* Especial para o blog
Não existe democracia plena sem o acerto de contas com a História
Otávio Luiz Machado*
Um longo impasse sobre o período da ditadura civil-militar de 1964 pode ser observado nas seguintes indefinições hoje: se a ditadura foi branda ou foi braba, se os torturadores merecem ser julgados ou não, se os arquivos da ditadura serão abertos ou o que existe será eternamente sigiloso, se os movimentos sociais podem ter liberdade ou não agora num regime democrático, se a democracia brasileira avançou como deveria ou ainda não passamos de uma “república de bananas”. E há tantos outros “se” que poderão continuar fazendo parte do nosso dia a dia caso não realizarmos um profundo acerto de contas com a História.
Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique e Lula pouco contribuíram para que o país conhecesse melhor sua História, através da luta dos estudantes ou dos jovens. Sarney reconheceu novamente a UNE como entidade estudantil nacional, Collor nada fez, Itamar apoiou a publicação de um livro intitulado “Reencontro do Brasil com sua Juventude”, Fernando Henrique reconheceu a violência do Estado durante a ditadura (incluindo os jovens ou estudantes) e Lula momento tem contribuído apenas com a UNE nesse sentido, ao liberar recursos públicos para que a entidade faça de conta que produz um trabalho profundo sobre a memória do movimento estudantil. Sem falar num projeto de lei oriundo do Planalto cujo teto é R$40 milhões, para a construção de um prédio para a UNE, que foi incendiado por grupos de civis conservadores que apoiaram o golpe, mas por pressão política, o Estado poderá pagar a conta com a falsa justificativa de contribuir com a memória do país. O total da fatura oriunda da relação UNE-Planalto nos últimos quatro anos é de R$50 milhões.
O monopólio da UNE na obtenção de recursos públicos nesse sentido é fato, mas sem critérios públicos, pois os mesmos são pessoais e partidários. Sem falar no monopólio do mesmo grupo na direção majoritária da entidade há 20 anos, sempre lembrando que a nossa ditadura durou 21 anos. Por qual motivo outras entidades estudantis, grupos juvenis ou projetos de jovens populares nada recebem?
Num artigo da presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) intitulado “Ontem e hoje: UNE em defesa da educação e contra a criminalização dos movimentos sociais”, postado no site da entidade (www.une.org.br) no início de março, a mesma esqueceu de comentar como está sendo utilizado os milhões de reais com a “intenção” de resgatar a história do movimento estudantil em vários projetos desde 2004.
É preciso ouvir ainda muita gente que foi perseguida, pesquisar documentos em muitos arquivos particulares com preciosidades históricas, sensibilizar os cidadãos sobre o conhecimento de sua História, publicizar a documentação histórica e promover debates sobre direitos humanos e cidadania, o que recursos que são jogados fora para o aparelhamento de entidades estudantis poderiam ser essenciais para as nossas universidades trabalhar nesse sentido, pois poucos mil reais já seriam suficientes para que as universidades fizessem muito e com um padrão de qualidade, de credibilidade e de rigor muito superiores ao que tem sido apresentado pela UNE.
Mesmo com um orçamento que representa 0,0001% do que a UNE e o seu grupo majoritário utiliza com a pseudo-justificativa de resgatar a memória dos movimentos estudantis, realizaremos mais de cem entrevistas (já coletamos cerca de 330 depoimentos desde o início do Projeto) em 2009 com diversos “personagens” fundamentais para narrar um pouco de sua contribuição ao nosso País, sem falar em eventos e em publicações.
*Pesquisador e Coordenador de Atividades do PROENGE/UFPE (Estudos sobre Juventude, Movimentos Estudantis , Cidadania, Direitos Humanos e Educação). E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br
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