terça-feira, 12 de agosto de 2008

Aos pobres, 130 mil; aos ricos, 36 milhões





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Governo federal pedirá ao Pará que ajude mãe de Edson Luís
Publicada em 28/03/2008 às 23h10mChico Otávio, Lydia Medeiros e Ronaldo Brasiliense - O Globo; O Globo Online

BELÉM E RIO - O secretário especial de Direitos Humanos da Presidência da República disse nesta sexta-feira, no Rio, que pretende conversar com a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, sobre a possibilidade de concessão de auxílio do governo paraense à dona de casa Maria de Belém Souto Rocha, de 84 anos, mãe de Edson Luis, estudante secundarista morto aos 18 anos, em 1968, por um tiro disparado por um aspirante da PM no Restaurante do Calabouço, durante a ditadura militar. (Veja fotos das homenagens ao estudante realizadas no Rio)
Ele explicou que, dificilmente, o governo federal terá como atender o pedido de Maria de Belém - ao embarcar para o Rio, para homenagens ao filho, ela comentou que "mais do que uma estátua para o Edson, gostaria mesmo é que o governo desse uma pensão vitalícia para viver os últimos anos de vida sem aperreio".
Como ela já havia recebido uma indenização federal de R$ 130 mil, usada na compra de uma casa e na ajuda aos seus outros três filhos, Vanucchi disse que a concessão de novo benefício poderia gerar problemas, pois outras pessoas já indenizadas acabariam reivindicando o princípio da isonomia. Por isso, a ajuda do Pará seria uma alternativa. Vanucchi e Maria de Belém foram os principais convidados do ato de inauguração de um monumento em homenagem a Edson Luis, na Rua Santa Luzia, no Centro. Estudantes invadiram e tumultuaram a estação de metrô

Durante a solenidade, Vannuchi levantou a hipótese de punição dos responsáveis pelas torturas e mortes nos porões da repressão, mesmo na vigência da Lei de Anistia. Pouco depois, em passeata, os estudantes invadiram e tumultuaram a estação do Metrô no Largo da Carioca, lembrando a conturbada época de protestos quando Edson foi baleado no Calabouço.
Vannuchi citou, em discurso na Casa do Estudante, o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva como exemplo de crime cujos responsáveis ainda podem ser punições. Para ele, a Lei da Anistia tem "elementos doutrinários polêmicos" quando aplicada nos 140 casos de pessoas desaparecidas:
- Juristas de primeira linha, como Fábio Comparato, Dalmo Dalari e Hélio Bicudo, defendem que ocultação de cadáver é crime continuado. Se alguém ocultou um desses 140 cadáveres, cometeu crime no dia seguinte à Anistia e continua cometendo até hoje - afirmou.
O secretário também questionou se os "crimes conexos", definidos pela Lei da Anistia, incluiriam tortura e ocultação de cadáver. Para ele, o país só chegará a um consenso sobre o alcance da lei e a possibilidade de punição de torturadores e assassinos no dia em que Supremo Tribunal Federal (STF) se posicionar.
" Sou velha, mas tenho que fazer boa figura "
Antes de embarcar para o Rio, dona Maria não dispensou uma passada no salão para cortar o cabelo e fazer as unhas:
- Sou velha, mas tenho que fazer boa figura.
De Edson Luis, nascido de uma relação passageira na juventude, dona Maria lembra com carinho, inclusive de seu maior sonho - se formar em engenharia civil - e de sua maior promessa: dar uma casa à mãe.
- Meu filho foi assassinado antes de poder cumprir a promessa.
" Meu filho foi assassinado antes de poder cumprir a promessa "
Edson não era ativista da luta contra a ditadura
Edson não era ativista da luta contra a ditadura, mas brigava pelo Restaurante Central dos Estudantes, no Calabouço, Centro do Rio, onde comia. Em 1968, o "Calaba" era visto pelo regime militar como um centro de agitação estudantil, de onde partiam aguerridas passeatas lideradas pela Frente Unida dos Estudantes do Calabouço (Fuec). Protestavam especialmente contra a qualidade da comida, ou reivindicavam a conclusão das obras no local - o primeiro restaurante fora demolido dois anos antes para intervenções no trânsito.
No dia 28 de março daquele ano, mais uma manifestação era organizada. Por volta das 18h, a tropa da Polícia Militar chegou. Cassetetes dispersaram os cerca de 600 estudantes. Eles voltaram, atirando paus e pedras. A polícia revidou à bala, e um disparo de pistola 45, atribuído ao aspirante Aloisio Raposo, acertou o coração de Edson Luis.
Imediatamente os estudantes cercaram o colega para evitar que a PM o levasse. Sem camisa, Edson foi carregado. Seu corpo abria espaço para um cortejo que se formava rumo à Assembléia Legislativa, hoje Câmara de Vereadores, na Cinelândia.
"Mataram um estudante. Podia ser seu filho". A frase correu o Rio naquela noite. O tiro comoveu a cidade e levou uma multidão às ruas para velar o primeiro cadáver simbólico da ditadura militar instalada havia quatro anos.

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