mal sabe se dirigir a si própria, mas
pretende dirigir “as massas e o país”.
AS VERBAS DA UNE
O Deputado Raimundo Padilha, em 10 de agosto de
1962, pronunciou na Câmara dos Deputados um excelente
discurso sobre a UNE. Declarou o Deputado que qualquer
pessoa de responsabilidade deseja a existência de uma
associação de estudantes que zele pela Constituição e pelos
anseios de liberdade e cultura do povo. Mas “o que temos diante
de nós, é uma juventude que se desintegra através de um
processo psicológico, de um delírio ideológico, no qual parece
que a mocidade quer desertar de nosso país”. Acentuou o
parlamentar que falava em nome dos novos novos e não em
nome dos novos velhos, “dos novos esclerosados, uma minoria
de agentes do bolchevismo internacional, uma minoria que não
sabe pensar por si mesmo e escreve a infâmia que é a Carta do
Paraná”.
Não mencionamos a “Carta do Paraná” anteriormente
porque falamos de A Questão da Universidade, no momento o
que há de “mais avançado” em matéria de “reforma”
universitária. A Carta do Paraná, porém, é a cópia do que foi
feito em Cuba, onde a Federação Estudantil Universitária, até
1959, conseguiu atribuir-se ao direito de aprovar e vetar
professores (manobra do terço no Brasil), criando uma Junta
Superior de Governo em substituição à Congregação
Universitária e exercendo a reforma universitária no sentido
bolchevista, recebendo as instruções da UIE de Praga.
Grave em tudo isso é o fato de a UNE ter muito dinheiro
e ser bastante poderosa para não prestar contas de sua atividade
e da aplicação de verbas. No sentido de apurar as atividades da
UNE em relação à aplicação de dinheiro, o Deputado Raimundo
Padilha pediu uma comissão parlamentar de inquérito.
Segundo as declarações do Deputado Raimundo Padilha,
a verba recebida pela UNE e instituições congêneres a ela
filiadas, somente na proposta atual para o exercício de 1963, é
de 2 BILHÕES, 146 MILHÕES E 450 MIL CRUZEIROS. No
orçamento de 1962, a verba reservada e autorizada para a UNE
e anexos atingiu a 1 BILHÃO, 726 MILHÕES E 9 MIL
CRUZEIROS. A distribuição da verba, em alguns casos
específicos é a seguinte: viagens a Praga, Moscou, Havana, etc,
CR$ 5 MILHÕES; manutenção da sede CR$ 2 MILHÕES E
MEIO; restaurante, CR$ 382 MILHÕES E 950 MIL; e a UNE,
especificamente, tem mais de CR$ 15 MILHÕES, sendo que
CR$ 3 MILHÕES são para o CPC e CR$ 4 MILHÕES para as
obras de “orientação estudantil”. Paira uma dúvida: se a UNE
tem apenas Cr$ 15 milhões, como manteve seu pessoal em
Quitandinha onde, em poucos dias, gastou cerca de Cr$ 30
milhões da entidade?
Mas a UNE não recebe dinheiro só do Governo. Várias
são as firmas (até americanas) que contribuem para a célula do
PC, rotulada de União Nacional dos Estudantes. E muito
dinheiro vem da Rússia, pago em dólares, aos burguesíssimos
militantes da entidade e aos seus instrutores nas escolas
superiores.
APENAS ALGUMAS PERGUNTAS
Depois de tudo que observamos e contamos, o que não
constitui o todo mas apenas parte das atividades e propagandas
da UNE, perguntamos, uma vez que a entidade diz não ter
verba:
— Quem financia seus elementos nas viagens e estadas
em hotéis luxuosos, como presenciamos em Quitandinha?
— Como foi possível a aquisição da Editora
Universitária, cujas máquinas custaram Cr$ 7 milhões e foram
adquiridas da Gráfica Leal Ltda., e qual a real transação que
possibilitou esta compra?
— De que maneira a União Metropolitana dos
Estudantes, até a gestão passada, intimamente ligada à UNE,
pode manter, a partir de 1962, o jornal “O Metropolitano” em
circulação independente?
— Qual a lei que possibilitou à mesma UME, através de
seu ex-Presidente José de Souza, vetar o Restaurante do
Calabouço aos alunos da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio
de Janeiro, só porque seus alunos resolveram não mais
reconhecer, na UNE e na UME, entidades suas representantes?
O restaurante não é sustentado pelo Ministério da Educação?
— Por que os elementos da Diretoria da UNE e seus
apaniguados recebem salários? E por que estes mesmos
elementos, quando deixam a UNE, geralmente se empregam em
repartições do Governo, percebendo ordenados altíssimos?
A UNE, esta é a realidade, não se preocupa com os
estudantes e provoca o divisionismo entre eles. Existe para fazer
política, conforme a confissão de seus dirigentes. A entidade é
tão “evoluída” e “democrática” que recebe estudantes de países
comunistas alegando “estreitar laços de amizade”, mas, em
combinação com a União Brasileira de Estudantes Secundários,
convida o Coral “Palm Beach School Choir” para uma
apresentação em sua sede, não distribuindo, porém, os convites,
e fazendo os jovens americanos esperar mais de duas horas no
auditório vazio. Estes são os evoluídos da UNE, os
“neo-humanistas” que praticam baixezas deste gênero porque os
jovens cantores são de nacionalidade americana e,
provavelmente, responsáveis pelo “imperialismo ianque que
escraviza o Brasil”.
Tudo isso é grave. Sabemos que todas as revoluções
comunistas tiveram a orientação dos intelectuais e de jovens
formados em universidades. Sob a falsa pregação de externarem
o desejo das massas, os intelectuais de esquerda preparam a
juventude universitária, bajulando-a e encantando-a, com a
promessa de que altos postos lhe serão dados no “novo regime”.
Nas escolas superiores arregimentam-se estudantes sob a
alegação de ser necessária “a formação de uma elite intelectual
que domine as massas”. E as autoridades assistem a tudo,
mudas, tranqüilas, oferecendo, ainda, vantagens e dinheiro...
CONCLUSÃO
Concluo este trabalho dando uma explicação aos
leitores. Não compete ao repórter fazer análises profundas ou
apresentar as suas teses sobre os assuntos que expõe. É evidente
que ao fazer um levantamento das atividades da União Nacional
dos Estudantes e denunciá-las, movia-me o desejo de expor ao
público a importância negativa da entidade em relação ao
progresso, à ordem, enfim, à vida do país. A UNE, hoje, é um
simples instrumento de subversão. Não é instrumento de uma
revolução necessária, humana, progressista, mas de uma
subversão inspirada em moldes soviéticos, que encontrou em
Cuba o seu primeiro passo para a pretendida ocupação da
América Latina. Mas, mesmo não interpretando os fatos
narrados, claros em si mesmos, permiti-me criticar, em poucas
linhas, acontecimentos marcadamente facciosos que têm
contado, em diversos momentos, e incompreensivelmente, com
o apoio do Governo Brasileiro, através de seus principais
dirigentes e responsáveis.
Aos que me interpelaram, considerando um tanto
violentas as minhas reportagens, esclareço que não houve
violência, a mínima sequer, da minha parte. Violência houve e
há, por sinal, muita, como puderam ver os leitores. A violência,
porém, existe, por parte da própria UNE. Tudo que escrevi
aconteceu e os relatórios da entidade estão mais completos e
mais minuciosos do que meus escritos.
Não me interessava, como repórter, atacar diretamente
pessoas, salvo as que, de fato, estão bastante comprometidas
com as pregações e práticas da UNE. Falei de ações ocorridas
públicamente e, por negligência ou propósito, não levadas a
sério e esquecidas. É de competência das comissões do
Governo, da Polícia e do Departamento de Segurança,
investigarem os nomes e tomarem as medidas previstas em Lei.
Quando resolvi, por uma questão de fidelidade aos meus
princípios, romper a greve universitária em prol de um terço de
alunos nos colegiados universitários, em agosto de 1962, tive a
maior prova de minha convicção: grande parte dos movimentos
grevistas brasileiros de reivindicações (e especialmente aquele),
têm a cobertura do comunismo internacional. Sim, porque um
jornal de Havana estampou em sua primeira página a minha
fotografia, acompanhada de um comentário, referindo-se a mim
como uma “estudante reacionária, paga pelo Departamento de
Estado Americano para prejudicar movimentos nacionalistas do
Brasil”. Ora, pergunto, mesmo que tal fosse verdade; — e se é
gostaria que o Departamento de Estado me enviasse os
honorários pelo serviço prestado — o que Cuba e Fidel Castro
têm a ver com isso? Qual o interesse de Fidel Castro,
marxista-leninista confesso, em certos movimentos internos do
Brasil? E quem envia a Havana noticiários “tão completos”
sobre fatos tão simples, como aquele de uma desconhecida
universitária “furar” uma greve?
A situação é essa. E minha maior angústia, igual à
daqueles que sonham com um Brasil melhor e mais
responsável, reside na incoerência e no absurdo que,
diariamente, lançam-se sobre nós. Pertenço à geração nascida
na ditadura e só conheço os mesmos políticos fabricados em seu
período, não sendo poucos, entre eles, os que falam em
pretensos golpes e compactuam com o comunismo. São eles os
responsáveis pela situação brasileira e são eles que incutem em
nossa juventude idéias superadas ou subversivas. São eles que,
donos do poder econômico e propiciadores da miséria do povo,
demagogicamente, mais atacam o poder econômico e mais
falam em miséria do povo. Os estudantes, a falada classe
privilegiada, principalmente em intelectualidade, deixam-se
levar pela conversa e, sem explicação plausível, se curvam ao
domínio de uma atuante minoria, militante das hostes de um
partido internacional, que é instrumento de uma forte e
aguerrida nação, que está disposta a dominar o mundo pela
força e que sabe, mais do que ninguém, se utilizar da
democracia para destruí-la totalmente. Não me cabe fazer a
análise aqui destes problemas, pois outro livro teria de ser
escrito, e este não é o momento oportuno para tal.
Deixo, apenas, os fatos. Cada um de nós, democratas e
revolucionários de verdade, temos uma missão a cumprir. Um
pouco de minha missão, sem falsa modéstia, está neste livro,
obra despretensiosa mas séria. Porque sério é o perigo que
correrá a Nação quando os doutrinados pela UNE dela se
apossarem, coisa que, para eles, parece estar começando a
acontecer com êxito.
Proibido todo e qualquer uso comercial.
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©2008 — Sonia Seganfreddo
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Maio 2008
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Um comentário:
Willingly I accept. In my opinion, it is an interesting question, I will take part in discussion. I know, that together we can come to a right answer.
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