E o debate, meus camaradas?
Otávio Luiz Machado
As reivindicações iniciais dos estudantes que giram em torno da ocupação da reitoria da UFPE apontam para a necessidade de um debate claro sobre um projeto educacional em marcha no momento, ou seja, o Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais).
Decorridos uns vinte dias do impasse, há de se reconhecer que o ato político de setores do movimento estudantil pernambucano foi satisfatório, pois abriu uma série de janelas para enriquecer um debate que ocorreu na UFPE entre outubro e novembro de 2007 sobre o tema, embora com intensidade menor do que o desejado.
Desde o início da ocupação, as várias negociações que ocorreram entre estudantes e a administração central da UFPE avançaram muito pouco, o que significa que as partes ainda não entraram num acordo decisivo para a finalização da ocupação da reitoria. Nem para os seus desdobramentos.
Dois fatos foram importantes: setores do movimento estudantil não se omitiram num assunto de interesse não apenas da universidade, mas de toda a sociedade, ou seja, a formação profissional de qualidade de jovens e adultos; por outro lado, a administração central da UFPE não fugiu do debate, inclusive criou uma agenda de discussão para as próximas semanas, que os ocupantes rejeitaram.
A cobrança em cima da administração expõe alguns pontos contraditórios dos documentos produzidos por setores do movimento estudantil, pois ao mesmo tempo em que afirmam que o Reitor impôs o projeto de forma autoritária, também cobram para que o Reitor tome uma posição autoritária ao revogar “o conselho do dia 26/10”, oportunidade em que o projeto do Reuni/UFPE (que havia sido discutido nas faculdades) entrava na discussão final no Conselho Universitário.
O que está segurando a ocupação da Reitoria é exclusivamente a pauta relacionada ao plebiscito popular sobre o Reuni. Por outro lado, a administração central aceitou discutir o projeto, mas sem implantar algum mecanismo para medir a aceitação ou a rejeição do citado projeto na UFPE.
Creio que a ocupação da Reitoria ocupou importante papel. Mas o adiamento do debate tem sido um fator negativo, lembrando-se de que o final do ano está próximo, o que significa se não corrermos, é inevitável o adiamento de qualquer debate profundo para o segundo mês de 2008.
A ocupação de reitorias ou faculdades foi uma estratégia bem articulada pelo movimento estudantil nos tempos da ditadura militar. Hoje, em momentos de intensa crise entre reitorias e movimento estudantil, a ocupação passou a ser um mecanismo de pressão importante, mas insuficiente quando não vem amparada por outros fatores intrínsecos à luta estudantil, tais como a realização de assembléias com o conjunto dos estudantes (debate mais geral) e o debate intenso entre os setores do movimento estudantil (debate mais específico). A apresentação de uma pauta retirada a partir da correlação dessas duas variáveis seria o caminho natural. E é um expediente efetivamente democrático.
Nesse sentido, a ocupação da Reitoria da USP foi a mais bem sucedida em todos os aspectos. Quando lá estive, no mês de maio, pude acompanhar uma assembléia estudantil demorada, mas com o microfone aberto a todos que quiseram se manifestar. Quando voltei a São Paulo, em outubro passado, como convidado do Grêmio Politécnico da USP para uma palestra, também ouvi dos estudantes da Escola Politécnica da USP os argumentos para a sua saída da ocupação da Reitoria USP, sobretudo após a decisão da assembléia de 600 estudantes daquela unidade em relação ao tema.
Na Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), em outubro passado, quando participei de um debate com os estudantes de graduação e pós-graduação de Pedagogia, também percebi um ambiente de muito questionamento sobre o Reuni, principalmente com a maioria das opiniões contrárias ao mesmo. Em conversa com uma das lideranças de Diretórios Acadêmicos daquela Faculdade, também percebi que os estudantes haviam debatido intensamente o projeto do Reuni nos seus mais diversos momentos. A ocupação da Reitoria da UFF veio um pouco depois.
Tanto na USP como na UFF, a percepção que tive foi a de que os estudantes tiveram uma ampla percepção das questões teóricas e práticas que envolviam a questão posta. Setores do movimento estudantil não foram encarregados de apenas tocar a parte prática da coisa.
Creio que o debate na UFPE agora é decisivo. A ocupação já cumpriu o seu papel. E esperamos que o debate ocorra em todos os cantos da UFPE. E com todas as posições frente a frente. A partir daí, também, creio que as instâncias universitárias, tais como os conselhos através dos seus mais diversos representantes, aí poderão decidir melhor em relação ao que foi discutido abertamente pela comunidade universitária.
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
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