quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de lançamento da Caravana da UNE, da Caravana da Saúde e do Pacto

COMENTÁRIOS: O discurso de Lula só comprova que a UNE foi "comprada". Tem outros aspectos da fala presidencial que fere a resolução que trata de Direitos Humanos, além da própria Constituição Federal. Aí é assunto para outras instâncias, inclusive internacionais.


FONTE: http://www.info.planalto.gov.br/download/discursos/pr824-2@.doc

Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de lançamento da Caravana da UNE, da Caravana da Saúde e do Pacto da Juventude
Rio de Janeiro-RJ, 12 de agosto de 2008



Meus queridos companheiros e companheiras que participam deste ato hoje,
Meu querido companheiro Sérgio Cabral, governador do estado do Rio de Janeiro,
Meu querido governador José Serra, governador do estado de São Paulo,
Meus companheiros ministros Luiz Dulci, da Secretaria-Geral; Fernando Haddad, da Educação; José Temporão, da Saúde; Edson Santos, de Políticas de Promoção da Igualdade Racial; e o nosso companheiro Wadson Ribeiro, ministro interino do Esporte,
Nosso querido companheiro Luiz Fernando Pezão, vice-governador do Rio de Janeiro,
Senadores Inácio Arruda, Ideli Salvatti e Paulo Duque,
Deputados Federais Chico Lopes e Reginaldo Lopes,
Nossa querida Lúcia, presidenta da UNE,
Nosso querido Ismael Cardoso, presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas,
Nosso querido, sempre jovem, Aldo Arantes, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes, em cujo nome saúdo todos os ex-presidentes aqui presentes,
Meu caro companheiro Roberto Cury, secretário nacional de Juventude,
Danilo Moreira, presidente do Conselho Nacional da Juventude,
Meus companheiros e minhas companheiras,

Eu queria aproveitar este momento para, de público, agradecer a algumas pessoas por esses seis anos de convivência com o governo federal. Eu queria começar agradecendo, ou reconhecendo, o trabalho que a União Nacional dos Estudantes fez no primeiro mandato do meu governo, quando o companheiro Petta presidia a Direção da UNE.
Vocês sabem que toda vez que um jovem chega à mesa para comer e o prato está pronto, é muito mais fácil do que fazer o prato. O Petta, como presidente da UNE, ajudou no debate extraordinário para que nós pudéssemos mandar ao Congresso Nacional o projeto de lei de reforma universitária. O Petta contribuiu de forma extraordinária para que nós pudéssemos aprovar o ProUni. Eu não consigo entender a cabeça de meia dúzia de pessoas que, se dizendo de esquerda, eram contra o ProUni, porque diziam... Vejam que, de vez em quando, a extrema esquerda se junta à extrema direita nos argumentos. Tanto a extrema esquerda dizia que o ProUni iria nivelar o ensino por baixo, como alguns setores de direita diziam que nós íamos nivelar o ensino por baixo porque estávamos colocando nas universidades brasileiras jovens da periferia que não tinham tido a oportunidade de fazer os cursinhos caros que uma parte da elite brasileira pode fazer.
A minha alegria é que, depois de quatro anos, em qualquer avaliação que seja feita sobre o ProUni e sobre o grau de aprendizado dos estudantes brasileiros, nós vamos ter, entre os melhores alunos de todas as áreas e entre os mais dedicados, exatamente aqueles que são os pobres da periferia, que eram acusados de nivelar a educação por baixo. E por que esses jovens são mais dedicados? É porque esses jovens já tinham perdido a esperança de estudar. O ProUni foi uma engenharia que permitiu que esses jovens voltassem a ter esperança e a acreditar no seu País e no seu futuro.
Quero agradecer também aos companheiros da UNE. Já a companheira Lúcia, quando nós quando nós resolvemos criar o Reuni. Eu sei que a UNE perdeu alguns DCEs porque tem gente que prefere o discurso fácil. O cidadão que não sabe como a mãe sofreu para fazer a comida, não sabe quantas vezes ela se queimou, não sabe o trabalho que ela teve ao se sujar de óleo à beira de um fogão, se senta à mesa e fala: “não gostei”.
Quase todas as reitorias foram invadidas, a pretexto de quê? De que nós iríamos colocar muitos alunos por professor. Nós queríamos aumentar a média de 12 para 18 alunos por professor, e alguém dizia: “é demais, vai baixar o nível. O ideal é que tivesse apenas um aluno por cada professor”. É gente assim que atrapalha o desenvolvimento deste país, que aposta no insucesso deste país que já jogou muitas oportunidades fora.
Meus agradecimentos também aos companheiros da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. Nesses seis anos nós nunca tivemos uma relação que parecesse que o governo estava cooptando qualquer entidade, e nem as entidades tiveram qualquer relação achando que estavam cooptando o governo. O que nós fizemos foi uma relação de homens e mulheres civilizados que se determinaram a construir um projeto de nação em que todos deveriam participar.
Quando deixarmos o governo, no dia 31 de dezembro de 2010, nós vamos ter o prazer de entregar para a Ubes mais 214 escolas técnicas profissionais neste país. Vamos ter o prazer de entregar para a UNE mais dez universidades federais novas, mais 48 extensões universitárias e, mais ainda, Lúcia, uma universidade latina, onde o currículo, os professores e os estudantes serão latino-americanos.
Já mandamos o projeto de lei para o Congresso Nacional e, se Deus quiser, estará terminada em 2010 a universidade afro-brasileira, para que tenhamos metade de estudantes africanos e metade brasileiros. É uma política de recuperação e de reparação que queremos fazer neste país. Nós jamais iremos pagar o que os negros prestaram de serviço neste país com dinheiro. Nós vamos pagar com gestos, com solidariedade, com reconhecimento, como estamos fazendo aqui no Brasil com os quilombolas, reconhecendo o trabalho extraordinário que eles fizeram.
Vir aqui hoje e assinar o projeto de lei... Não pensem que as coisas estão terminadas, estão começando. Primeiro, o gesto de vir aqui reconhecer que o Estado brasileiro tem culpa pelo que aconteceu. Eu não quero culpar uma ou outra pessoa, eu quero culpar o Estado brasileiro, do qual hoje eu sou o presidente da República. Em segundo lugar, este projeto vai entrar no Congresso Nacional, Lúcia, e é importante que a UNE e a Ubes articulem o trabalho de convencimento dos deputados e dos senadores para que a gente possa aprovar. Vocês sabem que o dinheiro já existe, está no Fundo do Ministério da Justiça. Só que a gente não pode dar o dinheiro, porque senão vão vir muitos processos contra nós. Por isso, nós resolvemos fazer projeto de lei, para que se tenha um debate dentro do Congresso, na Câmara e no Senado. Quando for aprovado, eu estarei aqui para que a gente possa colocar o primeiro tijolo na nova casa dos estudantes brasileiros.
Queria dizer a todos que, da mesma forma que na UNE surgiu a campanha “O petróleo é nosso”, vocês agora estão desafiados a um outro debate, não menos importante. Nós, que fundamos a Petrobras em 1950, só fomos conquistar a auto-suficiência em 2006, praticamente 56 anos depois. Graças ao investimento em pesquisa, graças às novas tecnologias, a Petrobras descobriu petróleo na camada pré-sal, a mais de 6 mil metros de profundidade. Agora encontramos a última jazida de petróleo: 2 mil e 300 metros de lâmina d’água, 3 mil metros de rocha e mais 2 mil metros de sal. Isso significa quase 7 mil metros de profundidade. O Brasil não apenas é auto-suficiente, como será exportador de petróleo. Mas não queremos exportar petróleo cru, nós queremos exportar material com valor agregado. Por isso, nós vamos fazer duas grandes refinarias. Uma refinaria de 600 mil barris/dia, e outra de 300 mil barris/dia, para que a gente possa exportar gasolina premium e óleo diesel de qualidade, e ter mais dinheiro.
Mas a provocação... não provocação, a convocatória que eu estou fazendo para os estudantes é que nós precisamos mexer na Lei do Petróleo deste país. Nós não podemos abrir mão desse patrimônio, que está a 6 mil metros de profundidade, é patrimônio da União, dos 190 milhões de brasileiros. Nós precisamos utilizar esse patrimônio para fazer reparação para os pobres deste país. Por isso é preciso que a gente, na Lei do Petróleo, destine uma parte desse dinheiro para resolver definitivamente o problema da educação neste país, o problema de milhões de pobres que estão aí, e não deixar na mão de meia dúzia de empresas que acham que o petróleo é delas, e vão apenas comercializar. Nós precisamos aproveitar esse petróleo para tornar o Brasil uma nação ainda mais forte, uma nação mais soberana, uma nação muito mais dona de si.
Através de um decreto, eu constituí um grupo interministerial. Eles têm dois meses para me entregar a proposta, e vamos ter que fazer uma proposta para a sociedade. Já pedi ao governador Sérgio Cabral, ao governador José Serra e estou pedindo à UNE agora: nós queremos colaboração, porque o petróleo não é do presidente da República, não é do governador do Rio, não é da Petrobras. O petróleo é do povo brasileiro e, portanto, nós precisamos decidir o destino desse petróleo.
Companheiros, eu queria dizer para vocês que a minha alegria é pelo fato de o Serra estar aqui junto com o Sérgio Cabral, comigo, com a UNE e com a Ubes, da forma mais civilizada possível – vocês estão percebendo – da forma mais democrática possível, porque nós somos amigos, antes de tudo. Somos adversários quando tiver disputa política, mas somos amigos na construção da democracia deste país. Não é mérito nem do Serra, nem meu e nem do Sérgio Cabral. Isso foi conquista de vocês, conquista daqueles que morreram e que não estão aqui.
Eu queria, Lúcia, companheiros – da mesma forma que o Serra deu um conselho sobre a recuperação da sede da UNE – dizer que nós precisamos tratar um pouco melhor os nossos mortos. Eu estava conversando com o Fernando Haddad e com o senador Inácio Arruda... Todas as vezes que falamos nos estudantes que morreram, toda vez que falamos dos operários que morreram, nós falamos xingando alguém que os matou. Na verdade, esse martírio nunca vai acabar se a gente não aprender a transformar os nossos mortos em heróis, não em vítimas, como a gente costuma tratar todas as vezes.
Imaginem se a Frente Sandinista ficasse lamentando todos os que Somoza matou; imaginem se o Fidel Castro ficasse lamentando todos os que Batista matou. Não! É preciso fazer com que essas pessoas que tombaram lutando por alguma coisa que acreditavam se transformem em heróis, que sejam símbolos da nossa luta, que na sede da UNE tenha a fotografia e a história dos que morreram, que na sede do sindicato tenha a fotografia e a história dos que morreram, porque nós os transformamos apenas em vítimas, não contamos a história, ninguém sabe quem são, portanto, nunca viraram heróis.
O Brasil é um país que não tem heróis. Quando perguntam para qualquer um de nós, a gente só se lembra de Tiradentes. Os mesmos que representavam a Coroa portuguesa, que o mataram, 30 anos depois o transformaram em herói, com medo que o povo o transformasse. Então, nós precisamos cultuar os nossos heróis. Nós somos uma pátria em que, se perguntar aqui, ninguém tem o nome de um herói. Todo mundo vai se lembrar de Tiradentes. Acabei de falar.
O Brasil é um país que tem muitas lutas importantes, muitas lutas extraordinárias e nós, muitas vezes, não cultuamos aquilo que nós precisamos cultuar, para dar valor àquilo que as pessoas fizeram. Como a UNE foi responsável, em parte, pela criação da Bossa Nova, por grandes coisas na arte e na cultura deste País, eu acho que esse é um debate extraordinário que é importante a gente fazer.
Eu me lembro que uma vez vim ao Rio de Janeiro, à Volta Redonda. Mataram jovens operários. Eu estava no Nordeste, vim para cá, uma tensão muito grande. Tinham mandado a polícia entrar, ou as Forças Armadas, e mataram três metalúrgicos. Quem é que se lembra quem eram aqueles três metalúrgicos? Ninguém se lembra porque, na verdade, a gente não constrói a memória das coisas boas que acontecem na nossa vida. A gente não consegue sequer avaliar se a morte foi apenas o sofrimento de quem morreu, ou dos parentes, ou se a morte é uma motivação para a gente construir outros heróis moldados naqueles que se sacrificaram.
Acho que precisamos fazer esse debate com um pouco mais de força, porque senão nós passamos e a história vai ficando sem aquelas lembranças que queremos que fiquem.
Portanto, meus companheiros, quero dizer para vocês, minhas companheiras, que me sinto hoje mais orgulhoso de ser brasileiro porque estou dando a minha contribuição para reparar aquilo que foi feito na sede da UNE. A UNE, por tudo que ela fez neste país, por tudo o que ela significou, por tudo o que ela fez na luta pela democracia, jamais deveria ter sido destruída mas, isto sim, ser sempre enaltecida.
Meus parabéns a todos os dirigentes da UNE, do passado e de agora. Meus parabéns aos dirigentes da UBES. Não pude citar o nome de alguns porque são candidatos a prefeito e a vereador, e se eu citar nomes posso prejudicá-los. Mas que Deus continue dando força a vocês.
Um abraço.



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